quinta-feira, agosto 29, 2013

A previsível rodada da Copa do Brasil

Rodada da Copa do Brasil foi marcada pela normalidade. Claro que há reclamações, como sempre, de arbitragem. Muitas delas já são muletas de conhecidos treinadores e dirigentes. Passaram as equipes que foram melhores em 180 minutos de futebol.

Permito-me algumas observações.

Falta boa vontade com o Botafogo. Ganhou do Galo sem o Seedorf, empatou sem Vitinho, sem salários, seus jogadores seguem jogando sério e bem. Querem mais o que? O Galo não foi forte e vingador e desta vez foi ele quem saiu eliminado do Horto. Mais que a verborragia de seu presidente, precisa pensar nas razões por que sofreu seis gols em dois jogos.

O Fluminense se enrolou todo, perdeu jogadores importantes e virou um time amorfo. É triste ver Luxemburgo, um dos maiores treinadores do futebol brasileiro, repetindo a mesma ladainha de arbitragem jogo após jogo. O Goiás do gordinho Walter está arrumadinho.

O Corinthians cumpriu sua obrigação ante um adversário organizado e lutador, mas perdeu intensidade, já não empolga e sufoca o adversário como antes, não se impõe com autoridade. Tite está em busca de outra forma de jogar, isso ficou evidente para mim.

Renato Gaúcho precisa ser levado mais a sério como treinador, porque tem uma característica fundamental: não quer ser mais realista que o rei. Duvido que ele goste do sistema com três volantes e três zagueiros, mas está funcionando e Renato sabe que a missão do bom técnico é não querer passar por cima da realidade. Olho no Grêmio! O Santos parece acreditar piamente que descobre um novo Neymar a cada semana. Menos!

O Furacão deixou terra arrasada no Palmeiras. O resultado era até previsível, já que o time paranaense está jogando melhor do que o paulista já faz tempo. Defesa firme, com Manoel e Luiz Alberto jogando muito bem, e um ataque velocíssimo empurram o Atlético, sob as bênçãos de "vovô" Paulo Baier. A apatia demonstrada pelo Palmeiras não combina com um grupo de jogadores que carrega uma camisa centenária e vencedora. Luta jamais pode faltar. O Furacão não está para brincadeiras, e o Verdão carece de equilíbrio. É um time bonzinho demais com os adversários, tenta jogar mas deixa os rivais soltinhos. Kleina balança.

Por fim, Vasco e Inter só precisam assinar o papel da classificação.

Deixei para o final, de propósito, o Flamengo, na análise da Copa do Brasil.

De propósito por causa de um jogador: Elias.

Ele é o tipo de jogador fundamental para o futebol moderno e que raros clubes têm e raros treinadores sabem utilizar ou descobrir.

Elias é o volante que desafoga o time, que trafega com desenvoltura entre as duas áreas, a de defesa e a de ataque. Tanto aparece tirando uma bola na área de seu goleiro, como surge na área do goleiro adversário para resolver o jogo.

Elias já tinha feito no Corinthians o que Paulinho fez e seguirá fazendo na Inglaterra.
São jogadores com a mesma característica tática para o time e diferenças individuais.
Elias é mais veloz, Paulinho mais alto e forte, tem a jogada aérea que Elias não tem. Mas o flamenguista na corrida leva vantagem.

Elias é a chave para a reconstrução do time do Flamengo.

quarta-feira, agosto 28, 2013

Uma viagem aos tempos de Esporte é Cultura!




Luiz Noriega durante o Esporte Opinião (1982)


José Maria Pereira, o mago da restauração
Caminhão da Cultura

































Hoje vivi uma emoção um tanto estranha. Ainda estou negociando com a alma e a mente que tipo de sensações foram vividas. Após mais de 25 anos voltei à sede da TV Cultura, em São Paulo, onde meu pai, Luiz Noriega, viveu seus melhores anos como jornalista. Fui buscar algumas imagens para ter no arquivo da família, graças ao trabalho fantástico, de artesão, do espetacular José Maria Pereira, companheiro de batalha do meu pai desde os tempos da TV Tupi e também na Cultura.

