quinta-feira, abril 12, 2012


Parabéns, Juninho Pernambucano!



Caro leitor, se você ainda não viu, veja, leia e preste muita atenção no desabafo feito por Juninho Pernambucano em entrevista a Vanessa Riche.

É um daqueles raros casos de bom senso e sinceridade que de vez em quando teimam em fugir ao lugar comum das declarações redundantes e vazias proferidas por 90% das pessoas que militam no futebol.

Juninho protesta, justamente, contra o vazamento dos valores de seu contrato com o Vasco.

Essa é uma das muitas manias de uma parcela de torcedores e de outra parcela da mídia no Brasil. Há uma obsessão por saber quanto ganham técnicos e jogadores de futebol. Tem gente que acha que vale matéria de capa e ainda bate tambor dizendo que fez uma grande reportagem, relevante.

O problema é que alguns acreditam que para resolver os problemas do Brasil é preciso começar pelo futebol, tamanha a virulência de alguns textos, comentários e atitudes. Se nossos políticos fossem cobrados com essa volúpia estaríamos hoje muito melhor como Nação.

Atleta profissional de futebol não é funcionário público, não prestou concurso, não prevarica em sua relação de empregado de uma entidade teoricamente sem fins lucrativos.

Assim como qualquer outro funcionário de qualquer empresa. Só porque é famoso, celebridade e enriqueceu graças ao seu trabalho ele precisa ter seu salário revelado? Onde está escrito isso em algum manual de redação decente?

Cada um pode achar relevante o que bem entende no exercício da sagrada profissão de jornalista, mas eu me reservo o direito de parabenizar o Juninho Pernambucano. O quanto ele ganha é problema dele e de quem paga a ele. De mais ninguém.

Se ele quiser falar quanto recebe, abrir os valores de sua relação trabalhista, problema dele.

Mas a regra nas relações entre clube e jogadores (e vice-versa) no Brasil ainda é movida a mesquinharia. Tem um tipo de dirigente que, quando o atleta entra em má fase, adora espalhar quanto ele ganha e falar do tal custo-benefício.

Assim como tem jogador que gosta de passar a notícia de que um recém-contratado chegou ganhando muito mais do que ele. Ciúme de homem é terrível e, no futebol, ganha proporções inimagináveis.

O jogador de futebol no Brasil vive sob a lupa de uma bem articulada rede de espiões. Torcedores que acham legal ser dedo-duro e fotografam atletas em suas horas de folga como se eles não pudessem fazer o que qualquer mortal faz na hora do descanso. Paparazzi, setoristas de celebridades e parentes e informantes de cartolas completam essa teia moralista e retrógrada. Gente que quando o time ganha curte a balada com o jogador, tira foto, tenta parasitar para ver se sobra alguma coisa no fim de noite. Se perde, sai vociferando teses de comprometimento, respeito, honra, caráter.

Uai, só porque não exerce uma atividade que pressupões preparo físico o sujeito pode encher a lata, dormir pouco e inventar uma desculpa pro chefe? Ele pode, o "boleiro" tem que ser um monge franciscano?

Façam-me o favor!

Vivemos num País que enfrenta uma autêntica guerra civil de violência urbana. Mata-se em saída de banco por quantias irrisórias. Quadrilhas montam arsenais para invadir lares em plena luz do dia. Qual o sentido de alardear como matéria útil dizer quanto recebe um jogador de futebol?

Honestamente, não vejo nenhum. Pouco me importa quanto recebe o craque, o perna-de-pau, a promessa. Nunca liguei pra isso. Talvez seja questão de índole.

Nesta semana, numa palestra com estudantes da Universidade São Judas Tadeu, me perguntaram o que eu achava da questão dos salários astronômicos de futebol.

Essa foi minha resposta: "Errado não é jogador de futebol ganhar bem, errado é professor ganhar pouco, bombeiro ganhar pouco, policial ganhar pouco e a população em geral ganhar pouco e ser mal atendida por quem ganha muito para trabalhar por ela".

Parabéns, Juninho, por se revoltar contra esses bisbilhoteiros!

4 comentários:

Gustavo B. Farah disse...

Falou tudo. Ainda bem que há cabeças pensantes na imprensa esportiva. Parabéns. Bariri rules!!

Anônimo disse...

Parabéns p´rá você, também.

FRANCISCO disse...

Nori,

Não sou contra nada do que você disse, apenas acredito que toda tese só é válida quando confrontada com a antítese. Então, vamos a ela:

Se entro numa boate e vejo o Diego Hipólito com três travecos, problema dele. É ele que não vai conseguir dar os saltos mortais com piruetas, revestrés e o escambau. É ele que vai meter os cornos no chão, passar vergonha, ser motivo de riso, assim como ocorre com o Massa quando toma um segundo por volta, do Fernando Alonso.
Agora, quando um jogador passa a noite na casa das primas, nas vésperas do clássico, o torcedor tem todo o direito de descer a lenha no salafrário, sim senhor, porque quem paga o mico pelo insucesso do time não é o atleta, é o torcedor.
Quando o corinthiano vai ao estádio com a faixa "Eterno 7 x 1" ele não sabe nem quer saber quem eram os jogadores que fizeram o Santos passar tal vexame, o objetivo da faixa é, somente, ridicularizar o torcedor santista.
Os jogadores passam, os clubes ficam e, com os clubes, ficam os torcedores, sempre sujeitos a humilhação.

O jornalista fofoqueiro ganha para publicar fofoca, assim como o jogador, teoricamente, ganha para jogar. Se um cretino não der motivo, o outro cretino não terá o mque publicar. Simples assim.

A comparação de salário de atleta com salário de professor, bombeiro, etc, é um tanto imprópria. Jogador de futebol, não ganha pelo que produz, ou pela responsabilidade que assume. Fosse assim e Ronaldo Gaúcho e Deivid teriam que reembolsar o Flamengo. Salário de jogador é algo sem padrão, sem parâmetro. Neymar, por exemplo, merece ganhar mais de um milhão de reais por mês? Pelo que produz no seu "trabalho", não merece. Tampouco, Galvão Bueno é merecedor do salário que recebe. Como tudo no esporte e em torno dele é miragem, é enganação, parece-me justo que o torcedor, também, possa fantasiar que é dono do atleta do seu clube.

Um outro assunto.,
Fernando, o primeiro volante Sub-20 do Grêmio, já fez 4 gols, em 21 jogos como profissional. Se mantiver a média, terá feito 22 gols, quando alcançar a marca de 116 jogos.
Arouca, a baranga que jornalistas querem ver na seleção, fez 116 jogos pelo Santos e, apenas, 2 gols. Se pelo menos o cara soubesse marcar...

Adalberto disse...

Francisco,

Você falou, falou e não disse absolutamente nada.