segunda-feira, março 21, 2016

Sobrou charme e faltou bola ao Fla-Flu

Disse na transmissão do Première com Luiz Carlos Júnior e repito: foi uma grande emoção comentar meu primeiro Fla-Flu.
Impossível não lembrar do Canal 100 e suas imagens mágicas que antecediam as sessões de cinema. Imagens de um futebol de excelência e de sonhos que talvez nunca mais retorne. Ou talvez fosse a magia do Canal 100?
O Fla-Flu faz parte do imaginário nacional e paira acima de bairrismos bobocas. Até pela sonoridade criada pela composição do nome é covardia para outros jogos. Não é que outros grandes clássicos nacionais sejam menos importantes.
O Fla-Flu é diferente.
O jogo exala charme, não tem jeito.
Mas o histórico clássico de domingo, no Pacaembu, prometeu o que não cumpriu: ser um grande jogo.
Até deu pinta em alguns instantes da primeira etapa, mas depois descambou para o jogo padrão do futebol brasileiro atual: insosso.
A lição que fica para um orgulhoso caipira paulista como eu é de que ainda é possível curtir o futebol pelo futebol, sem a estupidez organizada e o ódio uniformizado.
Pelo menos nas cadeiras e arquibancadas o Fla-Flu lembrou um tempo em que era regra que torcedores de times diferentes estivessem lado a lado nos estádios, com as respectivas camisas de suas paixões, sem que isso representasse risco de vida.
O sentimento de nostalgia é inversamente proporcional ao de repulsa por opiniões que por pura ideologia de arquibancada tentam politizar a violência gratuita.

Um comentário:

El Cid disse...

O Fla-Flu paulista com Pacaembu quase lotado escancara a decadência da cidade e do estado do RJ.
A ex-capital brasileira e o(então)2ºpolo econômico do país esmagados sem piedade pelo mineiro JK no início da década de 60 tentam resistir e sobreviver.
Aos trancos e barrancos estão conseguindo, mas é visível que estado e cidade se esvaziam a cada dia!
Como a economia papa-goiaba ruiu parcela imensa de cariocas, por questões de sobrevivência, obrigou-se a emigrar.
A maior parte veio para São Paulo onde eles insistem em manter a própria cultura, o sotaque, o jeito de falar, hábitos, filosofias e o time de coração.
Chique, charmoso, de uma incrível grife, o FlaFlu é o mais colorido entre todos os clássicos brasileiros.
Reflete bem a nostalgia de um tempo em que os jornais cariocas exerciam a liderança nacional de circulação e leitura e tinham colunistas da estatura de um Armando Nogueira, de um Oldemário Toguinhó ou do pai do Fla-Flu, Nelson Rodrigues.
Esses e outros cronistas conseguiram introjetar na mente do torcedor carioca que o Fla-Flu era a síntese do futebol arte elevado a sua quintessência. Por isto o Fla-Flu é respeitado e as torcidas, noves fora as organizadas, também se respeitam.
Esvaziado no Rio o FlaFlu tornou-se itinerante e antes da glória, representa a decadência desses dois outrora gigantes do cenário esportivo brasileiro.
Do jeito que os cronistas cariocas estão conduzindo o banalíssimo assunto de um jogo que, repetido algumas vezes, tornar-se-á um fiasco de público e renda eles vão mantendo a discutível imagem de que o Flamengo ainda ostenta a maior torcida do país.