segunda-feira, setembro 23, 2013

Brasileirão, suas teses e seus mistérios


Não tenho receio em afirmar que o Campeonato Brasileiro é o torneio nacional de futebol mais equilibrado em disputa no planeta bola. Não há outra competição com o mesmo perfil que se aproxime do Brasileirão em termos de paridade de forças e candidatos potenciais ao título. A qualidade pode – e deve – ser discutida, mas a competitividade do nosso Campeonato Nacional é imbatível.

Muita gente boa defende uma tese sobre o Brasileirão que o campeonato desmente. A tese, segundo seus defensores, prevê o que eles chamam de “espanholização” do futebol brasileiro. Mas o que seria esse monstrengo? Uma concentração de dinheiro nos cofres dos clubes mais populares do País, através de direitos de transmissão pela TV, que criaria uma realidade parecida com a terra do rei Juan Carlos, onde Barcelona e Real não encontram concorrência. De acordo com essa teoria, Flamengo e Corinthians se transformariam no Real e no Barça do Brasil.

Uma rápida olhada na classificação do Brasileiro serve de argumento para aqueles que discordam dessa tese. O Flamengo luta para não cair, o Corinthians está mais próximo da zona de rebaixamento que da classificação para a Libertadores (escrevo a coluna antes da rodada).  Entre os quatro primeiros classificados (que serão os mesmos, com mudança, talvez, da ordem entre terceiro e quarto) não há um dos cinco clubes mais populares do Brasil. Um desses cinco está na Série B, outro está na zona de rebaixamento da Série A, dois lutam desesperadamente para se afastar da degola, e um está mais próximo da parte debaixo da tabela.

O melhor time do torneio nacional de 2013 terminou 2012 desacreditado. Mesmo sem estar entre os líderes no quesito popularidade e dinheiro da TV, o Cruzeiro encontra um caminho para buscar receitas e montar um bom time. O Botafogo luta para sobreviver e com base na revelação de jovens jogadores vai moldando seu caminho. O Grêmio recebeu muito dinheiro do programa de sócios-torcedores e também com o negócio da construção de seu novo estádio. Que dizer o Atlético Paranaense? Sem sua maior fonte de receita e de pressão sobre os adversários, o estádio, abdicou do estadual para se concentrar no Brasileiro, e transformou-se em gratíssima surpresa.

Argumentam os defensores da tese da espanholização que o torneio desta temporada é ponto fora da curva, que a tendência é a concentração de títulos entre os clubes que receberem mais dinheiro da TV. Talvez o que falte seja capacidade administrativa e criatividade para buscar fontes alternativas de receita. Com mais de cem mil sócios, o Internacional descobriu recursos que podem compensar uma questão mercadológica e geográfica. Por estar num mercado menor que Rio e São Paulo, com menos exposição nacional, o Inter  não recebe cotas de patrocínio e TV equivalentes, mas arrecada de maneira consistente com a paixão de sua torcida.

Outra questão, esta puramente futebolística, ampara meu argumento contra a tal espanholização. Lá na terra de Barça e Real, equipes como Valência, Sevilla, Athletic de Bilbao e até mesmo o Atlético de Madri, além de todos os outros médios e pequenos, soltam fogos com uma vaga na Liga Europa e vão ao orgasmo com um lugar na Liga dos Campeões. No Brasil há pelo menos 12 times que entram no Brasileirão para disputar o título. Em alguns casos podem nem ter uma equipe que reúna essa condição técnica, mas a história, a tradição, o peso da camisa fazem com que o torcedor não aceite a mera participação.

Por isso o Brasileiro, embora esteja devendo tecnicamente, entrega muito em equilíbrio, em disputa e em emoção. Por isso não aceito as teses de que o futebol brasileiro deve se adequar ao europeu. Nosso futebol sempre foi forte e vencedor por ser diferente, por buscar seus caminhos, suas soluções e sobreviver ao amadorismo reinante entre os cartolas. Há muito mais diferença entre o futebol brasileiro e o europeu que um Oceano Atlântico possa explicar.

sexta-feira, setembro 13, 2013

Scolari vai moldando a família de novo


Estive com a seleção brasileira em Boston, comentando a convincente vitória por 3 a 1 sobre Portugal.

Algumas coisas ficaram evidentes.

A primeira: Neymar amadurece a passos largos e não pipoca. É o craque, o farol do time. Se estiver bem na Copa, as chances brasileiras são boas.

A segunda: Thiago Silva é o dono da defesa. Seguro, firme, discreto. Não precisa ser espalhafatoso como David Luiz para exercer sua liderança.

A terceira: Felipão é danado. Ele mudou o clima da seleção em pouco tempo e vai criando a nova versão de sua família. Os jogadores pouco reclamam e quando reclamam é de questões que não se referem ao dia-a-dia dentro de campo.

Por exemplo: os jogadores ficaram putos com a viagem para Boston. A Gol é a transportadora oficial da seleção e destaca um de seus Boeing 737 para as viagens do time. São aviões modernos, mas nada confortáveis nem sequer para viagens curtas. Que dirá para uma viagem de mais de dez horas, com uma escala na República Dominicana.

