terça-feira, agosto 19, 2008

O FUTEBOL BRASILEIRO
PRECISA DE RECICLAGEM


Menos pela derrota para a Argentina, que é normal, afinal eles são quase tão bons como a gente no futebol. Mais pelo momento, pelas reações, pelo que vimos na Copa de 2006 e estamos vendo nas Eliminatórias e no Campeonato Brasileiro. O fato é que está na hora de se reciclar o futebol que se joga no Brasil e também o que é praticado pelos brasileiros com a camisa da Seleção.
Estão descendo a lenha no Dunga, mas ele é café pequeno. Dunga é um peão perdido num tabuleiro de xadrez no qual há rainhas e reis muito mais importantes se movendo.
Ao aceitar um desafio para o qual nunca esteve preparado, Dunga deu a cara para bater e deve ser o primeiro a levar o tapa. Seu cargo está por um fio - apodrecido. Registre-se que ele em todo esse tempo à frente da Seleção ainda não encontrou um time titular, um jeito de jogar, um perfil futebolístico. Ganhou a Copa América baseado num esquema medroso, congestionando o time com volantes marcadores e contando com um dia inspirado na final, ante uma Argentina amedrontada. Mas o que ficou da Copa América, tirando o batalhão de volantes?
O que ficará da derrota em Pequim? A derrota de um time que foi um factóide, uma equipe olímpica que fez quatro amistosos e um punhado de treinos. Dunga, que é um técnico improvisado, talvez tenha acreditado que as improvisações dessem certo mais uma vez, como em tantas outras na história do futebol brasileiro. Só que não existem mais gênios que possam bancar improvisos e desorganização. Hoje existem craques fora de forma e sem espírito competitivo, como os Ronaldos. Bons jogadores que dificilmente jogam bem na Seleção, como Diego e até mesmo o Robinho em alguns dias. Jovens talentosos que não tiveram a oportunidade de unir esse talento em forma de time, conjunto. No esporte de alto nível não se junta mais uma equipe no aeroporto e está tudo pronto, o talento resolve. Assim fosse e o basquete americano não perderia uma. Já perdeu algumas e precisou juntar seus grandes craques, formar um time, trabalhar duro para buscar a recuperação. Estive na Copa América e vi todos os treinos da Seleção na Venezuela. Impossível fazer um time com aquele padrão de trabalho.
As idéias gerais de jogo de Dunga refletem o pensamento futebolístico em voga no Brasil há muito tempo. Tudo gira em torno dos laterais, são eles as molas propulsoras, os jogadores que conduzem os times ao ataque. Para ficar com o exemplo mais quente, a Argentina vai ao ataque com Messi, Riquelme e até mesmo com Mascherano. Existe uma proposta de jogo, uma maneira de se fazer as coisas acontecerem. O Brasil ficou esperando Rafinha e Marcelo passarem. Como fazem a maioria dos nossos times.
Também tive o prazer de ver de perto a Uefa Euro 2008. Joga-se um futebol, literalmente, de outro mundo entre os europeus. Há novas idéias, conceitos arejados. Os pontas e os meias estão florescendo novamente. Fala-se pouco e joga-se mais. Por aqui parece ter mais valor reclamar de arbitragem, procurar culpados ocultos.
Dia desses conversei com o grande José Ely de Miranda, o Zito do Santos e da Seleção Brasileira bicampeã do mundo em 58 e 62. Ele se confessou preocupado com o futuro do nosso futebol. Dino Sani, outro monstro, também. Muricy e Luxemburgo falam disso toda hora.
Enquanto o interesse maior for disputar amistosos contra equipes fracas em troca de cotas fortes, enquanto as categorias de base forem dominadas por empresários, enquanto se respirar mais economia do que futebol nas altas esferas, a situação talvez não mude.
Sempre se acreditou que o futebol brasileiro fosse uma fonte inesgotável de craques. Uma olhada rápida pelos jogos das Séries A e B faz com que até um entusiasta dos jogadores brasileiros, como eu, fique assustado.
Há tempo e profissionais capazes de ainda reverter o processo. E, felizmente, ainda aparecem jogadores. Mas enquanto a força condutora de tudo isso não perceber que há algo errado no processo, não será mais um ponto fora da curva o Brasil não ter uma medalha de ouro olímpica no futebol, estar em quinto nas Eliminatórias e em sexto no ranking da Fifa. Por que é a bola que se joga aqui está cada vez mais com cara de ponto fora da curva.
Resta saber se o futebolês estabelecido estaria disposto a abrir mão de vaidades, interesses pessoais e afins para mudar tudo isso. Porque o Brasil não é tão forte no futebol como os Estados Unidos são no basquete. E até esse império americano já caiu. Portanto.....

6 comentários:

Anônimo disse...

