terça-feira, maio 31, 2011



A crise na Fifa


Por mais que Joseph Blatter insista, não dá para negar que a entidade presidida por ele vive uma das maiores crises de sua história. O festival de denúncias que se abateu sobre a Fifa, seus principais dirigentes, entre eles o presidente da CBF e um dos vices da entidade mundial, Ricardo Teixeira, é assunto no mundo todo.

Há duas - entre várias - preciosas lições que aprendi no Jornalismo. Uma delas nos tempos de Folha da Tarde, com o Carlos Brickmann. Um conceito até básico, o de que Jornalismo não é fofoca. Notícia se checa, apura e aí, sim, se publica. A outra, mais tarde, é evitar o que se chama de Jornalismo declaratório. Fulano diz que cicrano é isso. No dia seguinte, a manchete: Cicrano rebate fulano e diz que não é nada disso. Aí cria-se um círculo vicioso de publicações de declarações de um e de outro e não se chega a lugar nenhum.

Quando a poeira baixar, todo mundo que acusa terminar de acusar e todo mundo que quer se defender o tiver feito, aí, sim, é hora de analisar, avaliar, esperar provas e poder tecer conceitos, sem precipitações. Não é a mesma coisa avaliar um jogo de futebol, um campeonato, e uma crise administrativa recheada de denúncias, entre pessoas que hora são aliadas, depois inimigas e mais tarde reatam.

Mais uma coisa que se aprende no exercício dessa difícil, porem saborosa profissão: muitas vezes é melhor dar a notícia atrasado, mas a notícia certa. É o clássico caso de se informar a morte de alguém importante, na pressa de dizer que foi o primeiro a cravar o furo. Mas aí aparece alguém para informar que o dito morto está Vivinho da Silva, e o que era pressa virou barriga.

Lembro de uma história dos meus tempos de foca, na Folha da Tarde. Havia um colunão de notícias em cada página, aquelas notinhas sem grande importância para ganhar espaço maior, mas que mereciam entrar no jornal. Certo dia, o Brickmann, um baita jornalista, chamou um colega foca para uma reprimenda no famoso Vermelhão, o jornal que ele corrigia linha por linha.

- Pôxa, você mata o papa e põe no colunão!

Claro que não se sabe como havia sido publicada a morte do papa, que não tinha morrido, e numa notinha perdida num colunão!

Isso tudo para ilustrar um pouco do que é informação, do que é contextualização, opinião e debate. De nada adianta promover acaloradas discussões sobre um tema que pode mudar de direção no dia seguinte. Ou avacalhar alguém antes mesmo de esse alguém ser acusado, defendido e julgado.

Por isso vejo esse caso da Fifa da seguinte maneira: prefiro esperar novas notícias, indícios e fatos, que sejam comprovados, envolvam eles quem envolverem, para poder opinar sem ser precipitado.

E sem medo de precipitação, reafirmo: a quase perpetuação no poder é péssima para governos de países, administrações de entidades e clubes esportivos, aqui e em qualquer parte do mundo. Oposição é saudável e faz parte do processo de fiscalização de qualquer atividade. Assim como a alternância no poder.

Também vejo com ressalvas algumas sugestões de que ex-jogadores de futebol devam administrar a Fifa, as Confederações e Federações. Embora seja uma ideia válida, nada garante que alguém que tenha sido um bom jogador de futebol, ou mesmo um craque, vá ser bom em qualquer outra atividade ligada ao jogo. Seja comentarista, técnico, dirigente.

Esse é um dos pontos que critico na postura de alguns ex-jogadores de futebol. Eles acham que só porque jogaram estão prontos para fazer qualquer coisa, seja treinar times, dirigi-los ou presidi-los. Não vejo por aí.

Bom seria se eles estudassem administração e gestão esportiva e levassem suas visões de atletas ao encontro das necessidades administrativas. Beckenbauer e Platini parecem ter seguido essa linha.

Para finalizar, a Fifa e a Copa do Mundo ficaram tão grandes que parecem estar fugindo ao controle de quem deveria controlá-las.  


Lições que

chegam de

Barcelona



Como o melhor time do mundo está provando que o jeito mais simples de se jogar futebol é sinônimo de sofisticação



Rojões espocando em São Paulo na tarde gelada de sábado. Clássico? Time grande paulista em campo? Final de campeonato? Que nada! O foguetório celebrava um gol marcado por um atacante argentino, jogando por um time espanhol, em Londres, na Inglaterra.

O Barcelona de Messi capturou o imaginário de torcedores de todos os clubes brasileiros e se transformou em mania mundial.

