quarta-feira, dezembro 24, 2014

Brasil despreza esporte como educação


Ao indicar políticos sem qualquer elo consistente com o esporte para cuidar das pastas que teoricamente deveriam responder por essa área, a presidente do Brasil e o governador do estado mais rico e importante da Federação deixam claro que o esporte é assunto de terceira divisão no País.

Há tempos que o brasileiro sabe que a formação de um Ministério ou Secretariado responde a interesses que trafegam pela rede de esgoto da política. Mas até para isso há limites.

O governo federal adora posar de apoiador do esporte nas redes sociais. A cada resultado que gere repercussão na mídia a presidente posta um comentário carregado de orgulho oportunista. O governador dos paulistas adora falar em esporte e cita sempre a mesma conexão: seu amor pelo Santos.

Quando o assunto é esporte, Brasília e São Paulo pensam da mesma forma: que o ufanismo sirva de propaganda. Ideias, propostas, um movimento que possa fazer com que o esporte seja uma alternativa à falta de educação que contamina todos os quadrantes da sociedade? Isso não existe.

O governo federal financia o esporte de alto rendimento. Um de seus bancos sustenta o voleibol há um longo rali, com o perdão do trocadilho. Voleibol envolto em escândalos que ameaçam manchar a boa reputação de quem trabalha, treina e sua dentro da quadra. Outro banco bancava (opa, outro vício de linguagem) o basquete, que perdeu a corrida para o atletismo, que foi ultrapassado pelo futebol. Os Correios investem nos esportes aquáticos. O Comitê Olímpico Brasileiro conta com vastos recursos oriundos do governo. Sem contar as isenções de impostos. O bolsa-atleta tem abastecido outras bolsas, segundo denúncias.

Mas e o plano de trabalho? Ou como dizem alguns professores do futebol, e o projeto?

Como o esporte funciona como educação? Qual a contrapartida para a sociedade? Quem controla o currículo de educação física nas escolas? Quantas escolas nem sequer têm uma quadra decente ou até mesmo um professor para cuidar dessa área?

O esporte sempre seduziu os governos, fossem eles de direita, esquerda, centro, ditaduras de qualquer orientação. Todo mandatário adora posar para fotografia ao lado de um medalhista, de um troféu, da Copa do Mundo.

A orientação politica do governo federal facilita a leitura do que esperar do campo esportivo. A sedução do modelo socialista de esporte, da propaganda que financiava vitórias olímpicas faz brilhar os olhos de ministros e candidatos a ministros que ainda acreditam no modelo comunista, há muito sepultado pela realidade. Nem o apelo educacional desses modelos (um dos pontos que diferenciam uma ditadura de esquerda por uma de direita é o apreço pela educação, ainda que doutrinada, da esquerda, contra o investimento total na ignorância patrocinado pelas ditaduras de direita) foi copiado pelos políticos brasileiros.

O esporte é um contrapeso sem importância para os governos brasileiros. Os ministros falam mais de Copa do Mundo e Olimpíada do que acesso universal, capacitação de professores, iniciação, aperfeiçoamento e treinamento especializado. Isso não dá holofote, convite para programa de TV, nem foto com atleta famoso em rede social.

A crise do esporte brasileiro é grave e séria. Talvez pouca gente resista ao pós-2016.

Mas o que importa é pagar dívidas eleitorais e compor ministérios e secretariados de fancaria.

Ou então propor aposentadoria vitalícia para uma atleta que sofreu um grave acidente quando tentava praticar um esporte de alta periculosidade apenas para cumprir o devaneio de um país tropical na olimpíada de inverno.


sexta-feira, dezembro 12, 2014

12

Praticamente fui criado dentro de uma emissora de TV. No caso a TV Cultura, quando acompanhava meu pai em muitos dias de trabalho dele naquela memorável equipe esportiva.

Lembro-me com carinho de ter visto gravações e apresentações ao vivo do Vila Sésamo, do É Proibido Colar, do Quem Sabe, Sabe. E, claro, É  Hora de Esporte, Esporte Opinião, Esportevisão etc.

Mesmo assim, naqueles tempos e quando decidi estudar Jornalismo eu jamais, jamais, pensei ou imaginei que trabalharia um dia na TV.

Eu tinha a saudade das frequentes viagens do meu pai, dos finais de semana e das festas em que ele não podia estar, embora sempre tenha feito de tudo e mais um pouco por nós e para nós.

Parei para fazer umas contas e realizei que em agosto fez 12 anos que trabalho em TV, à frente das câmeras, diretamente.

Foi em agosto de 2002 que comecei a trabalhar como comentarista no SporTV.  Numa terça-feira, 13 de agosto de 2002, meu amigo Eduardo Moreno teve a paciência de aturar minha falta de experiência e nervosismo num entediante União São João de Araras 0 x 0 Caxias, pela Série B do Brasileiro. Na coordenação, Idival Marcusso e estou quase certo que o repórter era Carlos Cereto. Uma equipe de luxo para um estreante nervoso e tímido.

Muita água rolou debaixo dessa ponte. Muitos jogos. Alguns malucos tiveram a ousadia de me colocar para apresentar programas no SporTV. Apresentei todos da grade do canal, exceto o SporTV News e os programas mais novos da programação.

Vieram Copas, Pan, Mundiais, Euros, Libertadores, Sul-americanas.

Tive muitas mãos amigas. Felizmente muitas mais do que os pés sorrateiros que sempre passam pelos nossos caminhos. Surpresas positivas e decepções profundas vieram.

Doze anos é muito tempo.

Tenho a felicidade de trabalhar com amigos que fiz pela vida, muito antes de entrar na lida televisiva.
Alguns são meus gurus até hoje, como Ledio Carmona, Marcelo Barreto, Mario Jorge Guimarães.

Jornalistas que eu via ou lia com admiração e respeito e jamais poderia imaginar que um dia seriam meus colegas de trabalho.

Narradores que eu assistia como fã, como Jota Júnior, Milton Leite, Luiz Carlos Jr., João Guilherme Carvalho, meu parceiro nas primeiras viagens que fiz pelo canal, assim como outro grande dessa arte e companheiro de muitas viagens pelo País, Sérgio Maurício.  Hoje posso dizer que são meus amigos, acima de tudo.

Os inúmeros colegas que não aparecem na telinha mas que são a alma da telinha, nos ensinam diariamente os truques dessa caixa mágica e sedutora, em especial  Alfredo Descragnolle Taunay.

Parei para refletir em tudo isso, quando mais um ano termina.

O que mais me faz falta são os conselhos, a crítica e a avaliação precisa de meu pai. Durante dez desses 12 anos ele sempre foi meu maior crítico e ao mesmo tempo um dos maiores incentivadores.

Que puta saudade, meu papai Luiz Noriega!. A força vem sermpre de minha família, minha mãe dona Ângela, minha vovó Olinda,minhas irmãs Ferdi Mauricio Noriega e Renata Noriega De Thomaz e minha maior parceira, Isabel Urrutia e meus tesouros Clara Noriega e Rafael. E a alegria dos inúmeros primos e tios espalhados pelo mundo.

12 anos é muito tempo! Provocam reflexões!

Mas quando se faz o que se gosta, muitos outros devem vir.

segunda-feira, dezembro 08, 2014

A nova cara do Brasileirão

Mais um Brasileirão terminou. Sem grande brilho, como tem sido nos últimos anos.

O Cruzeiro sobrou. Não foi ameaçado em nenhum momento pela concorrência.

Disputa de verdade houve apenas por vagas na Libertadores e permanência na Série A.

O nível técnico despenca a cada ano.

Um modelo de performance vai sendo desenhado.

Os campeões brasileiros mais recentes são times que largam na frente, com uma arrancada poderosa, e acumulam pontos suficientes para administrar essa situação no final da temporada.

Cruzeiro e Atlético Mineiro se destacaram na turma. Em termos de futebol bem jogado, foram os melhores do torneio, na minha maneira de ver o jogo.

O Galo deu uma desligada em algumas rodadas em função da Copa do Brasil, e foi um time reinventado em plena disputa. Tenho a convicção de que seria o único adversário capaz de disputar o título com o Cruzeiro no Brasileirão.

