Simpatizo com o Lugano. Inteligente, esperto. Venceu no futebol sem ter quase nenhum talento para a prática do esporte bretão. Conhece suas limitações e sempre teve uma postura interessante em relação ao jogo disputado em campo e o que ele representa. Separa a realidade das quatro linhas da vida fora delas com precisão.
Mas deu uma entrevista constrangedora ao falar da mordida de Suárez em Chielini. Prestou-se ao serviço de boi de piranha. Comprometeu seu perfil de jogador diferente fora de campo.
Lugano conta com o beneplácito de uma parcela importante da mídia uruguaia e também da brasileira, por motivos que ficam evidentes quando se presta alguma atenção.
Não sou corporativista. Vivemos um momento difícil na mídia de forma geral. Há uma grande confusão entre notícia, show, entretenimento e gracejos.
A facilidade em fazer piadinhas é inversamente proporcional à dificuldade de enfileirar voas perguntas.
Muita gente busca ser notícia em vez de dar notícia.
Jogadores e treinadores de futebol sempre foram paparicados demais. Sempre foram estrelas. Justamente.
Mas atualmente a coisa extrapolou. Mimados acima do limite, milionários ególatras, atletas e grandes treinadores consideram-se intocáveis. Há cada vez emls exceções. Postura que respinga até no comportamento de alguns coleguinhas.
Cobram respeito à privacidade mas expõem até as entranhas nas redes sociais. E não reclamam de privacidade quando ficam no ar o dia inteiro em troca de polpudos cachês publicitários.
O resultado: tal qual crianças que não conhecem limites, muitas estrelas do futebol fazem beicinho quando entendem ser contrariados ou atingidos por perguntas que consideram agressivas.
Mas quando interessa a eles, correm para a primeira câmera ligada ou pedem socorro ao repórter setorista com quem têm afinidades.
Sobre o caso Súarez, em que pese a tragicômica entrevista de Lugano, acho exagero falar em suspensão de muitos jogos ou até de anos. Um ou dois jogos estariam de bom tamanho. As câmeras da Fifa mostram a cada jogo trocas de socos, cotoveladas etc. Agressões também, sem julgamento de mérito ou demérito.
O Brasil não tem passado imune a essa nova realidade, na era das chamadas 'mídias" sociais. Houve um constrangedor depoimento de Fred à TV (?) da CBF explicando porque ele achava que sofreu pênalti contra a Croácia. Depois de o jogo ser passado, reforçando a impessão de que uma mentira contada mil vezes pode passar por verdade. Não era para tanto. Erros e acertos acomtecem em todos os jogos. Assim como Felipão clamou por postura de torcedor de jornalistas ao argumentar que o Brasil não teve penalidade marcada a seu favor contra o México.
No meio dessa complicada teia Mcluhaniana há uma figura recente e vaga: o assessor de imprensa pessoal. Personagem que muitas vezes se presta a outro tipo de serviço. Age como mordomo, motorista, carregador de mala e leva-e-traz para o pagador. Desonra a função honrosa de assessor de imprensa.
Não falo de nenhuma pessoa específicamente, mas de um comportamento. A velha história de ouvir algo, interpretar e levar uma versão editada e modificada ao chefe, amigo, estrela milionária mimada.
Por isso muitas vezes o clima é belicoso, raivoso entre mídia e jogadores.
Difícil apontar culpados. Mas como jornalista, tenho a certeza de que a mídia contribui fortemente para esse estado de coisas, pois transforma em semideuses jogadores medianos e em deuses intocáveis os grandes atletas. A era da adjetivação e da bajulacão foi potencializada pelo interesse comercial, a realidade virtual criada pela propaganda e as inefáveis redes sociais.
Qual o resultado dessa complicada equação? Para mim, a perda da naturalidade e da sinceridade. O sorriso é tão fácil quanto falso. Qualquer postagem nas tais redes pode ser uma armadilha para vender algum produto. A versão oficial se presta a qualquer interesse.
Quer saber?
Vamos voltar para a bola rolando que, por enquanto, está muito mais interessante.