Há muitas lições que o time catalão está aplicando, não apenas em adversários. Os gigantes do futebol brasileiro deveriam aprender e copiar o que o Barça faz de bom.

O que faz de melhor é ser praticamente imbatível jogando bem, enchendo os olhos. Esqueça as teorias mirabolantes dos prancheteiros de plantão, essa gente chata que acha que tudo no futebol tem uma explicação tática, um 4-3-alguma coisa da vida.

O Barcelona joga bem. Todos os seus jogadores sabem jogar futebol. Simples assim. Ninguém dá de bico, não tem chutão, a bola rola de pé em pé. Some-se a isso um gênio como Messi e craques do porte de Iniesta, Xavi e Villa. O complemento é uma lista de jogadores todos muito bons. A simplicidade se traduz em domínio completo de adversários, em posse de bola quase total, em imposição de estilo.

Ganhar jogando bem
Por trás disso tudo, há uma instituição que tem filosofia e respeita sua tradição. Que teve escândalos e percalços, como todas as outras. Mas o Barcelona é fiel a um princípio: ganhar jogando bem. Isso é histórico. Forma jogadores pensando nisso, identificando-os com suas raízes históricas. Ex-jogadores cuidam das categorias de base, do berço de craques chamado La Masia.

Isso sem falar em marketing, em estrutura, etc.

Há ainda o orgulho catalão, mais cultural do que nacionalista, embora o time seja, de fato, a seleção da Catalunha.

Claro que o torcedor quer que seu time seja sempre campeão. Mas, lá no fundo da alma de quem ama o futebol de verdade, ele quer também que seja no estilo deste Barça e de todos os grandes times da história.

Demonstração de força
A dispensa de Alex Silva do São Paulo teve um ingrediente político. Foi uma demonstração de força do presidente Juvenal Juvêncio, criticado publicamente pelo jogador por meio do Twitter.
A ideia era passar a mensagem de um comando forte no futebol.

Números lá e cá
Sempre que vejo valores de construção e reforma de estádios brasileiros me lembro da arena do Chivas Guadalajara. Linda, moderna, para 45 mil pessoas, inaugurada em 2010. Custou, segundo a mídia mexicana, US$ 100 milhões. Aqui não levantaria um lance de arquibancada.

Atenção, Conmebol!
No jogo da fase de grupos entre Cerro Porteño e Santos, em Assunção, houve uma batalha campal entre torcedores, dentro e fora do estádio. Há pedras por toda parte no campo do Cerro e, naquele dia, funcionários do clube abriram os portões do gramado para torcedores.

PAPO CABEÇA

Vi um Robinho mais sério, maduro, embora ainda sorridente e brincalhão como sempre no bate-papo que tivemos ontem, no "Arena SporTV".

Robinho falou de seus problemas com a direção do Real Madrid - segundo ele, decisivos para que ele deixasse o clube. "Com certeza, o Manchester City não era o time certo para mim, mas eu queria sair do Real Madrid de qualquer jeito", disse o atacante da seleção brasileira.

Ele se mostrou impressionado com a qualidade do futebol de Neymar e, numa comparação sobre estilos, esbanjou sinceridade. "O Neymar tem uma grande diferença em relação a mim: ele sabe fazer gol, tem uma qualidade muito grande na finalização. Eu, quando comecei a aparecer, não sabia fazer gol. O Leão era meu técnico no Santos e vivia me enchendo o saco para eu treinar. Só agora estou aprendendo a fazer gols."

Robinho se apresenta hoje à seleção para os amistosos contra Holanda e Romênia. Ele não disfarça um desejo especial para o confronto contra o time que tirou o Brasil da Copa da África. "Não que seja uma revanche, porque era um jogo de Copa e esse será um amistoso. Mas tomara que eles venham completos."


terça-feira, maio 17, 2011


Thor mora na

Vila Belmiro

Coluna do www.diariosp.com.br

Diz a sabedoria popular que um raio não cai duas vezes no mesmo lugar. A não ser que esse lugar seja a Vila Belmiro, sede do Santos Futebol Clube, e os raios se transformem em craques de futebol.

O presidente do clube, Luis Alvaro Ribeiro de Oliveira, disse na semana passada que o raio tinha caído três vezes na Vila. Talvez seja o caso de os santistas agradecerem a Thor, o deus da mitologia nórdica, senhor dos raios e trovões. Expulso de Asgard por seu pai, Odin, Thor deve ter escolhido a Vila Famosa para viver e despejar seus raios.

