quarta-feira, maio 28, 2014

No palco da abertura da Copa


Na terça-feira, 27 de maio, fui fazer meu credenciamento para a Copa do Mundo de 2014. Minha sétima como jornalista profissional e terceira como comentarista do SporTV, e aproveitei para conhecer o novo estádio do Corinthians.

A obra será palco do jogo de abertura da Copa do Mundo.

Prefiro o termo estádio a Arena.

Também acho que não tem nada demais chamar os estádios pelos nomes das empresas que comprarem o direito de patrocinar.

Assim como acho bacana quando o povo adota um nome para estádios, como fez com o do Corinthians, que vem sendo chamado de Itaquerão.

O estádio é um senhor empreendimento.

Pode-se contestar a arquitetura, e isso vai do gosto de cada um.

No meu gosto, prefiro estádios que tenham todos os assentos cobertos, o que não acontece na nova casa corintiana por uma questão de projeto.

A obra também é polêmica, desde a questão de seu financiamento e do uso - que para mim, há - de dinheiro público (obtenção de empréstimo com isenções fiscais diferenciadas, dinheiro mais barato) até saber como o Corinthians pagará pela construção do estádio, feita pela Odebrecht, empreiteira que bancou a obra.

Conversei com alguns dos responsáveis pela obra e ouvi que as arquibancadas temporárias são os pontos mais preocupantes. Como são provisórias, dependem de uma séria de obras também provisórias, como instalação de contêineres que servirão como banheiros e bares, por exemplo.

Nos locais em que estão as arquibancadas provisórias, atrás dos gols, segundo essas pessoas me disseram, serão instalados os telões do estádio quando ele for devolvido ao Corinthians pela Fifa.

Os telões que serão usados na Copa são, também, provisórios, e estão instalados na diagonal de dois dos quatro cantos de escanteio do gramado.

O gramado é espetacular. Quando fiz a visita, estava sendo semeado mais uma vez e "penteado" por máquinas especiais.

Os bancos de reservas são comuns, sem grandes luxos, com cadeiras normais, nada parecidas com as de alguns estádios nos quais lembram até poltronas de avião. Imagino que sejam padrão da Fifa para todos os estádios.

Tive acesso às entranhas do estádio, como vestiários e sala de entrevista. Tudo muito bonito. Os vestiários têm sistema de sensores para acendimento das luzes e acabamento luxuoso.

Luxo é uma palavra que pode definir o acabamento do estádio e explicar porque o custo está chegando na casa do bilhão.

Esse luxo contrastará com a improvisação nos setores temporários, nos quais tapumes e panos gigantescos esconderão o improviso.

Uma parte dos assentos que deveriam ser cobertos ainda não estarão assim na Copa, porque os vidros que ocuparão este espaço na cobertura ainda não chegaram. Quem estiver sentado nas cadeiras mais próximas ao campo nas linhas laterais sairá molhado se chover.

Havia a possibilidade de o estádio fazer captação de energia solar para aquecimento da água dos vestiários e banheiros. Mas, segundo uma fonte local me informou, o arquiteto que projetou a obra não aceitou essa sugestão.

Quando o Corinthians assumir o estádio definitivamente, haverá um café para a imprensa e o vestiário do time da casa incorporará áreas hoje cedidas à Fifa. Também haverá um vestiário alternativo, para quando outras equipes que não forem a dona da casa ali forem atuar.

A impressão geral é de que muita coisa ainda precisa ser feita. Áreas externas e de acesso ainda recebem acabamento no que se refere a sinalização e grama. Assim como ocorreu na Copa de 2010 e também na Euro de 2012, situações que verifiquei in loco.

Dentro do estádio ainda há muita obra em andamento. O setor dos estúdios de TV não está pronto e não havia ainda nenhum equipamento de imprensa instalado. As tendas que servirão a jornalistas e patrocinadores estão sendo montadas. Essa solução é utilizada tanto nas Copas do Mundo como nas Euros em países com muito menos problemas que o Brasil para entregar obras no prazo.

A chegada por Metrô é, sem dúvida, a melhor opção. A caminhada não é longa até o estádio.

Num dia sem trânsito complicado, da Zona Sul de São Paulo até Itaquera o trajeto foi feito em cerca de 50 minutos.

Em resumo: haverá improvisos. Aquela história de arrumar a casa rapidinho para receber vistias, esconder os brinquedos embaixo da cama, cobrir algumas coisas etc.

É a cara do Brasil, o jeitinho, o deixar para a última hora.

