segunda-feira, fevereiro 13, 2012


Loucos são os omissos

*Por José Roberto Padilha

* reproduzo aqui um texto do José Roberto Padilha, o Zé Roberto, ponta-esquerda da Máquina Tricolor das Laranjeiras, atualmente jornalista e escritor. Devidamente autorizado pelo próprio. 
Quando o presidente Rubens Lopes, da FERJ, saiu de cena por razões de saúde, ele nomeou, através de uma circular, seu substituto às vésperas do campeonato estadual de futebol de 2012: José Luiz Martinelli.  Não, não era seu vice natural, era o ocupante de uma daquelas vice-presidências para constar na ata da posse. Dar validade a chapa eleitoral. Ele, Martinelli, engenheiro e reconhecido empresário de jogadores, era vice-presidente de obras e construções. Mas para não dizer que implico com os cartolas, ironizar que tal preferência poderia ser em razão das obras do Maracanã, deixei passar tal absurdo (seria, como num impedimento da Dilma, ela rasgasse a Constituição e não empossasse o Michel Temer, e sim um outro político, de acordo com suas conveniências) e não me pronunciei.

Mas não deu um mês e a figura acaba de se manifestar, do que jeito que todos esperavam, mantendo a postura que os fizeram cartolas. Isto é, associados influentes, que sem noção alguma de esporte, se elegem pro conselho deliberativo de seus clubes , federações e confederações espalhando desconhecimento e injustiças que certamente algum atleta, ou competição há de pagar a conta. Eles, cartolas, jamais pagaram conta alguma. Às vezes se elegem deputados, na outra dirigem delegações brasileiras, reforçam suja banca no bicho e, agora, negociam passes de jogadores.

Quando o Loco Abreu reclamou esta semana do gramado de Moça Bonita (logo do campo do Bangu, time de Rubens Lopes) Martinelli veio a público dizer que isto não era problema do atleta, era da agremiação e deveria ter sido discutido no arbitral. No arbitral, são discutidos à exaustão o Estatuto do Torcedor, e a FERJ é rigorosa quanto a presença de ambulâncias, dois médicos, enfermeiros, painel de informações, polícia militar. Ninguém perde tempo  legislando a favor de um Estatuto do Jogador. Ele, razão maior do espetáculo, pode atuar em chiqueiros que nada acontece com os mandantes do campo.

Agora, imagine aquela histórica final do Aberto da Austrália, entre Djokovic e Nadal,  no mesmo horário de Botafogo e Bangu, disputada  em chiqueiros. Teriam eles o mesmo fantástico desempenho? Se na quadra central de  Melbourne existissem os buracos de Moça Bonita, como rebateriam saques e voleios a 200km por hora? Mas os laterais do Botafogo e  do Bangu devem ir á linha de fundo e ter obrigação de acertar seus cruzamentos com a bola entrando dentro de um buraco. E seus preciosos joelhos e tornozelos, podem ficar á mercê da sorte? E na liga de voleibol, basquetebol, futsal, as quadras não são preservadas? Ou vocês já viram o Bernardinho, o Zé Roberto reclamar do estado de alguma?

Enfim, porque seria logo o futebol  em que o piso seria um fator  menor, desconsiderado na concepção de uma competição?

"Paulo Rossi, sozinho e sem falar português, fez mais por nossa democracia do que qualquer jogador brasileiro, em todos os tempos. Com seus 3 gols contra o Brasil, impediu uma nova manifestação ufanista, com direito à subida de rampa, que poderia retardar nosso projeto de anistia em 1982”.

Bem, escrevi isto em 1986, quando lancei meu primeiro livro “Futebol: a dor de uma paixão!”. Agora, vem um uruguaio lutar por melhores condições do nosso futebol, ocupando o silêncio e a eterna omissão dos nossos Ronaldinhos. Também, num país onde a independência foi promulgada por um português...


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