terça-feira, julho 31, 2012


Atletas e redes sociais



Em tempos de mundo conectado, o bate-boca virtual entre a judoca Rafaela Silva e alguns anônimos no Twitter provoca algumas reflexões.

A primeira que me vem à mente é a baixa qualidade do que se escreve e, consequentemente, se debate nas redes sociais. A maior parte do que se publica nesses novos meios de comunicação é um caldo de bobagens, provocações baratas, piadas de péssimo gosto e palavras de baixo calão escritas em português tosco, povoado de erros.

Infelizmente, o debate saudável, a troca de ideias e a polêmica saudável estão resumidas, ainda, a uma pequena parcela de frequentadores das redes sociais.

Rafaela Silva é uma atleta de nível internacional e uma jovem que gosta do que qualquer outro jovem também gosta. Seria impensável que ela não estivesse presente nas redes sociais. Até para interagir com amigos e fãs verdadeiros.

Não sou juiz da vida e do comportamento alheio. Até porque tenho perfis nas redes sociais e já bati boca com alguns encrenqueiros virtuais mais de uma vez. Ninguém tem sangue de barata, e alguns desocupados gastam seu tempo livre perturbando e provocando.

A maioria do povo brasileiro não conhece esportes, não entende de esportes, apenas torce nas Olimpíadas e, principalmente na Copa do Mundo. Esse caldo de opiniões apaixonadas e desequilibradas também conhece muito pouco do esporte mais popular do País, o futebol. Não gosta do esporte, apenas quer que seu time vença a qualquer custo. Infelizmente, a maioria pensa assim.

No caso de Rafaela Silva, talvez tenha faltado alguma orientação para que, após uma eliminação dolorosa, ela não fosse exposta aos embusteiros desocupados que a atacaram covardemente. De cabeça quente, ela respondeu descendo ao nível daqueles ataques e fazendo o que eles realmente queriam, que ela reagisse.

Aconteceu com jogadores de futebol e atletas de outras modalidades. Acontece com celebridades e com pessoas que trabalham com opinião. O anonimato, completo ou relativo, é uma arma covarde contra quem aceita se colocar honestamente nessas redes sociais.

Rafaela Silva errou, admitiu, foi punida dentro de uma regra vigente em seu esporte, e não foi a única a ser eliminada no torneio olímpico de judô dessa maneira. A Olimpíada é território frequentado pelos melhores entre os melhores, e um segundo costuma ser fatal em qualquer modalidade. Chegar aos Jogos Olímpicos é para pouquíssimos. Conquistar medalhas, para um número ainda menor de atletas altamente capacitados, talentosos e bem treinados.

Muitas vezes, a mídia, da qual faço parte, termina por contribuir para que certo tipo de comportamento aflore. Termos colocados fora de ordem ou de maneira exagerada, como herói, esperança do Brasil, honra, vergonha e vexame, criam um ambiente desfavorável para quem se expõe, e extremamente fértil para quem não tem educação, princípio e conhecimento.

Cabe refletir. Atletas não são heróis de ninguém, não vão para a guerra defender pátria alguma. São pessoas que escolheram levar suas vidas num ambiente comperitivo, de alto rendimento, enfrentando outras pessoas que muitas vezes têm mais talento, capacidade e treinamento.

Redes sociais são um fenômeno ainda fora de controle, cujo real propósito ainda não está muito claro. Assim como proporcionam diversão, trabalho e fonte de renda para alguns, também apresentam a oportunidade para que gente sem coisa melhor para fazer jogue fora seu tempo irritando os outros.

sexta-feira, julho 27, 2012



Galo, Vasco, Flu

e Grêmio na boa



Não éapenas pela pontuação na tabela. Atlético Mineiro, Vasco, Fluminense e Grêmio ocupam, pela ordem, as quatro primeiras colocações do Brasileirão com mérito e futebol. Cada um do seu jeito, com seu estilo, mas sem contestações.

Nesse momento, se destacam em um grupo separado dos restantes, mesmo aqueles que estão atualmente mais próximos do chamado G-4. Em termos de qualidade, consistência e projeção para o futuro da competição, esses quatro têm tudo para seguir disputando o título até o final.

O GALO é incontestável na ponta. 86,% de aproveitamento, fato inédito desde 2003 nesse sistema de disputa. Tem o melhor ataque, a melhor defesa e, consequentemente, o melhor saldo. Soma dez vitórias o que, a grosso modo, significa dizer que já alcançou a marca equivalente a vencer todos os jogos como mandante no turno. Mostra um futebol leve, solto e ousado do meio para a frente. Atletas rápidos, com deslocamento constante, e um Ronaldinho Gaúcho menos showbol e mais participativo. A defesa, embora estatisticamente mostre resultados, tecnicamente parece, a meu ver, alguns pontos abaixo do potencial ofensivo. O que não tem atrapalhado em nada, diga-se.

Em termos de regularidade, o VASCO é um fenômeno. A equipe tem um padrão de rendimento que já entra em sua segunda temporada. A base é o meio-campo e a estruturação tática, que não desmorona com a saída de jogadores por contusão. Juninho Pernambucano ainda joga o fino, e Alecsandro é dos melhroes atacantes da competição. O Vasco é das raras equipes brasileiras que consegue jogar do mesmo jeito em São Januário e como visitante. Mas terá um problema a administrar com as saídas de Diego Souza e Fágner, dois titulares indiscutíveis e referências técnicas da posição no grupo. Será difícil substituí-los à altura.

