Antes de mais nada é preciso afirmar que a derrota do Galo para o Raja Casablanca é, sim, uma clamorosa zebra. Como tinha sido o fracasso do Inter diante do Mazembe, em 2010. Zebras estão aí para mostrar porque o futebol é o esporte rei do planeta.
Assim como zebras também são vexames. Também é preciso ter a honestidade de afirmar que, com o perdão da redundância, não é vexame dar alguns vexames na vida. Faz parte.
Em 2010 eu estava em Abu Dhabi com os companheiros Milton Leite, Lédio Carmona e Eduarda Strebb e vimos, atônitos, o dia de glória do Mazembe. Ontem acompanhei pela TV, revi pela Internet e não tenho dúvidas em cravar que foi zebra e também foi vexame, sim.
Porque pela estrutura, pelo tamanho dos times, pelo que se espera e se envolve, uma equipe brasileira ser eliminada por qualquer uma do Congo ou do Marrocos é um acidente, mas daqueles que sempre pode ser evitado. Tem imprudência, tem erro no caminho.
O que me pergunto faz tempos, desde que cobri, in loco, meu primeiro Mundial de Clubes, em 2006, é se nosso futebol chega a esta competição ruim da cabeça ou doente do pé? Porque não me lembro de, neste formato, a partir de 2005, uma equipe do Brasil ter vencido a semifinal com facilidade, com sobras. Além das duas fatídicas derrotas. Mesmo os que foram campeões tiveram suas doses de sofrimento, em algumas situações até mesmo andaram à beira da eliminação.
Sempre coloco isso em minhas opiniões, quando perguntado sobre o Mundial de Clubes: a semifinal é traiçoeira. É o jogo que dura seis meses e já começa vencido pelo time brasileiro. Todo mundo projeta a decisão contra o gigante europeu de plantão. Tentem lembrar agora, sem pesquisar no Google, os nomes dos times que foram derrotados nas semifinais pelos brasileiros que foram ao Mundial de Clubes desde 2005. Difícil, né? Mas do Mazembe e do Raja ninguém esquecerá.
É a história do ruim da cabeça. Eu acho que os times brasileiros lidam mal com essa questão psicológica do adversário mais fraco e da final anunciada com antecedência de seis meses. Mas não é a única tese para a explicação. A principal delas é a bola jogada. E o Atlético jogou mal, muito mal. Técnica e estrategicamente. Permitiu que um adversário inferior em qualidade utilizasse do contra-ataque como arma frequente e perigosa. Isso é um erro tático. Acontece porque um time sai do seu modelo habitual de jogo, se atira sobre o adversário, com todo mundo querendo resolver individualmente um problema que é coletivo. Não foi uma, não foram duas. Foram várias vezes em que o Raja contra-atacou perigosamente.
Individualmente todos os atletas do time mineiro estiveram opacos, abaixo de seu rendimento. O pênalti do segundo gol foi Mandrake, tudo bem, mas não serve como justificativa. O Galo esteve doente do pé em Marrakesh.
Seria coincidência o fato de os europeus jamais terem sucumbido à maldição da semifinal no Mundial de Clubes? Será que o fato de nós, brasileiros, valorizarmos muito mais essa competição do que os europeus não nos leva pesados demais para os duelos? Porque os times europeus chegam mais leves. Não quer dizer que deixem de levar a sério, mas lidam melhor com essa situação do favoritismo. Até porque, sem dúvida, taticamente seus atletas são mais bem preparados. Mesmo quando perdem para equipes sul-americanas na final, não é o fim do mundo, o portal do inferno. A vida segue.
Seguir com a vida é a missão do Galo. Mostrar que a Libertadores não foi um ponto fora da curva, que o projeto atual reposicionou o time, que entrará sempre para disputar títulos, não apenas participar.
Um comentário:
Fala Nori!!
Mesmo o Santos em 2011 contra o Kashiwa, você não acha que passou com certa tranquilidade??
Abraço.
Ton
waguaru@hotmail.com
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