Brincadeiras mitológicas à parte, há explicação para o fato de o Santos historicamente revelar tantos jovens talentos do futebol? Há alguns meses, entrevistei Neymar no "Arena Sportv" e perguntei o que havia na água da Vila para surgirem tantos moleques bons de bola. A resposta dele foi esclarecedora: "Acho que só aqui no Santos os moleques magrelos, fraquinhos ou baixinhos têm chance de jogar. Aqui, se valoriza o talento, não o porte físico". Bingo! Certeiro como um raio de Thor.

Gerações de meninos
Lá pelos idos dos anos 50 do século passado, Luís Alonso Perez, o Lula, garimpava talentos nos times de praia de Santos e São Vicente. Descobriu Pepe, Coutinho, Del Vecchio. Abrigou Pelé. Em 1978, foi a vez dos Meninos da Vila. Juari, Pita, Nilton Batata. Em 2002, raios duplos! Robinho e Diego. Agora, Ganso e Neymar.

Talvez seja o fato de a praia ainda cumprir o papel que antigamente pertencia aos campos de várzea, engolidos pela ganância imobiliária. Ou então o olho clínico de alguns dos maiores craques de todos os tempos que ainda vivem e circulam por Santos e ajudam o deus nórdico a direcionar seus raios.

Mas a fórmula, mitológica ou científica, está aí: formar e revelar bons jogadores, conceder atenção e oportunidades nas categorias de base e caprichar nos fundamentos sem inibir o improviso e o talento. Thor cuida do resto.

NÓ TÁTICO
Sabe aquela frase dita em tom de galhofa: "Não tem mais bobo no futebol"? Pois não tem, mesmo. O Campeonato Brasileiro que vem por aí, a Taça Libertadores e a Copa do Brasil dão e darão provas.
Peso de camisa, tradição, história, time de chegada, isso tudo caminha rapidamente para a gaveta dos lugares-comuns.

A distância astronômica anteriormente existente entre os grandes e médios diminui a cada temporada. Há times de médio porte mais bem administrados e organizados que os gigantes. Avaí, Ceará e Coritiba não são casos isolados. Nem acidentes.

Há um equilíbrio de forças poucas vezes visto em nosso futebol. Não se pode confundir popularidade com qualidade. Alguns clubes parecem ignorar essa constatação. Também fica claro que faturar rios de dinheiro e gastar mal é diferente de viver bem com orçamentos mais modestos.


Magia vencidaO Palmeiras fará de tudo para não pagar a parcela que vence em agosto dos direitos econômicos de Valdivia (foto). São cerca de R$ 14 milhões. O clube não tem tal quantia. Não é bravata de presidente a ideia de envolver o Mago numa troca. É vontade.

Mão pesada
A fase mudou mesmo pelos lados do São Paulo. A fama de clube de precisão cirúrgica para contratar foi abalada pela sucessão de fiascos nos últimos anos. O presidente Juvenal Juvêncio será cobrado por conselheiros pela má pontaria recente.

Leitura obrigatória

Um clássico da literatura futebolística voltou. Gigantes do Futebol Brasileiro (Editora Record), dos craques João Máximo e Marcos de Castro, chega em edição atualizada. Os 12 perfilados da edição original cresceram para 21 atletas. Imperdível.







quinta-feira, maio 05, 2011



Blogueiro em manutenção

Por motivos de força maior, o blog entrará em recesso durante um tempo. Fraturei o punho esquerdo numa pelada do campeonato de cronistas esportivos, terça-feira, operei o local e precisei colocar placas e parafusos de titânio.

Agradeço ao doutor Alexandre Santa Cruz pela habilidade, simpatia e gentileza, assim como a toda equipe do Hospital São Luiz do Morumbi, e seu coordenador médico, doutor Mário Gimenez.

Foi um lance bobo de pelada, acidente, e sei que não houve maldade por parte do colega Wagner Eufrosino, que gentilmente me telefonou no hospital. Sem mágoas ou rancor, bola pra frente, acontece.


Infelizmente, por pura falta de assunto, o Uol publicou uma matéria sobre isso, tendenciosa como sempre faz em relação a tudo que envolve as Organizações Globo e seus funcionários. Ao escrever que parti para cima do Wagner, tenta dizer que o agredi. Fiquei, sim, nervoso, ao perceber a gravidade da contusão, mas houve apenas uma pequena confusão, um empurra-empurra que não deu em nada. Tanto que fora da quadra conversei normalmente com o Wagner, coisa que o Uol e seu já tradicional jornalismo caolho não publicaram em seu texto.

Enfim, um tempo de molho e se Deus quiser semana que vem estaremos de volta ao batente.