Mesmo com uma fileira de assentos liberada para cada jogador, deitando em três assentos, o conforto passa longe. Estrelas milionárias, os atletas viajam em classe executiva ou em primeira classe, e chegaram arrebentados em Boston. Tanto que o treino de domingo foi facultativo.

Não se trata de frescura, é uma prerrogativa para atletas de alto rendimento nesse tipo de viagem. E a CBF tem dinheiro suficiente para pagar voos e aeronaves mais confortáveis.

Os jogadores fizeram a reclamação chegar aos ouvidos da mídia, mas isso em nada afetou o trabalho. Discretamente, a comissão técnica apoiou, internamente, a reclamação.

Outro aspecto da Família Scolari em versão 2013/14 é o ambiente entre o pessoal de apoio da seleção. Ninguém faz questão de esconder o alívio em relação aos tempos de Dunga. Qualquer conversa redunda numa crítica aberta ao treinador da Copa de 2010, ao ambiente carrancudo e pesado, ao tratamento pouco ou nada polido.

No que tange ao relacionamento com a mídia, Felipão tem seus rompantes, mas faz questão de todos os dias aparecer no saguão dos hotéis para um bate-papo amigável, forma uma roda em torno dele e fala bastante.

Isso se deve aos jornalistas gaúchos que acompanham a seleção pelos veículos de seu estado. Sempre aparece alguém com um chimarrão, um termo gauchesco, e o ambiente desanuvia. Ponto para a cordialidade e para o mate. 

terça-feira, setembro 03, 2013

Manifesto aos basqueteiros

Adoro basquete, embora tenha jogado vôlei e trabalhe 90% do tempo com futebol. Meu primeiro emprego foi na assessoria de imprensa da Federação Paulista de Basquete, já cobri Mundiais e Olimpíadas acompanhando o basquete brasileiro.

Dá uma tristeza ver o que aconteceu com esse esporte maravilhoso no Brasil. Embora seja difícil, a vaga para o Mundial ainda é possível. Havia uma expectativa de que a participação olímpica no masculino após tanto tempo mudasse a cabeça do "basqueteiro" nacional.
Mas parece que nada mudou.

Existe um conflito interminável entre gerações que contaminou o basquete brasileiro, em especial o masculino, de uma má vontade crônica de todos contra todos.
Sem contar o discurso pateticamente invejoso de alguns que conseguem argumentar que o vôlei tem culpa na decadência do basquete.
O que falta é união entre as pessoas que fizeram e fazem o basquete. Há muita vaidade, muito ressentimento, muita conversinha.
O tempo foi passando, o esporte foi evoluindo e o Brasil ficou preso a esse mundinho de mentalidade canhestra, pequena.
Não estou inventando nada, basta pesquisar na internet. Existe um rancor de algumas pessoas da geração dos anos 1970 e 1980 com a turma bicampeã mundial, quando deveria haver respeito e reverência, troca de opiniões.
Assim como existe um rancor de alguns da geração bicampeã mundial pela falta de reconhecimento.
Tudo deveria ser resolvido com uma conversa, com um comando.
O basquete tem um mercado potencial enorme no Brasil, praticantes e simpatizantes apaixonados, mas a postura política de coitadinho, de primo pobre não condiz com essa realidade.
Dá mais tristeza ver o feminino, campeão mundial, prata olímpica, de Paula, Hortência, Janeth, que não engata, não dissemina sua presença pelo País.

Entre os esportes coletivos de alto rendimento no Brasil o basquete é, de longe, o de pensamento mais individualizado. Parece ser cada um por si e todos contra todos.

Acredito que o Brasil tem muitos treinadores capazes, estudiosos, ex-jogadores e jogadores de boa vontade, capazes de resgatar nossa escola ou pelo menos adaptá-la aos novos tempos.

Mas sem um projeto coletivo, como esporte, com um pensamento voltado para o sucesso de todos e não apenas de alguns, não vai andar.

Acho injusto jogar na conta dos atletas que atuam na NBA a responsabilidade por um eventual fracasso na Copa América, com perda da vaga para a Copa do Mundo de 2014.

É preciso avaliar individualmente cada caso. Existem seguros caríssimos, compromissos assumidos, e a NBA é um mundo à parte.

Além disso, com toda a franqueza, nossos jogadores da NBA não são protagonistas em nenhum time da NBA. Se formos comparar com a importância dos argentinos, por exemplo, do Scola, do Ginobili, esses, sim, protagonistas. Sempre se esperava muita coisa dos brasileiros que passaram ou passam pela NBA e poucos deles entregaram na medida dessa expectativa. Varejão, mesmo antes de ir para a NBA, sempre se destacou. Spliter agora começa a ganhar algum espaço, mas longe de ser um protagonista.

Tomara que eu esteja errado, mas parece cada vez mais que a aventura olímpica de 2012 foi sonho de algumas noites de verão londrino.

Acorda, basquete!