quarta-feira, dezembro 28, 2011


Muito barulho por nada*

*Essa coluna eu escrevi para ser publicana no Diário de S.Paulo, mas esqueci que nessa época do ano as colunas deixam de ser publicadas. Efeito retardado do fuso japonês. Mas fica aqui o registro.

Por enquanto, grandes paulistas fizeram espuma. Poucas contratações e nada de protagonistas

            Se depender do que aconteceu até agora em termos de contratações, 2012 será um ano pouco auspicioso para os torcedores dos quatro grandes times de São Paulo. Em meio a promessas e ilusões, por enquanto não se concretizou nenhum reforço que merecesse manchete ou festa dos torcedores.
            A impressão que fica é que entre as assustadoras pedidas dos jogadores e de seus empresários e a realidade financeira dos clubes parece existir um oceano de incertezas. A crise econômica é uma realidade e certamente chegará ao Brasil. Os valores astronômicos que os clubes sonhavam conseguir com marketing e patrocínios estão sendo revistos sempre para baixo, o que tem impacto na política de contratações.
            Quem mais se mexeu por enquanto foi o São Paulo. Não fez contratação de impacto, é verdade. Trouxe uma promessa, o lateral Bruno Cortês, um volante experiente, Fabrício, um meia que ainda não vingou, Maicon, e zagueiros que disputaram um bom Brasileiro, Paulo Miranda e Edson Silva. Nada que justifique apresentação no Morumbi, nem que corrija o maior defeito do time em 2011, a falta de criatividade no meio-campo.

            O Corinthians busca, com tem sido sua marca registrada recentemente, uma contratação que faça barulho. No caso, o argentino Montillo, que tem potencial para conseguir mais que reverberação, porque joga muito. Mas será que vale a pena gastar quase toda a verba de contratações com apenas um atleta? Ou seria melhor reforçar as laterais, por exemplo? Ter mais atacantes que possam jogar de fato e não de vez em quando?
            O Santos deve ter se assustado com o que não fez no Japão e precisa melhorar sua frágil linha defensiva. Além de buscar gente que possa ocupar a vaga de Neymar quando ele estiver com a seleção. Mas o grande problema, de fato, é aproximar o desempenho da defesa do rendimento do ataque.
            O Palmeiras segue sendo maltratado pelos seus ultrapassados dirigentes. Não contrata e ainda faz um negócio de deixar arrepiado até o pior dos comerciantes, ao aceitar pagar uma fortuna por Valdívia, aumentando as dívidas. Em vez de trazer os camarões de Felipão, paga caro por um prato servido requentado.
            A Lusa não tem a realidade financeira dos quatro parceiros, então os sonhos são mais modestos. O que pode ser interessante, pela realidade do mercado. Pouca gente boa, muita gente média e pedindo alto demais. Com inteligência, dá para montar um time competitivo, de acordo com o que se apresenta. O mesmo vale para a Ponte Preta.

Quem procura....
            Adriano telefonou para dirigentes corintianos choramingando que é zicado, que tudo acontece com ele. Tadinho... Seria o caso de alguém lembrar ao atacante o velho ditado popular do quem procura, acha. Quem brinca com bola certamente colhe coisas bem diferentes do que quem anda com revólver no carro. Lamentável!

  Velhos fantasmas
            Em vez de renovação e ideias arejadas, eis que o noticiário político do Palmeiras aponta para uma possível volta de Mustafá Contursi ao poder. Depois o torcedor custa a compreender porque o time só patina. O tempo passou na janela e só os dirigentes palmeirenses não viram. Desse jeito a fila não anda.

 Chega de testes
            2012 é ano-chave para Mano Menezes na seleção brasileira. O time empacou em 2011, não teve quase nada de aproveitável. Hoje temos Espanha, Alemanha, Holanda e Uruguai muito à frente do Brasil. É hora de dar uma cara ao time, não apenas um uniforme. A Olimpíada será uma boa vitrine do que a nova geração pode oferecer.

