domingo, agosto 31, 2014

Gigantes desnorteados


Acompanho futebol desde os anos 1970. Não tenho receio algum em afirmar que ontem, 30 de agosto de 2014, Vasco e Palmeiras foram a campo com os piores times de suas gloriosas e centenárias histórias.

Como se isso não bastasse, os milhões e milhões de vascaínos e palmeirenses espalhados pelo Brasil precisam colocar as bandeiras de molho, porque o risco de ficar pior é tão grande quanto as instituições.

Vi os melhores momentos de Palmeiras x Inter e Vasco x Avaí. Alguns instantes são dignos de sentir pena dos torcedores alviverdes e cruzmaltinos. Porque eles não desistem. Havia 31 mil pessoas no Pacaembu e perto de dez mil em São Januário.

Uma coisa é cristalina: Inter e Avaí têm times muito superiores a Palmeiras e Vasco. Mesmo estando longe de ir a campo com equipes que se aproximem das melhores de suas histórias. No caso do Inter, desfalcado de seu melhor jogador, D´Alessandro, e com uma dupla de zaga e outra de volantes, no mínimo, reticente. O Avaí recentemente foi eliminado pelo Palmeiras da Copa do Brasil sem oferecer resistência.

O fato que estarrece é que Inter e Avaí nem precisaram fazer força para vencer. Bastou que esperassem o rosário de erros dos adversários. Se foi 5 a 0 na Colina Histórica poderia ter sido 5 a 2 no Pacaembu. Porque o nível de erros dos jogadores do Vasco e do Palmeiras beira o amadorismo.

Há fatores históricos que ajudam a entender porque Vasco e Palmeiras chegaram ao patamar de vexames atual.

Os dirigentes do Palmeiras escolheram esse caminho em 2002, quando o time caiu pela primeira vez. Em vez de voltarem fortes, imponentes como canta o hino, optaram por retornar à meia força, com a tal política do bom e barato, jogadores e treinadores de segundo escalão. Como o time nunca teve base e jamais soube revelar jogadores, ficou escravo dessa fórmula e da contaminada política das alamedas do Palestra Itália. Tem uma sombra de um dirigente que, mesmo de longe, ainda manda no clube: Mustafá Contursi.

O Vasco fez algo parecido. Quando caiu, ensaiou uma volta forte com a conquista da Copa do Brasil, mas ficou no ensaio. Tem uma política tão contaminada quanto à do co-irmão paulista e o espectro de um dirigente que manda nos bastidores: Eurico Miranda. Tinha uma boa base, mas a tragédia econômica dilapidou esse patrimônio. Quando se esperava que Roberto Dinamite, do patamar de maior craque da história do clube, saneasse o Vasco, o que se viu foi que a contaminação é resistente aos mais fortes antibióticos.

Houve títulos esporádicos no meio do caminho para palmeirense se vascaínos. Acidentes de percurso, é preciso dizer. Pontos fora da curva decadente. O Palmeiras ainda teve um lampejo de humildade ao reconhecer sua incompetência e procurar a Parmalat, que despejou jogadores e títulos nos anos 1990, e em 2008 montou um bom time com a ajuda da Traffic. Terceirizou e se deu bem. Ganhou uma Copa do Brasil Deus sabe como em 2012. O Vasco tinha um bom patrocinador que perdeu pela insanidade de alguns torcedores, enterrando uma possibilidade de reconstrução.

Claro que há tempo para que o Palmeiras evite o terceiro rebaixamento em pouco mais de dez anos e o Vasco escape da vergonha de permanecer na Série B.

Mas a pergunta que fica é a seguinte: isso vai mudar alguma coisa?

Acho pouco provável. Palmeiras e Vasco tratam doenças sérias com placebo. Não combatem a causa, apenas atenuam os sintomas.

Quem deve abrir o olho para não ser puxado para essa centrífuga é o Grêmio.

Entre os grandes do Brasil o Tricolor gaúcho é o que está há mais tempo sem ganhar algo de importante. Desde 2001, na Copa do Brasil, com Tite, que o gigante gaúcho não comemora um título de expressão.

Tem experiência em rebaixamentos, uma política complicada e ainda lida com a ala radical de sua torcida, que está, inclusive, representada no Conselho Deliberativo do clube, e pode provocar a exclusão da Copa do Brasil.

A chance de ganhar algo em 2014 é mínima. Tem elenco e treinadores caros e, como Vasco e Palmeiras, ainda recorre a figuras que nunca deixaram de mandar, mesmo fora do poder oficial, como Fábio Koff.

