domingo, março 15, 2015

Os perigos do 4-2-3-1 à brasileira

Não sou um comentarista prancheteiro. Gosto de tática, mas acho que ver o futebol só pela tática é uma visão míope.

Mas falarei um pouco de tática.

Inspirados (ou seria tentados?) pelo que costumam ver na Europa - mais precisamente na Inglaterra), muitos dos treinadores que atuam no Brasil transformaram-se em adeptos do 4-2-3-1, o tal esquema da moda.

Que em alguns casos ganha uma versão numericamente distinta, o 4-1-4-1.

Antes permito-me diferenciar esquema tático de sistema de jogo. Sistema de jogo é o que o treinador escolher, a dança dos números. Sistema tático é como o time se distribui em campo e se movimenta.

Quem avança, quem cobre, quem arma, quem desarma.

Muitas vezes o treinador "vende" o 4-2-3-1, mas leva a campo, por exemplo, um time com 4 jogadores de defesa, 4 jogadores de meio-campo e 2 atacantes.

O problema do 4-2-3-1 à brasileira é ter jogadores que possam fazer as funções que esse sistema pede. Principalmente o tal do 1. No Corinthians funciona porque Guerrero sabe fazer esse 1. Ele sabe jogar de costas para a zaga, sabe esperar a aproximação dos e que chegam do meio e sabe quando é a hora de ir para a área finalizar.

Depende mais do jogador do que do treinador, penso eu.

Não adianta tentar o 4-2-3-1 se o 1 mata de canela, não consegue virar uma jogada e fica isolado dos outros números da prancheta o tempo todo.

O esquema tático e o sistema de jogo de um time devem sempre ser adotados em função dos jogadores, não da ideia do treinador. O bom treinador é aquele que percebe quando sua ideia não dá certo porque não há jogadores capazes de executá-la. O grande treinador é aquele que consegue encontrar um esquema tático que tire o máximo da capacidade individual de seus jogadores.

Para jogar nesse 4-2-3-1 dos sonhos - ou da moda - além desse 1 qualificado, é preciso ter atacantes de lado de campo que possam voltar para marcar ou atuar como meias, ou meias que tenham velocidade suficiente para se deslocar e atuar eventualmente como atacantes pelo lado de campo.

Pelo que tenho visto pelo mundo, em times estrelados como Real Madrid, Bayern e Barcelona, há alternativas.

O Real tem esse modelo que pode ser definido como 4-2-3-1, mas tem um fora-de-série pelo lado do campo, Cristiano Ronaldo, e outro extremamente veloz e qualificado: Bale.

O Bayern tem oferecido a Lewandowski uma companhia de luxo à frente, o Thomas Muller. O Barça tem, em minha visão, uma linha de 3 atacantes.

Enfim, é papo para prancheteiros.

Só acho que muitos treinadores podem estar colocando a prancheta na frente dos bois no Brasil.

Aconteceu algo parecido após a vitória da seleção brasileira na Copa de 2002. O sucesso da linha de três defensiva de Felipão inspirou imitações de quinta categoria.


2 comentários:

Luan Candido disse...

Ótimas observações de pranchetas práticas!

Thiago Batista disse...

Ótimo texto Nori sobre táticas. Muito mais que números, o importante é como o time se comporta em campo (joga compactado, com seus atletas/ou linhas atuando um próximo do outro tanto no ataque como na defesa), se existe variação tática para determinados momentos do jogo e muito mais. Belo exemplo é o Real Madrid do ano passado. O time no papel jogava no chamado 4-2-3-1, mas muitas vezes o time atuava no puro 4-4-2, que tanto consagrou o nosso futebol brasileiro, como Xabi e Modric atuando como volantes (e ambos tem ótimo passe), Bale e Di Maria como meias (Bale na direita e Di Maria na esquerda, muito das vezes fechando na esquerda e ajudando na saída de bola) com Cristiano Ronaldo posicionado como 2º atacante como liberdade de movimentação e Benzema como centroavante. Falta um pouco isso aos nosso técnicos, saber explorar o melhor dos nossos times e não tem tentar implantar um esquema tático as equipes.