Papo com Mano
Foi bom o papo com Mano Menezes no Arena SporTV de quinta-feira.
O técnico da seleção brasileira é inteligente, sabe se portar nas entrevistas, escorrega por onde pode, mas foi possível tirar algumas coisas interessantes dele.
Outras o bom repórter e o bom observador sacam sem que elas precisem ser ditas literalmente.
Mano responde muitas vezes em mensagens cifradas, que o interlocutor esperto entende na hora.
Sobre o time brasileiro fica claro que o treinador tem uma dúvida no setor mais importante. Essa dúvida é compartilhada com todos os torcedores e tem nome e apelido: Paulo Henrique Ganso.
Paira sobre esse talentoso meia-esquerda a esperança do técnico e da torcida de que ele consiga ser o organizador do time, o jogador com visão e técnica capazes de abastecer um atacante rápido pela direita (provavelmente Lucas, do São Paulo), um atacante rápido e driblador pela esquerda, mas com liberdade maior de movimentação (Neymar, titular indiscutível) e um atacante centralizado, não um poste, mas com presença de área (pode ser Damião, pode ser Fred e talvez seja Pato).
Se Ganso não render o que dele se espera, a seleção provavemente mudará seu sistema de jogo. Porque Mano sabe que não existe no futebol brasileiro um substituto para o 10 santista, alguém que tenha as mesmas características e justifique a aposta. O jogador que tem as mesmas características é Douglas, agora no Corinthians. Mas seus créditos parecem ter acabado.
A alternativa é Oscar, cujos direitos viraram briga jurídica. Essa é uma preocupação que aflige o treinador, embora ele não deixe transparecer. Se o caso de Oscar virar uma batalha longa de advogados de Inter e São Paulo, ele pode até ficar forda da Olimpíada, o que prejudicaria sobremaneira o projeto do treinador para o plano B.
Com Oscar na vaga de Ganso o time deixa de ter um despachador de bolas em alto nível, um cara que faz a bola chegar sem precisar ir junto. Oscar é diferente, geralmente vai com a bola. O que sugere uma alteração na composição do time. Talvez até com a saída de um atacante (Lucas) e o reforço do meio-campo, deixando de ser, na teoria, um 4-3-3 para virar um 4-4-2.
A defesa não preocupa o treinador. Daniel Alves, Thiago Silva, Davi Luiz ou Dedé e Marcelo devem estar na Copa como titulares. A posição de goleiro está aberta, com disputa entre os que foram mais convocados.
Lucas Leiva deve ser o primeiro volante. Fernandinho agradou demais ao treinador e está subindo de cotação. O futebol do corintiano Paulinho conta com a simpatia de Mano, até mais do que o desempenho do santista Arouca.
O time da Olimpíada muito provavelmente será o time da Copa, contando com os três jogadores com idade acima de 23 anos. Isso se o Brasil for bem na Olimpíada, porque caso contrário, talvez nem o próprio Mano chegue até a Copa do Mundo.
Kaká perdeu espaço e hoje gera mais dúvidas do que certezas na cabeça do treinador da seleção. Que deixou bem claro no Arena que vai esperar a próxima temporada européia para avaliar o comportamento, principalmente físico, do meia do Real Madri.
Ronaldinho Gaúcho perdeu pontos, ficou claro. Mas não está descartado.
Outra conclusão a que se chega claramente após uma conversa com Mano Menezes é a preocupação com a entressafra de nossos jogadores, com a redução no ritmo de surgimento de grandes atletas, e com o aspecto tático do jogo praticado no Brasil.
Uma situação em particular, no programa de quinta, me pareceu estarrecedora. O fato de não ter sido apresentado ao treinador um relatório da Copa do Mundo de 2010. Desempenho, comportamento, questões físicas etc.
Mostra o quão amador ainda é o processo na Confederação Brasileira de Futebol.
Mano afirmou que sua comissão tecnica está produzindo um mapeamento completo de desempenho de jogadores desde a seleção sub-15 até a principal. Um arquivo com dados estatísticos, físicos, técnicos e táticos, que terá acesso online e ilustração com imagens e vídeos.