Haverá jogos ali. Também haverá reclamações em virtude das gambiarras feitas para acelerar a adaptação do estádio para uma situação à qual ele já deveria estar adaptado há muito tempo.

Afinal, a Copa é no Brasil. Não somos a Alemanha e nem o Japão em termos de seriedade e responsabilidade quanto a prazos e eficiência.

Os gastos com a Copa devem, sim, ser questionados pela população, pois é direito dela. Assim como todo tipo de gasto do Governo. Chama-se cidadania.

Os protestos devem ser entendidos como um direito democrático, desde que também seja respeitado o direito de quem apenas quer ver em paz um jogo de futebol de Copa do Mundo.

Vai ter Copa.

E, permitam-me a propaganda: É no Brasil! É no SporTV!

Túnel por onde entrarão as seleções

Vestiário que o Brasil utilizará
Entrada principal
Gramado sendo tratado




Arquibancada provisória sendo finalizada

segunda-feira, maio 26, 2014

Cruzeiro, por enquanto, com sobras

Por enquanto o Cruzeiro está sobrando no Brasileirão.

A não ser que algumas equipes ganhem reforços consideráveis após a Copa, se não perder ninguém, a

Raposa tem tudo para se manter como a grande favorita.

Ainda é cedo, dirão. Claro que é, mas a diferença técnica do elenco cruzeirense para os demais é muito grande.

Internacional e Fluminense, também por enquanto, aparecem como prováveis adversários diretos do Cruzeiro nessa disputa.

O Goiás é uma rara boa nova em um futebol carrancudo. Resta saber se o elenco sustentará a boa arrancada após a Copa.

A questão é que tanto Colorado como Tricolor das Laranjeiras ainda oscilam muito e não contam com a uniformidade técnica do Cruzeiro. Pelo menos é o que penso.

Mas o que seria essa tal uniformidade técnica?

Traduzindo em boleirês, no time do Cruzeiro não tem grosso. Claro que com variações de capacidade técnica, uns mais outro menos, mas todos os jogadores do Cruzeiro têm, no mínimo, bom nível técnico. O time sabe sair jogando, não investe no chutão de goleiros e zagueiros e na correria desenfreada. Tem boas opções no banco que estão, se não no mesmo nível, num patamar próximo dos titulares, ao ponto de não deixa-los acomodados e de não fazer despencar o desempenho do time quando entram.

Inter e Flu ainda não atingiram esse patamar. O Flu tem uma chegada muito forte na frente, com Vágner, Conca, Fred, Sóbis, Walter, e ainda bons valores revelados na base. Mas do meio para trás ainda não tem a consistência necessária. A dupla de volantes, quando tem Diguinho e Jean, é boa, mas não fantástica. Por isso o time deixa alguns espaços e expõe a defesa, pelos lados do campo.

O Inter vive o dilema da eterna promessa. Tem um time forte, claro, mas ainda não encontrou o equilíbrio para ser consistente no conjunto. Oscila demais dentro da partida.

Os outros 17 times poderia dividir em dois grupos. Há uma massa de equipes que são absolutamente parelhas tecnicamente, com pontos fortes e fracos, mas com predominância de defeitos.

Além de alguns times esforçados e nada mais que isso, que precisarão de muita luta para continuar na Série A em 2015.

Os quatro paulistas, por exemplo, estão nesse bolo dos parelhos. Para formar um bom time em São São Paulo talvez fosse necessário fundir os quatro. Porque um por um o que mostraram até agora foi pouco animador. Sem falar nos bancos. Times com orçamentos milionários como os quatro bandeirantes deveriam se envergonhar de ter bancos de reservas tão fracos.

O Palmeiras é mais esforço, entrega, embora tenha boa capacidade ofensiva quando está completo. Mas marca mal e deixa espaços inacreditáveis, pois joga com improvisações débeis na lateral direita e na quarta-zaga. Sem Valdívia é um time que não pensa.

O São Paulo alterna momentos de empolgação com outros de pura depressão futebolística. Tem problemas muito parecidos com o do Palmeiras na lateral direita e na zaga, e o meio carece de combatividade. Ganso e pato são bipolares. Uma no cravo e várias na ferradura.

O Corinthians alterna momentos de enfado com bons jogos como o diante do Sport. A solidez defensiva se perdeu. Guerrero tem sobrado como o principal jogador do time, enquanto os outros vivem na gangorra. Um dia bem, outro mal. Tipo Romarinho.

