Quando um frango
não engole o homem
O futebol é cruel como a própria vida. Por isso é tão popular e apaixonante.
Bruno, goleiro do Palmeiras, papou um frango histórico, de almanaque, na eliminação de sua equipe da Libertadores.
Mas o frango não engoliu o homem.
Ao assumir publicamente o erro, ainda no intervalo, e posteriormente ao dar a cara para bater após o jogo, sem fugir de perguntas e questionamentos, alguns até descabidos, Bruno mostrou que tem caráter, hombridade e personalidade.
Nos tempos do velho estádio Palestra Itália, hoje em transformação radical, existia uma passagem secreta para jogadores e dirigentes fugirem da mídia e do torcedor em dias de vexame. Muitos medalhões e dirigentes pegaram esse túnel da vergonha. Bruno preferiu abrir suas feridas publicamente, sem procurar desculpas como iluminação, gramado, bola etc.
Como goleiro acho Bruno de razoável para bom. Erra mais do que acerta. Tecnicamente, tem alguns defeitos que saltam aos olhos. Embora seja muito alto, é inseguro para sair do gol e sai mal. Não consegue aproveitar a ótima envergadura porque sua impulsão lateral é ruim.
Mas é preciso ser justo.
O Palmeiras só chegou vivo ao jogo de ontem contra o Tijuana porque Bruno fechou o gol no México. Mais ainda: se o Verdão jogou a Libertadores de 2013 foi porque nas finais ante o Coritiba, Bruno teve destacada atuação. No jogo de Barueri, suportou um massacre imposto pelo Coxa na primeira etapa, quando o Palmeiras escapou de uma goleada definitiva. Depois garantiu em Curitiba.
Isso tudo não anula sua falha. Que foi cometida pouco tempo depois de outra partida desastrosa, coincidentemente contra um adversário com as mesmas cores do Tijuana, o Ituano. Na transmissão do SporTV, disse, em tom de brincadeira, que Bruno merecia uma estátua em Itu porque foi o responsável direto pela permanência da equipe na Série A-1 paulista.
Contra o Tijuana, Bruno abriu o caminho para a vitória mexicana, sem dúvida. Sua falha apagou o fogo mágico da torcida palmeirense, que é a única integrante do universo alviverde que atualmente merece o rótulo de primeira divisão.
Sejamos realistas: a Libertadores de 2013 foi um sonho de uma noite de verão para os palmeirenses. Um último suspiro na vida de elite, antes de encarar a dura rotina da Série B. É como curtir o último final de semana das férias e gastar os tubos mesmo sabendo que se está endividado até o pescoço. A segunda-feira (sem trocadilhos) é o choque de realidade.
Bruno falhou feio, é verdade, mas o que fez o Palmeiras no jogo? Kléber, um centroavante assustadoramente limitado, não matou uma bola. Fez um gol mal anulado, é verdade, mas será esse o camisa 9 que uma instituição como o eterno Palestra merece?
A verdade que dói nos palmeirenses é que o elenco atual é formado basicamente por um tipo de jogador: aquele que não acontece nada.
Valdívia sequer joga para ser avaliado. Wesley é de uma nulidade irritante. Márcio Araújo corre, corre e sempre chega atrasado. Vinícius e Maikon Leite esbanjam velocidade mas não conseguem acertar chutes e cruzamentos. O futebol de Souza certamente não vale o que pede seu empresário. Tiago Real não consegue executar um pensamento. Juninho, Marcelo Oliveira, Ayrton, todos correm, se esforçam, são profissionais corretos, mas em 90% de suas atuações é aquilo: não acontece nada.
Numa análise fria, tecnicamente, o elenco atual tem raros jogadores com capacidade. Henrique, Léo Gago, Leandro, Vilson, Charles e o eterno ausente Valdívia. Numa peneira mais rigorosa, talvez somente Henrique seja um jogador que tivesse espaço assegurado numa boa equipe de Série A.
A prova cabal disso veio no jogo contra o Tijuana. Quando o Palmeiras precisava de um mínimo de técnica e inteligência, entrou com doses extras de vontade e a chamada pilha. Caiu no jogo que interessava ao time mexicano. Tanto que em momento algum do jogo o Verdão se impôs e seguiu o diapasão proposto por sua fanática torcida.
Muito da pilha vinha do banco. Visivelmente nervoso, Gilson Kleina não transmitiu segurança aos jogadores. É jovem, tem capacidade, mas ainda não desencarnou do papel de técnico de time pequeno. Qualquer coletiva de Kleina começa com a inevitável reclamação de arbitragem. Ontem falou do escandaloso pênalti sofrido por Welsey em Tijuana, mas passou batido pelo pênalti inexistente dado a favor do Palmeiras no Pacaembu. Não era dia, nem momento para buscar refúgio na arbitragem.
Taticamente, Kleina sabe das limitações de seu time, mas parece ainda não ter compreendido que time grande, de camisa, de massa, muitas vezes passa por cima dessas limitações quando se tem uma certa dose de coragem.
Coragem que não faltou a Bruno para expor sua falha, classificada de grotesca por ele próprio.
Ao despertar do sonho da Libertadores e acordar na realidade dura e de cimento frio da Série B, o Palmeiras e sua nova direção têm uma rara chance de avaliar o momento e pensar na reconstrução de forma séria. Ao ganhar uma Copa do Brasil improvável em 2012, o Palmeiras acreditou que tinha um time melhor do que os fatos mostravam. Alguns jogadores pensaram assim.
Embora a situação financeira seja caótica e o peso de décadas de administração amadora e política canibal esteja cobrando seu preço, a força da marca e do patrimônio formados pela história e pela torcida gigantes impõe um desafio maior: dotar a camisa de jogadores com, pelo menos, perspectiva de qualidade melhor. O grupo atual tem condições de passar pela provação da Série B, mas não sem turbulências.
É preciso ser realista, duro e tomar medidas impopulares. Reavaliar contratações como Valdívia, Maikon Leite, Welsey e Kléber, que foram caras e são pouco produtivas. Zerar dívidas com os atletas é primordial para poder dispensá-los, negociá-los, envolvê-los em trocas.
O primeiro passo para isso é ter a hombridade de Bruno, mesmo que falte qualidade.
3 comentários:
Boa Tarde, onde está o Maurício Noriega na relação completa do time campeão na página do SportTV ?
Obrigado,
Paulo Cesar
Boa Tarde, onde está o Maurício Noriega na relação completa do time campeão na página do SportTV ?
Obrigado,
Paulo Cesar
Paulo César, acho que não estou nessa escalação. Abs.
Postar um comentário