A cara do FLUMINENSE reflete o estilo de Abel Braga. Luta em primeiro lugar, entrega total, compromisso, ainda que falte um tantinho de qualidade aqui e acolá em algumas situações. O Flu conta com Deco que, em condições físicas, dá um toque de classe que raras equipes têm. Ele é capaz de abastecer Nem e Tiago Neves em velocidade e armar contragolpes mortais. Fred é um centroavante de nível internacional. Há uma penca de bons jogadores à disposição, que sugerem um desempenho mais eficiente e plástico em campo, que ainda não aconteceu. O time não tem vergonha de se fechar e abraçar a manutenção da vitória como se fosse a vida.

Para quem achava (eu jamais pensei ou escrevi isso, diga-se) que Luxemburgo estava ultrapassado, taí o GRÊMIO para mostrar que isso é questão pessoal ou birra. Com três vitórias fora de casa, a equipe mostra capacidade de virar uma velha deficiência, que é a de ser mais forte no Olímpico do que longe dele. O meio-campo tem potencial para ser dos melhores do Brasileirão, com dois volantes pegadores e com boa saída de jogo, e dois meias de experiência e bom toque de bola. Zé Roberto parece um menino e já mostra serviço logo de cara. Marcelo Moreno e Kléber formam uma bela dupla de ataque. Falta controlar alguns excessos da defesa, que exagera na dose da pegada.

Fora esses quatro, o restante dos clubes do Brasileirão é uma massa ainda disforme, na qual se destacam correria, preparo físico, disposição e talento raro. Exceto o CORINTHIANS, que tem time para, encaixando uma sequência de vitórias, encostar na turma de frente. É time equilibrado, consistente, forte e confiante. Mas o preço do abandono do campeonato no início é pesado, e qulquer tropeço será multiplicado.

BOTAFOGO, INTER, CRUZEIRO E SÃO PAULO são incógnitas.Times irregulares, inconsistentes, que quando todos imaginam que vão decolar, patinam. Se encontrarem algum ponto de equilíbrio, talvez possam chegar à disputa pela taça. Entre esses quatro, quem parece ter mais pinta disso é o Inter. Mas tem sido assim ano após ano, e no Brasileiro o time não consegue chegar.

Depois deles, há uma massa disforme de times que correm muito, lutam muito e tem jogado pouco. A luta para fugir do rebaixamento promete ser intensa, com a participação de "convidados" de luxo como Santos e Palmeiras. O SANTOS reza para que o período olímpico voe e Neymar retorne. O PALMEIRAS não pode jamais deixar de lado a transpiração, sua marca registrada. Jogar bem é quase um luxo ao qual o time não pode se dar o direito, dada a limitação. Não há zona de conforto para a família Felipão. O COXA não passará sustos se ajeitar a pontaria.

Diria que do Náutico para baixo todo mundo corre algum risco, não apenas pela pontuação, mas em virtude dos problemas das equipes para se ajustarem.

Será divertido, equilibrado e emocionante. Só espero que o nível técnico melhore.


OLIMPÍADA


Nada de novo na estreia da seleção. Um time inconsistente, que alterna bons e maus momentos, depende dos arroubos de talento de Oscar e Neymar. O sistema defensivo preocupa, e muito. Os laterais deixam avenidas que os volantes e os zagueiros suam para cobrir e não conseguem.

Com mais calma depois da estreia, a tendência é evoluir. Até porque o nível técnico do torneio olímpico não é grande coisa. Mas há equipes melhores que o Egito.

Duas perguntas:

- com essa base, temos seleção para brigar pela Copa em 2014?

- com pouco ou muito tempo de treino, porque a seleção segue com os mesmos problemas?

terça-feira, julho 24, 2012


O Cesto da Gávea



Na Era dos Descobrimentos, muito antes do GPS e dos modernos instrumentos de navegação, todo navio tinha um ponto estratégico, o Cesto da Gávea. No mastro mais alto sentava-se um navegador experiente, com bons olhos, numa espécie de cestinha de madeira, para prescrutar o horizonte em busca de terra firma, após meses de navegação, muitas vezes sem rumo.

Pois a relação me parece óbvia e me permito a comparação, em tom de brincadeira, para amenizar um tema pesado para milhões de brasileiros de sangue rubro-negro. Falta ao Flamengo, o clube da Gávea, alguém que efetivamente suba ao cesto e aponte um caminho, um rumo. Um alguém não, mas vários deles, um grupo de pessoas que consiga atuar com o mínimo de discernimento para um clube de tal magnitude e importância para tanta gente.

Como todo fenômeno de popularidade, o Flamengo está sujeito às intempéries. A repercussão é maior para o bem ou para o mal. As funções se confundem, em todos os níveis de atuação. Todos que, de alguma maneira, trafegam em torno do clube, são tomados por esse sentimento. Dirigentes, funcionários, jogadores, mídia. Há uma grande confusão entre trabalhar e torcer.

Como disse o Casagrande no Arena de segunda-feira, no Flamengo o céu e o inferno quase se tocam de tão próximos. A paz do domingo vira guerra na segunda e vice-versa.

Tudo ganha proporção descomunal, para o bem e para o mal. Vitórias ilusórias são vendidas como épicas. Derrotas comuns são pintadas com tons de tragédia. Interesses são misturados, notícias são plantadas aqui e ali e, algumas vezes, sem a devida checagem, apenas produzem o efeito que o plantador queria, o de tumultuar o ambiente do rival político. Ou, o que é pior, são veiculadas com esse firme propósito, maculando outra instituição, a da notícia.