O Santos despencou após a derrota na final do Paulistão. Os garotos chamados de tesouros estão jogando mais para bijuteria. Principalmente Geuvânio, a quem o peso da fama precoce e a ganância dos empresários parecem ter prejudicado sobremaneira.

No Rio o Flu sobre porque Flamengo e Botafogo mostraram equipes muito fracas para suas histórias. Precisam de reforço - e muito - para o pós-Copa. Não se pode aceitar que equipes desse quilate cheguem com elencos tão limitados para o maior torneio do País.

O Grêmio está naquele bololô de pontos fortes e fracos, de jogos bons e ruins. A luta e a entrega de sempre, mas falta qualidade à altura da camisa. O conceito de imortalidade e a força como mandante seguem sendo as grandes armas.

O Galo parece estar ainda sofrendo dos efeitos da derrota no Marrocos. No papel tem tudo para entrar na briga com Cruzeiro, Flu e Inter, mas o que está no papel ainda não entrou em campo.

O trio catarinense sofre com a falta de recursos quando comparados aos poderosos de outras praças. São equipes apenas esforçadas, nada mais que isso. Precisarão transformar seus estádios em arapucas para somar o quanto puderem de pontos em casa para tentar permanecer.

O Coritiba nem de longe lembra o time que foi a duas finais de Copa do Brasil. Hoje o Atlético está muito mais forte.

A dupla baiana parece que, mais uma vez, trabalhará com dificuldades pela sobrevivência na elite. Assim como o Sport.

Resta saber o que acontecerá depois do Mundial.

Tecnicamente o campeonato foi medíocre até agora.

Que tenhamos uma grande Copa futebolisticamente, para inspirar a volta de um Brasileirão renovado.

sexta-feira, maio 16, 2014

É crise técnica, sim, senhor!


A palavra crise provoca calafrios no ambiente do futebol e do esporte.

Crise política, crise financeira, administrativa, crise no vestiário e crise técnica, sim, senhor!

Não tenho receio algum em afirmar que o futebol brasileiro vive uma grave crise técnica.

Que não se instalou da noite para o dia, mas foi germinada há dez, quinze anos, floresceu silenciosamente, sendo ocultada por alguns bons resultados, e agora é fruta madura (ou seria podre?).

Por crise técnica eu entendo o que se vê na maioria das partidas de futebol disputadas no Brasil e por jogadores brasileiros.

Uma coisa é o futebol jogado no Brasil. Outra é o futebol praticado por brasileiros que atuam na Europa.

Não se trata de apontar culpados, mas de buscar as causas, identificá-las e tratar de combatê-las. Enriquecer o debate, como propôs Mano Menezes, que encontrei por acaso num aeroporto da vida, dia desses, perguntando se alguém chamaria o San Lorenzo de retranqueiro.

Visivelmente irritado com algumas críticas, ensejando um debate mais amplo, que envolva a qualidade do atleta profissional de futebol que se produz por aqui.

Concordo com ele quanto à riqueza do debate e não fujo da responsabilidade do meu lado da trincheira, o do analisa, crítico, comentarista, enfim, a mídia.

Assim como não excluo do rol de responsabilidades os treinadores, em todas as esferas. A começar pelos que formam jovens jogadores, chegando ao topo da cadeia alimentar, aqueles que, consagrados, recusam-se a tentar algo novo, a ousar, a arriscar perder um torneio aqui pra vencer muitos acolá.

O debate sobre futebol no Brasil está infestado por uma mania de querer demonstrar conhecimento e erudição. Citar números, esquemas, treinadores e ligas estrangeiras. Em muitos casos parece mais discussão sobre economia e estatística.

Gosto da parte tática e, modéstia à parte, estudo muito para me aprimorar. Há quem concorde e discorde do que opino, o que é uma maravilha.

Mas o cerne da questão vem sendo deixado de lado.

Volto ao San Lorenzo, citado pelo Mano. Bom time, arrumado, bem treinador. Tem jogadores com leitura de jogo inteligente, preparada. Não tem craques. Eliminou três dos seis times brasileiros que jogaram a Libertadores. É uma equipe que sabe se defender, mas não abdica do jogo. Basta ver os teipes dos jogos contra o Grêmio e o Cruzeiro, no Brasil, para verificar que em ambos o San Lorenzo esteve algumas vezes cara a cara com os goleiros adversários em contragolpes bem moldados. E que raramente ofereceu contragolpes aos adversários.

