terça-feira, novembro 27, 2012



A Seleção e o

jogo do poder




Na coluna publicada hoje no Diário de S.Paulo.

Leia aqui.

 

sexta-feira, novembro 23, 2012



Foi-se o Mano


Mano caiu. Talvez na hora errada pelo desempenho da seleção, que vinha melhorando. Mas jamais chegou a ser convincente como treinador do Brasil. Até porque quando assumiu não era a hora dele assumir. Pegou um atalho, arriscou, mas a precipitação ficou eviddnte. Mas que ninguém se engane. Com qualquer técnico, o problema da seleção é que já faz algum tempo que não somos os melhores e não temos mais os melhores jogadores do mundo. É preciso entender e saber conviver com isso como treinador. Quem assumir precisa ter isso em mente.

quarta-feira, novembro 21, 2012



Bola de dinheiro


Fala-se muito sobre o novo patrocínio do Corinthians e, consequentemente, o debate evolui para tudo que envolve investimentos no futebol brasileiro.

Parece lógico e inteligente que a Caixa Econômica Federal busque patrocinar um dos times mais populares, se não for o mais popular do Brasil. É garantia de exposição por um preço relativamente barato se for comparado a campanhas publicitárias em horário nobre de TV e afins.

Também parece lógico e inteligente que o contribuinte questione o fato de um banco estatal (ainda que de direito privado) invista em patrocínio de esporte de alto rendimento. Eu, ideologicamente, defendo que o Governo e suas empresas estatais ou mistas devam investir em esporte como parte da educação, na base, não em patrocínio de atletas olímpicos e times de futebol profissional.

Assim como penso que a Lei de Incentivo ao Esporte não pode ser usada, por atalhos, para que qualquer time de futebol capte dinheiro para obras que revertam futuramente em lucro com a venda de direitos econômicos de atletas profissionais.

Os times de futebol do Brasil já gozam de inúmeros incentivos governamentais, nas esferas municipal, estadual e federal.

As grandes equipes têm acesso a patrocínios milionários, ganham dinheiro com marcas de material esportivo, com venda de jogadores, direitos de transmissão de TV, bilheteria e outras fontes.

A bola rola cheia de dinheiro para os chamados 12 grandes clubes brasileiros. Os 4 de São Paulo, os 4 do Rio, os 2 de Minas e os dois do Rio Grande do Sul. Muito mais cheia para paulistas, pelo tamanho do mercado, seguido por cariocas. Mineiros e gaúchos ainda estão longe desse patamar. Mesmo assim, suas operações cotidianas envolvem fortunas.

O futebol tem um apelo popular, e consequentemente político, inigualável.

Poucos são os clubes que devolvem à sociedade serviços compatíveis com a quantidade de benefícios fiscais e de toda sorte que recebem dos governos. Poucos clubes têm escolas para a comunidade vizinha aos centros de treinamentos, que, em muitos casos, são áreas públicas cedidas.

Sem contar a influência politica em eleições, já que os times de massa reúnem um potencial eleitoral tremendo.

Sempre houve políticos trabalhando nos bastidores por seus times do coração. Não tem santo nessa área. Mas acho que os clubes deveriam tentar fugir desse tipo de relacionamento. Pode parecer vantajoso de forma imediata, mas traz consequências nefastas ao longo do tempo. Quem hoje é situação, amanhã pode ser oposição, e o que é ajuda vira empecilho ao final de uma eleição.

Não existe problema legal algum em uma empresa estatal fazer propaganda ou marketing com o futebol. Afinal, elas concorrem no mesmo mercado que outras empresas. A questão moral cabe a cada um avaliar, além da questão filosófico-ideológica. Eu tenho minha visão ideal de projeto esportivo para o País. Cada um que tiver a paciência de ler esse texto terá a sua. Todas merecem respeito.

O futebol e o poder sempre tabelaram descaradamente no Brasil. Seja poder oficial ou paralelo, como acontecia no auge do jogo do bicho no Rio.

Políticos apaixonados por seus times do coração sempre tentaram dar uma ajuda mundo afora. O italiano Mussolini era Lazio. O espanhol Franco empurrava o Real Madri com sua mão de ferro. O argentino Perón amava o Racing. Todos eram ditadores, totalitários, criavam suas próprias regras.

Acho uma covardia algumas absurdas comparações que fazem com o ex-presidente Lula, por causa de sua declarada paixão pelo Corinthians. Lula foi eleito democraticamente duas vezes, tem uma biografia que está milhares de pontos acima de gente como aquela citada no parágrafo acima.