Marcelo Oliveira e Levir Culpi mostraram que é possível propor equipes que tentem jogar bom futebol. Também mostraram que é possível a um treinador brasileiro falar mais de futebol e menos de arbitragem. São protagonistas mas não querem o estrelato

O São Paulo foi longe muito graças ao seu treinador. Muricy conhece como poucos o Brasileirão de pontos corridos e trabalha seu time para tirar o máximo da fórmula. Treina a bola parada à exaustão e sabe usar o fator mandante. Se tivesse em mãos um elenco mais equilibrado e que tivesse mais opções do meio para trás, talvez disputasse o título.

Inter, Corinthians e Fluminense não tinham time, nem elenco para pleitear o título. Chegaram à Libertadores, entre os três, os dois melhores.

O Grêmio tentou lutar, mas está muito abaixo desse trio acima citado em termos técnicos.

Esse grupo se destaca daqueles que participaram sem grandes pretensões e vê de longe o grupo cada vez maior de equipes que apenas lutam para permanecer na Série A.

Parece ser uma tendência do Brasileirão. Pouquíssimos clubes lutam pelo título, dois ou três. Mais dois entram na briga pela Libertadores. O restante participa e muitos sofrem.

A conferir nos próximos anos. 

segunda-feira, dezembro 01, 2014

Fischer e Ferretti

Fischer e Ferreti. Essa foi a minha primeira dupla de ataque no futebol de botão. Comecinho dos anos 1970. A sonoridade dos nomes da dupla que meu saudoso pai, Luiz Noriega, tinha narrado em um jogo que não consigo precisar na memória, me fascinava. Lembro que era do Botafogo, porque não esqueço de Fischer e Ferreti.
Via os melhores momentos, os gols e tentava imitar aquilo no meu Estrelão ou mesmo no chão de casa, pintando os contornos do "gramado" com giz.
Aos poucos passei a ler - e muito sobre futebol e esporte. Aprendi a importância das grandes instituições, dos grandes clubes. Do basquete de Franca, do vôlei de Santo André, da natação do Pinheiros e por aí vai.
Claro, aprendi o que era o Botafogo, a Estrela Solitária, Nilton, Biriba, Carlito Rocha, Jair, Zagallo. Tanta gente.
Botafogo, Palmeiras, Vasco, Corinthians, São Paulo, Santos, Grêmio, Inter, Galo, Cruzeiro, Flamengo, Fluminense e todas as grandes instituições do futebol brasileiro.
Sempre que faço uma análise, uma crítica, um elogio eu me recordo das histórias que aprendi, de como o futebol brasileiro se transformou no que é graças à força dessas instituições, dos clubes, suas histórias, seus craques, as pessoas que fizeram esse alicerce hoje cambaleante.
Acordei pensando na dupla Fischer e Ferretti, nos clássicos do futebol de botão, nos golaços da dupla narrados pela voz do meu pai e das belas imagens emolduradas em preto e branco.
Sou um fanático pelos grandes clubes do futebol brasileiro, pelas grandes marcas. Foram eles, não as federações e a CBF, que fizeram essa história gloriosa.
As pessoas e os jogadores passam, mas as instituições ficam. Todas elas. Essas gigantescas que citei acima e as enormes forças de expressão regional que temos aos montes.
Quando um gigante é ferido a Terra de Gigantes sofre como um todo.
Não há sotaque, regionalismo, clubismo.
Há o fascínio despertado em um garoto nascido caipira paulista vivendo na extinta Terra da Garoa que aprendeu a admirar e respeitar os grandes clubes, as grandes marcas do futebol nacional, sem se importar para sotaques.
Vou buscar em alguma gaveta os botões de Fischer e Ferretti. Limpá-los, dar um brilho, lixar. Ver se as fotografias (sim, são daqueles com fotografias) não estão amareladas.
Tenho certeza que ainda batem um bolão.

sexta-feira, novembro 28, 2014

A queda

Brasileirão resolvido, com resultado merecido e previsível. Pouca emoção resta na briga pelas vagas à Libertadores. Muito desespero para quem ainda luta pela permanência na Série A.

A perspectiva de queda apavora milhões de torcedores. Termos como vergonha, vexame, humilhação circulam de boteco em boteco, casa em casa, arquibancada em arquibancada.

Mas o que seria pior: queda ou falta de perspectiva, ausência de ideias?

Rebaixamento não significa o fim do mundo. Em muitos casos o rebaixamento ou a simples ameaça significaram pontos de virada, de reinvenção de clubes de futebol.

Quem leu o livro "De Belém a Yokohama", do ex-presidente do Internacional, Fernando Carvalho, sabe do que escrevo. Ele conta como uma ideia salvou um clube que escapou do rebaixamento contra o Paysandu e não tinha meia dúzia de jogadores para pensar a temporada 2003. O Inter hoje é uma potência como sempre deveria ser.

O Corinthians caiu em 2007 e voltou chutando para longe o mofo que perigosamente se apoderava do clube, ditando regra em termos de marketing e recursos.

O Galo pós-rebaixamento é forte e vingador.

Enfim, há casos e casos. Cada clube tem seu tamanho, importância, história.

Mas todos que passaram sufoco, chegaram ao fundo do poço e ressurgiram mais fortes, tiveram ideias e pessoas capazes de viabilizá-las.

Por isso que afirmo que cair pode ser a festa dos rivais, o pesadelo das piadinhas, mas não é o fim dos tempos.

O Apocalipse futebolístico é a falta de ideias e de gente capaz para pensar e executar futebol profissional.

Não existe mais espaço para aventureiros e torcedores no futebol moderno.

Cartolas à moda antiga podem até conseguir um título aqui, outro ali, mas em termos gerais esse tipo de dirigente não leva seu clube a lugar algum, a não ser para o atraso.

Temos exemplos vigorosos de falta de ideias e capacidade no futebol brasileiro.

Vasco, Palmeiras, Botafogo. Marcas e patrimônios futebolísticos gigantescos entregues sucessivamente a dirigentes amadores e sem qualquer condição de dar sequência às histórias que herdaram. Costumo dizer que esse trio caiu e ainda não voltou, mesmo disputando a Série A. Porque não retornaram como Palmeiras, Vasco e Botafogo. São cópias ruins do que foram.

Outras equipes menos tradicionais, mas nem por isso menos importantes, vivem às turras com a realidade do sobe-e-desce. Contam com menos recursos mas em alguns casos conseguem mostrar mais capacidade na administração desse pequeno bolo, enquanto outros desperdiçam uma doceria.

O que mais assusta no futebol brasileiro é a falta de ideias e perspectivas da maioria dos clubes e dirigentes.

Não é por acaso que as agremiações que tem projetos e propostas se destacam e vão abrindo corpos. Cruzeiro e Atlético Mineiro estão aí para provar que é possível fazer bom futebol sem o poder econômico e político do eixo Rio-SP. Conseguem recursos, se estruturam e vencem. No Sul, Inter e Grêmio optaram pela fidelidade de seus torcedores. Mais bem resolvido politicamente, o Colorado colhe frutos, enquanto o Grêmio amarga uma longa fila de títulos importantes, embora esteja buscando seu caminho.

O Corinthians tirou riqueza da popularidade, coisa que o Flamengo não consegue fazer por absoluta incompetência administrativa.

O Fluminense terceirizou seu futebol para o patrocinador, o que blinda o time da situação financeira deplorável do clube.

O São Paulo ainda não deixou que sua política canibal contaminasse o time, embora esteja partindo para um caminho perigoso de rápido endividamento.

O Atlético Paranaense tem números modestos, mas se equilibra. Se não alça voos longos, tem conseguido pavimentar o caminho para que isso possa acontecer um dia.

O Santos entrou nessa onda de dívidas e consegue negócios inexplicáveis, como comprar Damião por valor de estrela da Champions League e ver o dinheiro da venda de Neymar escorrer pelas mãos.

Os times de estados menos favorecidos economicamente também buscam seus caminhos, alguns com sucesso, outros fracassando. A dupla Ba-Vi não acompanha a paixão de seus simpatizantes no quesito administração do futebol. O Sport conseguiu uma boa temporada com recursos limitados. Os catarinenses são força emergente, apesar do Criciúma e do sufoco de Chapecoense e Figueirense.

Quem tem uma ideia, uma análise, um projeto estratégico pode até ser rebaixado que se recupera e projeta dias melhores.

