Desorganizar, já!
Reproduzo a coluna publicada hoje no Diário de S.Paulo e nos jornais da Rede Bom Dia.
É preciso desorganizar a torcida
Parece contraditório em tempos de profissionalismo milionário. Mas arquibancada é lugar para amadores
A lamentável tragédia que ceifou estupidamente a vida do garoto boliviano Kevin oferece uma rara oportunidade para, quem sabe, desorganizar o ato de torcer em um estádio de futebol. Vou mais longe: desorganizar a relação de alguns torcedores com seus times do coração e vice-versa.
O Corinthians, maior fenômeno midiático do futebol brasileiro, tem força de sobra para bancar essa cruzada. Para onde for o Timão, ele será seguido pela maioria dos clubes brasileiros, não tenho dúvidas.
Conversei com alguns importantes dirigentes da instituição Sport Club Corinthians Paulista e todos foram unânimes ao desvincular qualquer relação entre o clube e a viagem dos torcedores que foram até a Bolívia (a grande maioria de um grupo organizado). Existe clara preocupação em não associar o clube ao comportamento desses grupos.
Mas a realidade é diferente. Pode não existir uma relação direta neste caso e acredito nas pessoas com quem falei. Mas o relacionamento chegou a um ponto em que a ordem está se invertendo. Os torcedores que iam ao estádio para torcer pelos times, agora estão participando da vida dos clubes, como associados e até conselheiros e dirigentes. No Corinthians e no Palmeiras, essa realidade só faz aumentar. É cada vez maior a presença de integrantes de torcidas uniformizadas no Conselho Deliberativo. No caso corintiano, inclusive, dirigentes de alto escalão são oriundos desse tipo de organização.
Algumas organizações uniformizadas têm mais associados do que os próprios clubes. Ganham dinheiro vendendo produtos que contam com os símbolos e cores deles e não repassam um tostão em direitos. Todas levam os distintivos em seus uniformes. Concorrem diretamente com os produtos oficiais dos times. É a linguiça comendo o cachorro e lucrando com isso.
Esses grupos encontraram no Carnaval uma maneira de conseguir dinheiro do governo e das emissoras de TV. Transformaram-se em escolas de samba e aumentaram recursos, de forma clara e oficial, sem depender exclusivamente dos subsídios dos clubes. São associações que têm presidentes, advogados, representantes, espaço reservado em estádio e escolta da polícia para ir e vir. Ganharam privilégios. Pressionam, intimidam e, agora, podem fazer isso dentro dos clubes, de seus conselhos e, muitas vezes, diretorias.
Nada tenho contra o fato de alguém querer criar uma torcida organizada. Quando elas surgiram, o objetivo era lúdico. Entre eles, o de levar almofadas para que mulheres e crianças não tivessem de enfrentar o cimento duro das arquibancadas. A dura realidade de hoje mostra uma criança (para as leis brasileiras) levando um artefato letal do Brasil para a Bolívia, cujo uso irresponsável (não se sabe se por essa criança, ou seria uma artimanha legal apontar um menor como culpado?) tirou a vida de outra criança.
É preciso desorganizar o ato de torcer. O profissionalismo no futebol é para jogadores, técnicos e dirigentes. Fora disso, o amadorismo é a senha para se coibir certo tipo de atitude. Não existe corintiano que seja mais fiel do que outro. Palmeirense de alma mais palestrina do que outro. Nem tricolores que sejam mais são-paulinos do que alguns em grupo, tampouco santistas que sejam súditos mais leais do Rei Pelé só porque decidiram que são assim. Todos são iguais perante a paixão e perante a lei.
Situações extremas exigem medidas extremas. O problema social em que a relação de alguns grupos de torcedores com seus clubes e entre eles próprios se transformou jamais foi encarado pelas autoridades. Quem sabe agora, com repercussão negativa internacional, às portas da Copa do Mundo, aqueles que têm responsabilidades profissionais devolvam o saudável amadorismo ao ato de torcer.
