segunda-feira, abril 06, 2015

Estaduais não são o problema. As federações é que são


A gritaria justificada contra os campeonatos estaduais me parece apenas com um problema de pontaria. A mira está nos campeonatos, quando deveria ser direcionada às federações.

Os campeonatos podem ser salvos, mas as federações não têm mais qualquer utilidade para o futebol, Servem apenas a elas próprias e a seus dirigentes.

A discussão sobre o calendário é saudável e bem vinda.

No entanto, sou contra decretar o fim dos estaduais.

Vejo uma tentativa de se encaixar uma realidade de país europeu no Brasil.

Inviável.

Ninguém é maluco de achar que atualmente os estaduais sejam torneios cobiçadíssimos.

Mas vejo como devaneio algumas propostas de limá-los do calendário e, por exemplo, liberar os clubes para excursões pelo exterior.

Os clubes brasileiros não competem pelo mesmo mercado que os grandes europeus e provavelmente jamais competirão.

Nosso futebol de clubes não é atraente e nem sequer conhecido em escala global.

Nossa praia, por enquanto, é tentar melhorar por aqui mesmo, tornar os clubes e campeonatos mais rentáveis e organizados.

Aplaudo a maioria das iniciativas do Bom Senso, mas faço essa ressalva com relação ao calendário. Claramente, e já disse isso para um executivo do Bom Senso, existe uma inspiração nos calendários de grandes nações futebolísticas europeias, notadamente a inglesa. Quem jogou lá provou dos melhores cardápios. Mas não se apresenta um menu feito ao gosto britânico para o consumidor brasileiros sem adaptações.

Vejo os estaduais como uma oportunidade jogada fora pela ganância e o amadorismo das federações. Eles deveriam ser os recepcionistas da nova temporada. Após as férias, o retorno ao futebol progressivamente, dando ritmo aos jogadores, apresentando as novas contratações, testando regras e formatos, fidelizando torcedores. Em tempo curto, permitindo, aí, sim, torneios de verão ou sendo eles próprios esses torneios.

Para que isso ocorra é preciso que os clubes entendam que são eles os donos do negócio e que os mais ricos precisam reservar uma parcela de seus ganhos para os mais pobres.

Não vejo saída a não ser que um percentual do que os gigantes recebem seja destinada aos clubes pequenos e médios para que eles sobrevivam e voltem a ser os fornecedores de matéria prima, interrompendo a maléfica atuação dos empresários mal intencionados.

Em alguns casos os torneios estaduais se justificam, em especial nos estados mais ricos. Em outros, competições regionais, com etapas classificatórias, parecem mais racionais. Taí o bom exemplo da Copa do Nordeste.

Assim como os anacrônicos Tribunais de Justiça Desportiva, as federações estaduais de futebol ficaram sem propósito. O que acontece no Rio de Janeiro só não ganha eco em São Paulo, por exemplo, porque a federação paulista paga uma bela grana aos clubes grandes para que joguem seu torneio.

Mas excetuando-se as torcidas de Corinthians e Palmeiras, o torneio paulista mostrou total desinteresse dos torcedores. E, convenhamos, corintianos e palmeirenses estão animados por razões que escapam à qualidade do estadual. O alvinegro está voando na Libertadores e seu programa de sócio-torcedor tem uma bem sacada cláusula de fidelização que torna a ida aos jogos quase obrigatória. O alviverde curte seu belíssimo novo estádio e vê a formatação de um time promissor após uma temporada de filme de terror.

Mas os clubes também merecem um puxão de orelhas: assinam regulamentos que parecem não ter lido e depois reclamam. Falta a eles coragem para se posicionar, de forma uniforme. Até porque sempre existem aqueles que adoram roer a corda e pensam micro, prejudicando o macro.

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