O Dia do Fico de Neymar
Existem diversas maneiras para se analisar o Dia do Fico de Neymar. Também há somente uma vontade fundamental para que tudo se resolvesse a favor da permanência: a vontade de Neymar.
Só ficou por que quis. Hoje quem manda em seu destino é o jogador. O que é extremamente saudável, embora incomode significativamente setores da mídia, da cartolagem, da torcida e de ex-jogadores. Não é todo mundo que se acostumou com essa independência dos jogadores e com o fato de atualmente eles estarem por cima da cadeia alimentar e econômica do futebol.
O mundo mudou. Recentemente, um presidente de clube grande esteve num programa de TV do qual participo e disse que estava espantado com essa mudança. Que quando ele começou no futebol eram os diretores que chegavam de carro importado, agora são os jogadores. Segundo ele, os dirigentes hoje chegam "no máximo com um Corollinha". Dá para ver o que ele pensa do futebol e como está ultrapassado só com essa frase.
Mas voltemos ao Neymar. Ele ficou no Santos porque foi bom para ele. O ser bom para ele tem nuances. Bom porque ele gosta, fato, mas bom, também, porque ficando no Brasil ele ganha mais do que receberia na Europa. Isso é fato incontestável. Mesmo já sendo uma estrela reconhecida no planeta bola, Ñeymar não chegaria para sentar na janelinha entre as estrelas da Europa. Até em virtude da lei do vestiário e das crises de ciúmes de outras estrelas. Ou alguém acha que ele chegaria no Barça ganhando mais que o Messi, ou no Real faturando mais que o Cristiano Ronaldo? Duvido!
O futebol europeu não está imune à crise econômica do continente. A grana está curta, muitos clubes estão endividados até o pescoço. Salvam-se os que têm mecenas tipo Berlusconi, algum sheik maluco ou, então, um milionário russo de origem duvidosa.
Hoje tem dinheiro circulando no Brasil. Muito dinheiro. Também no futebol. Neymar é produto de uma nova geração de jovens, da era digital, das redes sociais. Tudo que ele faz vira notícia no minuto seguinte, seja postada por ele mesmo em seu twitter, ou por um paparazzo de plantão. Neymar representa essa moçada esperta, antenada e apressada. Parafraseando e modificando uma antiga frase da juventude de outras eras, ele é o porta-voz do viva rápido e enriqueça jovem. Tudo isso sem deixar de curtir.
O jogador de futebol não é mais marginalizado como antes. Até porque, sendo bem sincero, hoje ele tem muito dinheiro, que é o que interessa para a grande maioria. A grana mudou de mão, e os bajuladores de plantão adoram quem tem a carteira forrada. Se junto com a bufunfa vier uma revista de pseudo-famosos, tá melhor. O que boleiro tem de aspone é uma grandeza. Isso sem contar no exército de parentes e ex-namoradas e futuras companheiras que surgem do nada.
Bom, mas e o moleque bom de bola, o que tem com isso? Tem que, além de jogar muito futebol, amadureceu e desabrochou na hora certa. Quando todos os fatores convergem para o sucesso que ele pilota com a bola nos pés.
Se Neymar tivesse surgido no Santos com o mesmo talento, o mesmo carisma, o mesmo cabelo, em 1995, seria vendido em seis meses. Para sorte dele e nossa, surgiu depois. Num cenário mais favorável para o Brasil e extremamente desfavorável para a Europa. Como não quer jogar num time de sheik ou milionário russo, Neymar pode ser exigente. Pode escolher jogar, se quiser, nos melhores times europeus, enquanto segue jogando no que ele faz ser o melhor da América, o Santos.
Por trás de tudo que se fala e especula, acho que há um fator que tem sido pouco avaliado para o sucesso da operação Fica, Neymar: a exploração comercial de sua imagem. Pelo que se diz na mídia, ele e seu pai conseguiram que o Santos liberasse 100% dos direitos sobre a imagem de Neymar em publicidade. O que poucos jogadores já conseguiram e conseguirão de uma equipe, em especial de Real Madri e Barcelona.
Dizia-se que Ronaldinho Gaúcho, em seu auge, tinha esse acordo com o Barcelona. O que não é pouca coisa. Geralmente, os atletas cedem percentuais ou até o total do que ganham com publicidade individual para o clube. Assim como recebem um percentual do que o clube ganha com suas imagens.
Por mais que o Santos ou qualquer time do mundo possa oferecer um salário fixo estratosférico para Neymar, a cereja do bolo é a publicidade num Brasil que deixou de ser vidraça para ser não estilingue, mas estrela principal da vitrine econômica.
O rosto de Neymar hoje é o mais requisitado da publicidade brasileira. O moleque, assim como Ronaldo Fenômeno, parece ser feito de T-Fal, nada gruda nele. Tem carisma para sair natural em propaganda de qualquer coisa e faz vender. Os torcedores adversários não odeiam Neymar, admiram. Mas talvez não ao ponto de virarem a casaca. Ou seja, Neymar não cria conflitos que espantem as vendas.
Não gosto de colocar números em textos e opiniões, porque vivemos num País violento, onde o sucesso incomoda e atiça a bandidagem. Mas calculo, de maneira geral, que Neymar vá faturar com publicidade mais do que o dobro do que recebe como salário. E não acho difícil que chegue ao final do mês faturando mais do que Messi e Cristiano Ronaldo.
Sem precisar enfrentar períodos de adaptação, invernos rigorosos, idioma pouco conhecido, distância da terrinha e outros dramas que sempre afetaram o boleiro nacional longe de casa.
Neymar em 2009, um em 2010 e outro agora. Fisicamente, tecnicamente e taticamente vê-se um jogador novo - e melhor - a cada etapa.
Se o mundo continuar girando desse jeito, com a moeda da sorte econômica caindo sempre para o nosso lado, num prazo de dez anos nossos clubes podem ser grandes de fato em nível mundial. Principalmente se tiverem juízo administrativo. Porque de nada adianta aumentar o faturamento e a dívida crescer junto.
Dinheiro há de sobra no mercado do futebol brasileiro. Com juízo, inteligência e uma dose de sorte, não é preciso ficar namorando a bola do vizinho.