Nó Tático
            A devastadora vitória do Barcelona sobre o Santos ainda renderá muito debate em 2012. Na mídia, no boteco, no clube, na praia. Mas será que onde deve acontecer o debate ele realmente surgirá? Nos clubes, nas federações, na CBF?

            Honestamente, duvido. Os dirigentes e treinadores brasileiros são dotados de tal nível de soberba atualmente que não conseguem, na maioria dos casos, enxergar um palmo adiante do nariz de Pinóquio. Poucos pensam no futuro, no que pode acontecer com seus clubes e seus negócios em quinze, vinte anos.
            O Barcelona pensou 30 anos antes para colher o que tem hoje. Enquanto os clubes brasileiros correm atrás de dinheiro para comprar jogadores, o time catalão ganha o mundo com nove atletas criados em sua base.

            Por aqui assistimos a clubes grandes verificarem, estarrecidos, que seus elencos contam com pouquíssimos atletas que pertencem a eles. Na maioria, são ativos de empresários.

            Mas o que fica de questionamento, o mais grave, é saber quem são os treinadores da base? O que podem ensinar aos jogadores? Como estão contribuindo para a formação dos atletas? Porque é como na educação formal. Não adianta querer ensinar tabuada e concordância na faculdade se isso não foi feito da maneira correta lá atrás, no ensino básico.
            Por isso muitos dos nossos zagueiros se apavoram quando recebem uma bola recuada, nossos laterais precisam ajeitar a bola dez vezes antes de cruzar, nossos atacantes cabeceiam de olhos fechados e por aí vai.
            Nada se ensina sem bons professores. Adaptando a frase do Felipão, não adianta pedir camarão se da cozinha não sai nem um feijãozinho bem temperado.

quarta-feira, dezembro 21, 2011


De 2008 a 2011,

lições do "balón"


Reproduzo aqui o texto que publiquei ainda em Viena, horas após a Espanha conquistar a Euro 2008 e iniciar seu domínio sobre o futebol mundial, referendado pelo Barcelona.

Ao retomar o texto reflito e convido os que aqui passam, para refletir sobre o que aconteceu com o futebol brasileiro desde então.

Cada vez mais me convenço que, embora ainda brotem talentos, nossos dirigentes e treinadores caminham para o lado oposto do que indica a armada espanhola com sotaque catalão.

Feliz Natal e um ótimo 2012 a todos!

http://blogdonori.blogspot.com/2008/06/fria-espanha-reina-soberana-sobre-o.html  


DOMINGO, JUNHO 29, 2008

FÚRIA

A Espanha reina soberana sobre o futebol europeu, 44 anos depois de seu primeiro título. Finalmente o futebol jogado pelos espanhóis se equivale ao bom futebol jogado na Espanha (quase sempre por estrangeiros, diga-se). Há muito o que comemorar, não apenas pelos espanhóis, com essa Uefa Euro 2008.
Pelo lado de Castela e Aragão, além da conquista, é mais do que justo celebrar o futebol de um Iniesta, rápido e habilidoso, de um Fabregas, do grande goleiro Casillas. E com a providencial ajuda brasileira, um senhor volante chamado Marcos Senna, tipo dono do time, passe preciso, marcação incansável. Se ele faz o segundo gol naquela jogada maravilhosa que ele mesmo iniciou, viraria mito na terra de Cervantes.
Que dizer de Fernanto Torres? forte como um cavalo, oportunista como o herói espanhol de 1964, Marcelino.
Da Alemanha há quase nada a destacar. Fora Schweinsteiger, craque mesmo, o time foi uma pálida lembrançda da esquadra poderosa e confiante de outras jornadas. Podolski pipocou, Ballack, se estava machucado, deveria ter pedido para sair, pois praticamente não entrou. Metzelder é fraco demais.
Para o mundo, a Europa passa a mensagem de que o futebol pode ser mais livre das amarras táticas, das teorias professorais dos treinadores, e deve ser entregue cada vez mais aos jogadores, pois talento, felizmente, ainda há de sobra. 

domingo, dezembro 11, 2011


Semifinal é desafio

psicológico no

Mundial de Clubes


Estou no meio da viagem para meu terceiro Mundial de Clubes in loco. Gosto da competição, que ainda precisa se ajustar à questão meio doida do calendário internacional do futebol. O que parece muito difícil de ser conseguido. Afinal, os interesses de cada país precisam ser respeitados, assim como suas diferenças climáticas, culturais etc.

