segunda-feira, junho 29, 2015

O futebol brasileiro rumo ao abismo

Enquanto for tocado na base de projetos pessoais e colocar o negócio acima do esporte o futebol brasileiro seguirá rumo ao abismo. 

Não existe sequência de trabalho e lógica. A seleção é entregue aos treinadores, que têm superpoderes e não existe ninguém acima deles para contestar com conhecimento técnico e experiência. 

Quando o barco aderna, é cada um por si. Patéticas entrevistas exclusivas para simpatizantes, apagões, viroses, chupou laranja com quem etc.

A maioria dos jogadores e ex-jogadores de futebol brasileiros acha que é Phd em futebol apenas por ter jogado futebol. Falta preparo, estudo para seguir outra carreira no jogo. Raros são os que se preparam.

Há um conflito de gerações, falta unidade. Os jogadores de épocas mais recentes consideram os dos anos 80 e 90 superados. Não assumem publicamente, mas escancaram nos bastidores.

A geração de 58 e 62 está partindo e sua experiência está sendo perdida. A geração de 70 é vista pela turma de 90 para frente como representante de um futebol antigo e desatualizado. Com isso deixam de aprender com os melhores.

As vitórias recentes produziram uma geração raivosa, vingativa e outra marcada por certa soberba.
A seleção perdeu a conexão com as ruas, com o País. Seria lógico que perdesse a conexão com o estilo de jogo que a consagrou.

Que moral tem a direção da CBF para propor um amplo debate com todas as gerações campeãs mundiais e com gerações que perderam mas encantaram, além de treinadores atuais e jornalistas experientes que viveram os tempos de glória e testemunham  a crise atual?

No Brasil a vitória legitima trabalhos medíocres e a derrota condena projetos maravilhosos.
A mídia quando toma partido e deixa de lado a isenção, por amizades ou preferências pessoais, contribui para a ruína.

A estatística oportunista é usada para tentar demonstrar erudição e não para transformar informação em conhecimento.

O campeão mundial de amistosos cujos contratantes convocam segue caindo pelas tabelas nas competições oficiais. 

Quando começar a Copa de 2018, o Brasil estará completando 16 anos sem conquistá-la. Sem encantar. De 1970 a 1994 pelo menos houve 1982. 
De 2002, se chegarmos a 2018, o que houve?

terça-feira, junho 09, 2015

O problema não é trocar de técnico. É o embasamento da troca


Existe uma nuvem de indignação no que se refere à troca de treinadores de futebol no Brasil.

Não resta dúvida de que as trocas são exageradas.

Mas cabe ressaltar que mudar não é proibido e muitas vezes se faz necessário.

O problema está no embasamento por trás da troca, nos motivos e nas circunstâncias.

Talvez não seja saudável e na maioria das vezes pode até ser errado.

Mas não há regra que diga que a troca seja sempre absurda, equivocada ou intempestiva.

Não me refiro especificamente a caso algum.

A opinião é macro, não micro.

O que deveria ser avaliado não é a troca, na velha dicotomia do certo ou errado, que muitas vezes vai para o lugar comum de que nunca se deve trocar de treinador, de comando. Em alguns casos, a mudança é salutar e absolutamente necessária.

O que pega é quem troca e porque troca.

Quem decide trocar tem capacidade para avaliar se o resultado é bom, independentemente dos resultado?

Ou quem decide se deixa levar por opiniões de conselheiros, torcedores, corneteiros, comentaristas?

Quem banca a troca tem conhecimento para argumentar com o treinador demitido e enumerar os motivos da demissão?

Aposto que na maioria das vezes, não.

A demissão se decide pela urgência dos resultados e pela pressão política interna do clube, de torcedores e da mídia.

Deveria existir uma figura nos clubes de futebol que pairasse acima do treinador e abaixo da Diretoria estatutária que respondesse por essa decisão.

Resposta embasada de um profissional com conhecimento técnico de futebol e de gestão de um clube. Capaz de cobrar do treinador a falta de qualidade de um trabalho ou defendê-lo junto à Diretoria se identificasse qualidade apesar de eventual falta de resultados.

Desde que haja uma avaliação séria, isenta e consistente, nada existe de mal em se trocar um treinador.

Assim como não há pecado no fato de um treinador que está tocando um belo trabalho num time médio, por exemplo, aceitar convite para assumir um time grande. Decisão esta que é muito menos contestada por treinadores, dirigentes, jogadores, torcedores e mídia no Brasil.


quarta-feira, junho 03, 2015

Causos do Nori - A bomba do Cipri


Tive a ideia de escrever alguns pequenos contos. Que por definição contam histórias do cotidiano, curiosas, engraçadas.

O primeiro será uma lembrança dos tempos de Escola Nossa Senhora da Consolação, em São Paulo.


A bola era objeto de culto para a molecada na Escola Nossa Senhora da Consolação. Antes - e se bobear durante - e depois das aulas, tudo era motivo para um bate-bola improvisado. Na ausência de bola, garrafinha de Yakult e tampa de lancheira iam para a pequena quadra com gols de cano de ferro.

Naquele dia havia uma novidade agitando a escola. Cipriano tinha chegado de Belém do Pará para se tratar com um médico famoso, Haruo Nishimura, que cuidava do então presidente João Figueiredo, e tinha consultório pertinho da escola.

Cipri, como foi rapidamente apelidado pela molecada, era a cara do Nélson Piquet. Ele tinha uma perna menor do que a outra e vinha ao ortopedista para buscar alternativas.

Na hora do recreio a pelada era a lei. Formavam-se três, quatro times. Na hora de escolher, Cipri se apresentou para jogar. Todo mundo se achava malandro e na maldosa ingenuidade da pré-adolescência a sentença era cruel: ninguém queria um manco no time.

Cipri bateu o pé (sem trocadilhos) e foi escolhido.

Quando entrou em quadra precisou de alguns minutos para virar ídolo. O danado era rápido, driblador e soltou uma bomba justamente com a perna mais curta que varou o goleiro adversário e foi explodir na parede atrás do gol.

Delírio na quadra. Juntava gente para ver o Cipri que, mancando, jogava mais do que a maioria dos que se julgavam craques.

Cipri ficou pouco tempo na escola, mas sua passagem pela nossa quadra foi marcante.

Fica a lição.

Quando for escolher seu time na pelada, não tenha preconceito com os mancos.