Luxa, Inter, Palmeiras,
Ganso e outros "causos"
O futebol brasileiro pode andar em baixa dentro de campo, com qualidade técnica duvidosa, mas ainda produz personagens e situações em ritmo industrial.
O Brasileirão enfileira uma série de "causos" que ajudam a avaliar o que representa o futebol para as pessoas, e também as pessoas que representam o futebol.
É uma reviravolta atrás de outra. Uns sobem, outros afundam. Como ensinam os mestres Milton Nascimento e Fernando Brandt, são só dois lados da mesma viagem.
Começo essa incursão pelo mundo da nossa bola por Wanderley Luxemburgo. Injustamente taxado de ultrapassado por muitos analistas, ele está aí, conduzindo o Grêmio a uma bela campanha, candidato legítimo ao título nacional. Polêmico por natureza, o Luxa muitas vezes é avaliado mais pelo que fala do que pelo que treina. O que é injusto pra caramba.
Seus times muitas vezes são classificados sob a ótica de uma suposta sofisticação. Nada mais equivocado, na minha opinião. Como treinador, Luxemburgo sempre foi direto e objetivo, apostando na simplicidade lógica do jogo. É isso que vai implantando no Grêmio, sem mistérios. Dois volantes que dão ritmo ao time, marcam e também jogam. Dois meias (no caso da necessidade atual são dois volantes que foram transformados em meias porque o mercado não produz mais os armadores de outrora) ou um meia e um terceiro homem de meio-campo com mobilidade e aproximação. No ataque, jogadores que sabem atuar dentro e fora da área, sem o tradicional poste, ou referência. Basta puxar pela memória futebolística todos os bons e os grandes times que Luxemburgo dirigiu e a fórmula é basicamente esta.
Do lado interno da fronteira de rivalidade gaúcha, ali pertinho do Olímpico em seus últimos dias, a crise ronda o Beira-Rio. O Inter, sempre citado como favorito por nove entre dez analistas (eu entre eles) continua com uma sequência impressionante de decepções. O Colorado parece a noiva que desiste do casamento na hora da cerimônia. Promete, promete e não cumpre.
Parece fácil querer buscar uma solução, encontrar a chave do problema. O elenco é bom, mas, como qualquer outro, tem suas falhas. Em alguns casos, talvez a direção do Inter tenha algum constrangimento e misture gratidão com avaliação. Há jogadores como Índio, Guiñazu, Nei e Bolívar que já não rendem tanto como renderam em outros tempos, mas cujo passado serve como desculpa para suas manutenções. Assim como me parece uma tentativa algo sem fundamento a de inventar Fernandão como treinador. Ídolo é ídolo, técnico é técnico. De ídolo a burro, num futebol apaixonado e irracional como o nosso, não passa um mês, se for o caso de uma sequência de derrotas. Cruel, porém verdadeiro.
Que psicanalista, com sangue boleiro ou não, explicaria o Palmeiras? Dizia-se que a falta de títulos era o problema do clube, que fazia pressão. Veio um título que era pouco provável, de forma invicta, e o que vemos? Um time acuado, pressionado, apavorado com uma ameaça que perigosamente se transforma em tendência: rebaixamento.
A tônica dos times que enfrentam o Palmeiras é a mesma: esperam um erro do adversário, que os comete em profusão. A Lusa, que tem um time mais técnico, fez isso com muita frieza e inteligência.
A Copa do Brasil não desopilou o Palmeiras. Claro que houve uma sequência inacreditável de contusões, e alguns erros incríveis de arbitragem, mas isso é passado. Não serve como justificativa. Para sair da enrascada em que se meteu, o Palmeiras precisa parar de errar e selecionar cuidadosamente quem mandará a campo. Alguns jogadores claramente demonstram pouca personalidade em situações críticas, se escondem do jogo. Outros, como o Inter, prometem muito e entregam pouco. Caso de Valdívia. Para alcançar o patamar de 11 vitórias, que foi o número de triunfos dos times que terminaram em décimo-sexto lugar de 2009 a 2011, o Palmeiras precisará de muito mais ousadia do que mostrou em dois anos e alguns meses de gestão Scolari.
Por fim, o caso Ganso parece o mais triste de todos. Porque envolve especificamente um atleta, um ser humano. Ganso é um potencial incrível como jogador. Eu mesmo o chamo de Elo Perdido entre o que era e o que é o futebol brasileiro. Mas sua cabeça anda sendo bombardeada por muita gente que pouco se interessa com seu desempenho futebolístico e vê apenas o lado financeiro.
Acho que o rapaz tem jogado mal, mas não acredito que faça corpo mole. Não foge de perguntas, não foge do jogo, mas certamente não está concentrado nele.
É lamentável que seja chamado de mercenário e atirem moedas sobre ele. Principalmente partindo de alguns torcedores cuja relação com a direção do clube é condenável em termos de etica. Não me refiro apenas do Santos, mas de todos os clubes.
Ponto para Muricy, que saiu em defesa do atleta, deu a cara para bater e mostrou que nessas horas não foge da raia.
Há outros "causos" interessantes a serem destacados.
Como o Bahia, que parece um estrangeiro em Salvador, mas joga como local fora de casa. Por que será? Talvez seja a limitação técnica, que em Pituaçu fica evidente quando o torcedor e os jogadores acham que o Bahia pode partir para cima de qualquer adversário com se fosse o esquadrão histórico de 1959. Quando deixa a Boa Terra, o time não precisa assumir essa postura, joga de forma compacta e inteligente, e se beneficia do contra-ataque de forma fatal.
Contra-ataque que anda fazendo falta ao Corinthians, que marca muito, se fecha bem, mas tem dificuldades para contragolpear. Diante do Flu, fez um gol e parecia que estava defendendo a última trincheira. Sheik destoa da postura às vezes excessivamente calma da equipe. Ele dá a eletricidade que falta ao Corinthians em muitos jogos. Mas sozinho tem pouca carga para eletrizar um time inteiro.
O Flu tem algo que está na alma de seu treinador. Tal como Abelão, é um time que encara o jogo de peito aberto. Não tira o pé, não desiste, quando preciso entra chutando a porta e, como fazia o treinador, as canelas adversárias. Apresenta-se, com o Grêmio, como principal adversário do Galo mineiro na disputa pela taça. Galo que oscilará como todos oscilaram, porque o campeonato é assim mesmo, parelho.
Para complicar, vem aí a seleção brasileira, que em algumas situações mais atrapalha do que ajuda, não é mesmo?
Um comentário:
Parabéns pelos seus comentários. Inteligentes e ponderados.
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