O Flamengo de dezenas de milhões atualmente é terra de ninguém.

Sou daqueles que sempre esperavam com ansiedade a chegada ao poder de um ex-atleta, sob o argumento de que acrescentaria um novo tom à função de dirigente esportivo. No caso de Patrícia Amorim a decepção é enorme. Ou ela é uma náufraga perdida no meio do oceano, o que talvez seja até melhor para sua imagem, ou trouxe para o cargos os vícios adquiridos no mundo político profissional.

Rachado, dividido, cheio de microcorrentes políticas, o Flamengo cometeu o pecado de fritar publicamente seu maior ídolo e símbolo, Zico. Como fez muitas vezes com tantos outros símbolos.

A política interna se sobrepõe ao interesse maior de um clube que é fundamental não apenas no futebol, mas também nos esportes que ainda são equivocadamente chamado de amadores no Brasil. Falta grandeza a essas pessoas que colocam o interesse pessoal acima de uma instituição gloriosa.

Como todo grande time de futebol, o Flamengo tem condições de conquistar títulos graças a sua mística, sua tradição, ao chamado peso da camisa. Uma taça aqui, outra acolá, mas é o futuro, e o rumo, que direção aponta o olhar atento de alguém que assuma posto no Cesto da Gávea?

Pode vir Dorival Júnior ou qualquer outro treinador que, sem condução, sem rumo, sem um trabalho com objetivo claro, o clube ficará perdido em meio a tempestades e furacões de bastidores.

Infelizmente, para os verdadeiros flamenguistas, aqueles que herdaram o espírito de um time de futebol criado na rua, em meio à sua gente, parece que a politicagem de clube hoje está acima dos destinos de uma instituição histórica.

sexta-feira, julho 20, 2012

O Corte


Quem já foi atleta um dia, em qualquer nível, sabe como é difícil ser deixado de lado, perder um jogo, uma convocação. Por contusão faz parte do esporte, mas o duro mesmo, por mais justo que seja, é um corte por questões técnicas às vésperas de um Mundial, uma Copa, uma Olimpíada. Só não é pior do que um corte por indisciplina.

Abri o jornal hoje cedo e li a notícia do corte da Iziane, do basquete. Na antessala dos Jogos de Londres. De novo, por indisciplina. Semana passada ela foi uma das entrevistadas do Arena SporTV. Fiz a pergunta obrigatória sobre o histórico de cortes e de problemas. A expressão facial da atleta deixou claro o incômodo, mas jornalista não é jornalista para agradar, e sim para perguntar o que as pessoas querem ouvir. A resposta parecia convincente, vinda de uma atleta com perfil mais sereno.

Aí vem o corte. Não importa o que motivou o corte, é uma indisciplina. Hortência é uma pessoa séria e correta, não tomaria uma medida assim sem precisar.

Iziane é talentosa, mas não é Hortência, não é Paula, não é Janeth. Talvez pense ser. Ou o que seria ainda mais decepcionante, teme os grandes momentos, os grandes jogos, o fato de precisar colocar à prova sua capacidade. Muitos atos de indisciplina são, na verdade, uma fuga, uma escapada do atleta que não consegue suportar esse peso de ser ou tentar ser decisivo.

No futuro, Iziane recordará tudo que fez e, principalmente, o que deixou de fazer. Espero que esteja madura o suficiente para não ser tomada pelo arrependimento irreversível.

O corte nunca é uma experiência fácil. Pode parecer fácil para o treinador, mas não é. Sempre fica uma dúvida, ainda que mínima, sobre a decisão. O critério técnico é fundamental, mas acredito que outras questões também tenham influência. Dedicação, ambiente, espírito de grupo.

Para o atleta, é um momento de extrema solidão. É uma derrota individual em um ambiente coletivo. Naquele momento, muitos ganham e só o cortado perde.

Vivi algo um pouco parecido, com pequenas diferenças, quando fui atleta de voleibol, nos distantes anos 80. Eu jogava no infantil do Pinheiros, depois de duas temporadas no Paulistano. Mal tinha treinado no clube novo porque tinha pegado hepatite nas férias.

Um dia fui ver um jogo e encontrei o Deraldo Wanderley, que tinha sido meu técnico no Paulistano, e era treinador da seleção paulista infantil. "E aí, grande, já voltou a treinar? Volta quando?", perguntou o Deraldo, usando sua interjeição característica. Nunca fui de mentira, e respondi que voltaria em mais uns dez ou quinze dias. "Que pena!", disse o Deraldo.

No fim do jogo encontrei o massagista do Paulistano, seu Adriano, se não me falha a memória, uma figura sensacional. Ele me disse: "Rapaz, que pena, o Deraldo ia convocar você pra seleção mas não vai dar tempo, ele me disse, porque ele tem que fazer o último corte antes de você voltar a treinar".

Confesso que foram dias complicados, de alguma revolta. Nesse nível de desempenho, na categoria infantil, uma seleção estadual é um sonho, e eu como atleta não teria, como não tive, outra oportunidade de ser convocado. Eu provavelmente seria cortado após os treinamentos, porque não era um grande jogador, era apenas um bom jogador para aquele nível. Mas os dias passaram e, por não ter sido de fato convocado, foi mais fácil lidar com a situação e tocar a vida de atleta mediano.

