segunda-feira, julho 08, 2013

Supertécnicos valem a pena?


Pego emprestado o termo daquele programa que o Milton Neves apresentava na Bandeirantes. Porque hoje vivemos a era dos supertécnicos no futebol brasileiro. Um clube seleto, diria que quase fechado, formado por nomes como Luxemburgo, Muricy, Felipão, Abel. Com um subgrupo que se aproxima dessa turma, gente como Tite, Mano Menezes, Dorival Júnior.

São treinadores caríssimos, com vencimentos astronômicos, que em muitos casos são multiplicados pelas exigências de comissão técnica e reforços que fazem aos clubes que os contratam, protegidos por multas milionárias que tornam o clube escravo do funcionário.

Talvez eu esteja equivocado ao colocar Tite e Mano na antessala desse grupo. Porque eles já podem estar frequentando a reunião principal. Ou estejam a ponto de. O caso de Tite é diferente porque ele se manteve no Corinthians, o que dificulta uma situação de inflação no mercado. Ele prefere manter um projeto e uma estabilidade. Mano foi demitido da seleção e optou por um período sabático, o que também contribui para uma relativa desvalorização no recomeço.

Então os tais supertécnicos da manchete seriam aqueles que puxam essa fila. Felipão, Muricy, Luxemburgo e Abelão.

Todos comprovadamente capazes. Todos caros, muito caros, graças aos currículos que construíram.

Mas como tudo na vida, há um preço, com o perdão do trocadilho.

Os supertécnicos estão condenados a serem campeões. Pelo preço que cobram, não adianta entregar bons trabalhos, vices ou classificações para a Libertadores. Um treinador com esse patamar de custo só se paga com título nacional ou internacional. O limite é cada vez menor, e o peso do fracasso ganha proporções muitas vezes injustas.

Pouco me importa quanto cada um ganha, não gosto de falar de valores. Levo a questão para o macro. Ao contratar treinadores que custam meio time, um clube deixa pouca margem para erros. Transfere para o treinador parte de sua responsabilidade como gestor de futebol. E ninguém faz milagre. Se fizesse, um supertécnico pegaria um time com orçamento mediano, sem apelo de massa, e levaria a uma conquista. Quantas vezes isso acontece? Raríssimas.

O que ocorreu no Brasil foi uma bolha de valorização dos treinadores. Hoje eles são mais ouvidos e mostrados que os próprios jogadores. Acaba o jogo, tem a sagrada entrevista do treinador, com bonézinho e cartaz ao fundo. Muitas vezes o cara que fez três gols e definiu a partida não fala, mas o professor é certeza. Eles são pequenas empresas com orçamento de médias. Têm agentes, assessores, procuradores, agendas concorridíssimas.

Repito: não vejo nexo em se propor um orçamento de time de futebol no qual o treinador custe o mesmo que meio elenco. Porque o retorno só virá em forma de conquista ou na venda milionária de um jogador que ele próprio tenha revelado, o que é cada vez mais raro de acontecer.

E reforço: por ficarem tão caros para o mercado, os supertécnicos correm o risco de amargar algum período de ostracismo, porque a crise está aí, o futebol encareceu sobremaneira.

O que justifica ainda o fato de os clubes aceitarem as propostas muitas vezes surreais dos treinadores é o amadorismo dos dirigentes, potencializado por situações de desespero.

Um comentário:

Luciano disse...

perfeita a argumentação. o mesmo vale para os "superjogadores". Certo Norasca!