segunda-feira, março 21, 2016

Sobrou charme e faltou bola ao Fla-Flu

Disse na transmissão do Première com Luiz Carlos Júnior e repito: foi uma grande emoção comentar meu primeiro Fla-Flu.
Impossível não lembrar do Canal 100 e suas imagens mágicas que antecediam as sessões de cinema. Imagens de um futebol de excelência e de sonhos que talvez nunca mais retorne. Ou talvez fosse a magia do Canal 100?
O Fla-Flu faz parte do imaginário nacional e paira acima de bairrismos bobocas. Até pela sonoridade criada pela composição do nome é covardia para outros jogos. Não é que outros grandes clássicos nacionais sejam menos importantes.
O Fla-Flu é diferente.
O jogo exala charme, não tem jeito.
Mas o histórico clássico de domingo, no Pacaembu, prometeu o que não cumpriu: ser um grande jogo.
Até deu pinta em alguns instantes da primeira etapa, mas depois descambou para o jogo padrão do futebol brasileiro atual: insosso.
A lição que fica para um orgulhoso caipira paulista como eu é de que ainda é possível curtir o futebol pelo futebol, sem a estupidez organizada e o ódio uniformizado.
Pelo menos nas cadeiras e arquibancadas o Fla-Flu lembrou um tempo em que era regra que torcedores de times diferentes estivessem lado a lado nos estádios, com as respectivas camisas de suas paixões, sem que isso representasse risco de vida.
O sentimento de nostalgia é inversamente proporcional ao de repulsa por opiniões que por pura ideologia de arquibancada tentam politizar a violência gratuita.

sexta-feira, março 18, 2016

Tomada de decisão

Um dos aspectos fundamentais do esporte de rendimento que muitas vezes é relegado é a questão da tomada de decisão. Vendo alguns jogos recentes de times de futebol nacionais pude constatar como a maioria dos jogadores brasileiros está despreparada (ou seria mal treinada?) para a tomada de decisões dentro de uma partida, em especial nos momentos decisivos.

O jogador de futebol brasileiro médio (e 90% são de categoria média) foge da tomada de decisão como o diabo da cruz. Toca de lado, procura sempre alguém que possa assumir o risco em seu lugar. Diria, sem medo de parecer precipitado, que apenas 10% gostam e não se escondem na hora de tomar a decisão, seja ela certa ou errada.

A questão é mais profunda do que apenas saber ou não jogar, chutar, marcar, entender do jogo.
Passa pela formação do atleta. Pelo protecionismo exagerado de clube, empresários, família, assessores e amigos. O jogador de futebol brasileiro de time grande desde muito cedo é acostumado a viver numa redoma de bajulação. Não carrega nem seu uniforme, não faz check-in de voo e hotel, tem gente que pensa por ele, investe por ele, dirige por ele, responde por ele.

Aí vem a questão da proteção ou perseguição da torcida, da diretoria. Da pressa injustificada de parte da mídia em buscar e criar ídolos. Existem métodos para treinar mecanicamente a tomada de decisão de um atleta. No futebol há até máquinas sofisticadas em centros de treinamento dos maiores times do mundo que treinam o atleta para, numa situação simulada de pressão, decidir para quem passa, para que lado, se chuta, recua etc.
Algumas equipes bem treinadas e com sequências de alguns anos de linha de trabalho e filosofia conseguem fazer com que jogadores que não estavam acostumados às tomadas de decisões evoluam e deixem de ser coadjuvantes para se transformarem em protagonistas e participar das tomadas de decisões.
Atualmente no Brasil há dois times nesse estágio: Atlético Mineiro e Corinthians. Os demais correm atrás.