São tristes retratos do amadorismo que contaminou nosso futebol.


terça-feira, agosto 26, 2014

Parabéns, Palmeiras, a Eterna Academia!


Não há fase que suplante uma história.

Por pior que seja o time atual, o Palmeiras que hoje é centenário será sempre a Eterna Academia.

Não há gol perdido bisonhamente que supere os feitos de um Heitor, um Tupãzinho, um César, um Leivinha, um Evair.

Não há passe errado que apague a carreira divina de um Ademir, a elegância de Alex, a magia de um Julinho.

Não há frango que apague os milagres de um Marcos, um Leão, um Valdir, um Oberdan.

Não há bico torto de zagueiro que ofusque uma saída de bola de um Waldemar Fiúme, um Djalma Dias, um Luís Pereira.

Não há troca de técnico que risque os títulos de Cambom, Brandão, Filpo, Minelli, Travaglini, Luxemburgo, Felipão.

Não há rebaixamento que desmereça a coleção de glórias e conquistas acumuladas em um século de vida.

Por mais maltratado que esteja sendo pelos dirigentes herdeiros de sua fantástica história, o Palestra da palavra grega escolhida por italianos que virou o brasileiríssimo Palmeiras está eternizado no coração não apenas dos palestrinos e palmeirenses, mas de todos aqueles, inclusive dos rivais, que amam o futebol.

Porque o Palmeiras é sinônimo de futebol bem jogado, de craques, de estilo, de talento e eficiência. Futebol como arte.

Foi assim que este nome se espalhou pelo mundo acadêmico da bola.

É por isso que se entende a revolta do palestrino palmeirense ao ver times que não honram essa história e perpetuem esse legado.

O torcedor do Verdão é mal acostumado, um eterno insatisfeito. Ele não aceita apenas vitórias, ele quer cátedras. Foi assim que aprendeu a gostar de futebol, pela excelência, pelo alto nível.

Em cem anos de vida o Palmeiras se transformou por completo. Nasceu como opção para a enorme colônia italiana em São Paulo. Não custa lembrar que houve um período da história em que a população paulistana era formada por mais italianos do que brasileiros.

A paixão foi sendo cultivada pelos descendentes, pelos oriundi, espalhou-se pelo interior do estado paulista, semeada por sobrenomes peninsulares em cada canto. Germinou forte e rompeu a barreira do sangue, abraçando brasileiros de todas as raças, descendências e regiões.

A história do clube é bela como a de todas essas grandes instituições que transformaram o futebol brasileiro no que ele é hoje. No caso do Palestra que virou Palmeiras, há a questão da Arrancada Heróica, um libelo contra o preconceito, uma resposta belíssima dos italianos brasileiros ao que acontecia na Segunda Guerra e no próprio Brasil naqueles tempos bicudos.

Quem gosta de esporte e de futebol aprende desde cedo a admirar as grandes instituições e suas histórias.

O Palmeiras respira futebol, mas não é apenas isso.

É também parte da preservação da cultura do imigrante italiano. O Palmeiras dos Periquitos em Revista. O Palmeiras onde Oscar, Ubiratan, Carioquinha e tantos outros jogaram basquete. O Palmeiras palco de competições dos Jogos Pan-americanos de 1963. O Palmeiras em cujo velho ginásio floresceu o culto à música negra e aos bailões funk. O Palmeiras em cujo antigo gramado legiões de metaleiros viram shows lendários de heavy metal.

O futebol que hoje procura um rumo para milhões e milhões de apaixonados sempre foi marcado pelo pioneirismo. Foi no Palmeiras que Brandão inventou a função de preparador de goleiros para Valdir de Morais. Foi no Palmeiras que nos anos 70 chegou a primeira máquina de musculação para reforçar atletas. Foi no Palmeiras que a Parmalat testou com sucesso um modelo de co-gestão.

Aos milhões de palmeirenses de todas as gerações fica essa singela homenagem a um dos maiores clubes de futebol do mundo, um dos pilares da construção do futebol cinco vezes campeão do mundo.

Parabéns ao clube que nasceu italiano mas sabe ser brasileiro.

Cem vezes parabéns!

terça-feira, agosto 19, 2014

Neymar tomou gosto pelo gol agora ou sempre teve, Dunga?

Dunga disse em coletiva, ao convocar a seleção pela primeira vez em sua segunda passagem como técnico, que Neymar tomou gosto pelo gol.

