sexta-feira, julho 20, 2012

O Corte


Quem já foi atleta um dia, em qualquer nível, sabe como é difícil ser deixado de lado, perder um jogo, uma convocação. Por contusão faz parte do esporte, mas o duro mesmo, por mais justo que seja, é um corte por questões técnicas às vésperas de um Mundial, uma Copa, uma Olimpíada. Só não é pior do que um corte por indisciplina.

Abri o jornal hoje cedo e li a notícia do corte da Iziane, do basquete. Na antessala dos Jogos de Londres. De novo, por indisciplina. Semana passada ela foi uma das entrevistadas do Arena SporTV. Fiz a pergunta obrigatória sobre o histórico de cortes e de problemas. A expressão facial da atleta deixou claro o incômodo, mas jornalista não é jornalista para agradar, e sim para perguntar o que as pessoas querem ouvir. A resposta parecia convincente, vinda de uma atleta com perfil mais sereno.

Aí vem o corte. Não importa o que motivou o corte, é uma indisciplina. Hortência é uma pessoa séria e correta, não tomaria uma medida assim sem precisar.

Iziane é talentosa, mas não é Hortência, não é Paula, não é Janeth. Talvez pense ser. Ou o que seria ainda mais decepcionante, teme os grandes momentos, os grandes jogos, o fato de precisar colocar à prova sua capacidade. Muitos atos de indisciplina são, na verdade, uma fuga, uma escapada do atleta que não consegue suportar esse peso de ser ou tentar ser decisivo.

No futuro, Iziane recordará tudo que fez e, principalmente, o que deixou de fazer. Espero que esteja madura o suficiente para não ser tomada pelo arrependimento irreversível.

O corte nunca é uma experiência fácil. Pode parecer fácil para o treinador, mas não é. Sempre fica uma dúvida, ainda que mínima, sobre a decisão. O critério técnico é fundamental, mas acredito que outras questões também tenham influência. Dedicação, ambiente, espírito de grupo.

Para o atleta, é um momento de extrema solidão. É uma derrota individual em um ambiente coletivo. Naquele momento, muitos ganham e só o cortado perde.

Vivi algo um pouco parecido, com pequenas diferenças, quando fui atleta de voleibol, nos distantes anos 80. Eu jogava no infantil do Pinheiros, depois de duas temporadas no Paulistano. Mal tinha treinado no clube novo porque tinha pegado hepatite nas férias.

Um dia fui ver um jogo e encontrei o Deraldo Wanderley, que tinha sido meu técnico no Paulistano, e era treinador da seleção paulista infantil. "E aí, grande, já voltou a treinar? Volta quando?", perguntou o Deraldo, usando sua interjeição característica. Nunca fui de mentira, e respondi que voltaria em mais uns dez ou quinze dias. "Que pena!", disse o Deraldo.

No fim do jogo encontrei o massagista do Paulistano, seu Adriano, se não me falha a memória, uma figura sensacional. Ele me disse: "Rapaz, que pena, o Deraldo ia convocar você pra seleção mas não vai dar tempo, ele me disse, porque ele tem que fazer o último corte antes de você voltar a treinar".

Confesso que foram dias complicados, de alguma revolta. Nesse nível de desempenho, na categoria infantil, uma seleção estadual é um sonho, e eu como atleta não teria, como não tive, outra oportunidade de ser convocado. Eu provavelmente seria cortado após os treinamentos, porque não era um grande jogador, era apenas um bom jogador para aquele nível. Mas os dias passaram e, por não ter sido de fato convocado, foi mais fácil lidar com a situação e tocar a vida de atleta mediano.

Fico imaginando como é difícil para um atleta realmente de alto nível suportar isso. Um corte, seja por questão técnica ou por contusão, é uma ferida profunda, com o perdão da redundância de estilo barato. Se for por indisciplina, é ainda mais triste. Porque o mais difícil o esportista já tinha feito, que é treinar, desenvolver o talento e passar pelas etapas de disputa pela vaga. Mas joga tudo fora ou por egoísmo ou por medo de aceitar o desafio. Muito triste.

3 comentários:

Unknown disse...

Triste mesmo Noriega. Ser cortado por indisciplina deve ser o pior motivo. Resta fazer um exame de consciência e mudar hábitos, atitudes e pensamentos, depois é tocar a bola pra frente e treinar.

Unknown disse...

Um ótimo texto, realmente ela deve estar sofrendo muito, mas como colocou não foi a primeira e pelo jeito também não será a ultima vez que ouviremos relatos de indisciplina vindos da Iziane.

Valeu !!!

Anônimo disse...

Oi, Nori!

Dizem que errar é humano, se isto for verdade, errar duas vezes são dois manos.
Na primeira vez em que foi cortada por indisciplina, Iziane havia se negado a entrar em quadra no final do jogo, desobedecendo ordem do técnico. Mostrou-se arrogante, insubordinada e sem o menor comprometimento com a seleção brasileira de basquete. Pra que convocá-la, novamente? Nem se ela fosse o Oscar que, aliás, era comprometido, até exageradamente, com o time do Brasil.

Nori, quase tão grave quanto a indisciplina da Iziane foi ouvir do repórter do Redação Sportv: "A Hortência não quer explicar o motivo; mas eu vou falar com a Iziane e ouvir da boca dela". Bo-cadela?! Mais um cacófago grosseiro de repórter do Sportv. E novamente com a coitada da cadela.
Quem é que contrata esses trastes? Por acaso é o arremedo de filósofo, que desceu na emissora de para-quedas, como chefe de redação? Parece que a condição sine qua non pra ser repórter do Sistema Globo é falar inglês. Português é mero detalhe.