Fico imaginando como é difícil para um atleta realmente de alto nível suportar isso. Um corte, seja por questão técnica ou por contusão, é uma ferida profunda, com o perdão da redundância de estilo barato. Se for por indisciplina, é ainda mais triste. Porque o mais difícil o esportista já tinha feito, que é treinar, desenvolver o talento e passar pelas etapas de disputa pela vaga. Mas joga tudo fora ou por egoísmo ou por medo de aceitar o desafio. Muito triste.

quinta-feira, julho 19, 2012


Galo canta alto

em seu terreiro



Há tempos que venho dizendo que com a volta dos jogos dos grandes mineiros a Belo Horizonte o Campeonato Brasileiro teria uma nova relação de forças. Pelo menos para o Atlético, essa regra já está valendo. Certamente valerá para o Cruzeiro assim que a equipe encontrar um ponto de equilíbrio em seu desempenho.

Mas ainda que seja um terreiro intermediário, sem a imponente força do Mineirão (em reforma), o Galo mostrou que em BH será preciso jogar muita bola para ciscar pra cima dele.

O conceito de mando de jogo é fundamental na nova ordem do futebol brasileiro. Vale para tudo, desde arrecadação, passando pro fidelização de torcedores, até pressão (aquela normal do futebol, do pulmão do torcedor) em cima do adversário. Imagine o Corinthians longe do Pacaembu por uma ou duas temporadas, o Inter e o Grêmio jogando fora de Porto Alegre e verifique os problemas do Flamengo sem o Maracanã e será possível entender o que afirmo. Concordar ou discordar é outro papo.

Os grandes mineiros sofreram muito com Sete Lagoas. Nada contra a cidade, nem contra a simpática Arena do Jacaré. Mas era como aquela família que mora num apartamento emprestado pela família, longe do trabalho do pai, longe da rotina. Falta aquela sensação de propriedade, de liberdade para fazer o que se quer, à hora em que se quer fazer.

O Independência não é o Mineirão, longe disso, mas possibilita o acesso das torcidas de Galo e Raposa aos seus times de maneira rápida e direta, sem deslocamentos complicados, viagens etc. E sem o constrangimento de jogar em terras mineiras tendo mais torcida adversária, como geralmente acontecia quando as equipes mandavam partidas contra times paulistas em cidades do Triângulo Mineiro. Por uma questão de proximidade e influência da fronteira paulista e influência.

O Atlético já parece mais à vontade no Independência, sua massa conseguiu transformar o estádio em caldeirão. Não sei se o acordo de administração do estádio feito entre as direções de Galo e Coelho interfere nisso. Ainda não há o mesmo clima em jogos do Cruzeiro, mas certamente haverá se a equipe engatar uma boa sequência.

Bola rolando, o Atlético respondeu a esse clima dos torcedores com uma equipe bem montada, que tem entrosamento na parte defensiva e talento e rapidez na frente, com Jô, Bernard, Guilherme. E ainda um chamariz de grife, que é Ronaldinho Gaúcho.

O Brasileirão é traiçoeiro e já viu muitas reviravoltas. O Vasco está ali, na cola do Galo. É cedo para falar em conquistas, mas o sofrido torcedor atleticano fazia tempo que não começava um torneio com tantas esperanças e razões para levar seu otimismo e sua paixão para o terreiro em BH.


Apito na Mira, a missão


Em tempo: vi parte do jogo entre Galo e Inter por essa gostosa brincadeira que é o Mosaico Multijogos. O lance da expulsão de D´Alessandro parece, pelo vídeo, exagerado. Houve a falta, mas não era, pela imagem, para cartão. Agora, se o árbitro foi ou não ofendido pelo jogador a ponto de mostrar o segundo cartão e o vermelho, é uma questão que fica somente para ambos, infelizmente.

Talvez seja o caso de se pensar numa experiência como a do basquete ou do rúgbi, com microfones para os árbitros. Aí poderíamos saber quem realmente fala a verdade em casos como esse.

quarta-feira, julho 18, 2012


Vender ou

 

não vender?

 

Eis a questão 



Um dos dilemas pelos quais passam o atleta profissional, os dirigentes de clubes e empresários é saber o momento de concretizar uma negociação.

Comprar e vender um jogador faz parte do negócio futebol desde sempre. Para os clubes brasileiros é garantia de sobrevivência e, ainda, uma importante fonte de receita. O País começa, timidamente, a importar grandes jogadores, mas ainda é um exportador do chamado pé-de-obra, como diz o Mauro Beting.

Temos duas bolas da vez nesse dilema, duas jovens promessas do futebol brasileiro. Lucas, do São Paulo, e Oscar, do Inter. O noticiário dá conta de que o São Paulo rejeitou uma oferta de R$ 96 milhões do Manchester United por Lucas, e o Inter aceitará uma de R$ 80 milhões do Chelsea por Oscar.

Para ficar com o que os clubes embolsariam, o São Paulo teria direito a 80% dos direitos econômicos de Lucas, ou R$ 76,80 milhões. O Inter detém 50% dos direitos de Oscar, ou R$ 40 milhões.

Convenhamos, num mundo que caminha para a recessão econômica global, são boladas difíceis de serem rejeitadas, qualquer que seja a realidade dos clubes.