Nessas três edições no local e em outras que vi pela TV, cheguei a uma conclusão que compartilho com vocês, teclando enquanto não chega a hora de embarcar para 14 horas de voo de Nova Iorque a Tóquio. A de que a semifinal é a partida, no fundo, mais difícil e psicologicamente complicada para os times europeus e sul-americanos.

Mas por quê? Simples, porque é o jogo que os times grandes que vão ao Mundial não podem perder. Perder a decisão em jogo único contra um rival de peso, o que vale para sul-americanos e europeus, faz parte. Duro é cair na semifinal ante um time sem grande tradição. Os colorados ainda sentem a dor da derrota para o Mazembe e seus reflexos. O São Paulo sofreu barbaridade ante um time saudita em 2005, o próprio Inter suou sangue na semi de 2006, anes da glória contra o Barça.

Testemunhei esse nervosismo dentro do campo, em 2006, quando assisti a semifinal no gelado gramado do estádio Nacional de Tóquio. O peso dessa derrota, digamos, proibida, fez o jogo ficar muito mais complicado do que deveria ser. O Al Ahly jogou leve, solto, enquanto o Colorado era um time tenso, travado. Na final, contra o Barça, os comandados de Abel Braga jogaram com mais leveza do que na semifinal.

Eis que no meio do caminho santista aparece o Kashiwa de Nelsinho Batista, de Leandro Domingues e Jorge Wagner. Sempre achei que seria mais complicado esse adversário que o Monterrey. Porque vem em ritmo de competição, joga em casa, adaptado ao clima e não tem muito a perder.

O Santos é melhor, tem craques que podem decidir o jogo, mas precisa controlar a ansiedade e essa armadilha de se falar sempre na final, de se almoçar e jantar Barcelona antes de papar a entrada, que é o time japonês. Que não pode ser tratado como aperitivo.

  