Fala-se abertamente que foi de Lula o empurrão providencial para a construção do novo estádio do Corinthians, quando ainda era presidente. Assim como muita gente tem comentado que partiu dele o apoio fundamental para o patrocínio da Caixa.

Não sei se os fatos realmente aconteceram dessa maneira.

Mas posso opinar que, se foram assim, não parecem condizentes com a postura de um presidente da importância de Lula. Nem de um ex-presidente com seu peso e liderança. Porque ele é um presidente e ex-presidente de todos os brasileiros, acima de qualquer paixão clubística, independentemente de qual seja essa paixão.

Assim como posso afirmar que o Corinthians é suficientemente grande e popular para ser cobiçado por qualquer empresa que queira expor sua marca. Sem para isso precisar de ajuda oficial.

O Corinthians não é o único time na história do Brasil a ter um político poderoso como seu torcedor fanático. Mas o que penso vale para qualquer equipe. As instituições futebolísticas e esportivas devem pairar sempre acima da questão política. Porque, como diz o ditado popular, pau que bate Chico, bate em Francisco. Um dia é da caça, outro do caçador. 

terça-feira, novembro 20, 2012



Sobre a segunda

queda do Verdão


Texto publicado neste dia 20/11/2012 em minha coluna no Diário de S.Paulo.

http://www.diariosp.com.br/blog/detalhe/14661/Resposta+real+e+imediata

terça-feira, novembro 13, 2012

sexta-feira, novembro 09, 2012



Copa da frescura



Saiu a lista das cidades da Copa das Confederações. Sempre que a Fifa confirma algo, seja para a Copa das Confederações ou a Copa do Mundo, reforça aquela ladainha de obras atrasadas, de exigências de estádios e uma série de cobranças.

Faz parte de um bem ensaiado jogo de cena que ajuda a justificar o negócio milionário.

Nada é tão perfeito num evento como a Copa do Mundo. Embora a organização seja muito boa.

A questão é que, ao contrário do que ocorreu na África do Sul, quando havia uma boa vontade mundial em relação ao continente-mãe da nossa raça, no caso do Brasil isso não ocorre. Somos "potência emergente", queridinhos da economia Mundial, a bola da vez. E mundialmente conhecidos pela fama de deixar tudo para a última hora.

Longe de mim querer ser ufanista e patriota nesses assuntos. Inclusive abomino aquele anúncio boboca de marca de cerveja que tenta vender uma ilha da fantasia. Acho que vão gastar demais com estádios que serão inúteis e obras que mereceriam ser chamadas de legado deixarão de ser feitas.

O tema aqui é outro, é uma certa frescura da Fifa em relação a obras e estádios, o tal jogo de cena. Tudo precisa estar 100%, pede a dona da bola. Balela. Em 2010 o entorno e mesmo a parte interna do Soccer City estavam em obras com a Copa em andamento. Havia pedra solta, barro e pedaços de pau por toda a parte. O terminal de ônibus do estádio só foi funcionar do meio para o final da Copa, e o de trem bem no finalzinho.

Os aeroportos de cidades como Plokwane e Bloomfontein são piores do que muitos dos nossos piores.

Quando se fala da Uefa, que costuma ser tão rigorosa quanto a Fifa, também há buracos, e muitos. Na Euro 2012 o estádio de Gdansk, na Polônia, também não estava 100% concluído, o entorno era cheio de obras interrompidas, buracos transformados em lagos pela chuva. Torcedores tinham que caminhar quilômetros ao relento para encontrar transporte.

Se acontecer algo aqui, a gritaria será enorme. Se acontece na Europa, o tom da crítica dos europeus é outro. Entra em campo o sentimento comunitário velho-continental. Aqui é Europa, meu filho! Isso se for o que o europeu considera Europa.

Os aeroportos e as companhias aéreas da Ucrânia fariam os brasileiros virar topo de linha se fossem o parâmetro, tamanha a ruindade. Lembro direitinho do comissário de bordo italiano, aos berros, gritando com o funcionário do aeroporto de Kiev: "Isso aqui não é a Europa!"

Enfim, haverá uma cobrança forte, que deve haver, porque no Brasil tudo é feito meio que nas coxas. Mas essa cobrança também haverá para cumprir e enfatizar a submissão do colonizado sul-americano ao chefe europeu, ao dono do negócio. Isso sem discurso apelar para discurso pelego, que eu detesto.

O que a Fifa quer que esteja funcionando direitinho é o portão de acesso e o caminho que as principais autoridades mundiais percorrerão no jogo de abertura e na final. Que o mármore esteja lá, bonitinho, que a tribuna de honra seja limpa, confortável e bem abastecida de mimos, que haja uma entrada exclusiva, subterrânea e livre de lentes e olhares curiosos.

