Copa da frescura
Saiu a lista das cidades da Copa das Confederações. Sempre que a Fifa confirma algo, seja para a Copa das Confederações ou a Copa do Mundo, reforça aquela ladainha de obras atrasadas, de exigências de estádios e uma série de cobranças.
Faz parte de um bem ensaiado jogo de cena que ajuda a justificar o negócio milionário.
Nada é tão perfeito num evento como a Copa do Mundo. Embora a organização seja muito boa.
A questão é que, ao contrário do que ocorreu na África do Sul, quando havia uma boa vontade mundial em relação ao continente-mãe da nossa raça, no caso do Brasil isso não ocorre. Somos "potência emergente", queridinhos da economia Mundial, a bola da vez. E mundialmente conhecidos pela fama de deixar tudo para a última hora.
Longe de mim querer ser ufanista e patriota nesses assuntos. Inclusive abomino aquele anúncio boboca de marca de cerveja que tenta vender uma ilha da fantasia. Acho que vão gastar demais com estádios que serão inúteis e obras que mereceriam ser chamadas de legado deixarão de ser feitas.
O tema aqui é outro, é uma certa frescura da Fifa em relação a obras e estádios, o tal jogo de cena. Tudo precisa estar 100%, pede a dona da bola. Balela. Em 2010 o entorno e mesmo a parte interna do Soccer City estavam em obras com a Copa em andamento. Havia pedra solta, barro e pedaços de pau por toda a parte. O terminal de ônibus do estádio só foi funcionar do meio para o final da Copa, e o de trem bem no finalzinho.
Os aeroportos de cidades como Plokwane e Bloomfontein são piores do que muitos dos nossos piores.
Quando se fala da Uefa, que costuma ser tão rigorosa quanto a Fifa, também há buracos, e muitos. Na Euro 2012 o estádio de Gdansk, na Polônia, também não estava 100% concluído, o entorno era cheio de obras interrompidas, buracos transformados em lagos pela chuva. Torcedores tinham que caminhar quilômetros ao relento para encontrar transporte.
Se acontecer algo aqui, a gritaria será enorme. Se acontece na Europa, o tom da crítica dos europeus é outro. Entra em campo o sentimento comunitário velho-continental. Aqui é Europa, meu filho! Isso se for o que o europeu considera Europa.
Os aeroportos e as companhias aéreas da Ucrânia fariam os brasileiros virar topo de linha se fossem o parâmetro, tamanha a ruindade. Lembro direitinho do comissário de bordo italiano, aos berros, gritando com o funcionário do aeroporto de Kiev: "Isso aqui não é a Europa!"
Enfim, haverá uma cobrança forte, que deve haver, porque no Brasil tudo é feito meio que nas coxas. Mas essa cobrança também haverá para cumprir e enfatizar a submissão do colonizado sul-americano ao chefe europeu, ao dono do negócio. Isso sem discurso apelar para discurso pelego, que eu detesto.
O que a Fifa quer que esteja funcionando direitinho é o portão de acesso e o caminho que as principais autoridades mundiais percorrerão no jogo de abertura e na final. Que o mármore esteja lá, bonitinho, que a tribuna de honra seja limpa, confortável e bem abastecida de mimos, que haja uma entrada exclusiva, subterrânea e livre de lentes e olhares curiosos.
Cabe a nós, cidadãos, cobrar o que realmente nos interessa. Além de estádios milionários, teremos alguma obra relevante de infra-estrutura que ficará? Onde, por que preço?
Depois da Copa o que será feito dos estádios de Brasília, Cuiabá, Manaus?
O resto é perfumaria.
Nenhum comentário:
Postar um comentário