O poder da memória é algo inacreditável. Fui transportado aos dias em que, ainda criança, acompanhava meu pai no trabalho, corria pelas arborizadas alamedas daquela sede (em que região de São Paulo, Lapa ou Água Funda?) projetada tendo como base a BBC londrina.
Era como se eu estivesse saindo da redação, onde ficava pentelhando o Orlando Duarte, Pedro Tadeo Zorzetto, o Dudu, o Cicarelli e correndo para um estúdio, ou para a lanchonete, o restaurante.
Ali eu via nascer e ir ao ar programas como É Hora de Esporte, Esporte Opinião, Esportevisão.
A velha redação do esporte da Cultura hoje abriga um estúdio, mas muita coisa está irretocável como permanece em minha memória. A entrada antiga, pela rua Carlos Spera (outro grande nome do jornalismo) está fechada, mas eu me vi passando por ela e correndo para a sala do meu pai, buscando as revistas France Football, Don Balón, Guerin Sportivo. Posso dizer que ali fiz pós-graduação em jornalismo esportivo muito antes de completar o colegial e fazer a faculdade.
Botei o DVD para rolar e vi um Esporte Opinião apresentado pelo papai com uma escalação de craques do porte de um Ary Silva, de Flávio Iazetti, Flávio Adauto, Wanderley Nogueira. E um programa especial com o (hoje tenho a honra de dizer isso) meu amigo Zico.
Agradeço de coração ao Zé Maria e seu arquivo fantástico, que ele restaura com mãos e olhos de artista, em nome da família.

Foi uma linda viagem no tempo.   

segunda-feira, agosto 26, 2013

Gilmar e o sonho do tio Zeca


Lá pelo final dos anos 90, 97 ou 98, não me lembro ao certo, resolvemos organizar uma festa, eu minha mãe e minhas irmãs, para celebrar os 50 anos de carreira de meu hoje saudoso pai Luiz Noriega.

Fizemos uma surpresa, alugamos um salão enorme e enganamos o velho com o papo de que era um pequeno jantar para comemorar seu aniversário.

Foi um barato ver a cara de espanto dele quando abrimos a porta do salão e ele viu toda a família, amigos da rádio e da TV Tupi, da TV Cultura, companheiros de trabalho, amigos da infância em Olímpia etc.

A meu cargo ficou a missão de convidar atletas e ex-atletas com os quais ele tinha mais amizade e que sempre se referiram ao meu pai como uma pessoa fundamental para suas carreiras. Alguns não puderam ir, mas enviaram telegramas, cartas, telefonaram. Gente de caráter como William e Montanaro, Paula. Outros simplesmente desprezaram o convite, talvez porque naquele tempo, afastado da TV, meu pai não servisse mais para os propósitos interesseiros que vinham disfarçados de amizade.

Algumas presenças foram especialmente marcantes para nós, como as do eterno Adhemar Ferreira da Silva e as de dois campeões mundiais pela seleção brasileira de futebol, Hideraldo Luiz Bellini e Gilmar dos Santos Neves. Amigos de longa data do meu pai, figuras frequentes no círculo social da família. Esbanjaram simpatia durante toda a noite, sem um pingo de frescura.

Em determinado momento, meu tio materno e padrinho, Zeca Galizia, me puxa num canto e pergunta:

- Má, aquele ali é o Gilmar, o goleiro?

- Sim, ele mesmo - respondi.

Meu tio já era um senhor de quase 60 anos, mas tremia feito vara verde, com dizemos lá em Bariri.

- Rapaz, eu era fã dele. Eu me jogava nas bolas como ele quando brincava de goleiro e saía dizendo que era o Gilmar - explicou meu tio, corintiano fanático.

- Me leva lá para falar com ele?

Levei e vi meu tio com um sorriso de garotinho. Gilmar, respeitosamente, levantou-se da mesa, apresentou a esposa. Eu tinha apresentado o Bellini também, ambos ficaram conversando animadamente com meu tio, e ouviram as histórias de suas aventuras de goleiro nos campinhos enlameados de Bariri.

Entrevistei Gilmar algumas vezes em minha carreira de jornalista. Em quase todas utilizei o nome do meu pai para facilitar o acesso. E em todas Gilmar foi de uma educação impressionante, de uma elegância que refletia a maneira impecável de se vestir. Era um senhor alto, boa pinta, elegante. Dizem que as mulheres suspiravam por ele em seus anos de atleta.


Quis o destino que algum tempo depois daquele noite, Bellini e Gilmar fossem acometidos por males que limitaram suas condições físicas e mentais.

Não vi Gilmar jogar, mas para a minha geração, a da turma que está entre 45 e 50 anos, ele era um monstro sagrado. Era como não precisar ir a Lua para saber que ela esta ali. Ninguém duvidava que Gilmar era o melhor goleiro brasileiro, mesmo sem tê-lo visto jogar.

Lembro-me de meu pai chegando em casa triste, abatido após visitas a Gilmar e Bellini, ou após conversar ao telefone com familiares.

