Altitude e baixaria
Entre os muitos temas polêmicos do esporte, a questão da prática em cidades situadas em locais de grande altitude é das mais complicadas.
Já me manifestei aqui anteriormente sobre isso. Repito a postagem aqui para refrescar a memória.
Sempre que alguma equipe brasileira disputa alguma partida de futebol em La Paz (ou em Cuzco, Potosí) volta-se a debater essa questão.
Não tenho conhecimento científico para levar o debate a esse lado. Jamais estive em La Paz para testemunhar algo sobre as reações de meu organismo. Ouvi relatos de amigos que impressionaram pelas dificuldades, com desmaios, dores de cabeça etc. Também sei de histórias de outros amigos que nada sentiram.
Conheço pesquisas de médicos bolivianos que apontam para uma defesa do direito de se jogar na altitude, enumerando motivos e argumentos. Também há trabalhos de cientistas brasileiros que citam riscos e prejuízos à saúde dos atletas.
Um resumo do que penso: um dos motivos para a popularidade do futebol é sua universalização. Como proibir alguém de jogar futebol, de montar um time e construir um estádio em grandes altitudes? La Paz é a capital da Bolívia. A Cidade do México está ali desde os tempos dos astecas. No caso da capital boliviana, até as operações de pouso e decolagem de aviões são de muito risco, cheias de detalhes técnicos. Mas é preciso chegar e partir dali voando.
Não sou arrogante ao ponto de afirmar que tenho a solução, mas talvez fosse o caso de se estudar o calendário das equipes que jogam nas alturas. Oferecer ao adversário, dentro do regulamento, mais tempo de adaptação. Vão dizer que é impossível, que não há datas etc. Virem-se. Os dirigentes estão aí para isso. As federações e confederações faturam os tubos para isso. Os clubes também possuem recursos para aplicar nessa questão. Uma opção seria dar ao time que atuará em La Paz e Potosí uma semana livre para jogar apenas essa partida, um período de sete dias.
Com suas particularidades e diferenças, também oferece riscos à saúde de um atleta profissional uma partida as 15 horas em pleno verão carioca. Ou nordestino. Também no interior paulista. E, ainda que de forma atenuada, um jogador que vive e treina em La Paz, se tiver que descer o morro e jogar em Manaus, por exemplo, terá um prejuízo atlético já explicado pela ciência.
Mas é um tema cabeludo. Só acho que não se pode simplesmente negar o direito de se fazer e jogar futebol a quem vive em grandes altitudes.
O que se pode e se precisa fazer, urgentemente, é acabar com a baixaria dentro e fora de campo em muitas partidas da Libertadores da América. O mais nobre e importante torneio do futebol sul-americano não pode ser submetido a cenas lamentáveis como atletas recebendo pedradas, como aconteceu ontem com Neymar. Ou então casos que todos já vimos em partidas na Colômbia, quando para cobrar um escanteio o jogador precisa ser protegido por escudos de policiais, tamanha a quantidade de objetos que são atirados contra ele.
A pressão em partidas realizadas em estádios de clubes pequenos e médios da Argentina é surreal. Gândulas atuam como guerrilheiros, torcedores têm fácil acesso a vestiários e, até mesmo, ao gramado. É preciso, sim, aprender com a Uefa e o padrão de excelência que ela dá à organização de seus torneios continentais.
Dentro de campo também. O que Neymar apanhou ontem em La Paz foi escandaloso. A violência é legitimada por alguns árbitros sul-americanos. Também pelo fato de a Conmebol aplicar apenas multa em dinheiro para os cartões amarelos. O que transforma a punição em um excelente investimento para a entidade, que só lucra com as canelas dos jogadores.
Basta comparar o número de faltas em um jogo da Libertadores com uma partida da Champions League. Dá vergonha. Algumas estatísticas por aqui beiram a selvageria.
Por falar em Champions League, lá vai o Bayern para outra decisão. O jogo contra o Real Madri foi muito melhor de assistir do que a semifinal entre Barcelona e Chelsea. A equipe alemã é fortíssima, organizada e muito segura mentalmente. Tem um currículo invejável na Champions, mas não goza do prestígio com a mída que Barça e Real têm. Fora isso, o futebol alemão segue sendo apontado por muita gente como um estilo mecânico e sem sal. Discordo. A bola alemã está cheinha. Muitos bons jogadores, toque de bola, padrão tático bem definido. É uma escola que merece muito respeito.