Quem não tem nada disso pode até escapar que não vai se livrar da maldição da incompetência.

sexta-feira, novembro 21, 2014

Brasileirão do Século 21

O Campeonato Brasileiro de Futebol do século 21 tem um perfil muito bem definido. Praticamente não há disputa por título. Um time se destaca, abre distância no início e faz a manutenção dessa superioridade até o final.
Um grupo cada vez menor de equipes joga para tentar uma vaga na Libertadores, o que nos últimos anos tem sido sinônimo de fracasso para os times nacionais.
Outro grupo, também reduzido, fica numa zona de conforto que não quer dizer absolutamente nada.
E uma quantidade cada vez maior de equipes disputa a permanência na Série A. Essa turma da gangorra é a que mais cresce. Equipes que ficarão num eterno sobe-desce. Jogarão a Série A num ano para voltar à B no outro, sem qualquer continuidade.
Nessa caminhada, teses de "especialistas" tais como a espanholização do futebol brasileiro vão sendo desconstruídas pelos fatos.
No esporte de alto rendimento, verdadeiramente profissional, dinheiro não compra felicidade, muito menos competência.
Com a queda de importância dos torneios estaduais, o Brasil tende a reduzir drasticamente o número de times que são chamados de grandes. As equipes de verdadeira importância e hierarquia nacional são poucas e tendem a diminuir.
Tristes daqueles que observam um jogo tão fascinante como o futebol apenas pelos olhos dos números, da matemática pura e simples.
O ingrediente humano ainda é o fator preponderante.
No Brasil o amadorismo é a regra no comando dos clubes de futebol.
Não há estatística que sirva para transformar jogador ruim em jogador bom. Não há média que transforme em leão um jogador que pareça precisar de fraldas para entrar em campo num jogo decisivo.
O jogador não tem culpa de ser fraco. Culpado é quem contrata um jogador fraco por indicação de um dirigente amador ou de um empresário oportunista.
O termo jogador de time grande está cada vez mais desgastado no Brasil. Atualmente há um rosário de atletas que atuam em times grandes mas não possuem qualquer requisito técnico, tático e emocional para isso.
Emoção nas rodadas finais, como sempre tem acontecido, fica reservada para o desespero daqueles que lutam para sobreviver, o que em muitos casos pode ser traduzido como subsistir.

domingo, agosto 31, 2014

Gigantes desnorteados


Acompanho futebol desde os anos 1970. Não tenho receio algum em afirmar que ontem, 30 de agosto de 2014, Vasco e Palmeiras foram a campo com os piores times de suas gloriosas e centenárias histórias.

Como se isso não bastasse, os milhões e milhões de vascaínos e palmeirenses espalhados pelo Brasil precisam colocar as bandeiras de molho, porque o risco de ficar pior é tão grande quanto as instituições.

Vi os melhores momentos de Palmeiras x Inter e Vasco x Avaí. Alguns instantes são dignos de sentir pena dos torcedores alviverdes e cruzmaltinos. Porque eles não desistem. Havia 31 mil pessoas no Pacaembu e perto de dez mil em São Januário.

Uma coisa é cristalina: Inter e Avaí têm times muito superiores a Palmeiras e Vasco. Mesmo estando longe de ir a campo com equipes que se aproximem das melhores de suas histórias. No caso do Inter, desfalcado de seu melhor jogador, D´Alessandro, e com uma dupla de zaga e outra de volantes, no mínimo, reticente. O Avaí recentemente foi eliminado pelo Palmeiras da Copa do Brasil sem oferecer resistência.

O fato que estarrece é que Inter e Avaí nem precisaram fazer força para vencer. Bastou que esperassem o rosário de erros dos adversários. Se foi 5 a 0 na Colina Histórica poderia ter sido 5 a 2 no Pacaembu. Porque o nível de erros dos jogadores do Vasco e do Palmeiras beira o amadorismo.

Há fatores históricos que ajudam a entender porque Vasco e Palmeiras chegaram ao patamar de vexames atual.

Os dirigentes do Palmeiras escolheram esse caminho em 2002, quando o time caiu pela primeira vez. Em vez de voltarem fortes, imponentes como canta o hino, optaram por retornar à meia força, com a tal política do bom e barato, jogadores e treinadores de segundo escalão. Como o time nunca teve base e jamais soube revelar jogadores, ficou escravo dessa fórmula e da contaminada política das alamedas do Palestra Itália. Tem uma sombra de um dirigente que, mesmo de longe, ainda manda no clube: Mustafá Contursi.

O Vasco fez algo parecido. Quando caiu, ensaiou uma volta forte com a conquista da Copa do Brasil, mas ficou no ensaio. Tem uma política tão contaminada quanto à do co-irmão paulista e o espectro de um dirigente que manda nos bastidores: Eurico Miranda. Tinha uma boa base, mas a tragédia econômica dilapidou esse patrimônio. Quando se esperava que Roberto Dinamite, do patamar de maior craque da história do clube, saneasse o Vasco, o que se viu foi que a contaminação é resistente aos mais fortes antibióticos.

Houve títulos esporádicos no meio do caminho para palmeirense se vascaínos. Acidentes de percurso, é preciso dizer. Pontos fora da curva decadente. O Palmeiras ainda teve um lampejo de humildade ao reconhecer sua incompetência e procurar a Parmalat, que despejou jogadores e títulos nos anos 1990, e em 2008 montou um bom time com a ajuda da Traffic. Terceirizou e se deu bem. Ganhou uma Copa do Brasil Deus sabe como em 2012. O Vasco tinha um bom patrocinador que perdeu pela insanidade de alguns torcedores, enterrando uma possibilidade de reconstrução.

Claro que há tempo para que o Palmeiras evite o terceiro rebaixamento em pouco mais de dez anos e o Vasco escape da vergonha de permanecer na Série B.

Mas a pergunta que fica é a seguinte: isso vai mudar alguma coisa?

Acho pouco provável. Palmeiras e Vasco tratam doenças sérias com placebo. Não combatem a causa, apenas atenuam os sintomas.

Quem deve abrir o olho para não ser puxado para essa centrífuga é o Grêmio.

Entre os grandes do Brasil o Tricolor gaúcho é o que está há mais tempo sem ganhar algo de importante. Desde 2001, na Copa do Brasil, com Tite, que o gigante gaúcho não comemora um título de expressão.

Tem experiência em rebaixamentos, uma política complicada e ainda lida com a ala radical de sua torcida, que está, inclusive, representada no Conselho Deliberativo do clube, e pode provocar a exclusão da Copa do Brasil.

A chance de ganhar algo em 2014 é mínima. Tem elenco e treinadores caros e, como Vasco e Palmeiras, ainda recorre a figuras que nunca deixaram de mandar, mesmo fora do poder oficial, como Fábio Koff.

São tristes retratos do amadorismo que contaminou nosso futebol.


terça-feira, agosto 26, 2014

Parabéns, Palmeiras, a Eterna Academia!


Não há fase que suplante uma história.

Por pior que seja o time atual, o Palmeiras que hoje é centenário será sempre a Eterna Academia.

Não há gol perdido bisonhamente que supere os feitos de um Heitor, um Tupãzinho, um César, um Leivinha, um Evair.

Não há passe errado que apague a carreira divina de um Ademir, a elegância de Alex, a magia de um Julinho.

Não há frango que apague os milagres de um Marcos, um Leão, um Valdir, um Oberdan.

Não há bico torto de zagueiro que ofusque uma saída de bola de um Waldemar Fiúme, um Djalma Dias, um Luís Pereira.

Não há troca de técnico que risque os títulos de Cambom, Brandão, Filpo, Minelli, Travaglini, Luxemburgo, Felipão.

Não há rebaixamento que desmereça a coleção de glórias e conquistas acumuladas em um século de vida.

Por mais maltratado que esteja sendo pelos dirigentes herdeiros de sua fantástica história, o Palestra da palavra grega escolhida por italianos que virou o brasileiríssimo Palmeiras está eternizado no coração não apenas dos palestrinos e palmeirenses, mas de todos aqueles, inclusive dos rivais, que amam o futebol.

Porque o Palmeiras é sinônimo de futebol bem jogado, de craques, de estilo, de talento e eficiência. Futebol como arte.

Foi assim que este nome se espalhou pelo mundo acadêmico da bola.

É por isso que se entende a revolta do palestrino palmeirense ao ver times que não honram essa história e perpetuem esse legado.

