sexta-feira, dezembro 28, 2012



Onde você está?




Eu atendia o chamado no telefone e vinha aquela voz potente, de trovão:

- Onde você está?

- Em casa, pai, você ligou para minha casa.

Ríamos juntos disso, incontáveis vezes.

E foi assim durante muitos anos.

Eterno desligado, meu pai sempre me telefonava em minha casa e perguntava onde eu estava, pensando que tinha ligado para o celular.

Talvez tenha sido o instinto paternal, que ele sempre teve aflorado.

Hoje sou eu que pergunto: onde você está?

Choro ao saber que não ouvirei mais aquela linda voz ao telefone, e pessoalmente.

Mas sei que ele está coberto de luz, acompanhado por seus amigos e familiares que o antecederam nesse processo.

A resposta está nas lembranças que temos e teremos aos milhares.

Fecho os olhos e o escuto me chamar de Piqueta, a solução que encontrei para a dificuldade de falar Picareta quando era criança, e ele transformou em apelido.

Vejo a relação especial que ele tem com minha mãe, um companheirismo firme e amoroso. Porque sei que ele estará sempre por aqui com sua presença.

Mas, que diabos!

Como dói saber que a voz agora está nas fitas, no Youtube, na memória afetiva de milhões.

Tantos jogos que vimos juntos, tantas férias, tantas viagens, conversas, taças de vinho, abraços, olhares.

Felizmente, ao contrário do andróide de Blade Runner, elas não se perderam no tempo, como lágrimas na chuva.

Como Diana Ross cantou para Marvin Gaye, eu tentei estar aí, mas você não me deixaria entrar.

Como Phil Collins cantou, ouvindo discos enquanto você assistia TV, não passei o tempo que poderia ter passado.

Ou melhor, passei, sim. Passei, passamos eu, você, mamãe, irmãs, família, amigos. Porque sabemos lá como passa o tempo?

Lembro de ver o Pelé tratando o Luiz como um velho amigo, do Moreno pedindo conselhos, do Marcel chamando você de senhor, do Adhemar Ferreira da Silva te abraçando como velho amigo, da Paula te dando um beijo carinhoso de filha, do Brandão telefonando em casa.

Dos churrascos em Indaiatuba, das árvores que você plantou, dos conselhos, das críticas pontuais, dos trotes que você passava nos amigos, do seu espanhol perfeito, das músicas do Alberto Cortez que você ouvia chorando, lembrando do vovô Epifanio e da sua amada Espanha.

Agora sou eu que pergunto onde você está?

Fecho os olhos e sei que você responde, com esse vozeirão maravilhoso:

- Com Deus e com vocês.

 

terça-feira, dezembro 18, 2012



Vai ser difícil segurar



Coluna publicada nesta terça no Diário de S.Paulo.


Para ler: http://www.diariosp.com.br/blog/detalhe/15613/Vai+ser+dificil+segurar+o+Corinthians

segunda-feira, dezembro 17, 2012



A Era da Fiel



Aviso aos rivais e adversários do Corinthians no fuebol brasileiro: se não abrirem os olhos, todos serão vencedores fugazes e espectadores de uma longa era de conquistas alvinegras, a Era da Fiel.

O Corinthians demorou, mas conseguiu costurar uma parceria com seus torcedores, que praticam a fidelidade como nunca antes visto, lotam os cofres do clube e viabilizam o poderio econômico.

Mas de nada adiantaria o poderio econômico se não houvesse visão administrativa e uma palavra-chave: ousadia.

O Timão bicampeão mundial não tem vergonha de sonhar longe, de voar alto, e querer sempre mais.

Em vez de chorar o complexo da superioridade européia e desfilar desculpas, o Corinthians foi à luta e mostrou que é possível fazer futebol competitivo, profissional e gerar dinheiro no Brasil.

Se souber manter a postura profissional, reduzir a dívida (que ainda é alta e cresce), o Corinthians estará trilhando o caminho para se transformar no primeiro time brasileiro verdadeiramente global e internacional.

Anotem aí e me cobrem.

quarta-feira, dezembro 12, 2012



Encontros e despedidas



Em ritmo de final de temporada, com encontros e despedidas marcando o que resta do esporte, em especial do futebol, neste 2012.

A linda festa da torcida palmeirense para Marcos mostra que ídolos e instituições estão muito acima de jogadores incapazes e dirigentes incompetentes. Os alviverdes tiveram uma noite de gala para lembrar que a Sociedade Esportiva Palmeiras está muito acima de fases, de momentos ruins, e permanecerá depois que todos nós já tivermos passado.

Marcão é uma das melhores figuras que conheci no futebol, além de ter sido um goleiro excepcional.

Outra despedida anunciada é a do garoto Lucas, revelação do São Paulo. Um menino de muito boa formação e grande talento para evoluir e se confirmar como grande jogador. Ele é a antítese do boleiro nacional de plantão. Não é marrento, não cria caso, não inventa contusão, nem tira o pé das divididas após ser negociado para a Europa.

Não tenho dúvidas que essa postura de Lucas ajudou a transformá-lo em ídolo, mesmo sem ter vivido as fases de glória do Tricolor paulista.

Mas não há apenas despedidas, há encontros marcados.

O do Corinthians com a final da Copa do Mundo de Clubes. Diante de Chelsea ou Monterrey.

A dificuldade encontrada pelos alvinegros contra o Al Ahly não me surpreendeu. Vi três semifinais de Copa do Mundo de Clubes "in loco", uma delas dentro de campo, em 2006. Era o Inter contra este Al Ahly, embora com uma equipe diferente. Foi sufoco do mesmo jeito, 2 a 1 para os gaúchos.

O jogo é mesmo tenso, porque envolve uma suposta certeza de um lado e um desejo de superação de outro. É um jogo que europeus e sul-americanos já venceram há seis meses, sem precisar jogar, na cabeça de torcedores e analistas. Essa certeza quando não se confirma facilmente, se transforma em dúvida. Mais uma vez foi o que se viu. Além de uma atuação pouco inspirada e cautelosa do Corinthians.

Cumprida a escala, a tendência é um time pelo menos mais solto na decisão, contra quem ela seja.

Mas o susto serve para tirar os torcedores e alguns analistas/torcedores do estado de euforia que viviam. Nada é fácil no futebol de nível internacional.

Sobre Marcos e Lucas, recomendo o texto do Blog do Menon.