Não tenho receio em afirmar que o Campeonato
Brasileiro é o torneio nacional de futebol mais equilibrado em disputa no
planeta bola. Não há outra competição com o mesmo perfil que se aproxime do
Brasileirão em termos de paridade de forças e candidatos potenciais ao título.
A qualidade pode – e deve – ser discutida, mas a competitividade do nosso Campeonato
Nacional é imbatível.
Muita
gente boa defende uma tese sobre o Brasileirão que o campeonato desmente. A
tese, segundo seus defensores, prevê o que eles chamam de “espanholização” do
futebol brasileiro. Mas o que seria esse monstrengo? Uma concentração de
dinheiro nos cofres dos clubes mais populares do País, através de direitos de
transmissão pela TV, que criaria uma realidade parecida com a terra do rei Juan
Carlos, onde Barcelona e Real não encontram concorrência. De acordo com essa
teoria, Flamengo e Corinthians se transformariam no Real e no Barça do Brasil.
Uma
rápida olhada na classificação do Brasileiro serve de argumento para aqueles
que discordam dessa tese. O Flamengo luta para não cair, o Corinthians está
mais próximo da zona de rebaixamento que da classificação para a Libertadores
(escrevo a coluna antes da rodada).
Entre os quatro primeiros classificados (que serão os mesmos, com
mudança, talvez, da ordem entre terceiro e quarto) não há um dos cinco clubes
mais populares do Brasil. Um desses cinco está na Série B, outro está na zona
de rebaixamento da Série A, dois lutam desesperadamente para se afastar da
degola, e um está mais próximo da parte debaixo da tabela.
O
melhor time do torneio nacional de 2013 terminou 2012 desacreditado. Mesmo sem
estar entre os líderes no quesito popularidade e dinheiro da TV, o Cruzeiro
encontra um caminho para buscar receitas e montar um bom time. O Botafogo luta
para sobreviver e com base na revelação de jovens jogadores vai moldando seu
caminho. O Grêmio recebeu muito dinheiro do programa de sócios-torcedores e
também com o negócio da construção de seu novo estádio. Que dizer o Atlético
Paranaense? Sem sua maior fonte de receita e de pressão sobre os adversários, o
estádio, abdicou do estadual para se concentrar no Brasileiro, e transformou-se
em gratíssima surpresa.
Argumentam
os defensores da tese da espanholização que o torneio desta temporada é ponto
fora da curva, que a tendência é a concentração de títulos entre os clubes que
receberem mais dinheiro da TV. Talvez o que falte seja capacidade
administrativa e criatividade para buscar fontes alternativas de receita. Com
mais de cem mil sócios, o Internacional descobriu recursos que podem compensar
uma questão mercadológica e geográfica. Por estar num mercado menor que Rio e
São Paulo, com menos exposição nacional, o Inter não recebe cotas de patrocínio e TV
equivalentes, mas arrecada de maneira consistente com a paixão de sua torcida.
Outra
questão, esta puramente futebolística, ampara meu argumento contra a tal
espanholização. Lá na terra de Barça e Real, equipes como Valência, Sevilla,
Athletic de Bilbao e até mesmo o Atlético de Madri, além de todos os outros
médios e pequenos, soltam fogos com uma vaga na Liga Europa e vão ao orgasmo
com um lugar na Liga dos Campeões. No Brasil há pelo menos 12 times que entram
no Brasileirão para disputar o título. Em alguns casos podem nem ter uma equipe
que reúna essa condição técnica, mas a história, a tradição, o peso da camisa
fazem com que o torcedor não aceite a mera participação.
Por
isso o Brasileiro, embora esteja devendo tecnicamente, entrega muito em
equilíbrio, em disputa e em emoção. Por isso não aceito as teses de que o
futebol brasileiro deve se adequar ao europeu. Nosso futebol sempre foi forte e
vencedor por ser diferente, por buscar seus caminhos, suas soluções e
sobreviver ao amadorismo reinante entre os cartolas. Há muito mais diferença
entre o futebol brasileiro e o europeu que um Oceano Atlântico possa explicar.