O torcedor do Verdão é mal acostumado, um eterno insatisfeito. Ele não aceita apenas vitórias, ele quer cátedras. Foi assim que aprendeu a gostar de futebol, pela excelência, pelo alto nível.

Em cem anos de vida o Palmeiras se transformou por completo. Nasceu como opção para a enorme colônia italiana em São Paulo. Não custa lembrar que houve um período da história em que a população paulistana era formada por mais italianos do que brasileiros.

A paixão foi sendo cultivada pelos descendentes, pelos oriundi, espalhou-se pelo interior do estado paulista, semeada por sobrenomes peninsulares em cada canto. Germinou forte e rompeu a barreira do sangue, abraçando brasileiros de todas as raças, descendências e regiões.

A história do clube é bela como a de todas essas grandes instituições que transformaram o futebol brasileiro no que ele é hoje. No caso do Palestra que virou Palmeiras, há a questão da Arrancada Heróica, um libelo contra o preconceito, uma resposta belíssima dos italianos brasileiros ao que acontecia na Segunda Guerra e no próprio Brasil naqueles tempos bicudos.

Quem gosta de esporte e de futebol aprende desde cedo a admirar as grandes instituições e suas histórias.

O Palmeiras respira futebol, mas não é apenas isso.

É também parte da preservação da cultura do imigrante italiano. O Palmeiras dos Periquitos em Revista. O Palmeiras onde Oscar, Ubiratan, Carioquinha e tantos outros jogaram basquete. O Palmeiras palco de competições dos Jogos Pan-americanos de 1963. O Palmeiras em cujo velho ginásio floresceu o culto à música negra e aos bailões funk. O Palmeiras em cujo antigo gramado legiões de metaleiros viram shows lendários de heavy metal.

O futebol que hoje procura um rumo para milhões e milhões de apaixonados sempre foi marcado pelo pioneirismo. Foi no Palmeiras que Brandão inventou a função de preparador de goleiros para Valdir de Morais. Foi no Palmeiras que nos anos 70 chegou a primeira máquina de musculação para reforçar atletas. Foi no Palmeiras que a Parmalat testou com sucesso um modelo de co-gestão.

Aos milhões de palmeirenses de todas as gerações fica essa singela homenagem a um dos maiores clubes de futebol do mundo, um dos pilares da construção do futebol cinco vezes campeão do mundo.

Parabéns ao clube que nasceu italiano mas sabe ser brasileiro.

Cem vezes parabéns!

terça-feira, agosto 19, 2014

Neymar tomou gosto pelo gol agora ou sempre teve, Dunga?

Dunga disse em coletiva, ao convocar a seleção pela primeira vez em sua segunda passagem como técnico, que Neymar tomou gosto pelo gol.

É preciso cuidado com certo tipo de colocação, porque muitas informações podem desmentir certo tipo de análise.

Dunga não levou Neymar à Copa de 2010 e agora sabe que depende dele.

Mas vamos ao que foi dito.

Ao afirmar que Neymar tomou gosto pelo gol, entende-se que, na avaliação de Dunga, ele não tinha gosto antes. Resumindo: não fazia muitos gols ou não tinha gosto por fazer.

Fui à página oficial de Neymar buscar números.

Em 2010 ele fez 44 gols.

Em 2011 foram 40.

2012? 56.

2013 a marca foi de 37.

Neste ano de 2014 o craque fez apenas 14 gols.

Ou seja: Neymar já surgiu com gosto pelo gol, ele sempre fez muitos gols. Inclusive mais gols no início da carreira do que no momento atual.

Questão de gosto.

segunda-feira, agosto 18, 2014

Palestras extremos

O Brasileirão 2014 expõe duas realidades dramaticamente opostas no grupo dos times históricos.

Dois irmãos de origem, que nasceram das colônias italianas para capturar paixões pelo País e se transformar na preferência de milhões de torcedores.

Construíram belas histórias cultivando uma tradição comum: o gosto pelo bom futebol e a formação de grandes times.

As semelhanças entres os Palestras, que há alguns anos eram muitas, atualmente ficam por aí. 

O que virou Palmeiras e foi seguramente o grande time do País entre o final dos anos 60 e início dos anos 70 do século passado entrou numa espiral de decadência que soa irreversível. O que adotou o Cruzeiro e deixou um pouco de lado as raízes italianas ensaia um domínio que pode sinalizar a ocupação do espaço em termos de repercussão nacional que já foi do antigo xará. Sempre fiel ao seu estilo de futebol bem jogado.

Os números atuais gritam.

O Palestra mineiro desfila superioridade. Vem da conquista com facilidade do Nacional de 2013 e já soma 33 pontos em 2014, com 32 gols marcados, 13 sofridos, dez vitórias em 15 jogos, sendo três triunfos e dois empates nas cinco partidas mais recentes.

O Palestra paulista veio da Série B e soma esquálidos 14 pontos em 15 jogos, tomou 21 gols e fez apenas 12, tendo vencido somente 4 jogos em 15. Nas últimas cinco partidas perdeu quatro e empatou uma.

A questão macro parece ainda mais promissora para os mineiros e desesperadora para os paulistas.

O Cruzeiro é um clube politicamente moderno, apaziguado, com um programa de sócio-torcedor que cresce diariamente, um patrimônio modernizado, centros de treinamento de excelência e um trabalho de base que abastece frequentemente e com qualidade o time principal. Fora isso, estabeleceu-se como clube poliesportivo, com um grande time de vôlei e equipes de corrida de rua e de pista competitivas.

O Palmeiras vive uma confusão política perene, com uma orquestra de corneteiros, divisões políticas históricas. Nunca soube trabalhar a base, acumula dívidas, comlra mal e vende pior, fez uma parceria para reformar seu velho e ultrapassado estádio mas vive  às turras com o parceiro. Até suas jovens lideranças manifestam pensamentos mofados e ultrapassados pelo passar do tempo. A tradição poliesportiva tenta ser retomada por um time de basquete que apenas luta na parte do meio das tabelas.

O Palestra paulsta recita de cor e salteado aquele velho mantra popular do Pai Rico, Filho Nobre e Neto Pobre.

O Palestra mineiro não vive dos devaneios do passado como o irmão de sangue italiano, que vive lutando por reconhecimento de títulos que a história já havia reconhecido, apenas por questão de nomenclatura.

O Cruzeiro, sete anos mais jovem, vislumbra o futuro no horizonte.

O Palmeiras centenário olha para o passado e nele fica, nostálgico, letárgico.

Pouca coisa sugere que este cenário seja alterado em curto prazo. Parece mais provável que num prazo de dez anos o Cruzeiro esteja ocupando o lugar que hoje é do Palmeiras no G-4 dos times mais populares do Brasil.

A conferir.








quinta-feira, agosto 14, 2014

Nosso futebol premia a derrota

O mérito é algo que deve ser sempre premiado quando se fala em esporte de alto rendimento.

É preciso buscar o resultado pensando em algo que possa realmente ser considerado um prêmio. Quando uma derrota na Copa do Brasil, uma competição nacional, "classifica" uma equipe para uma competição internacional, portanto hierarquicamente superior, o mérito vai para a lata do lixo.

Essa é uma das muitas correções mais importantes a serem feitas no calendário do futebol brasileiro, muito mais importante do que o mantra patoteiro de adequação de calendário às grandes ligas da Europa.

Repito o meu mantra sobre o tema, sem querer agredir gratuitamente. O patoteiro é uma provocação brincalhona.

O futebol brasileiro tem que se adequar à vida brasileira, ao calendário nacional, às particularidades do País.
A solução do calendário deve passar por um estudo nesse sentido, penso eu.

Como sempre digo, será que vai melhorar a segurança do trânsito no Brasil se adotarmos a mão inglesa?

Os clubes deixarão de vender jogador se o calendário nacional for macaca de auditório dos grandes campeonatos europeus?

Agora, faz todo sentido racionalizar, desinchar estaduais (não sou favorável à extinção dos mesmos, mas a uma adequação, aí, sim, à realidade de cada região), criar uma janela para torneios internacionais realizados aqui ou excursões.

