sexta-feira, setembro 21, 2012



Oscar, Ganso e


futebol-negócio



Terminada a novela Ganso, chega a hora de tentar avaliar, cada um a seu modo, o que se aprende, ou se depreende disso tudo. Assim como é preciso trazer à tona outra novela recente, que tem um protagonista comum, o São Paulo Futebol Clube, a de outro meia talentoso, Oscar, agora do Chelsea.

O futebol está inserido no contexto do mundo atual, não é uma atividade que tenha regras próprias, isoladas e sobrevive como se ainda estivéssemos nos românticos anos 50. A palavra que dita os rumos do esporte hoje é negócio. Como uma das atividades que mais movimentam dinheiro na indústria do entretenimento, o futebol virou alvo de investidores de todo tipo. Milionários russos, ucranianos, árabes, empresários, ex-jogadores endinheirados etc.

Claro que o Brasil não poderia viver à margem disso. Acontece que por aqui, como as regras sempre são confusas quando se trata de negócios, e porque o futebol é formado em sua maioria por instituições pretensamente amadoras, ou sem fins econômicos, vira uma bagunça a mais.

Bagunça? Sim. Primeiro porque há ma confusão de interesses tremenda. Como são entidades sem fins econômicos, os clubes de futebol do Brasil, ou a maioria deles, não podem dar lucro porque não têm acionistas, proprietários ou investidores. Tudo que entra deve ser reinvestido o próprio clube. Endividados na maior parte do tempo, com seu poder de compra reduzido face à volúpia do mercado europeu, nos anos 90 e agora no século XXI os clubes brasileiros foram introduzidos meio que à força nessa nova ordem de negócios. Precisavam de dinheiro para contratar e, como não tinham, foram buscar "parceiros". Vieram empresas e pessoas sérias, outras nem tanto, houve casos de sucesso e de fracasso.

O velho passe foi dividido em duas novas modalidades, os direitos federativos e os direitos econômicos. Direito federativo é um nome pomposo para a boa e velha carteirinha do jogador, o registro dele como atleta pertencente a um clube. Os direitos econômicos é que se transformaram no x da questão. O jogador virou uma commodity, um investimento, que pode ser fatiado entre diversos investidores. Houve caso de jogador que atuava em um clube e tinha parcela dos direitos econômicos de um companheiro de time.

É preciso entender que o dinheiro não tem time. Geralmente tem pressa. Quem investe num jogador de futebol não vê diferença entre ele e um bocado de ações, um edifício, uma fábrica. Ao colocar seu dinheiro no negócio, o investidor espera retirar mais no futuro. Não é ilegal. Mas talvez não seja o modelo ideal para lidar com um atleta profissional.

Existe um mantra rodando por aí que afirma o seguinte: hoje o atleta joga onde quiser. Eu adaptaria para outra situação: joga onde seus investidores querem que ele jogue.

Como os clubes geralmente desconhecem as regras do mercado do qual são protagonistas, vira e mexe acabam tomando um vareio de empresários e acionistas.

Oscar protagonizou uma novela com o São Paulo e o Internacional. Acusações de toda parte, erros apontados aqui e ali, muitas justificativas. No final, ganharam de verdade o Chelsea, que ficou com um baita jogador, e o empresário ou agente de Oscar, que lucrou em todas as etapas da operação e certamente contabilizou lucros inimagináveis para qualquer outro tipo de operação financeira, em tempo recorde. Porque é isso que pretende um investidor do futebol, como qualquer outro investidor: lucro. Ele não faz filantropia, faz negócio. Em resumo: compra o talento do atleta e lucra com ele. Novamente, não é ilegal, mas pode-se discutir a moralidade disso tudo.

Com Ganso foi o mesmo. O Santos foi buscar um parceiro que não tem camisa, não tem estatuto, não tem passado, nem tradição. Tem um objetivo: lucrar. Como todos os parceiros do futebol. Como tem direito à maior fatia do bolo, o investidor não pensa em identificação, em compromisso, em torcida. Ele quer aproveitar a oportunidade de ganhar mais dinheiro do que investiu, no menor espaço de tempo possível. Principalmente quando aparece uma recessão no retrovisor.

A bola está, de novo, com os clubes. Eles demoraram a entender como funciona a nova engrenagem. Em muitos casos, times de enorme tradição chegaram a ficar praticamente sem jogadores "em estoque" porque não tinham mais direito econômico sobre eles. Foram fazendo parcerias, oferecendo a camisa para estocar atletas de empresários e quando despertaram, não tinham elenco, só as camisas.

Aos poucos isso vai mudando. Timidamente, os clubes de futebol brasileiros perceberam que, embora não possam ter o lucro como fim, é interessante investir nos direitos econômicos dos atletas novamente. Sempre mais espertos, os empresários saíram na frente e montaram times por conta própria, sem precisar recorrer aos intermediários, os times de camisa, que pensam em ganhar campeonatos. Essa é a questão ideológica. De um lado existem instituições que nasceram com viés esportivo, cujo lucro é vencer jogos, ganhar campeonatos e criar ídolos, história e identidade. De outro estão empresas que montaram times cujo objetivo principal é vender jogadores e multiplicar o dinheiro investido.

Os jogadores parecem ter entendido rápido que o lado do dinheiro é mais forte. Porque de bobos não têm nada. Sabem que sem eles não tem negócio. Hoje ganham muito mais do que seus colegas que jogavam há 15, 20 anos. Não concordo com quem os chama de mercenários. Se os clubes fossem mais organizados, inteligentes e não tivessem colocado a raposa no galinheiro, por pura incompetência, não existiria essa situação. O detalhe final dessa história é que no futebol muitas vezes fica difícil saber quem desempenha qual papel. Porque a impressão que fica é que em muitos casos a raposa é quem administra o galinheiro, ou que o dono do galinheiro é sócio da raposa.

Isso posto, é hora de pitaquear sobre Ganso no São Paulo. Se tiver condição física de exercer seu talento, ajudará muito a equipe. Como palpite não precisa de empresário, deixo o meu. Escalaria Ganso como um terceiro homem de meio-campo, jogando um pouco mais recuado, livre da obrigação de marcar, mas não tão próximo da área a ponto de ser obrigado a jogar de costas para a marcação. De frente, tendo o jogo diante dele, com Jádson entre ele e Luís Fabiano, acho que vai render bem.

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