terça-feira, junho 02, 2009

Qual será a cara
da Copa de 2014?


Eu gosto da idéia da Copa do Mundo de 2014 no Brasil. Também quero gostar do que será essa Copa. Porque minha dúvida é: o Brasil fará um Mundial com a sua cara, do seu tamanho, dentro da sua possibilidade, ou fará, com o perdão do trocadilho, uma Copa para inglês ver?

Se for a primeira opção, aposto num Mundial alegre, interessante, uma festa de congraçamento, que vá mostrar ao mundo um País pujante, mas ciente da sua condição ainda de nação pobre, em desenvolvimento, que luta para superar um passado e um presente de injustiças e mazelas sociais. Seria, esse Mundial, um torneio com estádios confortáveis, mas longe de serem nababescos, ou de obras com grande impacto visual e custo inestimável, mas de pouca utilidade prática pós-Copa? Caso do subaproveitado Engenhão, por exemplo.

Se der a segunda opção, o que eu temo que dê, tendo em vista a qualidade da maioria dos nossos dirigentes, será uma Copa de ostentação, fausto, gastos astronômicos, que deixará como legado monumentos ao desperdício, estádios faraônicos em locais sem times de futebol ativos, obras superfaturadas e inacabadas - ou mal feitas.

Mas há, evidentemente, aspectos positivos. Tenho ido muito a Belo Horizonte, e vejo intervenções importantes na cidade que foram feitas recentemente e, certamente, ganharão fôlego com a Copa. Esse deve ser o legado de um Mundial. A melhora do transporte público, da infra-estrutura de telecomunicações, da rede hoteleira, dos aeroportos, da segurança.

Um aspecto importante destacado em recente reportagem dos grandes jornais: falta capacidade no sistema atual de telefonia celular para suportar o aumento de demanda que virá com a Copa. Milhões de estrangeiros utilizando seus aparelhos em roaming internacional. Atualmente, se isso ocorrer, a rede entra em colapso. Devem acontecer investimentos na melhoria dessa rede, no aumento da concorrência, reduzindo tarifas e aumentando as possibilidades para os usuários brasileiros. Vale o mesmo para a Internet, a telefonia fixa.

Falta ainda um projeto de revitalização da malha ferroviária. Há alguns meses ouvi um especialista falar sobre um cenário previsto por ele. Imaginemos que a Alemanha vença um grupo em Salvador e a Inglaterra vença outro em Recife. E que uma suposta partida de quartas-de-final entre os dois seja na Bahia. Como transportar em dois dias milhares de ingleses de Recife a Salvador? Por estradas péssimas, aeroportos pequenos e malha aérea restrita? Um bom trem entre as capitais nordestinas resolveria isso, embora não tenha visto nada parecido em projeto.

O aumento da competição entre as companhias aéreas será bem recebido, com impacto nas tarifas, no conforto e no serviço em geral.

As péssimas estradas federais brasileiras podem ganhar fôlego com a chegada da Copa. As verbas podem ser destinadas para os locais certos e na hora precisa.

Rio e São Paulo podem ter aliviado seus caos urbanos com obras de grande impacto e necessidade. Metrô, novas estradas e avenidas, saneamento básico, segurança.

Cabe a nós fiscalizar. A Copa é um evento infinitamente maior que os Jogos Pan-Americanos. O legado nefasto do Pan perde muito do impacto pela falta de interesse da maioria da população. Com o futebol é diferente. Mexe com muito mais gente. Cabe a nós, cidadão, cobrar, fiscalizar e aproveitar essa oportunidade para que sejam feitos investimentos e obras necessários, usando a Copa como trampolim.

A renovação dos estádios também é interessante, mas passa por outro processo. Há cidades que serão beneficiadas. Belo Horizonte tem Cruzeiro e Atlético usando o Mineirão. Em Porto Alegre o Beira-Rio faz parte do cotidiano dos colorados. O mesmo vale para o Morumbi em São Paulo e o Maracanã, no Rio. O problema é a perspectiva de surgirem novos Engenhões e arenas como as construídas a peso de ouro para o Pan e que estã abandonadas, sem utilidade.

De novo, cabe a nós, como mídia, e a todos, como cidadãos brasileiros, cobrar, exigir e fiscalizar. A Copa pode ser uma oportunidade para tirarmos dos Governos e dos políticos uma parcela ínfima, mas fundamental, de tudo que eles nos tiram há anos.

3 comentários:

Ronaldo Luiz disse...

Nori, o maior problema que eu vejo é que obras de infra-estrutura são demoradas e correm sério riscoi de não ficarem prontas. Nesse caso, passaríamos muita vergonha, como no caso da ligação rodoviária entre Recife e Salvador, que você citou.
Ronaldo Luiz - São Paulo - ronajsch@hotmail.com

Fabio Camargo disse...

Sobre a questão ferroviária eu estou contigo. Aliás, a atual situação dela [da questão ferroviária] foi o tema do meu TCC, apresentado agora em Dez/2008 [e que eu tirei 10! =D], e ando muito interessado por este assunto - e crente que o Brasil volte a ter as linhas de trem como um poderoso alicerce econômico.

Outro ponto interessante é a da construção e/ou a reforma de estádios desnecessários, como o Mané Garrincha. Não que ele não mereça ser reformado. Mas acho que a escolha de Brasília para sediar jogos na Copa não passa [logicamente] de uma jogada política. Afinal, quem vai utilizar esse estádio, depois disso? Há quórum suficiente para lotar esse estádio semanalmente? Eu achava muito mais pertinente ter escolhido Goiânia e colocado o Serra Dourada como sede, já que tem Goiás e Vila Nova ali, sempre lotando o estádio.

Mas bah, já falei demais. Este assunto dá pano prá manga da SPFW inteira, rs..

Parabéns pelo texto e um grande abraço, Nori. AH, E MEUS PARABÉNS pelo livro. Ainda quero um autógrafo seu na minha cópia! =]

Renato disse...

Acredito que o Fábio tem razão, tenho a preocupação de grandes obras ficarem apodrecendo depois da copa, nada contra essas cidades, mas por que mandar jogos em Manaus e Cuiabá por exemplo, serão erguidos grandes estádios para depois da Copa não serem tão utilizados, talvez para amistosos da seleção brasileira.
Acredito que 10 sedes como a Fifa queria anteriormente já seria suficiente.