É preciso cuidado com certo tipo de colocação, porque muitas informações podem desmentir certo tipo de análise.

Dunga não levou Neymar à Copa de 2010 e agora sabe que depende dele.

Mas vamos ao que foi dito.

Ao afirmar que Neymar tomou gosto pelo gol, entende-se que, na avaliação de Dunga, ele não tinha gosto antes. Resumindo: não fazia muitos gols ou não tinha gosto por fazer.

Fui à página oficial de Neymar buscar números.

Em 2010 ele fez 44 gols.

Em 2011 foram 40.

2012? 56.

2013 a marca foi de 37.

Neste ano de 2014 o craque fez apenas 14 gols.

Ou seja: Neymar já surgiu com gosto pelo gol, ele sempre fez muitos gols. Inclusive mais gols no início da carreira do que no momento atual.

Questão de gosto.

segunda-feira, agosto 18, 2014

Palestras extremos

O Brasileirão 2014 expõe duas realidades dramaticamente opostas no grupo dos times históricos.

Dois irmãos de origem, que nasceram das colônias italianas para capturar paixões pelo País e se transformar na preferência de milhões de torcedores.

Construíram belas histórias cultivando uma tradição comum: o gosto pelo bom futebol e a formação de grandes times.

As semelhanças entres os Palestras, que há alguns anos eram muitas, atualmente ficam por aí. 

O que virou Palmeiras e foi seguramente o grande time do País entre o final dos anos 60 e início dos anos 70 do século passado entrou numa espiral de decadência que soa irreversível. O que adotou o Cruzeiro e deixou um pouco de lado as raízes italianas ensaia um domínio que pode sinalizar a ocupação do espaço em termos de repercussão nacional que já foi do antigo xará. Sempre fiel ao seu estilo de futebol bem jogado.

Os números atuais gritam.

O Palestra mineiro desfila superioridade. Vem da conquista com facilidade do Nacional de 2013 e já soma 33 pontos em 2014, com 32 gols marcados, 13 sofridos, dez vitórias em 15 jogos, sendo três triunfos e dois empates nas cinco partidas mais recentes.

O Palestra paulista veio da Série B e soma esquálidos 14 pontos em 15 jogos, tomou 21 gols e fez apenas 12, tendo vencido somente 4 jogos em 15. Nas últimas cinco partidas perdeu quatro e empatou uma.

A questão macro parece ainda mais promissora para os mineiros e desesperadora para os paulistas.

O Cruzeiro é um clube politicamente moderno, apaziguado, com um programa de sócio-torcedor que cresce diariamente, um patrimônio modernizado, centros de treinamento de excelência e um trabalho de base que abastece frequentemente e com qualidade o time principal. Fora isso, estabeleceu-se como clube poliesportivo, com um grande time de vôlei e equipes de corrida de rua e de pista competitivas.

O Palmeiras vive uma confusão política perene, com uma orquestra de corneteiros, divisões políticas históricas. Nunca soube trabalhar a base, acumula dívidas, comlra mal e vende pior, fez uma parceria para reformar seu velho e ultrapassado estádio mas vive  às turras com o parceiro. Até suas jovens lideranças manifestam pensamentos mofados e ultrapassados pelo passar do tempo. A tradição poliesportiva tenta ser retomada por um time de basquete que apenas luta na parte do meio das tabelas.

O Palestra paulsta recita de cor e salteado aquele velho mantra popular do Pai Rico, Filho Nobre e Neto Pobre.

O Palestra mineiro não vive dos devaneios do passado como o irmão de sangue italiano, que vive lutando por reconhecimento de títulos que a história já havia reconhecido, apenas por questão de nomenclatura.

O Cruzeiro, sete anos mais jovem, vislumbra o futuro no horizonte.

O Palmeiras centenário olha para o passado e nele fica, nostálgico, letárgico.

Pouca coisa sugere que este cenário seja alterado em curto prazo. Parece mais provável que num prazo de dez anos o Cruzeiro esteja ocupando o lugar que hoje é do Palmeiras no G-4 dos times mais populares do Brasil.

A conferir.








quinta-feira, agosto 14, 2014

Nosso futebol premia a derrota

O mérito é algo que deve ser sempre premiado quando se fala em esporte de alto rendimento.

É preciso buscar o resultado pensando em algo que possa realmente ser considerado um prêmio. Quando uma derrota na Copa do Brasil, uma competição nacional, "classifica" uma equipe para uma competição internacional, portanto hierarquicamente superior, o mérito vai para a lata do lixo.