O Palmeiras teve um presidente que quis se eternizar no cargo e o time foi para a segudna divisão. Idem para o Corinthians, Atlético/MG e outros times afins. Se houvesse segunda divisão entre seleções, estaríamos a caminho, e nem o fato de termos ganho dois títulos na gestão do 'dono' da CBF mudaria este curso (o próprio Palmeiras, para ficar só nele, tb ganhou muitos títulos antes de cair). O buraco é mais em cima, pois este cidadão se julga acima do bem e do mal, coopta políticos, dirigentes e outros tantos, sem medida de valores e sem o menor pudor. Cadeia para ele seria o óbvio em qualquer país sério, pois até CPI ele brecou, mas aqui, fica assim mesmo. Então, fica Dunga!! Fica na China, e leva esse imbecil contigo!!!

Luiz Rogério disse...

Noriega, perfeito o seu comentário!

Sinceramente se mais jornalistas como você e o Lédio Carmona fossem mais ouvidos e publicados, com certeza alguns conceitos sobre o futebol brasileiro atual mudariam.

Você foi muito feliz em sua colocação sobre a clara dependência da seleção brasileira e de muitos grandes clubes brasileiros sobre a atuação eficiente de laterais ofensivos, pois é o que se vê atualmente no nosso futebol, quase em regra.

Não precisa ser gênio para descobrir que esta jogada, mais que manjada, é fácil de ser marcada e quando isso acontece o futebol brasileiro se socorre em jogadas individuais de jogadores talentosos, que ainda temos.

Mudanças são necessárias, mas será que acontecerão a médio e longo prazo? Acho que não, será mais fácil demitir o Dunga.

Mas se a demissão do Dunga se consumar, que seja contratado um treinador competente e com bagagem para comandar a Seleção.

Um abraço.

Saudações gloriosas alvinegras.

Luiz Rogério

Anônimo disse...

Noriega e amigos,
Convido a entrarem no blog BOLA QUE ROLA, entrem lá para que possamos discutir de forma sadia o futebol.
Abraços
http://bolaquerola.wordpress.com

Unknown disse...

O que me aflige é a perspectiva pro restante do campeonato. Este brasileiro está me cheirando ao campeonato de 2005, ano que ficou manchado pelo favorecimento ao Corinthians. Agora, em 2008, a situação me parece muito semelhante. O Palmeiras investiu fortunas, assim como o Corinthians em 2005. Ambos com parceiros poderosos e elencos recheado de estrelas. Sua campanha, porém, está aquém das expectativas. Em 2005, o Corinthians foi claramente ajudado (pelo STJD, pelo sr. Marcio Resende de Freitas, etc.) quando tivera seu título ameaçado pelo Internacional. Agora, em 2008, vejo o Cruzeiro, sendo seguidamente prejudicado, jogo após jogo. Como disse, o time foi prejudicado nos últimos 4 jogos, com destaques pros dois últimos, contra Vitória e Botafogo. Por outro lado, o Palmeiras me parece que é o time que tem mais pênaltis marcados a seu favor. Ontem, contra o Internacional, foi ajudado pela arbitragem, que marcou um pênalti inexistente a seu favor, e que anulou um gol legítimo do Inter. Sorte que, ainda assim, o Inter foi mais competente e venceu a partida.

Temo pelo futuro do campeonato. Será que o brasileirão de 2008 já tem dono? E não seria a primeira nem a segunda vez. Tenho certeza que se Cruzeiro, Atlético-MG, Grêmio e Internacional fizessem parte do eixo Rio-SP, cada um teria pelo menos um título nacional a mais no currículo.

Anônimo disse...

Sabe, Nori, as mudanças de DEVERIAM acontecer são tão profundas (culturais, sociais, governamentais...), que por vezes até desanima.
Um exemplo: enquanto os clubes não forem dirigidos por PROFISSIONAIS de verdade, gestores formados e que recebam SIM salários e bônus por resultados alcançados (como é praxe, por exemplo, no mercado financeiro), enquanto não se investir seriamente na base, para descobrir novos talentos e, assim, gerar receita contínua e futura, enquanto não houver políticas claras de investimento no esporte, vai ser bem difícil acreditar que algo RELEVANTE acontecerá...
São poucas as vacas, mas MUITOS os que se aproveitam de suas tetas (com o perdão do termo)... e desmamar esses caras é, sem dúvida, o processo mais difícil.
Abs.
Joao Luis Amaral

gaucho disse...

cancion de las cosas simples, se for a que eu estou pensando que é - é realmente muito boa.

tem um interprete argentino/brasileiro que gravou tambem - caso seja a que eu pense que é.
"... de las cosas simples que temos guardado aqui , dentro do coraçao..." num portunhol do referido interprete.
eh essa, nori??