Enfim, há muito o que ser discutido e não existe solução definitiva. A verdade não tem dono.
Mas enquanto a derrota for premiada fica difícil pensar em algo melhor no futuro.

sexta-feira, agosto 08, 2014

Brandão Eterno

Não sou escritor. Sou um jornalista que se aventurou a escrever livros. Foram quatro até agora. O mais recente deles, uma ousadia: um perfil biográfico de Oswaldo Brandão.
Não chamo de biografia porque não tenho formação para escrever uma biografia, não estudei História, não domino as técnicas dos historiadores.
Sou jornalista, gosto de escrever e tento aprender desde que comecei nisso, há bastante tempo para ter aprendido melhor.
O sonho de todo jornalista é contar bem histórias.
Confesso que por ser um autor pouco conhecido, não ser um escritor celebridade e nem mesmo uma celebridade, meu temor era de que o livro não sobrevivesse ao lançamento.
Porque lançamento de livro é um "me engana que eu gosto".
Graças a Deus, tenho muitos amigos, e amigos é para essas coisas tipo lançamento de livro de amigo.
Uma boa oportunidade de rever a turma, dar boas risadas, recordar histórias. O livro serve como desculpa. Não me iludo quanto a isso.
Fico feliz em saber que Oswaldo Brandão-Libertador Corintiano, Herói Palmeirense sobreviveu ao lançamento.
Fui informado pela editora que o livro, lançado em abril, vendeu mais do que o dobro do que foi vendido no lançamento desde então. Quase o triplo. O que não considero pouco, porque o lançamento estava bem cheio.
Para um sobrevivente dessa profissão seriamente ameaçada de extinção que é o Jornalismo, fico sinceramente lisonjeado.
Espero que o livro continue vivo para que eu possa, numa segunda edição, reparar alguns erros que foram impressos por terem passado por minha revisão e por algumas fontes equivocadas que consultei. Também espero que esses vacilos desse autor não tenham maculado a história desse personagem fantástico que foi Oswaldo Brandão.

segunda-feira, agosto 04, 2014

A torcida dos sem-time

Se houvesse vontade dos dirigentes do futebol brasileiro em debater o futuro do esporte, eles olhariam com atenção para a pesquisa recém-divulgada pelo Data Folha sobre as torcidas dos clubes do País.

Mais do que a discussão rasa sobre quem tem mais torcedores, time A ou B, há um dado que é alarmante: 23% dos entrevistados não torcem para time algum.

Esse contingente é maior do que as torcidas dos dois clubes mais populares do País: Flamengo e Corinthians, que têm números de 18% e 14%, com margem de erro de 2% para mais ou para menos.

Esse contingente é muito maior do que o percentual de clubes como São Paulo, Palmeiras, Vasco, Grêmio, que convivem num empate técnico com índices que vão de 8% a 4%.

Termos como País do Futebol, Esporte das Multidões parecem cada vez mais fora de propósito.

Não que se deva desprezar números de clubes que amealham mais seguidores que a população de muitos países.

O que deveria ser estudado é porque o futebol não fala para 23% dos brasileiros.

E o que fazem os clubes para seduzir esses 23% e convencê-los de que vale a pena torcer por alguém?

Como o nível técnico atual, a violência nos estádios e a audiência em queda, se houvesse gente séria e interessada no futuro da modalidade, a pesquisa teria acendido o sinal vermelho.

Mas....

segunda-feira, julho 28, 2014

Turma da frente e turma do fundão


No meu tempo de escola era comum que as classes fossem divididas entre turma da frente e turma do fundão.

Para os professores a turma da frente era formada pelos bons alunos, que se interessavam pelas aulas. No fundão sentavam os maloqueiros, que optavam pela bagunça.

Havia também a turma do meio, que trafegava entre as outras duas conforme o interesse.

O Campeonato Brasileiro também pode ser definido desta forma, com a licença poética de recordar os tempos da aurora de nossas vidas.

A turma da frente, aquela que constantemente deve disputar título e vaga na Libertadores parece estar caminhando para se tornar uma turma de elite.

Cruzeiro, Corinthians, Internacional e Fluminense formam, hoje, o pelotão de frente.

Ao que tudo indica, parecem ser os candidatos mais fortes ao título. Têm elenco, bons treinadores, jogadores decisivos e avançaram na busca por um padrão de jogo.

O Cruzeiro caminha a passos largos para desbancar Palmeiras e Vasco da posição de grandes forças populares e se instalar ao lado de Flamengo, Corinthians e São Paulo neste patamar. Tecnicamente, sempre foi dos gigantes nacionais.

Embora não vença o Nacional há muito tempo, o Inter é sempre candidato e ganhou muita coisa desde que se reinventou, a partir de 2003. O mesmo vale para o Corinthians, que aprendeu com a queda em 2007 e voltou ainda mais forte. O Flu é um ponto fora da curva porque, ao que se sabe, tem um futebol terceirizado que vem dando certo. Enquanto a patrocinadora for forte, o time será forte.

A turma do meio é numerosa.

Santos, São Paulo, Grêmio e Atlético Mineiro parecem seduzidos pelas primeiras filas, mas ainda lhes falta qualidade para dar o pulo.

Para uns faltam jogadores em posições-chave, para outras falta jogo coletivo, sistema tática definido, boas ideias.

O Santos ainda busca regularidade. O São Paulo procura uma forma de jogar, ainda não existe como estrutura coletiva e tem feito muitas apostas, altas, em jogadores que não respondem. Ao Grêmio faltam jogadores importantes em posições decisivas, como volantes mais capacitados. O Galo ainda vive a era de remodelação pós-Libertadores.

Claro que não se pode esquecer alunos que costumam sentar no fundão mas ousam buscar uma vaguinha lá na frente. Notadamente Sport e Goiás, com belas campanhas, ainda que sem muitos recursos. O Atlético Paranaense também figura nessa lista.

Existe uma classe de times que sempre viveu sentada na primeira fila mas parece ter caído no conto do fundão. Palmeiras, Flamengo e Botafogo estão ali. Não se contentam com o meio, por causa do passado importante, mas afundam sucessivamente em meio a péssimas administrações. Vivem hoje entre conquistas esporádicas, rebaixamentos ou luta para fugir de rebaixamentos, dívidas astronômicas e uma sucessão de dirigentes incapacitados.

O Flamengo insiste em acreditar que será salvo sempre pela força de sua torcida e de sua camisa, repetindo erros históricos. O Botafogo ensaia projetos de reconstrução que não se sustentam e soa refém da depressão de parte de sua torcida. O Palmeiras ofende seu passado com times pavorosos e dirigentes anacrônicos, independentemente de suas idades. Os três parecem fadados a sentar no fundo por um bom tempo até aprenderem suas lições.

Existe aquele pessoal da turma do fundão que luta com todas as forças para sair dessa situação, mas em condição desigual. Os catarinenses, os baianos e o Coxa. Times que não contam com os recursos financeiros dos grandes, resistem bravamente mas vivem numa eterna gangorra.

Aguardemos a sequência de jogos para ver como ficará a configuração da sala de aula.

sexta-feira, julho 25, 2014

A mulher de César e a seleção brasileira


Durante muito tempo eu escrevi Seleção Brasileira assim, em caixa alta. Coisa de manuais de redação, um terreno que seduz muita gente mais preocupada com a forma do que com o conteúdo. Mas esse é tema para outro texto.

Atualmente escrevo seleção brasileira em caixa baixa, principalmente quando me refiro à de futebol,  a masculina. Ela não merece mais do que isso.

Não sei se algum manual de redação por aí conocordaria se eu passasse a escrever também cbf em caixa baixa. Acho que não, porque vem aquela velha história das siglas, sendo em três letras sempre em caixa alta, mais que três em caixa alta e baixa etc. Pura perfumaria. Sempre achei que manuais de redação foram tentativas de algumas pessoas de vencer discussões de boteco quando receberam poder para tal. Não que sejam inúteis, mas...deixa para lá.

São dias difíceis para alguém, como eu, que cresceu identificando algo de mágico, místico e intocável na camisa amarela da seleção brasileira (e na azul também, claro).

Entregue ao destino comercial que os dirigentes escolheram para ela, tem perdido essa aura ano após ano.

É um pouco aquela velha máxima imperial romana de que à mulher de César não basta ser honesta, ela precisa parecer honesta.

Em mais uma grande reportagem, o colega Lúcio de Castro, um dos nossos últimos repórteres investigativos na área esportiva, prova com documentos que Dunga, o novo velho treinador da seleção brasileira, participou de negociações de jogadores, recebendo percentuais nessas negociações. Nada criminoso ou ilegal, registre-se.

