Fui um modesto, esforçado jogador de voleibol.
Tive a sorte de jogar em bons clubes, bons times e com grandes jogadores. Muitos se transformaram em amigos para toda a vida.
Pude contar com excelentes treinadores que me ensinaram os fundamentos do esporte e, mais do que isso, tornaram-se bons amigos.
Eram os anos 80 do século passado. O vôlei explodia no Brasil. Eu conhecia alguma coisa do esporte, acompanhando meu saudoso pai, Luiz Noriega, nas transmissões. Via jogar Antonio Carlos Moreno, Badá, Suíço, William, Bernard, os craques que foram os precursores - e muitos viriam integrar - a geração que faria o País se apaixonar por esse esporte, a chamada Geração de Prata, que vale ouro.
Em 1980 meu pai transmitiu os Jogos Olímpicos de Moscou. O Brasil no vôlei masculino quase foi ás semifinais. Em 1981 seria medalha de bronze na Copa do Mundo, o primeiro pódio de grande vulto na história, e tudo começaria a mudar.
Em meus devaneios de jovem atleta fui fisgado em uma madrugada enquanto via um jogo de voleibol das Olimpíadas de Los Angeles-84. O time dos Estados Unidos jogava o fino, mas um cara se destacava: Karch Kiraly. O sujeito parecia um livro ou um vídeo que ensinava como se joga voleibol. Fundamentos perfeitos, completos, técnica absurda, inteligência.
Eu era um grande fã do Renan, cracaço brasileiro, mas ver o Kiraly jogar era uma experiência diferente.
O tempo passou, o time dos EUA foi multicampeão, sempre com Kiraly.
Em 1991 houve um campeonato mudial de clubes, em São Paulo. Fui à cobertura com meu grande amigo Nicolau Radamés Cretti, pelo Diário Popular.Nicolau abria todas as portas do voleibol com seu talento e credibilidade. Fora isso, era generoso. Sabia que eu tinha jogado vôlei, gostava e era fã do Kiraly. Conseguiu um tempo para uma entrevista e me "escalou".
Foi um papo rápido, mas o cara mostrou educação e extremo conhecimento. Jogava pelo Ravenna, da Itália, que seria o campeão,. De forma objetiva, franca e direta, ainda na primeira fase do torneio, disse que seu time era muito superior a todos os outros, inclusive ao Banespa, representante do Brasil, e que deveria vencer com tranquilidade. Não exalava arrogância ou prepotência. Era prático e conhecedor.
Minha missão como jornalista era evitar o deslumbramento de estar diante do cara que deve ser o Pelé do vôlei e era um ídolo dos meus tempos em que sonhava com um futuro de atleta que jamais chegaria. Ali eu era um profissional extraindo informação com o objetivo de transformá-la em conhecimento para o leitor. Não era um tiete entusiasmado. Não pedi autógrafo, não fiz selfie (nem existia). Cumpri meu dever.
Kiraly ainda seria campeão olímpico no vôlei de areia e hoje é o treinador do melhor time feminino do momento, os EUA.
Deve travar um duelo contra outro ícone e ídolo, José Roberto Guimarães, provavelmente o principal treinador da história dos esportes coletivos no Brasil.
Quem gosta de voleibol agradece.