Essa é uma das muitas correções mais importantes a serem feitas no calendário do futebol brasileiro, muito mais importante do que o mantra patoteiro de adequação de calendário às grandes ligas da Europa.

Repito o meu mantra sobre o tema, sem querer agredir gratuitamente. O patoteiro é uma provocação brincalhona.

O futebol brasileiro tem que se adequar à vida brasileira, ao calendário nacional, às particularidades do País.
A solução do calendário deve passar por um estudo nesse sentido, penso eu.

Como sempre digo, será que vai melhorar a segurança do trânsito no Brasil se adotarmos a mão inglesa?

Os clubes deixarão de vender jogador se o calendário nacional for macaca de auditório dos grandes campeonatos europeus?

Agora, faz todo sentido racionalizar, desinchar estaduais (não sou favorável à extinção dos mesmos, mas a uma adequação, aí, sim, à realidade de cada região), criar uma janela para torneios internacionais realizados aqui ou excursões.

Enfim, há muito o que ser discutido e não existe solução definitiva. A verdade não tem dono.
Mas enquanto a derrota for premiada fica difícil pensar em algo melhor no futuro.

sexta-feira, agosto 08, 2014

Brandão Eterno

Não sou escritor. Sou um jornalista que se aventurou a escrever livros. Foram quatro até agora. O mais recente deles, uma ousadia: um perfil biográfico de Oswaldo Brandão.
Não chamo de biografia porque não tenho formação para escrever uma biografia, não estudei História, não domino as técnicas dos historiadores.
Sou jornalista, gosto de escrever e tento aprender desde que comecei nisso, há bastante tempo para ter aprendido melhor.
O sonho de todo jornalista é contar bem histórias.
Confesso que por ser um autor pouco conhecido, não ser um escritor celebridade e nem mesmo uma celebridade, meu temor era de que o livro não sobrevivesse ao lançamento.
Porque lançamento de livro é um "me engana que eu gosto".
Graças a Deus, tenho muitos amigos, e amigos é para essas coisas tipo lançamento de livro de amigo.
Uma boa oportunidade de rever a turma, dar boas risadas, recordar histórias. O livro serve como desculpa. Não me iludo quanto a isso.
Fico feliz em saber que Oswaldo Brandão-Libertador Corintiano, Herói Palmeirense sobreviveu ao lançamento.
Fui informado pela editora que o livro, lançado em abril, vendeu mais do que o dobro do que foi vendido no lançamento desde então. Quase o triplo. O que não considero pouco, porque o lançamento estava bem cheio.
Para um sobrevivente dessa profissão seriamente ameaçada de extinção que é o Jornalismo, fico sinceramente lisonjeado.
Espero que o livro continue vivo para que eu possa, numa segunda edição, reparar alguns erros que foram impressos por terem passado por minha revisão e por algumas fontes equivocadas que consultei. Também espero que esses vacilos desse autor não tenham maculado a história desse personagem fantástico que foi Oswaldo Brandão.

segunda-feira, agosto 04, 2014

A torcida dos sem-time

Se houvesse vontade dos dirigentes do futebol brasileiro em debater o futuro do esporte, eles olhariam com atenção para a pesquisa recém-divulgada pelo Data Folha sobre as torcidas dos clubes do País.

Mais do que a discussão rasa sobre quem tem mais torcedores, time A ou B, há um dado que é alarmante: 23% dos entrevistados não torcem para time algum.

Esse contingente é maior do que as torcidas dos dois clubes mais populares do País: Flamengo e Corinthians, que têm números de 18% e 14%, com margem de erro de 2% para mais ou para menos.

Esse contingente é muito maior do que o percentual de clubes como São Paulo, Palmeiras, Vasco, Grêmio, que convivem num empate técnico com índices que vão de 8% a 4%.

Termos como País do Futebol, Esporte das Multidões parecem cada vez mais fora de propósito.

Não que se deva desprezar números de clubes que amealham mais seguidores que a população de muitos países.

O que deveria ser estudado é porque o futebol não fala para 23% dos brasileiros.

E o que fazem os clubes para seduzir esses 23% e convencê-los de que vale a pena torcer por alguém?

Como o nível técnico atual, a violência nos estádios e a audiência em queda, se houvesse gente séria e interessada no futuro da modalidade, a pesquisa teria acendido o sinal vermelho.

Mas....