quarta-feira, dezembro 24, 2014

Brasil despreza esporte como educação


Ao indicar políticos sem qualquer elo consistente com o esporte para cuidar das pastas que teoricamente deveriam responder por essa área, a presidente do Brasil e o governador do estado mais rico e importante da Federação deixam claro que o esporte é assunto de terceira divisão no País.

Há tempos que o brasileiro sabe que a formação de um Ministério ou Secretariado responde a interesses que trafegam pela rede de esgoto da política. Mas até para isso há limites.

O governo federal adora posar de apoiador do esporte nas redes sociais. A cada resultado que gere repercussão na mídia a presidente posta um comentário carregado de orgulho oportunista. O governador dos paulistas adora falar em esporte e cita sempre a mesma conexão: seu amor pelo Santos.

Quando o assunto é esporte, Brasília e São Paulo pensam da mesma forma: que o ufanismo sirva de propaganda. Ideias, propostas, um movimento que possa fazer com que o esporte seja uma alternativa à falta de educação que contamina todos os quadrantes da sociedade? Isso não existe.

O governo federal financia o esporte de alto rendimento. Um de seus bancos sustenta o voleibol há um longo rali, com o perdão do trocadilho. Voleibol envolto em escândalos que ameaçam manchar a boa reputação de quem trabalha, treina e sua dentro da quadra. Outro banco bancava (opa, outro vício de linguagem) o basquete, que perdeu a corrida para o atletismo, que foi ultrapassado pelo futebol. Os Correios investem nos esportes aquáticos. O Comitê Olímpico Brasileiro conta com vastos recursos oriundos do governo. Sem contar as isenções de impostos. O bolsa-atleta tem abastecido outras bolsas, segundo denúncias.

Mas e o plano de trabalho? Ou como dizem alguns professores do futebol, e o projeto?

Como o esporte funciona como educação? Qual a contrapartida para a sociedade? Quem controla o currículo de educação física nas escolas? Quantas escolas nem sequer têm uma quadra decente ou até mesmo um professor para cuidar dessa área?

O esporte sempre seduziu os governos, fossem eles de direita, esquerda, centro, ditaduras de qualquer orientação. Todo mandatário adora posar para fotografia ao lado de um medalhista, de um troféu, da Copa do Mundo.

A orientação politica do governo federal facilita a leitura do que esperar do campo esportivo. A sedução do modelo socialista de esporte, da propaganda que financiava vitórias olímpicas faz brilhar os olhos de ministros e candidatos a ministros que ainda acreditam no modelo comunista, há muito sepultado pela realidade. Nem o apelo educacional desses modelos (um dos pontos que diferenciam uma ditadura de esquerda por uma de direita é o apreço pela educação, ainda que doutrinada, da esquerda, contra o investimento total na ignorância patrocinado pelas ditaduras de direita) foi copiado pelos políticos brasileiros.

O esporte é um contrapeso sem importância para os governos brasileiros. Os ministros falam mais de Copa do Mundo e Olimpíada do que acesso universal, capacitação de professores, iniciação, aperfeiçoamento e treinamento especializado. Isso não dá holofote, convite para programa de TV, nem foto com atleta famoso em rede social.

A crise do esporte brasileiro é grave e séria. Talvez pouca gente resista ao pós-2016.

Mas o que importa é pagar dívidas eleitorais e compor ministérios e secretariados de fancaria.

Ou então propor aposentadoria vitalícia para uma atleta que sofreu um grave acidente quando tentava praticar um esporte de alta periculosidade apenas para cumprir o devaneio de um país tropical na olimpíada de inverno.


sexta-feira, dezembro 12, 2014

12

Praticamente fui criado dentro de uma emissora de TV. No caso a TV Cultura, quando acompanhava meu pai em muitos dias de trabalho dele naquela memorável equipe esportiva.

Lembro-me com carinho de ter visto gravações e apresentações ao vivo do Vila Sésamo, do É Proibido Colar, do Quem Sabe, Sabe. E, claro, É  Hora de Esporte, Esporte Opinião, Esportevisão etc.

