quinta-feira, abril 07, 2011


Golaços e regras


O trabalho jornalístico em uma transmissão de futebol, por parte do comentatista, passa, obviamente, pela opinião, mas também pelo dever sagrado de informar.

A situação inusitada ocorrida na emocionante vitória do Santos sobre o Colo Colo, pela Libertadores, levanta uma saudável discussão sobre a importância (ou não), a relevância (ou não) de certas regras do futebol.

Mas antes de mais nada é preciso informar corretamente, para depois opinar em cima da informação correta. Foi o que fizemos em  nossa transmissão do SporTV, entrando pelo SporTV News, lendo as diretrizes e interpretações da regra do jogo, citando o livro oficial da CBF, chancelado pela Fifa.

O texto diz que deverá ser advertido um jogador se, entre outros tópicos, cobrir a cabeça ou o rosto com uma máscara ou artigos semelhantes.

A regra existe, está lá, e foi interpretada corretamente pelo fraco árbitro uruguaio Roberto Silvera. Neymar tinha cartão amarelo, foi advertido pela segunda vez e levou o vermelho.

Agora, o que eu penso da regra?

Acho que pode e deve ser questionada. Mas durante o jogo não pode ser desrespeitada, nem cabe interpretação do fato, já que a máscara está citada no regulamento.

O que se pode é questionar se a regra, se a lei é boa ou ruim, e discutir isso.

A regra fez com que se falasse muito mais da máscara do que do golaço, da obra-prima pintada por Neymar. Houve tudo ali, técnica, habilidade, improviso e eficiência. É dos gols mais bonitos dos últimos tempos, digno de placa.

Mas voltemos à bendita regra.

Por exemplo, comemorar gol fora do campo de jogo não é passível de punição com cartão amarelo, pela regra. Isso desde que os jogadores retornem ao campo o mais rápido possível, é o que diz o texto.

Infelizmente, é sempre mais fácil punir a indisciplina do que a violência. O árbitro geralmente cresce ao colocar em prática medidas disciplinares como essa sobre Neymar, e se omite quando a violência atinge níveis estratosféricos.

No jogo de Santos e Colo Colo, com 5 minutos de primeiro tempo, Wilches e Ganso já poderiam até ter sido excluídos da partida por entradas temerárias e imprudentes. Muitas outras aconteceram, muita picuinha, muita catimba. Sempre praticada em maior quantidade pelo time menos dotado tecnicamente, que no caso era o Colo Colo.

Eu acho que deveria ser dada mais liberdade para as comemorações. Gostava daquelas bem criativas e inusitadas, como ir ao orelhão, imitar um carrinho. Mesmo as coreografias, as surpresas. Seria melhor para o espetáculo se houvesse menos caretice nesse sentido e mais rigor com os carrinhos por trás e laterais. Esses eu tiraria do jogo, proibiria sumariamente.

De tudo isso, ficou para mim um exemplo de seriedade, serenidade, profissionalismo e coerência. A serena entrevista do técnico interino do Santos, Marcelo Martelotte, que você pode ver aqui.

Não criou polêmicas vazias, não passou a mão na cabeça dos jogadores, não jogou ao vento críticas infundadas. Se todas as entrevistas fossem assim, se não se jogasse mais para a torcida, para a provocação, para incitar reações desequilibradas, o futebol ganharia muito.

Muricy também foi super frio e coerente em suas entrevistas. Coisa rara em um meio no qual as declarações variam sobre o mesmo tema de times prejudicados, esquemas, sacanagens etc. É preciso serenidade.

Neymar é craque. Apanha muito e, infelizmente, ainda apanhará muito mais. Precisa conviver com isso, amadurecer, aprender a se defender dos adversários que não sabem jogar como ele. Aprenderá com o tempo. É jovem, não pode ser condenado, mas pode ser criticado e alertado, não está acima do bem e do mal.

Lucas, do São Paulo, é outro jovem talentosíssimo, que apanha demais, porque os juízes seguem tendo dificuldades teóricas de coibir a violência. Carpegiani também foi muito feliz ao falar de Lucas, do que precisa ainda aprender, garoto que é, para preservar seu enorme talento.

LUTO

Oremos pelas vítimas de mais uma estúpida tragédia que despejou violência e dor nas vidas de gente honesta. Precisamos, cada vez mais, trabalhar pelo fim da violência, em todas as esferas. Há que acontecer um recrudescimento das ofensas, da agressividade barata, da provocação vazia, do fanatismo em todos os setores da sociedade

Deus nos ilumine, porque está faltando luz nesse mundo.

4 comentários:

A minha gastronomia. disse...

Olá Noriega, tudo bem?
Sou fan do seu trabalho, te adicionei no face book, mas ainda não fui aceito.
Um abraço,
Sérgio Valadares.

André Monnerat disse...

Eu sou contra várias das restrições às comemorações dos jogadores no momento do gol. Mas acho que esta regra específica, de impedir máscaras e coisas do gênero em comemorações, está correta e que o caso agora do Neymar serve bem pra explicar o porquê.

A tal máscara fazia parte de uma ação de marketing da Nextel. Não dá pra afirmar que ele a usou na comemoração de maneira premeditada, sob orientação do patrocinador - mas não é uma ideia absurda de se imaginar, e acho que é o tipo de coisa que tem mesmo que ser coibida em um campo de futebol. Não dá pro mercado invadir o jogo desta forma, é demais.

Anônimo disse...

Oi, Nori!

Assisti ao teu comentário e à tua aula sobre regras de futebol, no SporTV.
Podemos até questionar, por exemplo, quando o Rivaldo cobre a cabeça com a camisa, comemorando gol, se camisa pode ser considerada "artigo semelhante"; mas com relação à máscara, a regra diz, claramente: NÃO PODE.
Sabe, Nori? Não admito que um jogador de futebol desconheça as regras do esporte que pratica. principalmente um jogador que recebe por mês mais de 500 mil reais. Da mesma forma, não admito que cronista de futebol não conheça as regras do jogo. Infelizmente, nove em cada dez cronistas e dez em cada dez jogadores são completos ignorantes da regra do jogo de futebol.
E o que dizer de uma Teresa Batista Cançada de Guerra, que é expulsa do banco de reservas, porque jogou uma toalha no adversário? Qual deveria ser o valor da multa aplicada a um iresponsável deste naipe?

Falei! FRANCISCO.

Renato ZD disse...

Nori, Nori, gosto de seus comentários, mas "recrudescimento" "ali", não ficou bom não.