terça-feira, dezembro 06, 2011



Coluna publicada terça-feira no Diário de S.Paulo

Segredos foram

Tite e comando





Uma das muitas teorias proferidas sobre o futebol reza que jogadores ganham jogos e treinadores ganham campeonatos. Todas as teses têm certa lógica quando se trata desse jogo, mas, no caso do Corinthians campeão brasileiro de 2011, parece que essa do trabalho do técnico faz todo o sentido.
Daqui a muitos anos, quando os corintianos forem recordar esse título, dificilmente ele será associado a um jogador, especificamente. Não será o Corinthians do Neto, do Marcelinho, do Ronaldo. Mas será, sempre, o Corinthians do Tite.
Quando acontece uma conquista marcada pelo equilíbrio, pelo drama e pela incerteza até os minutos finais, sempre se procura uma explicação, um momento, a fagulha decisiva. O Timão desta temporada não teve craques. Individualmente, os maiores destaques talvez tenham sido Ralf e Paulinho, jogadores muito mais táticos do que técnicos. Não houve um artilheiro fundamental, nem um cérebro pensador.
Mas houve um olhar preciso e eficiente sobre as características do time. Esse olhar veio do banco, veio de Tite. Ele mesmo, tão criticado, chamado de burro, cuja cabeça foi pedida diversas vezes por diretores corintianos, por comentaristas e colunistas. Tite sempre soube que não tinha um esquadrão em mãos. Teve a confirmação disso quando viu a Taça Libertadores voar pela janela, com atuações sofríveis dos medalhões Ronaldo e Roberto Carlos. Sacou, naquele momento, que marketing é para os marqueteiros e, para ganhar alguma coisa, precisaria superar a falta de inspiração com excesso de transpiração.
Quando a coisa ameaçou degringolar, o Tite de voz mansa, apaziguador, discurso de motivador em formato de catequista, mostrou que mandava de fato no time. Tirou quem achou que deveria tirar e jogou a responsabilidade para os atletas antes do clássico contra o São Paulo. Ali, definitivamente, ganhou o grupo, respaldado pelo presidente do clube alvinegro.
Aliás, nos bastidores, o Corinthians teve em Andrés Sanchez e no diretor Edu Gaspar figuras fundamentais, também decisivas. Blindaram o elenco, mas também cobraram duro quando foi preciso, respaldaram o treinador e fizeram a ligação entre grupo e chefe, que costuma ser uma armadilha no futebol.
Houve outro momento fundamental: a derrota para o América Mineiro. Ali se manifestou o mortal pecado da preguiça. O time vestiu um salto alto a cujo luxo não poderia se dar. Tite passou o recado claramente, até via mídia, e quem ouviu garante que muito mais claramente para direção e jogadores.
Além disso, o Corinthians fez uma largada cinematográfica, errou pouco nas tomadas de curva e, na reta de chegada, arrancou para a conquista com desempenho superior ao dos rivais. O título é incontestável e merecidíssimo.
Que Tite saiba aproveitá-lo com a sabedoria dos grandes e não se deixe levar pela soberba que costuma afetar treinadores que deixam a turma dos bons e muito bons para ingressar no seleto clube dos ótimos.

Verdão opaco

A falta de brilho do Palmeiras em 2011 é reflexo da falta de atitude e conhecimento do tema futebol de seus dirigentes. Enquanto não entenderem que futebol se faz com gente do ramo e são eles mesmos, os corneteiros, quem mais atrapalham o clube, esses dirigentes só proporcionarão tristeza e decepção aos palmeirenses.
Fabulosa antítese
Luís Fabiano foi a antítese do elenco do São Paulo em 2011. Mesmo jogando pouco tempo, fez muito mais do que a maioria, evidenciando a diferença técnica e de personalidade que há entre ele e a maioria dos demais. Personalidade é a premissa para a montagem de um elenco melhor em 2012.
Tri é possível

Não acho que uma eventual final de Mundial de Clubes entre Barcelona e Santos seja uma barbada para os catalães. Claro que o Barça é mais time, mas qualquer grande equipe brasileira provoca calafrios nos equivalentes europeus. Que a maldição de Mazembe não nos prive desse jogo espetacular.
Nó tático

Foi-se o Doutor Sócrates. Estive muitas vezes com ele, embora não possa dizer que tenha chegado a ser seu amigo. Mesmo assim, o papo era sempre franco, divertido, o que disfarçava uma grande timidez. Ele chegava para a conversa, colocava a mão no seu ombro e falava e ouvia por horas. Esse, sim, era o maior vício do Magrão, o bate-papo.
Como jogador, foi um craque improvável. Era bater o olho nele e duvidar de que pudesse ser boleiro. Magro, desengonçado, pernas finas. Mas era gênio. O que a maioria precisava de músculos, preparo físico e correria para fazer ele resolvia com um toque, de calcanhar que fosse. Sócrates representava em campo a vingança de todo garoto desengonçado que sonhava em ser jogador de futebol e era expulso de campinhos de várzea e de peneiras.
Ele provava que era possível, sim, jogar futebol, sem ser baixinho, troncudo e perna grossa. Assim como outro craque improvável tinha feito anos antes, baseado em pernas tortas angelicais.
Talvez sem querer, Sócrates deixa a lembrança de um futebol que não existe mais e provavelmente jamais volte a existir. E, também, uma mensagem subliminar contra todos os tipos de excessos que a vida, em especial a de alguém famoso e genial, possa proporcionar.