Bola de dinheiro
Fala-se muito sobre o novo patrocínio do Corinthians e, consequentemente, o debate evolui para tudo que envolve investimentos no futebol brasileiro.
Parece lógico e inteligente que a Caixa Econômica Federal busque patrocinar um dos times mais populares, se não for o mais popular do Brasil. É garantia de exposição por um preço relativamente barato se for comparado a campanhas publicitárias em horário nobre de TV e afins.
Também parece lógico e inteligente que o contribuinte questione o fato de um banco estatal (ainda que de direito privado) invista em patrocínio de esporte de alto rendimento. Eu, ideologicamente, defendo que o Governo e suas empresas estatais ou mistas devam investir em esporte como parte da educação, na base, não em patrocínio de atletas olímpicos e times de futebol profissional.
Assim como penso que a Lei de Incentivo ao Esporte não pode ser usada, por atalhos, para que qualquer time de futebol capte dinheiro para obras que revertam futuramente em lucro com a venda de direitos econômicos de atletas profissionais.
Os times de futebol do Brasil já gozam de inúmeros incentivos governamentais, nas esferas municipal, estadual e federal.
As grandes equipes têm acesso a patrocínios milionários, ganham dinheiro com marcas de material esportivo, com venda de jogadores, direitos de transmissão de TV, bilheteria e outras fontes.
A bola rola cheia de dinheiro para os chamados 12 grandes clubes brasileiros. Os 4 de São Paulo, os 4 do Rio, os 2 de Minas e os dois do Rio Grande do Sul. Muito mais cheia para paulistas, pelo tamanho do mercado, seguido por cariocas. Mineiros e gaúchos ainda estão longe desse patamar. Mesmo assim, suas operações cotidianas envolvem fortunas.
O futebol tem um apelo popular, e consequentemente político, inigualável.
Poucos são os clubes que devolvem à sociedade serviços compatíveis com a quantidade de benefícios fiscais e de toda sorte que recebem dos governos. Poucos clubes têm escolas para a comunidade vizinha aos centros de treinamentos, que, em muitos casos, são áreas públicas cedidas.
Sem contar a influência politica em eleições, já que os times de massa reúnem um potencial eleitoral tremendo.
Sempre houve políticos trabalhando nos bastidores por seus times do coração. Não tem santo nessa área. Mas acho que os clubes deveriam tentar fugir desse tipo de relacionamento. Pode parecer vantajoso de forma imediata, mas traz consequências nefastas ao longo do tempo. Quem hoje é situação, amanhã pode ser oposição, e o que é ajuda vira empecilho ao final de uma eleição.
Não existe problema legal algum em uma empresa estatal fazer propaganda ou marketing com o futebol. Afinal, elas concorrem no mesmo mercado que outras empresas. A questão moral cabe a cada um avaliar, além da questão filosófico-ideológica. Eu tenho minha visão ideal de projeto esportivo para o País. Cada um que tiver a paciência de ler esse texto terá a sua. Todas merecem respeito.
O futebol e o poder sempre tabelaram descaradamente no Brasil. Seja poder oficial ou paralelo, como acontecia no auge do jogo do bicho no Rio.
Políticos apaixonados por seus times do coração sempre tentaram dar uma ajuda mundo afora. O italiano Mussolini era Lazio. O espanhol Franco empurrava o Real Madri com sua mão de ferro. O argentino Perón amava o Racing. Todos eram ditadores, totalitários, criavam suas próprias regras.
Acho uma covardia algumas absurdas comparações que fazem com o ex-presidente Lula, por causa de sua declarada paixão pelo Corinthians. Lula foi eleito democraticamente duas vezes, tem uma biografia que está milhares de pontos acima de gente como aquela citada no parágrafo acima.
Fala-se abertamente que foi de Lula o empurrão providencial para a construção do novo estádio do Corinthians, quando ainda era presidente. Assim como muita gente tem comentado que partiu dele o apoio fundamental para o patrocínio da Caixa.
Não sei se os fatos realmente aconteceram dessa maneira.
Mas posso opinar que, se foram assim, não parecem condizentes com a postura de um presidente da importância de Lula. Nem de um ex-presidente com seu peso e liderança. Porque ele é um presidente e ex-presidente de todos os brasileiros, acima de qualquer paixão clubística, independentemente de qual seja essa paixão.
Assim como posso afirmar que o Corinthians é suficientemente grande e popular para ser cobiçado por qualquer empresa que queira expor sua marca. Sem para isso precisar de ajuda oficial.
O Corinthians não é o único time na história do Brasil a ter um político poderoso como seu torcedor fanático. Mas o que penso vale para qualquer equipe. As instituições futebolísticas e esportivas devem pairar sempre acima da questão política. Porque, como diz o ditado popular, pau que bate Chico, bate em Francisco. Um dia é da caça, outro do caçador.
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