O JOGO
Você não viu Japão 3 x 2 China pelas semifinais de voleibol feminino da Olimpíada de Londres? Não sabe o que perdeu. Peça a alguém que gravou para copiar em DVD, estoure pipoca, grude na cadeira, porque você assistirá algo histórico e inesquecível.
Vi cada segundo de uma partida que merece ser chamada de épica em todos os sentidos. Alguém precisa ganhar, mas todas as jogadoras e as duas comissões técnicas foram vencedoras. Todos deixaram em quadra tudo e algo mais. Anos de treinamento, estudo, práticas, experiências, tudo foi colocado à prova na partida mais espetacular dos Jogos de Londres.
Admito que torci pelo Japão. Mas uma eventual vitória chinesa não me deixaria triste. Mas por que torcer pelo Japão? Talvez pela quase imediata simpatia pelo teoricamente mais fraco, no sentido literal da expressão. A levantadora japonesa Takeshita tem 1m59. Muitos poderiam achar impossível jogar qualquer coisa em alto nível nesses tempos de atletas cada vez mais altos e fortes. Mas Takeshita não só joga como é craque de bola. As atacantes Ebata e Saori também jogam muito. Cada uma delas fez inacreditáveis 33 pontos. A líbero Sano é uma aula da posição.
O time chinês também tem um punhado de craques. As atacantes Hui e Wang, incríveis, e a excelente levantadora Wei, outra craque na arte de fintar bloqueios. Assim como a versátil líbero Zhang, também uma ótima levantadora nas emergências.
O voleibol asiático, em especial o japonês, é um sobrevivente, um viajante no tempo. A base é o fundamento perfeito, a execução precisa de todos os movimentos, uma autêntica arte. É o estilo da resistência, um jeito muito mais técnico de jogar quando a força se impõe pelas quadras do mundo. A China alia esse apreço pelo fundamento com uma boa dose de força.
Fazia 24 anos que o voleibol das mulheres japonesas não alcançava uma semifinal dessa importância. Feito histórico, marcado com uma partida para os anais.
Foi tanta imersão no jogo que me fez viajar no tempo em que eu fui um modesto atleta, modestíssimo atacante de ponta no voleibol.
Os leitores desse espaço que me perdoem o devaneio saudosita, mas os amigos daquele tempo, de grandes jornadas, Piti, Maurão, Capi, certamente recordarão um Paulistano 3 x 1 Fonte São Paulo em algum dia de outubro ou novembro de 1981, no ginásio do Guarani, em Campinas.
Naquele dia saímos vencedores, mas o melhor foi ter feito um jogo, para aquele nível de atletas que éramos, também inesquecível, com um set de 21 a 19 e dois 16/14, no tempo da vantagem, sem líbero, não podia tocar na rede de jeito algum. São momentos que marcam a vida de atletas comuns, medianos. Exceto o Piti, que foi craque de bola e chegou à seleção brasileira infanto.
Imagino o que devam estar sentindo as atletas que nos ofereceram esse espetáculo que foi Japão e China. Mesmo na derrota, tenho certeza que as chinesas, em alguns anos, recordarão esse dia como aquele em que honraram o esporte e a modalidade que escolheram, honraram suas adversárias. E fizeram o grande jogo da Olimpíada de 2012. Até agora.
2 comentários:
Nori, vi o jogo a partir do 4º set, mas como bem destacado por ti, realmente não consegui tirar os olhos da TV. Aproveito para dizer que o jogo BRA x RUS também está demais (rallies aos montes). O nível do voleibol feminino está sensacional! Grande abraço!
Nori, vi o jogo a partir do 4º set, mas como bem destacado por ti, realmente não consegui tirar os olhos da TV. Aproveito para dizer que o jogo BRA x RUS também está demais (rallies aos montes). O nível do voleibol feminino está sensacional! Grande abraço!
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