Cabe a nós, cidadãos, cobrar o que realmente nos interessa. Além de estádios milionários, teremos alguma obra relevante de infra-estrutura que ficará? Onde, por que preço?

Depois da Copa o que será feito dos estádios de Brasília, Cuiabá, Manaus?

O resto é perfumaria.

quarta-feira, novembro 07, 2012



O modelo do campeão



Pode não ser neste domingo, mas fatalmente será antes da última rodada. O Fluminense confirmará o título que conquistou com todos os méritos em mais alguns dias, faturando o Brasileirão de pontos corridos duas vezes em três anos. Estabeleceu um domínio, portanto.

Mas quais os segredos, qual a cara, e qual é o modelo desse time que assume a ponta do futebol nacional?

É mais fácil explicar o que acontece em campo do que fora dele. O Flu de Abel Braga é um campeão simples, direto, sem frescuras. Como quase sempre são os campeões dirigidos pelo Abel. O futebol raramente se presta a grandes sofisticações, revoluções, tipo o Barcelona, o Santos de Pelé. Historicamente há bons times em profusão, dezenas de grandes times e raras equipes espetaculares.

O segredo desse Flu de Abel está na perfeita compreensão dos jogadores da proposta de seu treinador. O time é taticamente moderno, está inserido no contexto atual do futebol. Trata, primeiro, de se defender bem, de perder pouco. Depois, resolve os jogos.

Particulamente, gosto da maneira como o time do Fluminense se recompõe. São raros os gols de contra-ataque, daqueles que pegam zagueiros, laterais e volantes correndo de frente para o próprio goleiro, numa clara situação de time dessarumado. Por falar em goleiro, um dos segredos é ele, Diego Cavalieri, o melhor do campeonato. Quando o time falhou, ele esteve presente para garantir.

Mesmo sem contar com jogadores de defesa especialmente talentosos, o Fluminense sabe se defender. Isso chama-se disciplina tática. Os volantes protegem bem a defesa, cobrem os avanços dos laterais. Jean se destaca pela mobilidade. Aparece no ataque, volta para cobrir laterais, tem o pulmão e a execução de um volante moderno. Edinho contribui com experiência e conhecimento tático dentro de campo, tratando de organizar em campo o que Abel pede.

E do meio para frente entra o talento de um grupo de jogadores acima da média atual do nosso futebol. Deco, Fred, Nem, Thiago Neves, Wagner, Sóbis. Essa turma, mesmo os que ficam mais no banco do que em campo, seria titular em qualquer outro time brasileiro.

Como falei da simplicidade, no Fluminense ela se verifica pela dupla de ataque quase frequente. Wellington Nem é o jogador de lado de campo, rápido, driblados, o complemente ideal para um definidor de estilo e categoria como Fred. Mais que isso, Nem sabe entrar na área, faz gols, e volta para marcar. Porque quando não tem a bola, o Flu se fecha como poucos times sabem fazer. Diria que apenas o Corinthians se defende tão bem. Abel coordenou de maneira perfeita essa transição de sistema de jogo. Atacando, o Flu chega com Nem, Fred, Thiago Neves, Deco e até Jean. Sendo atacado, laterais e zagueiros formam uma linha de quatro, os volantes ficam à frente dessa linha, outros três atletas preenchem o espaço da linha divisória e apenas Fred fica mais à frente.

A grande diferença em relação ao Atlético Mineiro e ao Grêmio é  consistência defensiva, o fato de perder menos e conseguir vencer partidas nas quais é dominado pelo adversário. O Fluminense não teve vergonha alguma em ser dominado. Pelo contrário, soube tirar proveito dessa situação.

E fora de campo, que modelo tem esse campeão?

Diria que é uma espécie de mecenato. Há um torcedor, um empresário com muitos recursos, que os canaliza para sua maior paixão, sabendo tirar proveito em favor da enorme exposição que o futebol dá a sua marca. O Fluminense pracicamente terceirizou seu futebol, em termos financeiros, para essa empresa, a Unimed, do ramo de planos de saúde. É um modelo. Pode-se contestá-lo, dizer que não vai durar para sempre, mas foi a saída encontrada por um clube que vinha acumulando problemas, ainda luta com uma dívida astronômica e não tinha capacidade de investimento.

Houve várias soluções parecidas no Brasil. O Palmeiras com a Parmalat. Parceria de sucesso que o clube paulista não soube capitalizar em termos administrativos e hoje sofre com a incompetência de seus dirigentes em administrar essa herança. O Corinthians tentou com banco, com fundo de pensão americano, com empresário de origem duvidosa mas foi se acertar por conta própria depois de tudo isso. O Cruzeiro embarcou na mesma onda do fundo de pensão que o Corinthians abraçou. Inter e Grêmio apostaram, com sucesso, em excelentes projetos de sócios-torcedores.