No caso do São Paulo, um dos motivos para a recusa da oferta seria o fato de a direção do clube não estar disposta a oferecer ao agente de Lucas e a sua família, os detentores de 20% dos direitos do atleta, a possibilidade de embolsar R$ 19,2 milhões. Tudo porque a direção são-paulina está em rota de colisão com o agente do jogador, Vagner Ribeiro.

Já no Inter, a questão envolve a reposição de um atleta de qualidade para a vaga de Oscar. Pedido do treinador Dorival Júnior. A direção do Colorado é sincera ao afirmar publicamente que precisa vender jogadores para equilibrar seu orçamento. Nesse caso, a saída de Oscar providenciará um ótimo reforço de caixa.

O São Paulo não fala abertamente sobre isso, até porque o clube vive uma situação política complicada, com disputas judiciais pelo poder. Mas certamente a chegada desse dinheiro aliviaria os números, já que o time não possui patrocinador principal na camisa e tem perdido receita com a recusa de seus maiores rivais paulistas em utilizar o estádio do Morumbi.

Curiosamente, Inter e São Paulo travaram recentemente uma batalha jurídica por Oscar, encerrada com o pagamento de cerca de R$ 15 milhões por parte do clube gaúcho à agremiação paulista.

A decisão, repito, é complicadíssima. Vender ou não vender? Ninguém tem bola de cristal para saber se Lucas e Oscar se transformarão em grandes craques internacionais em breve, supervalorizando seus direitos no mercado.

Ambos são jogadores de muito potencial. Oscar parece mais pronto, já se mostrou decisivo pelo Inter, já fez jogos importantes pela seleção brasileira principal, será titular na Olimpíada de Londres.

Lucas está um pouco abaixo. Ainda não se mostrou realmente decisivo pelo São Paulo, alterna bons e maus momentos, e na seleção principal também está devendo um desempenho à altura de sua valorização.

Acho, inclusive, que há um certo ágio nos valores oferecidos por ambos. O que é praxe no futebol, já que os atletas têm seus direitos econômicos fatiados em diversos acionistas, e todo mundo quer ganhar um pouco.

Nem Lucas, nem Oscar estão no patamar, por exemplo, de Neymar, que já jogou e conquistou muito mais. Acontece que os preços desses jovens no mercado atingiram valores que estão muito acima do desempenho demonstrado. Outro fenômeno do esporte. Provocado pela atuação de empresários e agentes. Desde que eram crianças, todos eles, Neymar também, eram vendidos como craques, anunciados como estrelas, prometidos como ativos de enorme valor.

Neymar já vingou em termos de clube e no futebol sul-americano. Justifica-se uma grande valorização. Oscar está em processo de amadurecimento e confirmação. Lucas parece, em minha avaliação, ainda no fim dessa fila de talentos, embora seu valor ja esteja muito alto. Aí vale a esperteza de seu agente, que soube colar a imagem do atleta à de Neymar, ainda que os desempenhos com a bola nos pés sejam bem difernetes.

Tecnicamente, Neymar é o mais completo dos três. É craque por aqui, com chance de ser craque no mundo todo. Diria que, hoje, Oscar está acima de Lucas em termos de desempenho. Tem mais repertório, sua área de atuação no campo é maior, e já está mais maduro. É o meia que pode tanto ser organizador como definidor, chegando na área. Lucas é um jogador de arranque, explosão e velocidade. Sua área de atuação no campo, tecnica e taticamente, é menor. Pela força física talvez chame atenção na Itália e na Inglaterra.   

O Batista, grande jogador dos anos 70 e 80, hoje comentarista na RBS, uma vez disse a frase tradicional dos gaúchos para explicar porque muitos jogadores aceitam serem negociados para equipes médias ou pequenas em determinados momentos da carreira, quando não parecia ser a melhor escolha. "Cavalo quando passa encilhado...", disse o Batista, deixando claro que tem que montar.

A carreira é curta, existem contusões, imprevistos, dificuldades de adaptação e, muitas vezes, o talento não se desenvolve como se acreditava.

Não tenho a arrogância de dizer se é certo ou errado vender ou não vender. Cada cabeça, uma sentença. Se fosse eu o dirigente do clube, pelo cenário que se avizinha na economia, venderia.

Mas é um dilema de tirar o sono de todos os envolvidos. 

segunda-feira, julho 16, 2012


Apito na mira



A reclamação contra o nível das arbitragens no futebol brasileiro é geral. A rodada foi marcada por uma série de equívocos na Série A. Erros de interpretação, na maioria. Mas alguns erros de aplicação da regra que podem, e devem, ser evitados.

Tecnicamente, nossos árbitros são bem formados e informados. Mas acredito que se percam por uma questão básica, que é querer impor disciplina acima da questão técnica.

Um bom árbitro garante a disciplina de qualquer partida tomando uma medida muito simples: apitando bem. Se apita mal, não adianta espernear, gritar, gesticular, que perde o controle dos jogadores e do jogo.

Há uma questão que pouca gente lembra, mas que atrapalha muito a arbitragem e, consequentemente, o andamento dos campeonatos no Brasil. É o comportamento inadequado dos jogadores.

O atleta brasileiro de futebol ainda acha que é mais malandro que a malandragem, e que o blefe é uma estratégia legítima.

Essa mentalidade caiu em desuso há muito tempo no futebol europeu e hoje é condenada pelos torcedores de lá. Além de ser combatida por dirigentes, treinadores e jogadores.

