Banalizaram a Seleção
Não quero parecer nostálgico, mas é certo que serei.
Quando eu comecei a me interessar pelo futebol, a seleção brasileira era algo sagrado, raro de se ver. Jogo da seleção era assunto para dias, semanas. A convocação era transmitida ao vivo pelo rádio e pela TV, gerava páginas e páginas de debates em jornais.
A gloriosa camisa canarinho não jogava em qualquer parte. O palco principal, como deveria ser, era o Maracanã, essa catedral ecumênica do futebol. De vem em quando tinha um jogo no Morumbi, no Mineirão, houve um tempo em que se jogava muito no Serra Dourada, com seus cortes de grama extravagantes.
Vão dizer que o mundo mudou, e mudou mesmo. Mas mesmo com todas as modernidades, a complexidade das datas Fifa e afins, o que se viu em Resistência, Norte da Argentina, foi a prova cabal da banalização da seleção brasileira. E a Argentina pegou carona nisso. As seleções mais tradicionais das Américas, duas das maiores camisas do mundo, emprestaram seu prestígio para um curral eleitoral de dona Cristina Kirchner e don Julio Grondona. Como a seleção brasileira tem feito costumeiramente, pagando pedágio para interesses políticos quando joga no Brasil.
O vexame foi completo. Um estádio de quinta categoria, para seleções que, se não são as principais, carregam as cores de duas nações que são pilares do jogo de bola. Cenas de pastelão transmitidas ao vivo, certamente estão correndo o mundo hoje.
Foi o ponto máximo do processo de banalização da seleção brasileira, que virou produto comercial. Faz amistosos sem importância, como contra África do Sul e China, gira o mundo atendendo a um calendário bolado por quem comprou dos direitos de explorar aquela que já foi a mais valiosa marca do esporte bretão.
Até achei bacana a ideia de reinventarem a velha Copa Roca, agora sob esse nome pomposo de Superclássico das Américas. Estive em Córdoba ano passado, para um dos jogos. A ideia é válida, mas a execução, Meu Deus! - como diria Milton Leite.
O bom de tudo isso é que talvez seja difícil descer ainda mais o nível. A seleção bateu no fundo do poço como instituição ao aceitar fazer parte disso tudo. Espero que de agora em diante ela se dê ao respeito.
3 comentários:
Poxa Noriega, desta vez acho que você não foi bem em seus comentários. Excesso de saudosismo gerou, nesse caso, uma "cegueira momentânea". O que se vê hoje em dia é um uso da seleção brasileira em menor proporção política do que foi por muitos e muitos anos no período da ditadura militar (e pode colocar alguns campeonatos organizados pela CBF nisso também). Figura de jogadores como Pelé e outros era exaustivamente usada em prol da defesa da "nação" no sentido militar da palavra.
E não vejo com bons olhos que há alguns anos restringia-se os jogos da seleção a 3 ou 4 estádios. Pode parecer algo bom, mas para quem mora em regiões afastadas desses locais, era uma grande decepção nunca ver a seleção. Concordo que é "errado" jogar em terreno estrangeiro, mas não acho que deveríamos monopolizar a realização de jogos apenas ao eixo Sul-Sudeste e Centro-Oeste, no caso do Serra Dourada. Basta ver a execução do hino no estádio do Morumbi em São Paulo, no Mangueirão em Belém e no Arruda em Recife.
Há muita coisa errada, mas acho que você criticou um ponto que ocorreu por muitos e muitos anos, inclusive desde que a seleção era elogiada e idolatrada : O envolvimento político com o futebol.
Seu último parágrafo resume o que penso. Não importa onde joga, mas por que joga.
Abs
No dia do amistoso com o Iraque, o pessoal da pelada lá da firma perguntavam, se eles juntassem uma grana conseguiriam marcar um amistoso com a seleção?
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