Brasil, Cuba e o Pan
Ao final do Pan de 2007, após uma extensa cobertura no SporTV, lembro de um papo que tive com o excelente e premiadíssimo repórter Lúcio de Castro, que conhece como poucos a estrutura do esporte no Brasil e em Cuba. Chegamos à conclusão de que sobra dinheiro no Brasil, e Cuba esbanja método e especialização.
Assim como no Pan do Rio, o Brasil terminou a competição de Guadalajara atrás de Cuba no quadro de medalhas. Por mais que se procurem fórmulas que apontem vantagem do Brasil em um ou outro quesito, a constatação a ser feita é que uma ilha minúscula, de economia combalida e, a meu ver, respeitando todas as opiniões, conceitos políticos anacrônicos, tem um projeto esportivo atrelado à educação.
Pode-se contestar que o projeto esportivo cubano seja em boa parte político, propagandista. Mas qual não é? Seja o país socialista, capitalista ou desprovido de ideologia, qualquer governante pega carona no esporte para se promover.
Acontece que Cuba tem esse projeto esportivo-educacional. Não tem as instalações que o Brasil tem, não paga salários milionários a alguns atletas, mas, qualitativa e quantitativamente, forma muito mais atletas olímpicos de alto nível do que o Brasil.
Claro que o esporte brasileiro melhorou, mas ainda acho que Cuba faz mais com menos. Aqui poderíamos fazer muito mais com os investimentos que existem, e chegam à casa do bilhão no que se refere ao esporte olímpico.
Basicamente, por não ter projeto esportivo atrelado à educação, o Brasil não consegue massificar o esporte chamado amador. Depende ainda dos clubes sociais e esportivos, que abastecem as seleções que representam o país nas provas internacionais.
Como explicar que uma ilha com 11 milhões de habitantes (população inferior à da Grande São Paulo) conquiste dez medalhas de ouro a mais que uma nação de 190 milhões de habitantes e pesado investimento estatal em propaganda no esporte?
Eu acho que é competência, know-how e projeto, diretriz.
Isso sem contar os Estados Unidos, que têm um projeto ideologicamente oposto ao de Cuba, mas com a mesma base: esporte e educação. O atleta americano nasce na escola, progride na universidade e chega ao milionpario profissionalismo. Infelizmente, no Brasil, o esporte em nível colegial e universitário não existe, doa a quem doer essa afirmação.
Os americanos levam um time B, C ao Pan e nadam de braçada. Cuba forma atletas em pistas de atletismo improvisadas (o SporTV tem em seus arquivos essas imagens para quem duvida). Cuba levou 447 atletas a Guadalajara e o Brasil, 515.
Não se trata de reduzir a questão a uma disputa do Brasil contra Cuba no esporte pan-americano. Trata-se de discutir um projeto esportivo para o Brasil. Trata-se de trazer o esporte para as escolas como parte efetiva da educação de seus jovens, da formação do caráter. Então, a partir disso, incutir uma mentalidade de prática esportiva na população. Depois, tirar qualidade da quantidade, investir na excelência da formação, do fundamento, e partir para o nível olímpico.
Não existe fórmula mágica. Talento há de sobra, sempre houve. Falta dar ao País um projeto esportivo, assim como falta um projeto educacional.
Deixo aqui o link para um blog espetacular sobre esportes olímpicos, e a análise sempre precisa do amigo Marcelo Laguna.