Patrulha da covardia
Reproduzo a coluna publicada esta semana no Diário de S.Paulo.
Odeio patrulha. Ideológica, profissional e, claro, essa de uma turminha que se diz de torcedores e se presta a fiscalizar a vida de jogadores de futebol em seu tempo livre. Minha filosofia é a seguinte: cada um cuida da sua vida, do seu quadrado.
Desde sempre o atleta profissional é cobrado em sua conduta fora de campo de uma maneira quase obsessiva. Na maioria das vezes, de forma até covarde. Porque quando o resultado aparece, ninguém pergunta onde ele esteve na noite anterior ao jogo. Em fase ruim, sobram críticas, patrulhas e, pior, muita coisa inventada.
Jogadores e noite sempre formaram uma dupla afiada. Não apenas jogadores. Advogados, engenheiros, professores, estudantes, funcionários públicos e jornalistas. Muita gente gosta da noite e não há pecado nisso.
Certa vez, nos idos dos anos 90, fui a uma pizzaria num domingo à noite. Um jogador de futebol muito conhecido, de Copa do Mundo, que jogava por um time grande de São Paulo, me viu entrando e, quando passei ao seu lado, pude ouvi-lo dizer para sua acompanhante, claramente, para eu escutar: "Vamos embora que tem urubu aqui querendo fiscalizar a minha vida". Comi minha pizza e, na manhã seguinte, estava no treino do time dele. Esperei o trabalho acabar, chamei o sujeito para uma entrevista e disse: "Cara, é o seguinte: sua vida só me interessa como jogador de futebol, não dou a mínima para o que você faz fora do campo, para mim é assunto sem a menor importância. E não sou urubu, sou jornalista". Atônito, ele não respondeu e passou a me cumprimentar efusivamente desde então.
Infelizmente, há uma dose exagerada de fanatismo cercando o futebol e o esporte hoje em dia. Torcedores falam em honra, em compromisso, em profissionalismo ?atributos que muitas vezes eles não têm. E perseguem atletas, montam redes de informantes.
Não defendo nem ataco noitadas. Acho que os jogadores se expõem demais. Deveriam se preservar, figuras conhecidas que são. Até por questão de segurança, já que vivemos num faroeste cada vez mais violento. Só não entendo a postura de certos "torcedores". Alguns vivem grudados nos jogadores, como parasitas. Outros os perseguem.
Sei de histórias de atletas que passaram a noite fora da concentração e acabaram com o jogo. Assim como de profissionais exemplares que não jogaram nada. Errado é formar guerrilhas para pressionar e julgar comportamento.
Já pensou se os jogadores resolvessem perseguir torcedores que faltam ao trabalho para ver um joguinho? Que diriam os chefes dos fanáticos perseguidores? Que, aliás, também estavam na noite, não estavam? Façam-me um favor: vão cuidar das suas vidas.
Acorda basquete!
Sou do tempo em que jogo de basquete da seleção brasileira era assunto na escola, no clube e na rua. Hoje o basquete está relegado a segundo plano na mídia, muito por culpa de seus próprios erros administrativos. Neste mês, o time do técnico Ruben Magnano disputa o Pré-Olímpico masculino, mas pouco se fala nisso. Espero que esse quadro mude.
Contra-ataque tricolor
Futebol não tem verdade absoluta, aceita todas as teses. Vai aqui a minha sobre o São Paulo: se optar pelo contra-ataque, jogando dentro ou fora de casa, tem muitas chances de ser campeão. É o DNA dos jogadores, a velocidade, a jogada rápida. Resta saber se atletas, treinadores e dirigentes aceitarão jogar assim no Morumbi. Deveriam.
Superpaulistão?
Parece que os quatro paulistas da Série A do Brasileiro estarão de novo no torneio em 2012. Pelo jeitão da Série B, a primeira divisão nacional pode ser um Superpaulistão em 2012. Portuguesa e Ponte Preta são candidatíssimos e o Americana corre por fora, no momento. O que sinaliza sete times paulistas, pelo menos, na Série A em 2012. Ou 35% de participação.
NÓ TÁTICO
A ganância e a cobiça de agentes, por um lado, ajudam os jogadores a garantir um futuro tranquilo. Mas, por outro, joga contra a imagem do próprio patrimônio.
O caso do talentoso Paulo Henrique Ganso é emblemático. Enquanto o grupo dono da maior parte dos direitos econômicos do atleta e o Santos se estapeiam, é Ganso quem sai machucado. Criou-se uma imagem de antipatia do garoto em uma boa parcela de torcedores. Isso porque toda semana fala-se numa provável saída dele da Vila, seja para a Europa, para uma ponte no Corinthians, para onde for.
Neymar talvez seja até mais assediado pelo mercado, mas sua imagem não ficou arranhada como a de Ganso. Sou desconfiado até o último fio dos cabelos que teimam em rarear. Acho que tem muita proposta inventada, forjada, forçada, na tentativa de valorizar jogadores, conseguir aumentos e vantagens na hora de fatiar os direitos econômicos dos atletas.
Deveriam pensar mais na imagem que fica do que no lucro rápido.