Ave rara
Não se trata de Ganso, no caso do São Paulo, mas de Jadson. É o mais regular e eficiente jogador do Tricolor na temporada. Quando o caldo ameaça entornar, ele surge com um gol ou passe providencial. Nesse momento, não existe disputa entre Jadson e Ganso, porque o ex-santista não teria chance alguma.
Paz verde
Mais de 20 mil pessoas no Pacaembu e uma paciência incomum da arquibancada com o time, aguardando uma vitória que seria tranquila, tivessem os atacantes melhor pontaria. Mas ela veio suada, sofrida, com um gol do estreante Leandro, mandando para longe do Palmeiras os ventos da crise e mantendo a paz.
Diga ao povo que...
...fico. É a resposta que o Corinthians deu para a pergunta sobre a permanência ou não na Libertadores. Mas, antes, nos bastidores, lideranças políticas fizeram uma pesquisa informal, inclusive com dirigentes de outros clubes e jornalistas, para testar qual seria o impacto de uma eventual saída do torneio.
Nó tático
Não existe fórmula mágica ou prancheta milagrosa que resolva um problema recorrente e básico no futebol: jogador jogando mal. A coisa piora quando alguns deles estão mal no mesmo time.
Esse é o problema que vive, hoje, o Santos. Individualmente, acontece essa rara conjuntura de vários atletas estarem rendendo mal, o que resulta em desempenho coletivo ruim. Não tem jeito.
Há uma cobrança forte de conselheiros e até do Rei Pelé pelo uso de garotos da base. Mas nem sempre o raio acertará em cheio a Vila Belmiro, como foi com o próprio Pelé, com Robinho, com Neymar.
Neymar é a locomotiva, obviamente. Mas há vagões importantes do trem santista com problemas. Montillo ainda está tímido, sem a movimentação ideal, muito longe da área. Cícero largou bem, mas não manteve o pique. André apenas começa a recuperar a forma. Arouca e Renê Júnior não encontraram o tom correto. A questão das laterais precisa ser resolvida, porque a equipe fica vulnerável na marcação.
Enfim, problemas pelos quais passam todas as equipes. Mas é óbvio que, com a melhora do desempenho individual desses jogadores, coletivamente o Santos vai crescer durante a temporada.
A lamentável tragédia que ceifou estupidamente a vida do garoto boliviano Kevin oferece uma rara oportunidade para, quem sabe, desorganizar o ato de torcer em um estádio de futebol. Vou mais longe: desorganizar a relação de alguns torcedores com seus times do coração e vice-versa.
O Corinthians, maior fenômeno midiático do futebol brasileiro, tem força de sobra para bancar essa cruzada. Para onde for o Timão, ele será seguido pela maioria dos clubes brasileiros, não tenho dúvidas.
Conversei com alguns importantes dirigentes da instituição Sport Club Corinthians Paulista e todos foram unânimes ao desvincular qualquer relação entre o clube e a viagem dos torcedores que foram até a Bolívia (a grande maioria de um grupo organizado). Existe clara preocupação em não associar o clube ao comportamento desses grupos.
Mas a realidade é diferente. Pode não existir uma relação direta neste caso e acredito nas pessoas com quem falei. Mas o relacionamento chegou a um ponto em que a ordem está se invertendo. Os torcedores que iam ao estádio para torcer pelos times, agora estão participando da vida dos clubes, como associados e até conselheiros e dirigentes. No Corinthians e no Palmeiras, essa realidade só faz aumentar. É cada vez maior a presença de integrantes de torcidas uniformizadas no Conselho Deliberativo. No caso corintiano, inclusive, dirigentes de alto escalão são oriundos desse tipo de organização.
Algumas organizações uniformizadas têm mais associados do que os próprios clubes. Ganham dinheiro vendendo produtos que contam com os símbolos e cores deles e não repassam um tostão em direitos. Todas levam os distintivos em seus uniformes. Concorrem diretamente com os produtos oficiais dos times. É a linguiça comendo o cachorro e lucrando com isso.