Mas e a moral e os bons costumes? Casa com o discurso pseudo patriótico-nacionalista do treinador? Em especial quando seu novo chefe é um empresário de jogadores com 14 anos de carreira? Ainda mais quando Dunga se veste de intocável apenas por ter sido campeão mundial em 1994. Sem esquecer que antes dele três seleções já tinham sido campeãs mundiais pelo Brasil.

Será que alguém ainda se surpreende com isso?

Gilmar e Dunga não são protagonistas dessa tragicomédia. A chave do circo está nas mãos de quem os contratou, a dupla Marin/Del Nero ou Del/Nero/Marin, não importa a ordem. São eles que mandam no futebol brasileiro e entenderam que para reformular a seleção brasileria a melhor ideia seria contratar um empresário de jogadores e um treinador bissexto que também enveredou por esse mercado.

Aí retorna Mauro Silva, um bom cara, bom papo, mas que ano passado desancava a CBF (ops, cbf) e agora vai trabalhar para ela. Depois de ter fugido da Copa América da Colômbia com medo de terrorismo, mesmo tendo vivido na Espanha anos e anos quando  ETA (ou eta) marcava território a bomba.

Isso posto, bom final de semana a todos, porque os fatos falam, gritam.

terça-feira, julho 22, 2014

Um museu de grandes novidades


Batuco essas linhas cerca de uma hora antes de Dunga, pelo que afirma o noticiário, ser reconduzido oficialmente ao cargo de treinador da seleção brasileira de futebol.

Algo como embarcar no De Lorean de Doc Brown e voltar no tempo até 2007. Um ano depois da desastrosa participação brasileira na Copa da Alemanha, quando o quarteto mágico se desfez em meio à adiposidade de alguns de seus integrantes.

A CBF, então presidida por Ricardo Teixeira, entendeu que para consertar o erro dela mesma, que autorizara um clima de convescote na preparação, o correto seria chamar um bedel e colocar a casa em ordem. Dunga, soldado fiel dos princípios da CBF, atendeu ao chamado prontamente.

Como parece ter atendido novamente. Tenho a impressão de que Dunga foi procurado antes de Gilmar Rinaldi. Para fazer parte do museu de grandes novidades, com a licença da citação de Cazuza, comandado agora por José Maria Marin, ele próprio uma peça de museu, de um tempo abominável.

Sobre Dunga pouco tenho a dizer. Tive raríssimos contatos com ele, quando eu era repórter e ele jogador. Também foram raras as ocasiões em que participei de entrevistas com ele quando assumiu a seleção no cargo de treinador.

Não nutro por ele simpatia pessoal, o que pouco interfere em meu trabalho, já que não avalio pessoas, avalio o trabalho das pessoas como dirigentes, treinadores, jogadores.
Tenho raríssimos amigos entre jogadores, dirigentes e treinadores. Não somam os dedos de uma mão.

Vejo o esporte de um modo que vai além da frieza dos números e das estatísticas. Discordo de quem acha que Dunga fez um bom trabalho à frente da seleção. Foi razoável. Um bom trabalho sobrevive ao resultado. Dunga é um escravo do resultado. Assim como se ufana com as vitórias, se enterra com as derrotas. Sua visão não vai além do ganhou presta, perdeu não presta. Ele se impõe essa realidade com seu comportamento e avaliação.

A pergunta que me fiz assim que o Brasil perdeu para a Holanda em Porto Elizabeth, em 2010, foi a seguinte: fica alguma coisa do que ele fez? O sucessor aproveitará algo?

A sequência dos fatos me faz crer que pouco ou nada se aproveitou.

Veio Mano Menezes, a quem faltou coragem de tocar uma renovação mais firme na Copa América de 2011. Apelou a desinteressados remanescentes de 2010, preocupado com o resultado e não com um rumo.

A Copa América é muito importante, mas vencê-la não quer dizer nada em termos de Copa do Mundo. Assim como a Copa das Confederações. Vencer essas competições não pode cegar quem as vence. É preciso sabedoria para, mesmo ganhando, reconhecer defeitos e não amplificar virtudes.

O grande equívoco de Dunga, penso eu, foi ter acreditado que por vencer ele estava completamente certo. Faltou a ele, que vende uma imagem de liderança, uma qualidade essencial aos grandes líderes: observação.

Dunga tem razão ao não gostar da mídia, ou de parte dela, que usou seu apelido para carimbar um fracasso da seleção brasileira, o de 1990.

Digo parte dela porque Dunga pensa no micro para atirar no macro. Para atingir pessoas com as quais tem diferenças, cria animosidade com empresas ou setores de certas cidades da mídia.

Muita bobagem se escreveu e se divulgou sobre seus problemas com a mídia.

A desinformação é responsável por muito prejuízo no julgamento.

Vão ler e dizer que escrevo isso porque trabalho para uma empresa com a qual ele tem problema.

Será?

Na Copa América de 2007 Dunga era sorrisos e gentileza e jantava regularmente com profissionais dessa empresa que conhecia dos tempos de atleta. Até a primeira derrota. Então foi preciso encontrar inimigos para utilizar do raso recurso motivacional de nove entre dez profissionais do futebol no Brasil: vamos calar a boca deles, estão contra nós.

Fala-se muito em treinamento, que teria faltado em 2014. Dunga treinava muito em campo reduzido, o chamado treino alemão, mas utilizava a maior parte do tempo para treinamentos de bola parada. Cruzamentos, escanteios, cobranças de falta. Nada fora da cartilha.

Na África do Sul, apesar da vasta experiência em Mundiais, Dunga infringiu regras muito claras da Fifa no que se refere a empresas que compram direitos de transmissão. E tentou forjar uma imagem de independente quando na verdade sabia que estava agindo contra as regras que a sua confederação ajudara a fazer, tendo um vice-presidente da Fifa no comando.

Mas vamos à bola, que é o que interessa. Se não foi espetacular, Dunga tampouco foi um fracasso. Foi de razoável para bom como técnico de seleção. Armou um time de contragolpe e bola parada. Entupiu o meio-campo de volantes, soltou laterais e apostou na habilidade de Robinho e num centroavante. De novo recorro a Cazuza e vejo o futuro repetir o passado quando penso na seleção de Felipão em 2014.

O melhor momento de Dunga foi na fase final das Eliminatórias para a Copa de 2010. O time estava coeso, acreditava na proposta de jogo, era firme. Não por acaso se dava melhor fora de casa, com vitórias convincentes sobre Uruguai e Argentina. A tal proposta do contra-ataque. Mas em alguns jogos no Brasil a coisa enroscava. Faltavam alternativas e criatividade. Houve vaias que não vinham da tribuna de imprensa, mas das arquibancadas.

A vitória na Copa das Confederações escondeu uma série de defeitos apresentados contra times fracos. Na primeira fase, de relevante, venceu a Itália. Ganhou no sufoco do Egito e da África do Sul, e arrancou a fórceps uma vitória de virada sobre os EUA na final.

Quem ousasse afirmar que faltavam alternativas ao time, apesar da vitória, era taxado de inimigo, de espião infiltrado, de não torcer pelo Brasil. A parcela pacheca da crônica esportiva engrossava o coral.

Veio a Copa da África. O Brasil fez 7 pontos na primeira fase, diante de dois adversários fracos e um mediano. Venceu a "poderosa" Coréia do Norte por 2 a 1, fez 3 a 1 sobre a "vitoriosa" Costa do Marfim e empatou sem gols com Portugal. Em 2006, com toda a zona que foi a preparação, o Brasil fez 9 pontos na primeira fase. Em 2014, repetiu a dose de 2010, com 7 pontos. Só para situar.

Em 2006 a seleção atropelou Gana, outro adversário sem tradição, e avançou para as quartas-de-final. Enfrentou o primeiro time de respeito, a França, e voltou para casa. Em 2010 passou pelo Chile, freguês de carteirinha, e nas quartas, enfrentando o primeiro rival com hierarquia, perdeu para a Holanda. Em 2014, suou para tirar o Chile do caminho, passou pela Colômbia sem sobras e foi trucidado pelo primeiro rival importante, a Alemanha.