O São Paulo sempre foi avesso a parcerias declaradas, mas sempre as teve com empresários de jogadores, daqui e do exterior (Figger, Todé, Torcal), e segue nesse ritmo até hoje. O Flamengo ainda não encontrou uma maneira de capitalizar a força de sua gente. Deveria mirar no exemplo do Corinthians.

Mas o Flu achou seu caminho. Não é definitivo. Já esteve à beira de ser interrompido esse projeto, porque basicamente depende de uma pessoa, o mecenas. Como a política dos clubes de futebol brasileiros é canibal, uma palavra pode fazer ruir o castelo. Seria o caso de aproveitar o período de bonança e construir um projeto que possa resistir às tempestades que atingem todos os times.

A grande lição do mais que provável campeão brasileiro de 2012 está na simplicidade do jogo, na eficiência da execução da proposta e no fato de ter bons jogadores em bom número. Porque por melhor que seja a teoria na prancheta, sem bons jogadores não se faz um bom time. Pode colocar o Rinus Michels, o Telê, o Guardiola no banco. Não vinga sem gente boa de bola em campo.

terça-feira, novembro 06, 2012


Se fosse só o calendário...



Vira e mexe vem à tona a discussão sobre o calendário do futebol brasileiro. Para muita gente existe uma solução mágica: adequar o calendário brasileiro ao europeu. E aí de você se pensa diferente, porque você cai nas malhas dos intolerantes, que defendem suas teses como vacas sagradas e satanizam quem ousa pensar diferente.

Eu não ligo para patotas e panelas. Gosto de ter minha opinião, meu jeito de pensar. A diferença é que não satanizo nem abomino quem pensa diferente. Apenas respeito e tento debater com argumentos, civilidade.

Não acho que soluções que podem ser boas para a Europa, ou para algumas ligas da Europa, também sejam boas para o Brasil. Há uma parcela de torcedores, analistas e dirigentes que vê na Liga Inglesa o sonho de consumo, acha que o futebol brasileiro deveria simplesmente tornar-se súdito de Sua Majestade para encontrar o Nirvana.

A solução de um problema na Inglaterra ou na França não precisa necessariamente ser a solução de um problema no Brasil. Apenas porque o futebol, o nosso, o bretão, não é um sucesso nos Estados Unidos da América, muitas vezes deixamos de lado as lições que aquele país tem para dar em termos de organização esportiva e calendário.

Pois lá sobrevivem, e muito bem, diga-se, ligas de vários esportes, sem competir uma com a outra, respeitando condições climáticas e gerando situações econômicas e de organização que parecem inimagináveis para nosso País. Hóquei, Beisebol, Basquete e Futebol Americano têm seus calendários, seus formatos, que são adequados para a realidade norte-americana, para a personalidade norte-americana.

O futebol europeu, em especial o das grandes ligas, corre junto com a vida dos respectivos países. Experimente propor a um espanhol que façam jogos de futebol no alto verão? O calendário do esporte mais popular entre os espanhóis segue o calendário escolar e parlamentar do País, o que parece lógico, racional.

A Alemanha interrompe sua Bundesliga entre 15 de dezembro e 19 de janeiro, período que engloba as festas de Natal e Ano Novo e os piores dias do inverno.

A Inglaterra faz jogos em 26 de dezembro e primeiro de janeiro e os ingleses estão acostumados a isso.

Há casos de jogos às segundas-feiras, jogos à meia-noite, tudo por questões de contrato, acertado, e não se faz metade da chiadeira que acontece por aqui.

O que acontece é que ao querer importar um modelo é preciso, antes, avaliar as condições a que esse modelo será submetido. O que parece simples para casos clássicos como, por exemplo, automóveis. Um carro sucesso de vendas na Inglaterra pode ser um fracasso retumbante no Brasil. Será difícil perceber que essa situação também pode se repetir no futebol?

Qual a maior distância que um time viaja no Campeonato Inglês, que é praticamente metropolitano se comparado ao Brasileirão? Se não estou enganado, não há uma partida na Liga Inglesa em que a equipe seja obrigada de maneira incondicional a viajar um dia antes. No Brasil, dependendo da equipe em questão, um time do Nordeste para jogar no Sul pode precisar viajar com dois, até três dias de antecedência.

