Futebol e cidadania
Como esporte mais popular do Brasil (e do mundo) o futebol exporta tendências, cria ídolos, levanta e derruba reputações. Movimenta paixões, diverte, entristece, emociona. Enfim, está inserido em nosso contexto como País, como Nação.
Não trata-se de uma postura politicamente correta, mas de um alerta, de um grito. As pessoas que estão envolvidas com o futebol, sejam elas jogadores, treinadores, dirigentes, jornalistas e torcedores precisam entender que esse jogo apaixonante faz parte de um contexto maior, que envolve o conceito de cidadania.
Nesse aspecto, nosso futebol está passando um péssimo exemplo para as futuras gerações. Sob o pretexto da competitividade, da luta pela vitória e da sede por conquistas, assistimos a um festival de simulações, de tentativas descaradas de enganar o adversário, o torcedor que vai ao estádio e o que assiste aos jogos pela TV.
O artifício que o atleta profissional de futebol tem para "enganar" o adversário é o bom e velho drible, esse instrumento lúdico e que anda meio fora de moda. Fazer um gol com a mão disfarçadamente, tentar "cavar" um pênalti, espernear pedindo uma falta que não houve, tudo isso deixou de ser moda, se é que foi um dia, há muito tempo.
A prática do jogo violento, do chamado antijogo, da cera, o desrespeito a horários e a regras, tudo isso contribui para que o ambiente de uma partida de futebol ganhe em tensão e perca em divertimento.
O futebol anda junto com a sociedade. Como aceitar que uma Nação que se manifesta dia-a-dia enojada com a montanha de corrupção, a dose cavalar de violência e uma desigualdade social sem tamanho entenda como normal o comportamento que parece ter tomado de assalto nossos gramados?
Reforço que não estou levantando a bandeira do politicamente correto. Acho que num campo de futebol o palavrão é elemento presente e aceitável, uma troca de provocações, uma entrada mais ríspida, tudo isso faz parte do contexto do jogo.
O que não se pode aceitar mais é que se chame de ladrão e safado o juiz que erra contra o seu time e que se fique calado quando ele erra a favor. É impossível seguir admitindo, com o futebol servindo de vitrine, de instrumento de inclusão e ascensão social, que um atleta tente transformar um choque permitido pela regra em uma suposta agressão, que num lance em que sequer foi atingido tente forjar uma contusão grave.
Torcedores que um dia sugeriram que seu time entregasse um jogo para prejudicar um rival podem, por exemplo, acusar um jogador de ser mercenário?
Enfim, é um conceito de cidadania. O futebol pode ajudar, e muito, a melhorar esse País, desde que seus dirigentes, jogadores e torcedores, e nós, jornalistas, todos adotemos uma postura mais séria, direta e que reflita os anseios de um povo.
Parece discurso vazio, mas pode ajudar a fazer a diferença. Um grande craque que, ao pendurar as chuteiras, segue sua vida como um grande cidadão, fará muito mais por toda a sociedade do que as muitas alegrias que deu aos torcedores.
Um comentário:
Importante reflexão a que você trouxe. Apesar das tentações, quando a paixão por um time está envolvido, a cidadania tem que falar mais alto.
Tenho um blog sobre futebol e tento trazer isso para meus posts, o futebol como metáfora da vida.
Há que se diferenciar picardia e astúcia de deslealdade e oportunismo, nesse caso, no pior sentido da palavra.
Parabéns pelo trabalho!
Ricardo Roca
www.futebolarte.blog.br
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