Ao indicar políticos sem qualquer elo consistente com o esporte para cuidar das pastas que teoricamente deveriam responder por essa área, a presidente do Brasil e o governador do estado mais rico e importante da Federação deixam claro que o esporte é assunto de terceira divisão no País.
Há tempos que o brasileiro sabe que a formação de um Ministério ou Secretariado responde a interesses que trafegam pela rede de esgoto da política. Mas até para isso há limites.
O governo federal adora posar de apoiador do esporte nas redes sociais. A cada resultado que gere repercussão na mídia a presidente posta um comentário carregado de orgulho oportunista. O governador dos paulistas adora falar em esporte e cita sempre a mesma conexão: seu amor pelo Santos.
Quando o assunto é esporte, Brasília e São Paulo pensam da mesma forma: que o ufanismo sirva de propaganda. Ideias, propostas, um movimento que possa fazer com que o esporte seja uma alternativa à falta de educação que contamina todos os quadrantes da sociedade? Isso não existe.
O governo federal financia o esporte de alto rendimento. Um de seus bancos sustenta o voleibol há um longo rali, com o perdão do trocadilho. Voleibol envolto em escândalos que ameaçam manchar a boa reputação de quem trabalha, treina e sua dentro da quadra. Outro banco bancava (opa, outro vício de linguagem) o basquete, que perdeu a corrida para o atletismo, que foi ultrapassado pelo futebol. Os Correios investem nos esportes aquáticos. O Comitê Olímpico Brasileiro conta com vastos recursos oriundos do governo. Sem contar as isenções de impostos. O bolsa-atleta tem abastecido outras bolsas, segundo denúncias.
Mas e o plano de trabalho? Ou como dizem alguns professores do futebol, e o projeto?
Como o esporte funciona como educação? Qual a contrapartida para a sociedade? Quem controla o currículo de educação física nas escolas? Quantas escolas nem sequer têm uma quadra decente ou até mesmo um professor para cuidar dessa área?
O esporte sempre seduziu os governos, fossem eles de direita, esquerda, centro, ditaduras de qualquer orientação. Todo mandatário adora posar para fotografia ao lado de um medalhista, de um troféu, da Copa do Mundo.
A orientação politica do governo federal facilita a leitura do que esperar do campo esportivo. A sedução do modelo socialista de esporte, da propaganda que financiava vitórias olímpicas faz brilhar os olhos de ministros e candidatos a ministros que ainda acreditam no modelo comunista, há muito sepultado pela realidade. Nem o apelo educacional desses modelos (um dos pontos que diferenciam uma ditadura de esquerda por uma de direita é o apreço pela educação, ainda que doutrinada, da esquerda, contra o investimento total na ignorância patrocinado pelas ditaduras de direita) foi copiado pelos políticos brasileiros.
O esporte é um contrapeso sem importância para os governos brasileiros. Os ministros falam mais de Copa do Mundo e Olimpíada do que acesso universal, capacitação de professores, iniciação, aperfeiçoamento e treinamento especializado. Isso não dá holofote, convite para programa de TV, nem foto com atleta famoso em rede social.
A crise do esporte brasileiro é grave e séria. Talvez pouca gente resista ao pós-2016.
Mas o que importa é pagar dívidas eleitorais e compor ministérios e secretariados de fancaria.
Ou então propor aposentadoria vitalícia para uma atleta que sofreu um grave acidente quando tentava praticar um esporte de alta periculosidade apenas para cumprir o devaneio de um país tropical na olimpíada de inverno.