segunda-feira, fevereiro 16, 2009

O PERCENTUAL DE IMBECILIDADE
QUE AMEAÇA O NOSSO FUTEBOL


Imagine-se na seguinte situação. Você vai ao estádio ver um grande jogo de futebol. Comprou seu ingresso com antecedência, pagou caro, chegou cedo e o mínimo que espera é tranquilidade e segurança para você, mulheres e crianças que o acompanham.

Mas eis que na entrada do setor para o qual você havia comprado ingresso muito antes e pagando muito caro há um corredor polonês de torcedores violentos e provocativos da equipe adversária. Para chegar ao seu lugar no estádio você precisa passar por eles e tem que ouvir, calado, de cabeça baixa, com mulheres e crianças ao seu lado, qualquer sorte de ameaças, ofensas e xingamentos. Isso rezando para que não sejam agredidos, você, mulheres e crianças.

Pois ouvi esse relato de um amigo que foi ao Morumbi ver São Paulo x Corinthians. O clássico de pouco futebol e muita imbecilidade, dentro e fora de campo, que escancarou o amadorismo e a precariedade das pessoas que cuidam do esporte mais popular do País e o despreparo emocional de boa parte dos que o praticam.

Cheio de boas intenções, nas quais realmente acredito, o promotor Paulo Castilho resolveu agora colocar o argumento na frente dos fatos. Cismou que reduzindo o número de torcedores adversários na casa do mandante reduzirá a violência. Não foi o que se viu no clássico deste domingo. Porque sendo 10% ou 5%, no atual modelo em que os torcedores mais violentos são privilegiados na venda de ingressos, serão sempre os briguentos que irão a campo. Talvez até infiltrados entre uma maioria que quer apenas ver um jogo de futebol.

O argumento de que na Argentina isso foi tentado com sucesso não se sustenta. Em 26 de janeiro de 2009 um torcedor do Boca Juniors foi assassinado diante de sua família por um outro torcedor do Boca, por causa de rixas internas entre as torcidas. Pode não se matar dentro do estádio (o que continua ocorrendo, vide o ocorrido em um Arsenal x River de 2008, quando uma briga entre torcedores do River provocou cenas de agressão com correntes, facas e tudo mais). Vejam neste vídeo.

Acontece que se mata mais nas cercanias, como aconteceu com o torcedor assassinado em Minas antes de Cruzeiro x Atlético. E mesmo com as melhores intenções, nossas autoridades insistem em empurrar a sujeira para baixo do tapete e não atacam a impunidade. Preferem cercear o direito sagrado de ir e vir, de ir a um jogo de futebol pelo simples prazer de ir a um jogo de futebol. Querem restringir o número de torcedores, mesmo sabendo que só irão os mais violentos, porque estes têm privilégio junto à direção dos clubes. Direção de clubes que, quase sobre boquirrota, contribui para acender o pavio da violência e da insanidade, como este mesmo blog alertou recentemente.

O que há de positivo na ação do promotor Castilho é um trabalho de bastidores para mudar a lei, para torná-la menos branda e permissiva e devolver o futebol ao torcedor que quer apenas gritar o gol. Antes que ele seja dominado pelos que chamam pela morte.

6 comentários:

Robert Alvarez Fernández disse...

Maurício, realmente o alerta foi feito e aconteceu....não esperava o tanto de gente ferida, mas perto da "brilhante organização" e do apagar fogo com querosene dos dirigentes até que saiu barato, quem estiver com a perna doendo que me desculpe.

Sou contra jogo de uma torcida só, as que não forem convidadas certamente armarão suas emboscadas pela malha de transporte público e além disso, mostra que somos incapazes de conviver socialmente e de impor a ordem às torcidas organizadas.

Ontém foi um dia para esquecer para todos nós que militamos em construir um pensamento civilizado, profissional e sustentável na administração do esporte, juro e perdoe o desabafo...ontém nem passei perto do estádio, mas me senti uma besta falando para as paredes.

Abraços,

Robert

Anônimo disse...