Jogadores como Villalba, Mercier e Piatti possuem uma inteligência tática, uma compreensão do jogo que rareia em atletas brasileiros, que muitas vezes são tecnicamente bastante superiores.

A questão chega à formação do jogador brasileiro.

Muricy Ramalho, provavelmente o mais vencedor dos treinadores nacionais no século XXI, fala disso há tempos. O Brasil não forma mais laterais e meias. Mas a linha de montagem despeja alas e volantes aos borbotões. O Brasil não se preocupa com a produção de jogadores de futebol capazes de dominar os fundamentos técnicos do jogo, mas a cada ano lança um exército de atletas capacitados para correr muito e trombar bastante.

Respeito demais o Muricy. É dos raros treinadores que ainda admitem que seu time jogou mal, quando joga mal. Tem seu jeito meio tosco, mal humorado, mas não foge da responsabilidade e não costuma jogar as derrotas nas costas das arbitragens.

Há muitos bons treinadores no futebol brasileiro. Muitos mesmo. Seria burrice afirmar que nossos "professores" não têm conhecimento, que não se atualizam, que não sabem dar treino. Claro que sabem. Óbvio que buscam o padrão e a intensidade de jogo praticados pelos melhores times do mundo.

Mas é preciso perguntar: e os jogadores?

Não somos nós mesmos, torcedores e analistas, que seguidamente apontamos estrangeiros como destaques em nossos campeonatos? Tivemos recentemente Tévez, Conca, Seedorf. Temos ainda Barcos, D´Alessandro, Valdívia, Aranguiz, Guerrero (sua seleção não se classificou). Todos jogadores estrangeiros que freqüentemente são apontados como acima da média atual do futebol brasileiro. Realmente são. Detalhe é que destes que citei, apenas os dois chilenos estão convocados para a Copa do Mundo por suas seleções. Perdoem-me se esqueci de algum gringo bom de bola.

O último grande camisa 10 do futebol brasileiro é alguém que foi sem ainda ter sido: Ganso.

Dos prováveis titulares do Brasil para a Copa, só um atua no Brasil: Fred, remanescente da Copa de 2006.

Nosso melhor jogador, disparado, Neymar, ainda luta para se firmar no Barcelona.

É para pensar, ou não?

Claro que o Brasil tem boas condições de vencer mais uma Copa do Mundo. Mas isso mudará alguma coisa no sistema de formação de nossos jogadores e na qualidade do jogo que se pratica por aqui?

Vencemos em 1994 e 2002 e a crise técnica já estava em gestação, silenciosa, sorrateira.

Vasculhe sua memória em busca de um grande jogo de futebol que você tenha assistido neste ano, em campo ou pela TV, disputado por times brasileiros.

Vale ou não enriquecer o debate?

terça-feira, maio 06, 2014

Quando o Stjd brinca de apitar jogo


O Stjd presta um péssimo serviço ao futebol brasileiro quando brinca de juiz de futebol e aplica penas que são direito exclusivo dos árbitros durante os jogos.

 Não se consertam em tribunal erros de arbitragem, a não ser que sejam erros de direito, de flagrante descumprimento das leis do jogo. Erros de interpretação pertencem ao universo das quatro linhas.

Se o tribunal pode "apitar" um jogo dias depois, usando imagens da TV, e tomando medidas técnicas e disciplinares, então é melhor usar o recurso eletrônico em campo, através dos árbitros, que conhecem muito mais a regra do jogo do que procuradores e auditores do Stjd.

Explico: se uma falta é cometida, se um jogador ajeita a bola com a mão e o juiz não vê, se um impedimento não é marcado, esses erros pertencem ao jogo de futebol.
 
É preciso trabalhar para que os árbitros melhorem seus desempenhos e errem menos. Assim como os jogadores, os jornalistas, os torcedores. É a busca de todos nós, a melhora, a evolução.

É cruel que um tribunal tome medidas técnicas de um... jogo de futebol que não foram tomadas por um árbitro de futebol.
 
Os tribunais devem julgar os excessos, com base na súmula, o documento oficial do jogo, ou em casos extremos de agressões e pancadaria que escapem aos olhos da arbitragem e ao olhar eletrônico das câmeras.
Retocar decisões dos árbitros de futebol é um precedente perigoso, porque os auditores e procuradores não têm conhecimento técnico das regras do jogo para avaliar.
 
Mas infelizmente isso virou praxe no futebol brasileiro.
É uma pressão adicional desnecessária sobre a arbitragem. O jogo que deve ser apitado é o do campo, não o mostrado com os recursos tecnológicos da TV.