Mesmo assim, naqueles tempos e quando decidi estudar Jornalismo eu jamais, jamais, pensei ou imaginei que trabalharia um dia na TV.

Eu tinha a saudade das frequentes viagens do meu pai, dos finais de semana e das festas em que ele não podia estar, embora sempre tenha feito de tudo e mais um pouco por nós e para nós.

Parei para fazer umas contas e realizei que em agosto fez 12 anos que trabalho em TV, à frente das câmeras, diretamente.

Foi em agosto de 2002 que comecei a trabalhar como comentarista no SporTV.  Numa terça-feira, 13 de agosto de 2002, meu amigo Eduardo Moreno teve a paciência de aturar minha falta de experiência e nervosismo num entediante União São João de Araras 0 x 0 Caxias, pela Série B do Brasileiro. Na coordenação, Idival Marcusso e estou quase certo que o repórter era Carlos Cereto. Uma equipe de luxo para um estreante nervoso e tímido.

Muita água rolou debaixo dessa ponte. Muitos jogos. Alguns malucos tiveram a ousadia de me colocar para apresentar programas no SporTV. Apresentei todos da grade do canal, exceto o SporTV News e os programas mais novos da programação.

Vieram Copas, Pan, Mundiais, Euros, Libertadores, Sul-americanas.

Tive muitas mãos amigas. Felizmente muitas mais do que os pés sorrateiros que sempre passam pelos nossos caminhos. Surpresas positivas e decepções profundas vieram.

Doze anos é muito tempo.

Tenho a felicidade de trabalhar com amigos que fiz pela vida, muito antes de entrar na lida televisiva.
Alguns são meus gurus até hoje, como Ledio Carmona, Marcelo Barreto, Mario Jorge Guimarães.

Jornalistas que eu via ou lia com admiração e respeito e jamais poderia imaginar que um dia seriam meus colegas de trabalho.

Narradores que eu assistia como fã, como Jota Júnior, Milton Leite, Luiz Carlos Jr., João Guilherme Carvalho, meu parceiro nas primeiras viagens que fiz pelo canal, assim como outro grande dessa arte e companheiro de muitas viagens pelo País, Sérgio Maurício.  Hoje posso dizer que são meus amigos, acima de tudo.

Os inúmeros colegas que não aparecem na telinha mas que são a alma da telinha, nos ensinam diariamente os truques dessa caixa mágica e sedutora, em especial  Alfredo Descragnolle Taunay.

Parei para refletir em tudo isso, quando mais um ano termina.

O que mais me faz falta são os conselhos, a crítica e a avaliação precisa de meu pai. Durante dez desses 12 anos ele sempre foi meu maior crítico e ao mesmo tempo um dos maiores incentivadores.

Que puta saudade, meu papai Luiz Noriega!. A força vem sermpre de minha família, minha mãe dona Ângela, minha vovó Olinda,minhas irmãs Ferdi Mauricio Noriega e Renata Noriega De Thomaz e minha maior parceira, Isabel Urrutia e meus tesouros Clara Noriega e Rafael. E a alegria dos inúmeros primos e tios espalhados pelo mundo.

12 anos é muito tempo! Provocam reflexões!

Mas quando se faz o que se gosta, muitos outros devem vir.

segunda-feira, dezembro 08, 2014

A nova cara do Brasileirão

Mais um Brasileirão terminou. Sem grande brilho, como tem sido nos últimos anos.

O Cruzeiro sobrou. Não foi ameaçado em nenhum momento pela concorrência.

Disputa de verdade houve apenas por vagas na Libertadores e permanência na Série A.

O nível técnico despenca a cada ano.

Um modelo de performance vai sendo desenhado.

Os campeões brasileiros mais recentes são times que largam na frente, com uma arrancada poderosa, e acumulam pontos suficientes para administrar essa situação no final da temporada.

Cruzeiro e Atlético Mineiro se destacaram na turma. Em termos de futebol bem jogado, foram os melhores do torneio, na minha maneira de ver o jogo.