A seleção de 1958 está sendo reforçada lá no céu. De Sordi, Djalma Santos, Gilmar, todos partiram recentemente. Serão recebidos por Didi, Vavá, Garrincha, o treinador Feola.

É o tempo, inexorável, cumprindo a única certeza da vida. Seja ela gloriosa como foi a de Gilmar, ou anônima.

terça-feira, agosto 20, 2013

Xô, patológico!

Já tenho 26 anos de trabalho na área de jornalismo. Desse tempo, diria que 90% na área esportiva e 70% desses 90% especificamente com futebol. Cada vez mais tenho a certeza de que há um tipo patológico de torcedor que não escuta o que você fala, nem vê a imagem que está sendo mostrada. Ele escuta o que ele quer ouvir e vê o que ele quer ver. Com esse tipo de gente, não tem discussão, não tem debate, não tem conversa.

 Nem o benefício da ignorância eles têm, porque geralmente o mais patológico está no grupo de gente que teve a sorte e o esforço de ter estudado.

 Existe agora uma espécie de mídia ninja de torcedor de futebol, publicações dirigidas que espalham teorias conspiratórias, deturpam regras do jogo e criam campanhas.

 Trabalhar com o que se gosta é uma benção. Eu gosto de esporte, fui atleta, me divirto e me realizo fazendo o que faço.

 Mas imagino como deve ser terrível a vida de quem inventa uma realidade paralela em função do fanatismo patológico.

Seguimos em frente. Sempre acreditando que é possível se fazer bom jornalismo na área esportiva e acreditando também que os bons fãs do esporte e do futebol prevalecerão sobre os patológicos.

sexta-feira, agosto 16, 2013

Um beijo, papai!

 
 
16 de agosto será sempre o seu dia, Luiz Noriega. O dia em que começou sua jornada terrena, cumprida com garbo, dignidade e amor. Tenho honra em ser seu filho e da dona Angela, irmão da Renata Noriega De Thomaz e da Ferdi Noriega. Um beijo em sua alma aí no céu. Meu, da Isabel Urrutia, da Clara Noriega e do Rafa. Brindaremos por você hoje. Tome um Royal Salute por nós. Te amamos sempre, papai!

segunda-feira, agosto 12, 2013

Tribunal não pode apitar jogos

Reproduzo aqui coluna publicada no Diário de S.Paulo no dia 23 de outubro de 2012.

Blog do Nori

Justifica-se porque continua atual o tema e minha opinião não muda. Arbitragem de gabinete não vai melhorar o futebol.


Tribunal não pode apitar os jogos*
*Reproduzo aqui a mais recente edição da colun a que publico às terças no Diário de S.Paulo.
 
Reflexo da sociedade da qual faz parte, o futebol brasileiro é tão confuso quanto o país. Situações e personagens se misturam de tal maneira que muitas vezes é difícil apurar e apontar responsabilidades. Um exemplo é a atuação dos integrantes dos tribunais de Justiça Desportiva, que recentemente parecem dispostos a agir como árbitros de futebol.

Entendo e reconheço que as atuações de promotores, auditores e outros integrantes dos tribunais, outrora chamados de tapetão pelo irreverente torcedor brasileiro, são necessárias, porém, como disse o Filho do Homem, “a César, o que é de César”.

Em minha visão de leigo, mas interessado e estudioso, os tribunais devem julgar casos de agressão, violência e determinar punições e suspensões tendo como base a súmula de uma partida de futebol e o que foi relatado pelo árbitro.

Não acho que caiba a um tribunal formado por profissionais do direito, representando clubes, julgar interpretação das regras do jogo, como simulação e faltas. Cito dois casos recentes. A suspensão do meia-atacante Ronaldinho Gaúcho, do Atlético-MG, por falta no atacante Kléber, do Grêmio, e a denúncia contra o centroavante Luís Fabiano, do São Paulo, por suposta simulação no clássico contra o Palmeiras.

Ronaldinho foi suspenso porque o STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva) entendeu que ele praticou uma jogada violenta contra Kléber.

O árbitro daquele jogo, Héber Roberto Lopes, nem sequer marcou uma falta no lance. Duplo equívoco, penso eu. Houve a falta no lance, mas não foi uma jogada violenta. Além disso, o STJD tem competência para avaliar uma jogada sob a ótica da técnica de arbitragem? Acho que não.
O mesmo raciocínio vale para o clássico de 6 de outubro entre São Paulo e Palmeiras. Luís Fabiano tentou, sim, cavar um pênalti em lance com Maurício Ramos. O árbitro Paulo César de Oliveira nada marcou. Nem sequer advertiu o atacante são-paulino.