No Brasil, infelizmente, dirigentes, treinadores e jogadores adoram reclamar quando as marcações da arbitragem os prejudicam, mas calam vergonhosamente quando são beneficiados. Parecem não querer o bem do esporte, do negócio do qual fazem parte, mas apenas ver perpetuada a famosa "Lei de Gérson".

Uma coisa é o erro da arbitragem, que existe, sempre existirá. Assim como o erro do jogador. Faz parte do jogo. Outra coisa é a indução ao erro com o objetivo de enganar o adversário, o árbitro e o torcedor que está no estádio e em casa, vendo pela TV.

Pelo menos dois lances da última rodada são deste último tipo. Um aconteceu em Porto Alegre, em Inter x Santos. Lucas Lima claramente joga sua perna esquerda ao encontro da perna direita de Juan e acaba provocando o erro de Wagner do Nascimento Magalhães, que termina com a expulsão do lateral santista. Em Pituaçu, Íbson, do Flamengo, cava descaradamente um pênalti que o zagueiro do Bahia não comete, e induz o árbitro Francisco Nascimento ao erro. Antes o árbitro já havia interpretado de forma equivocada a jogada em que Luís Antonio foi expulso.

Houve outros equívocos. A expulsão de Werley, do Grêmio, ocorre em um lance em que sequer aconteceu falta. Marcelo Aparecido de Sousa, nervoso demais no jogo, errou ao marcar a falta e, consequentemente, expulsão o atleta do Grêmio.

Em Palmeiras x São Paulo, Péricles Basols Cortez e seus auxiliares cometeram um erro de atenção na cobrança do pênalti de Valdívia, defendida por Dênis. Houve dupla invasão da área, por parte de jogadores das duas equipes, e nesse caso a cobrança precisa ser repetida, diz a regra. O árbitro também errou ao mostrar cartão amarelo para Rafael Tolói no lance do pênalti. Nem toda penalidade cometida precisa ser acompanhada de cartão. Foi uma falta de imprudência, não de ação temerária ou jogo brusco.

A arbitragem seguirá sendo polêmica, com erros e acertos. Mas acredito que uma mudança de comportamento dos jogadores pode ajudar a diminuir o número de erros.

Não cabe mais, nos dias de hoje, tentar enganar a arbitragem com o intuito de levar vantagem, prejudicando claramente o adversário.

É uma questão de mentalidade, de educação e de cultura.

quinta-feira, julho 12, 2012


Um Palmeiras diferente



Mais do que marcar o retorno às grandes conquistas de um gigante do futebol brasileiro, a segunda vez do Palmeiras como campeão da Copa do Brasil acrescenta uma nova faceta a esse clube em breve centenário.

Tradicionalmente marcado pelas conquistas de grandes equipes, outrora chamadas de Academias, e também com esquadrões montados à base de muito dinheiro, desta vez o Verdão conseguiu a taça de um jeito diferente: com um time nada acadêmico, porém raçudo, determinado e que superou suas limitações para vencer grandes adversários como Grêmio e Coritiba, com times mais fortes, e fazer sua torcida soltar o grito preso na garganta.

A última grande fase de conquistas palmeirense tinha ocorrido nos anos 1990, graças ao revolucionário projeto de co-gestão com a Parmalat. Desta vez, ainda que marcado por uma bagunça política que atrapalha o clube profundamente, o Palmeiras venceu sem parcerias, o que atesta outra diferença marcante.

Venceu de forma invicta, batendo um adversário que dificilmente deixa de vencer jogos eliminatórios em casa, o renovado Coritiba.

Na decisão, o Palmeiras fez o que faz de melhor: marcou o adversário e lutou. Não foi sufocado pelo Coxa na primeira etapa, e baixou a temperatura do Inferno Verde. Na primeira parte da etapa final, aí, sim, foi sufocado, tomou o gol, mas respondeu rápido, esfriando de vez o time paranaense.

No lance do gol, durante a transmissão do SporTV, achei que não havia sido falta em Mazinho. Vi de novo hoje no Arena e, ao vivo, reconheci que errei. Houve a falta. Assim como houve a falha de marcação de Everton Costa, possibilitando ao esforçado Betinho escrever seu nome na história.

Mas a marca do título alviverde tem nome e sobrenome: Marcos Assunção. Preciso, fatal, especialista na bola parada, na qual atingiu estágio de excelência. Em dez dos 23 gols palmeirenses na Copa do Brasil havia o DNA de Assunção.

Felipão conseguiu reconstruir a Família Scolari no vestiário e, quando faz isso, ele sempre vai longe. Uniu um time que vinha sendo judiado por derrotas, criticado, mas que soube, dentro de sua característica, encontrar na superação a chave para a vitória.

O Palmeiras ganha alívio e tranquilidade para pensar no futuro na Libertadores de 2013, projetando o centenário em 2014, mas ainda precisando de paz política para poder ser um clube menos tenso e mais voltado para sua verdadeira razão de ser: o futebol.

Deve resolver rápido a questão do treinador em 2013, para pensar na montagem do elenco.

O Coritiba tem um projeto de reconstrução como clube invejável. Bem pensado, bem executado, sinalizando uma instituição livre de dívidas em breve, e com planos à altura da paixão de sua gente. Está trabalhando forte para figurar entre as potências nacionais em breve.