O Galo deu uma desligada em algumas rodadas em função da Copa do Brasil, e foi um time reinventado em plena disputa. Tenho a convicção de que seria o único adversário capaz de disputar o título com o Cruzeiro no Brasileirão.

Marcelo Oliveira e Levir Culpi mostraram que é possível propor equipes que tentem jogar bom futebol. Também mostraram que é possível a um treinador brasileiro falar mais de futebol e menos de arbitragem. São protagonistas mas não querem o estrelato

O São Paulo foi longe muito graças ao seu treinador. Muricy conhece como poucos o Brasileirão de pontos corridos e trabalha seu time para tirar o máximo da fórmula. Treina a bola parada à exaustão e sabe usar o fator mandante. Se tivesse em mãos um elenco mais equilibrado e que tivesse mais opções do meio para trás, talvez disputasse o título.

Inter, Corinthians e Fluminense não tinham time, nem elenco para pleitear o título. Chegaram à Libertadores, entre os três, os dois melhores.

O Grêmio tentou lutar, mas está muito abaixo desse trio acima citado em termos técnicos.

Esse grupo se destaca daqueles que participaram sem grandes pretensões e vê de longe o grupo cada vez maior de equipes que apenas lutam para permanecer na Série A.

Parece ser uma tendência do Brasileirão. Pouquíssimos clubes lutam pelo título, dois ou três. Mais dois entram na briga pela Libertadores. O restante participa e muitos sofrem.

A conferir nos próximos anos. 

segunda-feira, dezembro 01, 2014

Fischer e Ferretti

Fischer e Ferreti. Essa foi a minha primeira dupla de ataque no futebol de botão. Comecinho dos anos 1970. A sonoridade dos nomes da dupla que meu saudoso pai, Luiz Noriega, tinha narrado em um jogo que não consigo precisar na memória, me fascinava. Lembro que era do Botafogo, porque não esqueço de Fischer e Ferreti.
Via os melhores momentos, os gols e tentava imitar aquilo no meu Estrelão ou mesmo no chão de casa, pintando os contornos do "gramado" com giz.
Aos poucos passei a ler - e muito sobre futebol e esporte. Aprendi a importância das grandes instituições, dos grandes clubes. Do basquete de Franca, do vôlei de Santo André, da natação do Pinheiros e por aí vai.
Claro, aprendi o que era o Botafogo, a Estrela Solitária, Nilton, Biriba, Carlito Rocha, Jair, Zagallo. Tanta gente.
Botafogo, Palmeiras, Vasco, Corinthians, São Paulo, Santos, Grêmio, Inter, Galo, Cruzeiro, Flamengo, Fluminense e todas as grandes instituições do futebol brasileiro.
Sempre que faço uma análise, uma crítica, um elogio eu me recordo das histórias que aprendi, de como o futebol brasileiro se transformou no que é graças à força dessas instituições, dos clubes, suas histórias, seus craques, as pessoas que fizeram esse alicerce hoje cambaleante.
Acordei pensando na dupla Fischer e Ferretti, nos clássicos do futebol de botão, nos golaços da dupla narrados pela voz do meu pai e das belas imagens emolduradas em preto e branco.
Sou um fanático pelos grandes clubes do futebol brasileiro, pelas grandes marcas. Foram eles, não as federações e a CBF, que fizeram essa história gloriosa.
As pessoas e os jogadores passam, mas as instituições ficam. Todas elas. Essas gigantescas que citei acima e as enormes forças de expressão regional que temos aos montes.
Quando um gigante é ferido a Terra de Gigantes sofre como um todo.
Não há sotaque, regionalismo, clubismo.
Há o fascínio despertado em um garoto nascido caipira paulista vivendo na extinta Terra da Garoa que aprendeu a admirar e respeitar os grandes clubes, as grandes marcas do futebol nacional, sem se importar para sotaques.
Vou buscar em alguma gaveta os botões de Fischer e Ferretti. Limpá-los, dar um brilho, lixar. Ver se as fotografias (sim, são daqueles com fotografias) não estão amareladas.
Tenho certeza que ainda batem um bolão.