20 É DEMAIS!
Eis que a Federação Paulista de Futebol anuncia que reduzirá o número de datas do Campeonato Estadual de 2014. A medida foi tomada em virtude do aperto no calendário que será provocado pela realização da Copa do Mundo.
A tal redução será inócua pois, na prática, reduzirá o torneio em uma ou duas datas, se muito. O maior problema segue sendo o absurdo número de participantes. Vinte clubes para um torneio estadual é uma teimosia que só se explica porque são pelo menos 20 votos assegurados. Mais: sob a ótica das equipes que disputam as divisões de acesso e sonham com uma das quatro vagas na Série A-1 a cada ano, esse número se multiplica em termos eleitorais.
O argumento da pujança econômica de São Paulo e de seus 136 clubes, utilizado pela Federação, não dura um minuto de discussão. Nem os clubes mais tradicionais do interior têm conseguido se sustentar. Temos aí o Guarani em situação lamentável, o Paulista de Jundiaí com sérios problemas. São clubes de duas das cidades mais ricas do estado.
O que existe hoje é um núcleo de times que são bancados ou por empresários, ou por prefeituras, com claros objetivos financeiros de um lado e políticos de outro.
Mas a questão técnica nunca é vista em primeiro plano.
O problema do Paulistão não vem de hoje. Ele começou quando atingiu o auge a disputa política entre Ricardo Teixeira, então presidente da CBF, e Eduardo Farah, presidente da Federação Paulista. Na disputa pelo poder no futebol brasileiro, criou-se uma típica lenda urbana, por parte de Farah, tentando vender a ideia de que o Paulistão era o torneio mais forte do País, mais até que o Brasileirão. bobagem das grossas. Estadual algum paga placê para o Brasileirão. O Paulistão foi ficando anabolizado, disforme, fora da realidade.
O torneio paulista sempre foi interessante porque realmente o interior do estado era - e é - forte economicamente e havia equipes de tradição, identificadas com suas cidades, que revelavam jogadores importantes e faziam rodar a engrenagem do futebol, abastecendo os quatro poderosos da Capital e de Santos.
Mas o mundo mudou rapidamente. O futebol encareceu, os custos subiram, jogadores são estrelas milionárias, treinadores também. Bancar um time de futebol requer orçamentos que são impossíveis de assumir para a maioria dos clubes pequenos e médios. Há casos viáveis como o da Ponte Preta, por exemplo, que se sustenta na Séria A Nacional e na A-1 Paulista, o que torna sua existência economicamente plausível.
Mas como tocar um time que joga o Paulista e fica parado no resto da temporada, ou vai jogar a Série D? A resposta mais rápida é alugar a camisa para um grupo de empresários, que cedem os jogadores esperando que uma boa campanha no estadual, com cobertura pela TV, traga interessados em contratar seus produtos para o Brasileirão em suas quatro divisões.
Tecnicamente é impossível fazer um bom campeonato estadual com vinte times, porque não há vinte bons times entre os tais 136 federados em São Paulo. Se houver 14 já é lucro. Tiremos os quatro grandes dessa disputa. Talvez haja dez, doze equipes que podem sobreviver, com projetos bem definidos, estrutura, categoria de base, planejamento e viabilidade financeira para jogar uma divisão especial.
Qual seria a saída?
Não tenho a chave para todos os problemas, até porque meu interesse não é político, não é ganhar voto de clube. Meu interesse é avaliar jogos e ter um espetáculo interessante para oferecer ao telespectador que assiste as transmissões de que participo.
E posso afirmar sem erro: a maioria das transmissões do estadual paulista tem pouco ou nenhum atrativo. Times fracos, estádios precários, iluminações e gramados péssimos. A média de público traduz o desinteresse.
Para melhorar será preciso qualificar.
A Federação tem muito dinheiro, e os grandes jogam os estaduais porque recebem ótimas cotas para isso. Mas o dinheiro que chega para médios e pequenos é irrisório.
Minha sugestão: reduzir o número de clubes para 14. Fazer com que a Série A-1 banque financeiramente as divisões de acesso, que sairão fortalecidas. Obrigar as equipes que cheguem à primeira divisão a ter categorias de base ativas por pelo menos cinco temporadas. Ampliar a premiação em dinheiro por desempenho. Exigir que os estádios sejam minimamente confortáveis, bem iluminados, com bons gramados e seguros.
Cobrar preços de ingressos compatíveis com a realidade de cada espetáculo. Não adianta cobrar preço de clássico ou de jogo de Brasileirão. Transformar o torneio numa grande festa de pré-temporada, ainda que para alguns clubes seja classificatório. Os grandes seriam vitalícios, não poderiam ser rebaixados.
Enfim, há muitas ideias, mas nem Einstein conseguiria encaixar uma sacada genial para um estadual com 20 times. É impossível.
Reduzir as datas não adianta. É como a administradora de uma estrada dizer que vai reduzir de 15 para dez o número de praças de pedágio em um trecho de 300 km. Mas ao final da viagem o preço pago será o mesmo, mas com a cobrança em dez e não mais 15 paradas.