A crise na Fifa
Por mais que Joseph Blatter insista, não dá para negar que a entidade presidida por ele vive uma das maiores crises de sua história. O festival de denúncias que se abateu sobre a Fifa, seus principais dirigentes, entre eles o presidente da CBF e um dos vices da entidade mundial, Ricardo Teixeira, é assunto no mundo todo.
Há duas - entre várias - preciosas lições que aprendi no Jornalismo. Uma delas nos tempos de Folha da Tarde, com o Carlos Brickmann. Um conceito até básico, o de que Jornalismo não é fofoca. Notícia se checa, apura e aí, sim, se publica. A outra, mais tarde, é evitar o que se chama de Jornalismo declaratório. Fulano diz que cicrano é isso. No dia seguinte, a manchete: Cicrano rebate fulano e diz que não é nada disso. Aí cria-se um círculo vicioso de publicações de declarações de um e de outro e não se chega a lugar nenhum.
Quando a poeira baixar, todo mundo que acusa terminar de acusar e todo mundo que quer se defender o tiver feito, aí, sim, é hora de analisar, avaliar, esperar provas e poder tecer conceitos, sem precipitações. Não é a mesma coisa avaliar um jogo de futebol, um campeonato, e uma crise administrativa recheada de denúncias, entre pessoas que hora são aliadas, depois inimigas e mais tarde reatam.
Mais uma coisa que se aprende no exercício dessa difícil, porem saborosa profissão: muitas vezes é melhor dar a notícia atrasado, mas a notícia certa. É o clássico caso de se informar a morte de alguém importante, na pressa de dizer que foi o primeiro a cravar o furo. Mas aí aparece alguém para informar que o dito morto está Vivinho da Silva, e o que era pressa virou barriga.
Lembro de uma história dos meus tempos de foca, na Folha da Tarde. Havia um colunão de notícias em cada página, aquelas notinhas sem grande importância para ganhar espaço maior, mas que mereciam entrar no jornal. Certo dia, o Brickmann, um baita jornalista, chamou um colega foca para uma reprimenda no famoso Vermelhão, o jornal que ele corrigia linha por linha.
- Pôxa, você mata o papa e põe no colunão!
Claro que não se sabe como havia sido publicada a morte do papa, que não tinha morrido, e numa notinha perdida num colunão!
Isso tudo para ilustrar um pouco do que é informação, do que é contextualização, opinião e debate. De nada adianta promover acaloradas discussões sobre um tema que pode mudar de direção no dia seguinte. Ou avacalhar alguém antes mesmo de esse alguém ser acusado, defendido e julgado.
Por isso vejo esse caso da Fifa da seguinte maneira: prefiro esperar novas notícias, indícios e fatos, que sejam comprovados, envolvam eles quem envolverem, para poder opinar sem ser precipitado.
E sem medo de precipitação, reafirmo: a quase perpetuação no poder é péssima para governos de países, administrações de entidades e clubes esportivos, aqui e em qualquer parte do mundo. Oposição é saudável e faz parte do processo de fiscalização de qualquer atividade. Assim como a alternância no poder.
Também vejo com ressalvas algumas sugestões de que ex-jogadores de futebol devam administrar a Fifa, as Confederações e Federações. Embora seja uma ideia válida, nada garante que alguém que tenha sido um bom jogador de futebol, ou mesmo um craque, vá ser bom em qualquer outra atividade ligada ao jogo. Seja comentarista, técnico, dirigente.
Esse é um dos pontos que critico na postura de alguns ex-jogadores de futebol. Eles acham que só porque jogaram estão prontos para fazer qualquer coisa, seja treinar times, dirigi-los ou presidi-los. Não vejo por aí.
Bom seria se eles estudassem administração e gestão esportiva e levassem suas visões de atletas ao encontro das necessidades administrativas. Beckenbauer e Platini parecem ter seguido essa linha.
Para finalizar, a Fifa e a Copa do Mundo ficaram tão grandes que parecem estar fugindo ao controle de quem deveria controlá-las.