Na decisão, pecou pela falta de pontaria nos primeiros 45 minutos em Barueri, quando poderia ter assegurado o título. Teve muito volume de jogo, mas pouca capacidade de definição. Precisa buscar pelo menos um atleta realmente decisivo para poder ser mais forte como visitante, equilibrando sua incrível performance como mandante. O ímpeto ofensivo foi superado pela gana de marcação do Palmeiras no Couto Pereira.



terça-feira, julho 10, 2012



A seleção de 82, pelo

 

olhar esperto do Mora















Muitos livros sobre a Copa de 1982 estão sendo publicados. Minha ideia é tentar ler todos, mas um certamente será lido, e como prioridade.

Pela necessidade do tema e pela qualidade do autor.

Marcelo Mora, além de um caro e antigo amigo, é desses jornalistas cada vez mais raros nos dia de hoje. Gosta de notícia, gosta de fazer o leitor pensar e, principalmente, gosta de abastecer o leitor com boa informação e bom texto.

É dele o livro "Telê e a seleção de 82, da arte à tragédia" (Publisher Brasil), que será lançado hoje em São Paulo, a partir das 19 horas, no Bar São Cristovão (Rua Aspicuelta, 533, fone 30979904).

Lembro de muitos animados debates que tivemos sobre a seleção de 82 na saudosa redação de A Gazeta Esportiva, Mora, eu, Marcelo Tieppo, Menon, Fernando Galvão, João Henrique Pugliese.

Aposto que muitas das teses levantadas em intermináveis pescoções serão colocadas no livro.

Sempre é bom voltar a esse tema, recordar aquele time brasileiro, reconhecer os méritos do grande time italiano e falar de futebol.

Vale a pena ir até o São Cristovão, comprar o livro e conhecer o Morinha, que é uma figuraça!


Agitação Futebol Clube



Os últimos dias de bastidores envolvendo o futebol brasileiro me fizeram lembrar dos tempos em que Francisco Horta, cartola do Fluminense, agitava o futebol carioca com suas mirabolantes transações de jogadores. Os famosos troca-trocas.

Criava-se um clima bacana, havia notícia, interesse dos torcedores, motivação dos jogadores e os torneios não ficavam na mesmice.

Hoje os tempos são outros. Os campeonatos estaduais perderam em interesse, e o Brasileirão é a cereja do bolo.

Existe uma agitação no mercado da bola que considero altamente positiva. Ronaldinho Gaúcho no Galo, Borges no Cruzeiro, e os gigantes mineiros novamente atuando em BH, o que muda consideravelmente o equilíbrio de forças do campeonato.

No Sul, o Inter parece disposto a deixar de lado a máxima recente de que não confirma favoritismo, e foi buscar Forlán, pensa em Ganso. O Grêmio contratou Elano, tem Zé Roberto e certamente será uma equipe mais forte em algumas rodadas.

No economicamente injustiçado Nordeste há o Sport montando um elenco interessante, o Náutico deixando aflitos os adversários que o visitam, e Falcão tentando dar uma nova cara ao Bahia.

No Rio, o Vasco segue forte, mas corre risco de ser desmanchado por problemas econômicos. O Botafogo trouxe Seedorf, uma belíssima sacada, o Fluminense tem um baita elenco, e o Flamengo tenta arrumar a bagunça administrativa. E segue jogando alguns balões de ensaio tipo Riquelme. Vai que algum deles vinga? E se Adriano um dia voltar a jogar bem?

Em São Paulo, o Corinthians voltará ao Brasileirão com sua força e equilíbrio, agora respaldados pelo título sul-americano. O Santos não terá Neymar e não se sabe o que pode ser do Santos sem ele. O Palmeiras pode jogar a próxima rodada como campeão da Copa do Brasil e muito mais leve. O São Paulo aposta em Ney Franco para colocar fim à sequência de tiradas da reta da diretoria. A Ponte Preta faz uma bela campanha, e a Lusa parece cada vez mais longe do rumo desejado por sua gente.

Temos ainda um Coritiba fortíssimo em Curitiba, também podendo começar a próxima rodada como campeão da Copa do Brasil. Um Figueirense curtindo uma nova loucura.

Isolado e, momentaneamente sem forças para reagir, aparece um fragilizado Atlético Goianiense.

O Brasileirão promete muito nesta temporada. Caras novas ainda virão. Sem Libertadores e Copa do Brasil teremos três equipes fortíssimas de volta ao torneio, Timão, Coxa e Verdão, e a relação de forças será alterada.

Não tenho dúvidas em afirmar que, tecnicamente, o Brasileirão é muito mais equilibrado e difícil que a Libertadores, cujo domínio vem sendo exercido sintomaticamente pelos clubes do nosso País.

sexta-feira, julho 06, 2012


Palmeiras abre vantagem,

mas Coxa ainda está vivo



Mesmo dominado em boa parte do jogo, o Palmeiras conseguiu fazer 2 a 0 sobre o Coritiba, na primeira partida da final da Copa do Brasil, e leva para Curitiba uma vantagem que, se não é definitiva, é muito interessante.

O time paranaense, contudo, talvez seja hoje o mais forte mandante do futebol brasileiro, e mostrou, com a bola rolando, que tem mais conjunto e técnica do que o Palmeiras. A equipe paulista assumiu sua inferioridade técnica e jogou com grande espírito de luta. Agora, tem a vantagem do placar e um modelo de jogo que é mais adequado à capacidade de seus jogadores: atuar fechado na marcação, sem precisar propor o jogo.

