quarta-feira, maio 09, 2012



Guia para (não) cornetar

 

arbitragem no Brasileiro



Arbitragem é um prato cheio de polêmica. Cada um interpreta de um jeito cada jogada. No Brasil isso ganha proporções inimagináveis, já que somos um povo que adora uma teoria da conspiração.

Mais do que a regra, que é bem clara, como diz o Arnaldo, o que é muito importante e pouco lembrado em relação ao jogo de futebol é a maneira como ela é interpretada. Ou, como está escrito no livro de regras oficiais, as diretrizes e orientações dadas aos árbitros.

Além disso, existem as orientações passadas pelas entidades que organizam os torneios. O que são elas? Orientações de como interpretar cada tipo de jogada. A Fifa usa vídeos de lances de seus torneios e os mostra aos árbitros, dizendo qual interpretação deve ser dada para cada tipo de lance, de acordo com sua orientação.

Quem participou do excelente curso de arbitragem para jornalistas dado pelo Sálvio Spínola na Aceesp, teve acesso a esses vídeos e pôde entender porque muitas vezes não se marca uma falta ou não se mostra um cartão quando até o próprio árbitro pensa diferente. São orientações. No caso da Fifa, fica claro que a entidade quer evitar ao máximo expulsões para preservar seu negócio: os jogos da Copa.

A CBF divulgou recentemente uma circular orientando árbitros sobre interpretações e diretrizes relativas à regra do jogo, visando o Brasileirão.

Separei alguns trechos para esse pequeno guia. Talvez nos ajude a entender alguns critérios que a arbitragem adotará. O que está na circular aparecerá em itálico. Meus comentários em letra normal.

Cartão amarelo - O cartão amarelo corresponde a um ultimato. Logo, ele não pode ser aplicado em lances normais, pela equivocada filosofia de "
segurar o jogo". Não há distinção entre faltas cometidas no primeiro ou no segundo tempo. A boa arbitragem tem o mesmo critério do começo ao fim da partida. As advertências verbais, sobretudo com o jogo paralisado, para que todos percebam, têm efeito muito positivo.

Ou seja, cartão amarelo não será dado para qualquer faltinha, como gostam de dizer alguns colegas.

Cartão vermelho -  É medida extrema que exige conduta proporcional. Nas situações de confronto em que um jogador empurra o outro sem brutalidade e é golpeado com força excessiva, somente o que golpeou merece ser expulso.
É importante salientar, de outro lado, que há situações que possibilitam ao árbitro, antes de punir o jogador, se certificar das consequências da falta, ou seja, se o jogador atingido sofreu lesão grave.

Aqui, claramente, há preocupação com a simulação.

Faltas -  Falta é sempre falta e sempre deve ser marcada, tanto sem preocupação com a quantidade ocorrida em uma partida, como sem prejuízo da vantagem e da ação disciplinar comportável na primeira paralisação. Dar dinâmica ao jogo não é deixar de marcar falta, tampouco conceder vantagem sem que a equipe que a sofreu tenha efetiva posse ou domínio da bola, ou seja, clara possibilidade de fazer a jogada pretendida. A CA/CBF também relembra que queda não é sinônimo de falta e que o futebol é esporte de contato. As ações que justificam marcação de falta devem ser, salvo o ato de segurar, no mínimo, imprudentes. O contato físico – carga – pela busca de espaço ou de posse da bola, sem uso dos braços para empurrar ou segurar o adversário, faz parte do jogo e, portanto, não é faltoso. Não pode ser esquecido de que o jogador que detém a posse da bola não pode procurar contato físico, salvo para "cobrir" a bola, fazendo obstrução legal, jamais para impedir que o adversário a dispute. Conhecer os movimentos próprios do futebol é ferramenta indispensável para interpretar bem esses lances.


É bom ler isso antes de falar que certo tipo de falta só se marca aqui etc. O Brasil não é a Inglaterra.


Simulação - Prudência na análise, sobretudo se houver contato corporal. A ADVERTÊNCIA COM CARTÃO AMARELO exige acinte e clareza da simulação. Sendo o caso, o cartão deve ser aplicado, necessariamente. Não o sendo, as ADVERTÊNCIAS VERBAIS, desde que o jogo não seja paralisado por esse motivo, também produzem efeito e são próprias do poder do árbitro. As simulações fora da área de pênalti e as de defensores, embora mais raras, também devem ser sancionadas. O conhecimento do comportamento de alguns jogadores serve para elevar o nível de atenção do árbitro e maior proximidade do lance, jamais para estabelecer preconceito.
Por tudo isso, a CA/CBF alerta que ficará bem vigilante para a hipótese de o árbitro, por não ter convicção sobre se houve ou não falta, aplicar cartão amarelo para esconder sua dúvida, pois isso é inconcebível, desleal, injusto e fere a filosófica da CA/CBF, que exige justiça, responsabilidade e imparcialidade.

Aqui cabe lembrar que jogador de futebol cai mesmo, é natural do jogo.

Mão boba - A marcação de falta em toque involuntário é tão errada como a não marcação quando há intenção. Os árbitros devem analisar todos os elementos para definir tais lances (posição do braço ou da mão: natural ou antinatural; distancia entre o local do chute e o jogador que mantém contato com a bola; velocidade da bola; e, principalmente, se o jogador, se podia, tentou evitar o toque). Feita a análise, os árbitros devem decidir com coragem, pois marcar mão só porque houve o toque é postura que fere o espírito da regra.

Essa sempre vai dar polêmica, porque analisar intenção é subjetivo demais.

Já que virou moda -  Os árbitros deverão estar atentos ao trabalho dos gandulas. Estes devem adotar o mesmo comportamento para as duas equipes. Lamentavelmente observa-se que alguns colocam a bola rapidamente para o jogador da equipe local repor a bola rapidamente em jogo, porém não adotam o mesmo procedimento para com a equipe adversária. Exigir equanimidade nas condutas.



www.aceesp.org.br

Um comentário:

Sulvio_Siergo disse...

Acho que 90% dos problemas de arbitragem no Brasil seriam resolvidos com a profissionalização da atividade. Sou suspeito pra falar de arbitragem, sou torcedor do GALO e cansei de ver meu time prejudicado por causa de árbitros de má fé. Acredito que isso um dia ainda acaba, e teremos realmente "profissionais" pra nos atender...