Nori, infelizmente a impunidade prevalece no Brasil, para todo tipo de crime. As pessoas saem atirando a esmo (como no caso de BH) porque sabem que, mesmo identificadas, haverá uma série de detalhes que vão adiar uma punição que nunca chegará. Principalmente se o autor do crime tiver dinheiro. Infelizmente o Brasil será por muito tempo um País atrasado, por culpa da inexistência de Justiça e de políticos incapazes (e desinteressados) de fazer leis eficazes.

Anônimo disse...

Lamentáveis todos esses fatos. Não posso acreditar nas barbaridades que esses FDPs fazem em nome do dizem ser sua paixão. Na verdade, a paixão desses desgraçados é a violência. Adoram brigar, sempre estão procurando confusão e se orgulham de quebrar tudo, xingar mulheres e crianças, espancar os torcedores do clube rival, e se possível, matar algum deles, que julgam ser inimigos.

Meu Deus, estamos no Século XXI e essa galera parece saída de uma caverna escura, sem nenhum resquício de civilização. Claro, tudo apoiado pelos clubes, que lhes dão privilégios, e pelas autoridades, que permitem tanta insanidade. O pior é que a situação parece estar longe de acabar.

Felipe Giocondo disse...

Desculpe Nori, mas o que não há nos comentários do Castilho é bom senso. Aliás, vindo dele, isso é impossivel.

O que causa estranheza agora é o mandante ser inocentado. Bem ele que tanto culpou o mandante quando o jogo era outro, o campeonato de um ano antes. A culpa é do projeto sem vergonha com muro feito nas coxas pra entrada da torcida rival. É ter bomba no estacionamento (la tem estacionamento??) do clube mandante. A culpa é de quem cospe na cara da tradição e destina 10% dos ingressos sem motivo, diferente do que seria se tivesse um jogo no Palestra ou na Vila como jogo da volta.

Mais impressionante ainda é a maior parte da imprensa sequer contestar porque o mando da federação, quando se trata de SPFC, é jogar no Morumbi. Porque o Palmeiras teve que ir pra Ribeirão ano passado contra eles? Porque o Palestra não servia se já existia essa regrinha do mandante.

Agora, como quem lava as mãos, apoiado por Castilho (que é da turma de JJ), tiram o corpo fora. MAC parece ainda estar em campanha eleitoral. E todos se calam, ninguém na imprensa argumenta. O Palestra é o barril de pólvora, mas é a torcida do SPFC que joga um vaso sanitário dentro da vila e que tem no Morumbi o campo perfeito de batalhas.

Acho que temos sim que mudar a mente do torcedor no Brasil. Mas podiamos aproveitar e mudar também a dos jornalistas esportivos.

(esse comentario nao é direcionado a você, de forma alguma. Mas como sei que tem o bom senso de ler e eventualmente comentar, faço questao de dividir neste espaço)

Abraços

Unknown disse...

Prezado Felipe, acho que a intenção do Castilho é a mesma de todas as pessoas de bem, acabar com a violência. Só penso que o caminho é errado. Basta punir quem vai ao estádio para brigar. Não sou contra torcida organizada ou uniformizada. Sou contra quem usa as torcidas para brigar e matar. E infelizmente existem essas pessoas em todos os times, em todas as torcidas.
A questão menos importante é saber quantos ingressos a torcida x precisa receber. Eu já fui a clássicos no Pacaembu, quando era criança, e as torcidas sentavam juntas no Tobogã, sem briga alguma.
A questão é a incapacidade de alguns em conviver harmoniosamente em sociedade e respeitar o fato de o outro apenas torcer para outro time.
A questão também é a banalização da violência usando o futebol como desculpa. É contra isso que precisamos lutar.
O futebol não vale uma vida.
Abs

Anônimo disse...

Noriega, acho que o promotor Paulo Castilho perdeu toda a credibilidade quando afirmou que o brasileiro com poucos recursos terá de abrir mão do direito de ver uma partida de futebol. É incrível, "O Promotor Público" disse que o torcedor honesto, civilizado, pacífico tem o Setor Visa (R$ 50), a numerada (R$80) a cativa.....e que, InfelizmentE, o brasileiro que é pobre e vai de arquibancada - quando vai - mas paga imposto, não pode ir ao estádio, só pode o rico do setor VISA. Eu não acreditei! Abs e parabéns pela pergunta ao Promotor!