Ou seja: qualquer que seja o treinador, a história do Brasil nas últimas Copas tem sido muito parecida. Quando enfrenta alguém do mesmo tamanho, dança.

Então porque voltar a Dunga?

Parece-me uma decisão política, acima de tudo. Alguém afinado com os discursos e métodos da CBF. Alguém que criticou abertamente a bagunça de 2006 mas estava no voo da muamba em 1994. Partiria de alguém com esse perfil uma proposta de renovação? Ainda mais capitaneado por um ex-empresário de jogadores?

Alguém sinceramente acredita que Marco Polo Del Nero, próximo presidente da CBF, e José Maria Marin, o atual, queiram renovar o futebol brasileiro?

A fórmula caduca encontrada pelas pessoas que dirigem o futebol brasileiro é sempre a mesma nos momentos de aperto. Fico imaginando uma reunião na sede da CBF, numa luxuosa sala acarpetada, um belo vinho à mesa, serviçais a postos, e alguém puxa uma lista de nomes de campeões mundiais de 1994 e 2002. O Cafu, pelo jeito, não entra nessa lista, já que foi barrado no vestiário do Mineirão após os 7 a 1.

Escolhe-se um campeão mundial e a parcela pacheca da mídia se acalma. Some-se a isso alguém que disfarça rixas pessoais em questões empresariais e cria-se o perfil do falso rebelde.

O resultado é que ninguém discute a doença, fala apenas do remédio escolhido para atacar um dos sintomas. É preciso preservar o lado mais lucrativo, que é o que afeta os resultados da seleção brasileira, de onde sai o grosso do lucro da CBF.

Como analista tenho o dever se seguir sendo isento na avaliação dos trabalhos dos treinadores. Se for bem ou mal, pouco importa se é Dunga, Zangado, Feliz. O que interessa é o trabalho e o que ele deixa.

A pergunta que fica no ar é a seguinte: ganhando ou perdendo a Copa de 2018 (para a qual o Brasil precisará se classificar nas Eliminatórias, lembremos), alguém acredita que com essa turma o futebol brasileiro vai mudar?

Eu não acredito.

Truco!

quinta-feira, julho 17, 2014

Minha sugestão para o futebol brasileiro


Fala-se em mudanças no futebol brasileiro.

Torço para que aconteçam.

Mas, sinceramente, duvido.

Basta ver as pessoas que vão propor essa mudança e seguem no comando da CBF.

São fruto do sistema arcaico que ainda rege nosso futebol. Um sistema que foi apodrecendo, caducou, mas que sistematicamente se amparou em resultados que muitas vezes se mostraram enganosos.

Deixo aqui uma sugestão do que acho que poderia ser feito para repensar ou pelo menos discutir o futebol brasileiro. Não sou o dono da verdade, nem tenho a solução para problemas que se acumulam há décadas. É uma simples sugestão.

De nada adianta contratar um coordenador técnico, por mais competente e atualizado que seja, se ele terá que responder a pessoas cujo pensamento parou no tempo ou responde a outros interesses.

O primeiro passo, e sei que é inviável hoje, pela questão política, seria democratizar o acesso ao comando do futebol. Renovar o colégio eleitoral, arejá-lo, ampliá-lo.

Como isso parece impossível neste momento, parto para outra etapa.

O momento pede uma grande discussão.

O ideal seria montar um grupo de discussão, uma espécie de Conselho do Futebol Nacional. Este conselho seria formado por ex-jogadores das décadas de 50 até atletas atuantes ainda hoje e com experiência internacional. Expoentes no pensamento, na experiência e na execução. Também seriam ouvidos preparadores físicos de excelência, médicos, dirigentes históricos, gente do porte de um Francisco Horta, por exemplo. Profissionais com experiência em outras ligas e outros esportes, executivos de televisão e marketing. Não basta entregar a jogadores e ex-jogadores o futuro do futebol, porque ter jogado, bem ou mal, não fornece a chave para o sucesso em outras áreas do esporte.

Este conselho estudaria nosso futebol por um prazo de, digamos, três a seis meses, para produzir um diagnóstico preciso dos problemas e apresentar um plano de longo prazo que aponte um caminho.

O que poderia surgir deste caminho?

Uma reformulação profunda no sistema de base do nosso futebol, carcomido pela ação gananciosa de empresários, dirigentes e oportunistas.

A criação de uma Escola Nacional de Treinadores de Futebol, que até pode ser supervisionada pela CBF, mas precisa ser independente na questão política, qualificada pela meritocracia e atualização. Dessa escola surgiriam os treinadores do futuro, com estudo e preparação na base do passado glorioso do futebol nacional. Essa escola abasteceria o País de treinadores para trabalhar da base ao profissional.

É preciso resgatar a excelência técnica do futebol brasileiro, mas sem a pequenez da mal disfarçada rivalidade que existe hoje entre o boleiro empírico e o treinador científico. Esses personagens precisam caminhar juntos na busca pela recuperação da nossa identidade.

O Conselho do Futebol Nacional seria encarregado de estudar uma proposta de calendário que não seja uma simples cópia do que se faz nas grandes ligas europeias, mas um projeto que atenda às necessidades de um País do Hemisfério Sul, com dimensões continentais e inserido no contexto dessa realidade.

Desse debate pode sair um novo projeto para o futebol brasileiro, incluindo a modalidade feminina.

Ficaria feliz se desse projeto surgissem medidas como a extinção das seleções brasileiras sub-15 para baixo, que nada acrescentam. É preciso formar melhor nossos atletas e não transformá-los em mini celebridades para atender a interesses comerciais desde muito cedo.

O feudo chamado Granja Comary, cuja utilidade e funcionalidade parecem ultrapassados, representa muito da imagem negativa do futebol brasileiro atual.

A concentração tomada pela névoa que impede e prejudica treinamentos produz uma excelente figura visual e de linguagem para o momento.

A Confederação rica, que nada em propriedades e recursos, contrasta com os clubes em situação falimentar, mesmo recebendo recursos como jamais receberam em suas histórias, de TV, marketing etc.

A elitização proposta por alguns, que entendem que não há mais espaço para times médios e pequenos, é algo que abomino. Porque é uma proposta canibal, que como o tempo transformará alguns grandes em médios e eliminará alguns médios, já que os pequenos estão em processo de extinção.

Repito: não se pode encaixar a realidade da Inglaterra em um País como o Brasil. É discurso para agradar patota e nada mais.

Falar em uma Liga pode soar moderno, mas dirigida por essas pessoas que aí estão ela teria sucesso?

Intervenção do Governo Federal é outra insanidade.

A função de Brasília nisso tudo é fazer com que as leis sejam cumpridas e regulamentar melhor o esporte no País. Até porque o futebol não depende exclusivamente da injeção de recursos federais como boa parte dos esportes equivocadamente ainda chamados de amadores.

Governo tem que garantir recursos para o esporte como educação e lazer, nas escolas e praças públicas. Esporte de alto rendimento deve gozar de incentivos fiscais. É meu pensamento.

Há um grande caminho a ser percorrido.

Mas enquanto não houver amplo debate, as soluções serão sempre paliativas.

O Brasil, no que se refere ao futebol, é raso em termos de ideias. Ganhou está tudo ótimo. Perdeu nada presta. Este pensamento, historicamente, é o maior responsável pelos 7 a 1.

Muda, Brasil!

quarta-feira, julho 16, 2014

Diário do Cotidiano


A Copa de 2014 é história e a vida aos poucos vai tomando seu curso normal.

Inevitável, onipresente, o cotidiano vai reassumindo controle.

Para muitos, inclusive oportunistas de plantão, o dia-a-dia da cobertura esportiva e futebolística voltará a ser assunto de segundo plano.

A Copa atrai todo tipo de gente, inclusive aquele "especialista" que de quatro em quatro anos se arvora o direito de avaliar o trabalho e o pensamento de quem analisa, informa e, também, de quem torce para o futebol do cotidiano. Que é o futebol sem o qual não existiria a festa da qual ele participa como penetra de luxo a cada quatro anos.

Tratada ainda com enorme desprezo por alguns expoentes da própria categoria, a mídia esportiva seduz pela exposição.

Mas ninguém quer viajar na econômica da Séria A e da Séria B, dos estaduais, da primeira fase da Libertadores. Na hora de avaliar com a prepotência de sempre quem trabalha no dia-a-dia e faz girar a roda, o gostoso é embarcar na executiva da Copa do Mundo e deitar falação e textos.

