sábado, fevereiro 21, 2015

Coerência x torcedor

Torcedor será sempre torcedor.

Que não se cobre desta categoria racionalidade e análise isenta.

Lembro-me de ler e ouvir severas críticas a Tite em 2013, acusando-o de formar um Corinthians retranqueiro, que não sabia atacar, que jogava para trás.

Agora é saudado como moderno, eficiente e mestre nas estratégias defensivas. Uai, caras-pálidas, não era assim em 2012? Não foi em 2013 apenas porque não ganhou?

Muricy livrou o São Paulo de um rebaixamento que parecia certo em 2013. Foi saudado com libelos que atacavam sua anterior saída do time e pediam sua permanência eterna, como legítimo herdeiro do legado de Telê.

Ano passado o fato de a equipe mostrar bom toque de bola foi motivo para mais elogios. Lembro-me particularmente de um Majestoso no Morumbi no qual Maicon atuou como segundo volante e marcou Paulinho, que estava no auge, com precisão. Agora o treinador é chamado de ultrapassado e sem motivação.

Não tem jeito. Torcedor só acredita numa coisa: vitória.

Não vê futebol, vê a vitória a qualquer preço. Todo treinador é burro e o time quase sempre parece melhor do que realmente é aos olhos do apaixonado.

A maioria não sabe dizer o que é uma linha de três zagueiros, diferenciar sistema de jogo de esquema tático ou identificar um jogador em sua posição.

Mas acham que sabem mais do que os treinadores e os jogadores, todos juntos.

Fazem parte do mundinho da bola.

Entendem que porque fazem um golzinho na pelada com os barrigudos no fim-de-semana podem treinar e até jogar no Real Madrid.

segunda-feira, fevereiro 09, 2015

Ecos do dérbi paulista

Foi um jogo de razoável para bom o dérbi paulista.

A rigor, em termos de oportunidades, foi igual, exceto pela falha do zagueiro palestrino Victor Hugo, que tem potencial e não deve ser crucificado.

Prass fez duas grandes defesas, em tiros de Bruno Henrique e Mendoza. Cássio fez uma, em cabeçada de Victor Hugo, e Walter outra, em chute cara-a-cara de Lucas. Em duas cabeçadas perigosas, Danilo e Victor Hugo poderiam ter marcado.

Claro que há uma diferença óbvia de padrão de jogo. O Corinthians tem sequências de bons trabalhos sendo aproveitados por Tite e Mano, Mano e Tite, sucessivamente. A equipe é praticamente a mesma da temporada passada, que foi boa. É um time que confia e acredita em seu trabalho e na sequência dele.

No Palmeiras praticamente nada tem sido aproveitado de uma temporada para outra e de 2014 para 2015 nada foi. Nada mesmo. É um time novo, com jogadores que ainda serão incorporados. Até equalizar condição física e conseguir padrão técnico e tático vai um bom tempo.

Fora isso, o Corinthians se preparou para jogar uma decisão em mata-mata de Libertadores e está num padrão físico superior, além da questão tática.

Individualmente, dois jogadores se destacaram: Danilo e Petros. Danilo é um dos jogadores mais inteligentes do futebol brasileiro, lê e entende o jogo como poucos e sabe o que precisa fazer. Frio, discreto e decisivo. Petros é mais explosivo, não tem a técnica de Danilo, mas mostra boa leitura tática e condição física e se destacou.

O Palmeiras mostrou uma dupla de zagueiros que é vigorosa e deve evoluir. Com Arouca o meio terá mais proteção e consistência, Cleiton Xavier pode dar poder de fogo ao meio-campo, assim como Valdívia, se ficar, o toque de criatividade. Não se pode julgar Dudu por um jogo. Falta um atacante que assuste a zaga adversária, como Guerrero. E o clube não pode repetir a burrada de 2014, que foi dar peso demais ao Paulistão e deixar de trabalhar a temporada. Talvez não seja um time para conquistar títulos imediatamente, mas certamente não passará sufoco se o trabalho for mantido.

O Corinthians seguirá sendo muito forte na defesa e se tiver em Jadson um armador mais consistente e ligado em todos os jogos, será candidato potencial a conquistas. Principalmente se mantiver Guerrero, seu melhor jogador.

quinta-feira, fevereiro 05, 2015

Truques e pegadinhas das regras

Embora pareçam simples, as regras do futebol são cheias de complicações e truques e pegadinhas.

