sexta-feira, novembro 28, 2014

A queda

Brasileirão resolvido, com resultado merecido e previsível. Pouca emoção resta na briga pelas vagas à Libertadores. Muito desespero para quem ainda luta pela permanência na Série A.

A perspectiva de queda apavora milhões de torcedores. Termos como vergonha, vexame, humilhação circulam de boteco em boteco, casa em casa, arquibancada em arquibancada.

Mas o que seria pior: queda ou falta de perspectiva, ausência de ideias?

Rebaixamento não significa o fim do mundo. Em muitos casos o rebaixamento ou a simples ameaça significaram pontos de virada, de reinvenção de clubes de futebol.

Quem leu o livro "De Belém a Yokohama", do ex-presidente do Internacional, Fernando Carvalho, sabe do que escrevo. Ele conta como uma ideia salvou um clube que escapou do rebaixamento contra o Paysandu e não tinha meia dúzia de jogadores para pensar a temporada 2003. O Inter hoje é uma potência como sempre deveria ser.

O Corinthians caiu em 2007 e voltou chutando para longe o mofo que perigosamente se apoderava do clube, ditando regra em termos de marketing e recursos.

O Galo pós-rebaixamento é forte e vingador.

Enfim, há casos e casos. Cada clube tem seu tamanho, importância, história.

Mas todos que passaram sufoco, chegaram ao fundo do poço e ressurgiram mais fortes, tiveram ideias e pessoas capazes de viabilizá-las.

Por isso que afirmo que cair pode ser a festa dos rivais, o pesadelo das piadinhas, mas não é o fim dos tempos.

O Apocalipse futebolístico é a falta de ideias e de gente capaz para pensar e executar futebol profissional.

Não existe mais espaço para aventureiros e torcedores no futebol moderno.

Cartolas à moda antiga podem até conseguir um título aqui, outro ali, mas em termos gerais esse tipo de dirigente não leva seu clube a lugar algum, a não ser para o atraso.

Temos exemplos vigorosos de falta de ideias e capacidade no futebol brasileiro.

Vasco, Palmeiras, Botafogo. Marcas e patrimônios futebolísticos gigantescos entregues sucessivamente a dirigentes amadores e sem qualquer condição de dar sequência às histórias que herdaram. Costumo dizer que esse trio caiu e ainda não voltou, mesmo disputando a Série A. Porque não retornaram como Palmeiras, Vasco e Botafogo. São cópias ruins do que foram.

Outras equipes menos tradicionais, mas nem por isso menos importantes, vivem às turras com a realidade do sobe-e-desce. Contam com menos recursos mas em alguns casos conseguem mostrar mais capacidade na administração desse pequeno bolo, enquanto outros desperdiçam uma doceria.

O que mais assusta no futebol brasileiro é a falta de ideias e perspectivas da maioria dos clubes e dirigentes.

Não é por acaso que as agremiações que tem projetos e propostas se destacam e vão abrindo corpos. Cruzeiro e Atlético Mineiro estão aí para provar que é possível fazer bom futebol sem o poder econômico e político do eixo Rio-SP. Conseguem recursos, se estruturam e vencem. No Sul, Inter e Grêmio optaram pela fidelidade de seus torcedores. Mais bem resolvido politicamente, o Colorado colhe frutos, enquanto o Grêmio amarga uma longa fila de títulos importantes, embora esteja buscando seu caminho.

O Corinthians tirou riqueza da popularidade, coisa que o Flamengo não consegue fazer por absoluta incompetência administrativa.

O Fluminense terceirizou seu futebol para o patrocinador, o que blinda o time da situação financeira deplorável do clube.

O São Paulo ainda não deixou que sua política canibal contaminasse o time, embora esteja partindo para um caminho perigoso de rápido endividamento.

O Atlético Paranaense tem números modestos, mas se equilibra. Se não alça voos longos, tem conseguido pavimentar o caminho para que isso possa acontecer um dia.

O Santos entrou nessa onda de dívidas e consegue negócios inexplicáveis, como comprar Damião por valor de estrela da Champions League e ver o dinheiro da venda de Neymar escorrer pelas mãos.

Os times de estados menos favorecidos economicamente também buscam seus caminhos, alguns com sucesso, outros fracassando. A dupla Ba-Vi não acompanha a paixão de seus simpatizantes no quesito administração do futebol. O Sport conseguiu uma boa temporada com recursos limitados. Os catarinenses são força emergente, apesar do Criciúma e do sufoco de Chapecoense e Figueirense.

Quem tem uma ideia, uma análise, um projeto estratégico pode até ser rebaixado que se recupera e projeta dias melhores.

Quem não tem nada disso pode até escapar que não vai se livrar da maldição da incompetência.

sexta-feira, novembro 21, 2014

Brasileirão do Século 21

O Campeonato Brasileiro de Futebol do século 21 tem um perfil muito bem definido. Praticamente não há disputa por título. Um time se destaca, abre distância no início e faz a manutenção dessa superioridade até o final.
Um grupo cada vez menor de equipes joga para tentar uma vaga na Libertadores, o que nos últimos anos tem sido sinônimo de fracasso para os times nacionais.
Outro grupo, também reduzido, fica numa zona de conforto que não quer dizer absolutamente nada.
E uma quantidade cada vez maior de equipes disputa a permanência na Série A. Essa turma da gangorra é a que mais cresce. Equipes que ficarão num eterno sobe-desce. Jogarão a Série A num ano para voltar à B no outro, sem qualquer continuidade.
Nessa caminhada, teses de "especialistas" tais como a espanholização do futebol brasileiro vão sendo desconstruídas pelos fatos.
No esporte de alto rendimento, verdadeiramente profissional, dinheiro não compra felicidade, muito menos competência.
Com a queda de importância dos torneios estaduais, o Brasil tende a reduzir drasticamente o número de times que são chamados de grandes. As equipes de verdadeira importância e hierarquia nacional são poucas e tendem a diminuir.
Tristes daqueles que observam um jogo tão fascinante como o futebol apenas pelos olhos dos números, da matemática pura e simples.
O ingrediente humano ainda é o fator preponderante.
No Brasil o amadorismo é a regra no comando dos clubes de futebol.
Não há estatística que sirva para transformar jogador ruim em jogador bom. Não há média que transforme em leão um jogador que pareça precisar de fraldas para entrar em campo num jogo decisivo.
O jogador não tem culpa de ser fraco. Culpado é quem contrata um jogador fraco por indicação de um dirigente amador ou de um empresário oportunista.
O termo jogador de time grande está cada vez mais desgastado no Brasil. Atualmente há um rosário de atletas que atuam em times grandes mas não possuem qualquer requisito técnico, tático e emocional para isso.
Emoção nas rodadas finais, como sempre tem acontecido, fica reservada para o desespero daqueles que lutam para sobreviver, o que em muitos casos pode ser traduzido como subsistir.