Há, ainda, uma questão básica que muita gente parece esquecer. São hemisférios diferentes, realidades geográficas e econômicas diferentes. Imagine o Náutico, por exemplo, jogando no dia 26 de dezembro à noite em Recife, e tendo jogo no dia 1 de janeiro em Porto Alegre. Chegaria a tempo? Encontraria hotel?

Será que algum romano admitiria partidas de calcio em pleno verão? Ou os parisienses? Ou alguém acha que os profissionais do futebol desses países também não gostam de gozar o sagrado direito das férias quando elas se apresentam mais apetitosas no chamado Velho Mundo?

Não parece racional que o futebol, esporte mais popular do Brasil, siga a lógica do calendário do próprio País? Os jogadores de futebol que também são pais não teriam o direito de estar em férias no mesmo período em que seus filhos descansam da escola? Ou parece um contrasenso? Ou apenas porque um grupo de pensadores pôs na cabeça que porque na Europa é assim a gente deve copiar?
Alguém aí realmente acha bacana jogo de futebol no feriado universal de primeiro de janeiro? Ou na antevéspera de Natal?

O que se debate pouco é a racionalização do calendário, não a macaquização de auditório proposta por alguns.

Também sou contra a demonização dos estaduais. Que, curiosamente, não eram demonizados quando eram transmitidos por quem não transmite mais. Sou, sim, a favor, da racionalização e adequação dos estaduais à nova realidade. Existe um mercado de trabalho ali, uma realidade regional que deve ser respeitada e que muitas vezes ajuda a manter vivos clubes tradicionais. Em alguns casos são muito mais racionais e viáveis que monstrengos tipo Copa Sul-Minas, por exemplo, uma aberração inclusive geográfica.

Basta botar na cabeça dos dirigentes (o que admito ser complicado) que estaduais são torneios de início de temporada, que podem servir muito bem para oferecer um bom aquecimento rumo aos torneios nacionais e continentais e, ainda assim, cumprir seu papel de entreter o público e gerar receitas quando a roda recomeça a girar após as férias.

Mas é impossível torná-los rentáveis com 20 times, 16 times, apenas para garantir votos que perpetuem dirigentes no poder.

Os torneios de verão na Argentina cumprem bem esse papel, têm tradição, rivalidade e relativa importância. Poderiam ser utilizados como exemplo.

Com estaduais menores é possível fazer uma tabela também melhor dos Brasileiros A e B, poupar os times de convocações fora de hora da seleção brasileira e encaixar uma semaninha para amistosos ou torneios.

Vejo muita gente de valor argumentar sobre excursões dos times brasileiros ao exterior, pré-temporadas em países da Ásia e do Mundo Árabe. Sinceramente, se fosse assim tão fácil, já estaria sendo feito. A dura realidade é que nossos times não existem como atração para esses mercados e duvido que alguém pague quantias que justifiquem ou viabilizem esse tipo de projeto.

A ideia da Copa do Brasil durante toda a temporada e abrigando as equipes eliminadas da Libertadores é coerente com a ideia de não matar o negócio.

Reduzindo sem exterminar os estaduais haveria espaço maior entre as decisões e o início do Brasileirão, um tempo para respirar, para organizar um jogo de abertura da temporada nacional entre o campeão da série A e o campeão da B, por exemplo. Tempo de criar expectativa.

Na hora de justificar o argumento, pouca gente recorda que a Argentina fez sua versão de adequação parcial ao calendário europeu e o futebol do país vizinho nem por isso enriqueceu ou saiu fortalecido. Longe disso, foi estatizado, está caindo aos pedaços em termos de infra-estrutura e muitos de seus jogadores sonham com a Europa ou uma boquinha no Brasileirão.

Atribuir culpa ao calendário, que hoje é muito mais organizado do que era há 15 anos, é querer fugir da responsabilidade pela má administração do negócio. Nunca circulou tanto dinheiro no futebol brasileiro, e as dívidas dos clubes geralmente só fazem crescer.

É possível fazer um modelo brasileiro de futebol, bem pensado, bem administrado, sem neuroses com janelas de transferência (que foram praticamente esquecidas, não é?). Inclusive aproveitando o fato de a nossa janela ser diferente daquela que abrange as principais ligas européias e cobrando mais pela liberação de jogadores em janeiro.

Numa comparação propositalmente esdrúxula seria como acreditar que se falássemos francês ou inglês, em vez de português, talvez tivéssemos mais educação, cultura e civilidade. Essas coisas não nascem com o idioma, não se compram como pacote e se aplicam. Boas ideias se copiam. Mas não se joga vôlei de praia no Alasca, nem se consegue organizar o campeonato brasileiro de esqui na neve em território brasileiro.

Feijoada é feijoada, fish and chips é uma outra história.