Principalmente porque permitem interpretações e os árbitros são orientados interpretar os lances de acordo com a International Board.


No jogo de ontem entre Corinthians e Once Caldas um desses lances cheios de truques aconteceu, no gol anulado do time colombiano.


Em princípio achei que estava correta a anulação.


Por quê?

Porque havia um jogador em impedimento e participando da jogada, Penco, do Once Caldas.
Acontece que a orientação atual da Board, na tentativa de diminuir a subjetividade das interpretações, é para que as situações de "participar da jogada" ou "interferir no adversário" sejam em lances de efetiva disputa de bola.

É complicado.

Se colocarmos dez árbitros de futebol numa sala, duvido que os dez tenham a mesma interpretação.

Revendo a jogada, no intervalo, analisei a distância do Ralf em relação ao jogador colombiano para avaliar se há disputa de lance. Ralf parece longe demais para estar disputando a bola.

Outra questão: será que Ralf vai na bola porque sabe que o jogador colombiano está atrás dele ou simplesmente vai na bola para evitar que ela chegue até a pequena área?

No intervalo mudei meu conceito e achei que o gol foi mal anulado. Mas admito, não estou convicto nem de uma coisa e nem de outra.

O que parece é que o juiz anulou o gol porque o bandeirinha achou que quem tocou na bola foi um jogador do time colombiano. Porque de onde estava, com visão encoberta, ele não poderia ver quem tocou com clareza.

Nessas horas faz falta um árbitro auxiliar atrás do gol, o que não existe na Libertadores.

E a regra continua fazendo um trevo em nossas cabeças.

quarta-feira, fevereiro 04, 2015

Doping é a suprema covardia no esporte


O doping é a suprema covardia no esporte.

Também é uma das maiores covardias do ser humano.

É querer não superar os limites, mas enganar, fraudar limites.

É um dos maiores traços de arrogância do ser humano, porque tenta trapacear não somente o adversário, mas também a natureza.

Basicamente, quem opta pelo doping é porque não sabe perder.

Não aceita um fato que deveria nortear a vida de um esportista: reconhecer que alguém pode ser melhor.

O que seria pior? Ganhar uma disputa comprando o árbitro, o adversário ou usando de doping? Existe o pior nisso tudo?

Quem usa doping, além de não saber perder, também não sabe ganhar.

Como será que acorda um campeão, um vencedor, que olha para o espelho no dia seguinte à disputa sabendo que ganhou sem merecer?

Não sou ingênuo ao ponto de achar que o esporte deva ser encarado como era nos tempos do amadorismo romântico. O esporte hoje é profissional, movimenta uma indústria milionária. Assim como um grande ator ou cantor, que arrastam multidões para espetáculos artísticos, um grande atleta merece ser muito bem remunerado.

O problema está na credibilidade.

O esporte como um todo perde a credibilidade a cada caso de doping.

Claro que é preciso oferecer o benefício da dúvida, esperar contraprova, defesa.

Por isso não cito nomes.

Mas todos sabemos que o doping está presente em nossas vidas. É possível comprá-lo pela Internet, com entrega em casa. Se bobear até dão brinde.

Todos sabemos que há gente sem escrúpulos no esporte. Empresários, treinadores, atletas, patrocinadores, jornalistas, torcedores.

A questão, como em quase todas as coisas, está na consciência.

Fui criado de uma forma que me faz perder o sono se devo um real a um amigo que me emprestou para comprar um chiclete. Entro em pânico se me esqueci de pagar uma conta. Na pelada com os amigos acuso toda falta que sei que fiz e toda vez em que a bola resvala em mim e sai em escanteio contra o meu time.

Alguém já deve ter dito por aí que mais importante do que ganhar é a forma como se ganha.

Acrescentaria que ainda mais importante é saber que em uma competição esportiva você fez o seu melhor, foi até onde você poderia ter ido, desenvolveu todo seu potencial, trabalhou bem, treinou bem, se aprimorou. Mesmo assim, se o adversário foi melhor, paciência.

Desde que ele tenha sido de fato melhor.

Quem faz uso do doping deve achar bonito fazer o adversário de bobo.

É o pior caso de corrupção que pode existir. É a autocorrupção.

Trouxa.