Esses grupos encontraram no Carnaval uma maneira de conseguir dinheiro do governo e das emissoras de TV. Transformaram-se em escolas de samba e aumentaram recursos, de forma clara e oficial, sem depender exclusivamente dos subsídios dos clubes. São associações que têm presidentes, advogados, representantes, espaço reservado em estádio e escolta da polícia para ir e vir. Ganharam privilégios. Pressionam, intimidam e, agora, podem fazer isso dentro dos clubes, de seus conselhos e, muitas vezes, diretorias.
Nada tenho contra o fato de alguém querer criar uma torcida organizada. Quando elas surgiram, o objetivo era lúdico. Entre eles, o de levar almofadas para que mulheres e crianças não tivessem de enfrentar o cimento duro das arquibancadas. A dura realidade de hoje mostra uma criança (para as leis brasileiras) levando um artefato letal do Brasil para a Bolívia, cujo uso irresponsável (não se sabe se por essa criança, ou seria uma artimanha legal apontar um menor como culpado?) tirou a vida de outra criança.
É preciso desorganizar o ato de torcer. O profissionalismo no futebol é para jogadores, técnicos e dirigentes. Fora disso, o amadorismo é a senha para se coibir certo tipo de atitude. Não existe corintiano que seja mais fiel do que outro. Palmeirense de alma mais palestrina do que outro. Nem tricolores que sejam mais são-paulinos do que alguns em grupo, tampouco santistas que sejam súditos mais leais do Rei Pelé só porque decidiram que são assim. Todos são iguais perante a paixão e perante a lei.
Situações extremas exigem medidas extremas. O problema social em que a relação de alguns grupos de torcedores com seus clubes e entre eles próprios se transformou jamais foi encarado pelas autoridades. Quem sabe agora, com repercussão negativa internacional, às portas da Copa do Mundo, aqueles que têm responsabilidades profissionais devolvam o saudável amadorismo ao ato de torcer.
Ave rara
Não se trata de Ganso, no caso do São Paulo, mas de Jadson. É o mais regular e eficiente jogador do Tricolor na temporada. Quando o caldo ameaça entornar, ele surge com um gol ou passe providencial. Nesse momento, não existe disputa entre Jadson e Ganso, porque o ex-santista não teria chance alguma.
Paz verde
Mais de 20 mil pessoas no Pacaembu e uma paciência incomum da arquibancada com o time, aguardando uma vitória que seria tranquila, tivessem os atacantes melhor pontaria. Mas ela veio suada, sofrida, com um gol do estreante Leandro, mandando para longe do Palmeiras os ventos da crise e mantendo a paz.
Diga ao povo que...
...fico. É a resposta que o Corinthians deu para a pergunta sobre a permanência ou não na Libertadores. Mas, antes, nos bastidores, lideranças políticas fizeram uma pesquisa informal, inclusive com dirigentes de outros clubes e jornalistas, para testar qual seria o impacto de uma eventual saída do torneio.
Nó tático
Não existe fórmula mágica ou prancheta milagrosa que resolva um problema recorrente e básico no futebol: jogador jogando mal. A coisa piora quando alguns deles estão mal no mesmo time.
Esse é o problema que vive, hoje, o Santos. Individualmente, acontece essa rara conjuntura de vários atletas estarem rendendo mal, o que resulta em desempenho coletivo ruim. Não tem jeito.
Há uma cobrança forte de conselheiros e até do Rei Pelé pelo uso de garotos da base. Mas nem sempre o raio acertará em cheio a Vila Belmiro, como foi com o próprio Pelé, com Robinho, com Neymar.
Neymar é a locomotiva, obviamente. Mas há vagões importantes do trem santista com problemas. Montillo ainda está tímido, sem a movimentação ideal, muito longe da área. Cícero largou bem, mas não manteve o pique. André apenas começa a recuperar a forma. Arouca e Renê Júnior não encontraram o tom correto. A questão das laterais precisa ser resolvida, porque a equipe fica vulnerável na marcação.
Enfim, problemas pelos quais passam todas as equipes. Mas é óbvio que, com a melhora do desempenho individual desses jogadores, coletivamente o Santos vai crescer durante a temporada.