O ponto negativo da partida foi a péssima arbitragem do goiano Wilton Pereira Sampaio. É difícil entender como um árbitro sem grande experiência é escalado para a final da Copa do Brasil. Sampaio inverteu faltas e simples cobranças de lateral, irritou os jogadores e errou muito mais do que acertou.

O lance do pênalti a favor do Palmeiras é discutível. Eu acho que houve a penalidade, porque na arrancada de Betinho, Jonas puxa o jogador, após tê-lo deixado avançar. Deixa de ser o agarra-agarra para ser um agarra mais forte da parte de um. Há opiniões diferentes.

O que não é discutível, é cristalino pelas imagens, é o pênalti cometido por Márcio Araújo em Tcheco, na segunda etapa. Na cara do juiz, que ignorou. Assim como um lance bizarro em que Maurício Ramos quase arrancou o calção de Everton Costa e sequer foi marcada a falta.

O time paranaense abusou das faltas, fez rodízio em Valdívia, e o árbitro também ignorou esse fato. Na soma de erros, o Coritiba tem razão em reclamar de alguns equívocos capitais, em especial o pênalti de Araújo em Tcheco.

O que sobrou de espírito de luta ao Palmeiras faltou em capacidade de finalização ao Coritiba. No primeiro tempo, quando encurralou o alviverde paulista, o curitibano perdeu chances inacreditáveis, a maior delas com Júnior Urso, que, egoísta, não deu o gol para Everton Ribeiro. Foi um pouco o resumo da história do Coxa como visitante na Copa do Brasil: cria mas não faz.

Quando sofreu o segundo gol, o Coxa acusou o golpe e saiu do seu padrão de jogo com base em velocidade e jogadas individuais dos velozes atacantes e meias. Passou a apostar no óbvio chuveirinho de Tcheco e no inoperante Lincoln.

O Palmeiras se fechou, seus zagueiros se agigantaram, e Maikon Leite perdeu um gol inacreditável, que poderia ter deixado os paulistas com uma mão e meia na taça.

O jogo de volta promete ainda mais emoções. O Coritiba é muito forte em seu estádio, atua com volume de jogo e confiança incríveis. Nesta Copa do Brasil venceu todos os jogos no Couto Pereira por pelo menos dois gols de diferença. Mas foi frágil fora de casa.

O Palmeiras está invicto na Copa do Brasil, e fez gol em todos os jogos nos quais atuou fora de casa. Seu melhor jogo na competição foi justamente como visitante, os 2 a 0 sobre o Grêmio, no Olímpico. Tem o gol qualificado como seu grande aliado. Como o Coritiba não marcou em Barueri, um gol palmeirense no Couto pode definir o título.

A única certeza é a de mais um grande jogo.

quarta-feira, julho 04, 2012


Corinthians, irretocável!



Campeão invicto da Libertadores não é para qualquer um. Tudo que os corintianos suportaram de gozação dos rivais e de sofrimento deles próprios foi chutado para longe duas vezes por Émerson, o Sheik das Américas.

Se a Libertadores já é difícil de ganhar, imagine sem perder um jogo!

A atuação do Corinthians diante de um Boca seis vezes campeão continental foi irrepreensível. Em momento algum o time brasileiro deixou de mandar no jogo, abandonou seu estilo ou caiu em provocações. Sobrou nas performances técnica, tática e, principalmente, física.

Riquelme nada fez digno de registro, ou que ao menos lembrasse o passado de craque. Schiavi parecia um aposentado chamado às pressas para um serviço extra.

No segundo tempo, logo de cara, o Corinthians percebeu que o adversário não tinha forças para buscar a vitória e tentaria não perder.

Aí apareceram os personagens inevitáveis de uma conquista inesquecível e histórica para os alvinegros paulistas: Danile e Émerson.

Danilo, tão xingado pelos corintianos, tão criticado pelos analistas corintianos, mas tão decisivo como sempre foi nos momentos decisivos. Gelado ao ponto dar um passe de calcanhar precioso para o gol de Sheik.

Esse Sheik que é a antítese do time corintiano. Talvez por isso seja o grande personagem da final. Sheik é o peladeiro, o boleiro brasileiro por excelência. Malandro, esperto, bom de bola. Destoa do time absolutamente correto e disciplinado do Corinthians. Arrisca, faz o imprevisto. A chance que Diego Souza desperdiçou pelo Vasco nas quartas-de-final, Sheik não chutou para fora contra o Boca.

Danilo e Sheik em campo, e Tite e a diretoria do Corinthians fora dele. São os personagens.

Tite por ter armado uma equipe taticamente muito forte, séria e ciente de sua capacidade e de suas limitações. Por isso chegou onde chegou. O Corinthians teve times mais fortes que esse de 2012 que não chegaram, também, porque não reconheciam seus limites e os dominavam.

E a diretoria do Corinthians por estar trabalhando o futebol de maneira muito competente, já há algum tempo. Aproveitando-se do fato de os maiores rivais da cidade viverem momentos políticos que atrapalham o futebol, o Timão tem feito tudo direitinho. Mesmo sem contar com um craque decisivo, como tem o Santos. Que, aliás, foi derrotado pelo Corinthians na Vila, com gol do Sheik das Américas.

Grite, comemore, desabafe, torcedor corintiano!

Demorou. O Corinthians foi o último entre os grandes paulistas a vencer a Libertadores, mas veio de um jeito que certamente deixará os adversários com uma pontinha de inveja.

Parabéns, aos novos e muito dignos campeões da América!