Por que haveria o STJD de acatar uma denúncia e julgar o atleta propondo suspensão de até seis jogos?

Não caberia ao juiz de futebol interpretar se houve ou não simulação ao ponto de merecer uma advertência dentro das regras, punindo com um cartão amarelo ou um vermelho?

Os tribunais esportivos são necessários, repito. Mas não podem cair em tentação e passar a atuar como paladinos ou, o que é pior, justiceiros do esporte brasileiro. O jogo começa e termina no campo, disputado por atletas e apitado por juízes.

Vídeo como prova - Há casos em que a chamada prova de vídeo pode e deve ser aceita. Como, por exemplo, agressões que são captadas pelas câmeras e não foram percebidas pelo árbitro.
Porém, um lance de jogo, que foi avaliado, de maneira correta ou não, por um juiz de futebol, dentro do direito de interpretação que a regra do jogo lhe dá, deve ser julgado por profissionais do direito e não da arbitragem?

Acho que não. E vejo um abuso de autoridade, uma intervenção em uma área à qual os promotores, relatores e auditores não pertencem.

Quantas simulações acontecem em um jogo de futebol? Toda queda é simulação? Como separar uma queda proveniente de um choque, em um esporte de contato, com uma tentativa de ludibriar a arbitragem? Quem está mais capacitado para decidir se um jogador tentou ou não simular um lance, um juiz de futebol ou um juiz do direito? Respondo sem pestanejar: o juiz de futebol.
Antes de levar a arbitragem de um jogo para os tribunais, é preciso trabalhar para capacitá-la, diminuir a margem de erro, educar jogadores e treinadores, uniformizar critérios.

Cabe aos tribunais julgar e condenar agressões, condutas antidesportivas, tumultos etc.
Apitar um jogo, bem ou mal, é atribuição dos árbitros de futebol e somente deles. O jogo acaba ali, não deve continuar num tribunal.

terça-feira, agosto 06, 2013

Perguntar não ofende



Longe de mim qualquer pretensão de ser professor de Jornalismo ou de qualquer coisa. Não tenho preparo, não tenho formação para isso, e também não tenho a intenção de ensinar nada para ninguém. Além de achar que não tenho nada para ensinar. Mas muito do que aprendi posso compartilhar.

Incomoda-me a ausência das perguntas no mundo do jornalismo esportivo atual. Esse jornalismo esportivo que já foi considerado, em outras épocas, combativo, chato, perguntador e fuçador.

Lembro que na época dos atentados de 11 de setembro de 2001, fui a um treinamento da Portuguesa, como repórter. O técnico era o Edu Marangon. Ele brincou e disse:

- Se querem achar o Bin Laden, é só escalar vocês da imprensa esportiva, porque vocês fuçam para caramba.

Claro que há um grande exagero nessa afirmação.

Mas a verdade é que a imprensa esportiva de que me recordo dos meus tempos de garoto e depois, de foca, sempre se caracterizou por perguntar sem pedir licença e sem medo. Quando em vez tomava o contra-ataque. Mas repórter bem preparado e perguntador não toma contra-ataque.

Até porque essa é uma premissa básica dessa profissão. Porque, no fundo, somos todos nós, jornalistas, repórteres. Podemos estar diretores, editores, comentaristas, mas seremos sempre repórteres.

O que me assusta é que as perguntas parecem estar em extinção. Muitas vezes o que ouvimos (e me refiro mais a rádio e TV porque esses meios estão quase sempre ao vivo, e é ao vivo que se conseguem, geralmente, os melhores depoimentos e respostas) são afirmações, ou opiniões. Nem mesmo a entonação da pergunta há.

Muitas vezes escuto algo assim:

- Que golaço, hein, fulano.

- Jogo difícil.

Comentários para que o entrevistado comente.

E, sem fazer média, não é por falta de capacidade, porque tem muito repórter bom por aí, felizmente.

Mas a pergunta é nosso ganha-pão, nossa credibilidade, ela vem sempre antes da opinião e da afirmação.

Sou meio antigo, já rodei um pouco, e acho que a fórmula básica é narrador narra, comentarista comenta, repórter reporta. Informação tem prioridade.

Pronto, acabei cagando regra, que era o que não queria fazer.

Edito o texto para uma sugestão modesta de quem perambulou muito como repórter antes de virar comentarista.

Perguntem, colegas!

Perguntar não ofende.

E boas perguntas geram boas respostas.