Vender ou
não vender?
Eis a questão
Um dos dilemas pelos quais passam o atleta profissional, os dirigentes de clubes e empresários é saber o momento de concretizar uma negociação.
Comprar e vender um jogador faz parte do negócio futebol desde sempre. Para os clubes brasileiros é garantia de sobrevivência e, ainda, uma importante fonte de receita. O País começa, timidamente, a importar grandes jogadores, mas ainda é um exportador do chamado pé-de-obra, como diz o Mauro Beting.
Temos duas bolas da vez nesse dilema, duas jovens promessas do futebol brasileiro. Lucas, do São Paulo, e Oscar, do Inter. O noticiário dá conta de que o São Paulo rejeitou uma oferta de R$ 96 milhões do Manchester United por Lucas, e o Inter aceitará uma de R$ 80 milhões do Chelsea por Oscar.
Para ficar com o que os clubes embolsariam, o São Paulo teria direito a 80% dos direitos econômicos de Lucas, ou R$ 76,80 milhões. O Inter detém 50% dos direitos de Oscar, ou R$ 40 milhões.
Convenhamos, num mundo que caminha para a recessão econômica global, são boladas difíceis de serem rejeitadas, qualquer que seja a realidade dos clubes.
No caso do São Paulo, um dos motivos para a recusa da oferta seria o fato de a direção do clube não estar disposta a oferecer ao agente de Lucas e a sua família, os detentores de 20% dos direitos do atleta, a possibilidade de embolsar R$ 19,2 milhões. Tudo porque a direção são-paulina está em rota de colisão com o agente do jogador, Vagner Ribeiro.
Já no Inter, a questão envolve a reposição de um atleta de qualidade para a vaga de Oscar. Pedido do treinador Dorival Júnior. A direção do Colorado é sincera ao afirmar publicamente que precisa vender jogadores para equilibrar seu orçamento. Nesse caso, a saída de Oscar providenciará um ótimo reforço de caixa.
O São Paulo não fala abertamente sobre isso, até porque o clube vive uma situação política complicada, com disputas judiciais pelo poder. Mas certamente a chegada desse dinheiro aliviaria os números, já que o time não possui patrocinador principal na camisa e tem perdido receita com a recusa de seus maiores rivais paulistas em utilizar o estádio do Morumbi.
Curiosamente, Inter e São Paulo travaram recentemente uma batalha jurídica por Oscar, encerrada com o pagamento de cerca de R$ 15 milhões por parte do clube gaúcho à agremiação paulista.
A decisão, repito, é complicadíssima. Vender ou não vender? Ninguém tem bola de cristal para saber se Lucas e Oscar se transformarão em grandes craques internacionais em breve, supervalorizando seus direitos no mercado.
Ambos são jogadores de muito potencial. Oscar parece mais pronto, já se mostrou decisivo pelo Inter, já fez jogos importantes pela seleção brasileira principal, será titular na Olimpíada de Londres.
Lucas está um pouco abaixo. Ainda não se mostrou realmente decisivo pelo São Paulo, alterna bons e maus momentos, e na seleção principal também está devendo um desempenho à altura de sua valorização.
Acho, inclusive, que há um certo ágio nos valores oferecidos por ambos. O que é praxe no futebol, já que os atletas têm seus direitos econômicos fatiados em diversos acionistas, e todo mundo quer ganhar um pouco.
Nem Lucas, nem Oscar estão no patamar, por exemplo, de Neymar, que já jogou e conquistou muito mais. Acontece que os preços desses jovens no mercado atingiram valores que estão muito acima do desempenho demonstrado. Outro fenômeno do esporte. Provocado pela atuação de empresários e agentes. Desde que eram crianças, todos eles, Neymar também, eram vendidos como craques, anunciados como estrelas, prometidos como ativos de enorme valor.
Neymar já vingou em termos de clube e no futebol sul-americano. Justifica-se uma grande valorização. Oscar está em processo de amadurecimento e confirmação. Lucas parece, em minha avaliação, ainda no fim dessa fila de talentos, embora seu valor ja esteja muito alto. Aí vale a esperteza de seu agente, que soube colar a imagem do atleta à de Neymar, ainda que os desempenhos com a bola nos pés sejam bem difernetes.
Tecnicamente, Neymar é o mais completo dos três. É craque por aqui, com chance de ser craque no mundo todo. Diria que, hoje, Oscar está acima de Lucas em termos de desempenho. Tem mais repertório, sua área de atuação no campo é maior, e já está mais maduro. É o meia que pode tanto ser organizador como definidor, chegando na área. Lucas é um jogador de arranque, explosão e velocidade. Sua área de atuação no campo, tecnica e taticamente, é menor. Pela força física talvez chame atenção na Itália e na Inglaterra.
O Batista, grande jogador dos anos 70 e 80, hoje comentarista na RBS, uma vez disse a frase tradicional dos gaúchos para explicar porque muitos jogadores aceitam serem negociados para equipes médias ou pequenas em determinados momentos da carreira, quando não parecia ser a melhor escolha. "Cavalo quando passa encilhado...", disse o Batista, deixando claro que tem que montar.
A carreira é curta, existem contusões, imprevistos, dificuldades de adaptação e, muitas vezes, o talento não se desenvolve como se acreditava.
Não tenho a arrogância de dizer se é certo ou errado vender ou não vender. Cada cabeça, uma sentença. Se fosse eu o dirigente do clube, pelo cenário que se avizinha na economia, venderia.
Mas é um dilema de tirar o sono de todos os envolvidos.
Um comentário:
tem q vender rapido, vende e investe em formacao de jovens!
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