Meu respeito a todos os companheiros que estiveram e que não estiveram na cobertura da Copa e que ontem retomaram o trabalho na Série B, nos treinamentos, nas coletivas. Também aos colegas que mantiveram o interesse do torcedor pelos seus times abastecido com informações durante a folia copesca.

A vida e a batalha continuam.

Vamos juntos até 2018, quando a leva de especialistas quadrienais estará de volta.

 

segunda-feira, julho 14, 2014

Diário da Copa - Hashtag é o.....!


Foi-se a Copa.

Nunca estive entre aqueles que achavam que ela não aconteceria, nem entre os que entendiam que aconteceria em meio ao caos.

A Copa teve cara de Brasil, com seus defeitos e suas virtudes.

Assim como sobrevivemos diariamente ao caos político e administrativo a que parecemos estar condenados eternamente, tocamos o Mundial adiante. Com o jeito do povo brasileiro, que sabe se adaptar às dificuldades e segue tendo uma qualidade admirável: a gentileza.

Por mais que estejamos endurecidos pelas dificuldades do dia-a-dia e uma violência descabida, ainda somos um povo gentil, cordial e que gosta de receber visitas.

O sucesso do Mundial é indiscutível.

Não caio nessa pegadinha de frases e termos antecedidos pelo sinal do jogo da velha (hashtag é o cacete!). A maior parte delas foi pensada por algum publicitário esperto ou por um diretor de marketing antenado.

Esse é o maior problema de uma Copa na era das onipresentes redes sociais: perde-se a naturalidade.

Ao ponto de jogadores da seleção brasileira terem recebido para espalhar frases de alento ao Neymar após a contusão. Isso já bastaria para desprezar esse comportamento.

A Copa do selfie tem disso. Não importa o que se diga ou se faça, importa é registrar o selfie e  o sinal do jogo da velha (hashtag é o cacete!).

Não houve o caos aéreo e nessa, felizmente, eu quebrei a cara. Mas dá para entender lendo entrevistas dos executivos da aviação comercial. Houve queda no número de passageiros em relação à média histórica do período, em cerca de 10% a 15%. Menos gente voando. Uma realocação do período de férias das pessoas, obviamente. O que facilitou as coisas.

A internet brasileira é um lixo, e manteve-se assim durante a Copa. Nenhuma surpresa.

O transporte público brasileiro é um lixo e manteve-se assim, com honrosas exceções. O esquema de transporte por trens e metrô para o estádio em São Paulo foi aprovado com louvor. Também aqui não houve surpresa, porque a Paulicéia é a única cidade brasileira com metrô decente - embora insuficiente para a demanda cotidiana.

O trânsito, nosso vilão do dia-a-dia em qualquer parte de um País cuja economia eleitoreira tenta se segurar na produção e venda de automóveis, também foi o vilão na Copa. De novo, nada que possa ser chamado de surpresa.

Os elefantes brancos, os estádios construídos a custos faraônicos e que até agora não se sabe que uso terão, tipo Arena da Amazônia, Arena Pantanal, Mané Garrincha estarão lá por anos a nos lembrar do absurdo de se fazer uma Copa em 12 sedes por pura ganância política e pagamento de favores eleitorais.

Assim como o mico total de se fazer uma Copa no Brasil e não colocar a seleção brasileira para jogar no Maracanã. Talvez mais um traço de arrogância e prepotência típicos das pessoas que tocam nosso futebol atualmente, acreditando que o Brasil jogaria a decisão.

Diversão houve, com algumas pitadas de arte.

Há uma geração de jovens jogadores que estreou em Copas aqui no Brasil que provavelmente estará tinindo em 2018. Rodriguez, Pogba, Neymar, Goetze, Di Maria, David Luiz, Oscar, Wijnaldum, Kroos, Balotelli e outros.

Não duvido das presenças de alguns craques já figurinhas carimbadas da Copa em mais um Mundial, tais como Robben, Sneijder, o próprio Messi, se bobear até o interminável Klose.

Por falar em diversão, claro que me diverti nesse Mundial. Esse é um dos segredos da minha profissão, saber curtir para suportar as longas ausências de casa, as viagens, os horários malucos, motoristas perdidos etc.

Minha sede favorita da Copa de 2014 foi Salvador. Primeiro porque para o meu gosto tem o estádio mais bonito, que tem mais personalidade. A Fonte Nova foge da regra atual de que, vendo pela TV, a Copa parece estar sendo jogada sempre no mesmo estádio. Sem contar o fato de que vi ali belos jogos de futebol.

Em termos de atitude, outro termo da moda, fecho com Alemanha e Holanda. Seleções de bem com a vida, que esbanjaram simpatia e humanizaram o jogador de futebol, sem ataques de estrelismo, interagindo e mostrando que são seres de carne e osso como todos.

As torcidas deram seu recado. Inclusive a nossa, mesmo sendo formada, na maioria por um tipo novo de torcedor, o de RH. Aquele que ganha de brinde o ingresso da Copa e vai na mordomia, com tudo pago. Esse é o esquema da Copa. 60% dos ingressos são comprados pelos patrocinadores, que os distribuem a seus clientes como cortesia.

Daí veio o termo torcida de condomínio. Mas que deve ser creditado apenas a 60%, pelos números do negócio.

Mesmo assim, levamos um banho dos mexicanos, dos americanos, dos argentinos e dos holandeses e alemães em termos de animação. Sem contar as aulas de cidadania dos japoneses.

O mico das arquibancadas foi a vaia ao hino chileno no Mineirão.

Felizmente compensado pela torcida de Brasília no jogo do terceiro lugar. Apoiou e vaiou na medida certa.

Mas confesso que me diverti mais na Copa da África do Sul.

Não que tenha faltado diversão aqui, mas foram situações e momentos diferentes.

De todas as sedes do Brasil eu só não conhecia Cuiabá. E sigo sem conhecer.

Na África era tudo novidade para mim. Viajei muito, comentei mais jogos do que comentei no Brasil, pude experimentar uma nova cultura, ver novas paisagens.

Sem contar o vinho deles, infinitamente melhor do que o nosso.

E a naturalidade.

O sul-africano soube viver a Copa sem sinal de jogo da velha (hashtag é o cacete!), sem música ensaiada antes, sem choro previsível. As redes sociais não tinham se transformado em praga, não havia a ditadura do selfie, o Brasil não tomou de sete. Havia uma alegria natural nos sul-africanos em estarem sendo apresentados ao mundo. E havia Nelson Mandela entrando em triunfo no Soccer City.

Como já escrevi aqui em postagens anteriores, havia também música muito melhor do que a que foi executada na nossa Copa. Teve Waka Waka, Freshlyground, Malaika, Masekela, Ladysmith Black Mambazo.

A música brasileira de primeira qualidade, riquíssima, foi jogada para escanteio nessa Copa, preterida por pagode e pop baiano comerciais, pasteurizados e repetitivos.

Falar de futebol é chover no molhado.

O brasileiro deu vexame.

Arrogante, autoconfiante, prepotente, mal treinada, tensa e raivosa, a seleção brasileira fez hora extra na Copa. Deveria ter saído nas oitavas, por desempenho. Foi até a semifinal sem ter enfrentado um adversário de hierarquia, apenas para ser humilhada. Felipão, perdido em seu mundo de eternos antagonismos, acha que foram apenas seis minutos, quando os erros são de 15, 20 anos.

Enquanto formos seduzidos pelo canto da sereia da Copa das Confederações e tivermos os dirigentes que temos à frente da CBF, mudar esse quadro será difícil.

Pior ainda é ler que existe uma corrente que acredita que a saída seja estatizar o futebol brasileiro. Uma conferida no que existe hoje na Argentina, onde algo nessa linha foi feito, deve trazer uma lufada de bom senso. O que é preciso é fiscalizar e injetar competência e preparo onde existe política e interesse.

Desaprendemos a ganhar. Viramos resultadistas juramentados. Não temos a capacidade de ver o que os ianques (olho neles em 2018!) chamam de big picture. Estamos sendo engolidos pela era do selfie. Perdemos a naturalidade também dentro de campo.

Os alemães hoje têm o toque de bola que um dia foi nosso. A Holanda tem as jogadas de linha de fundo que nós sabíamos fazer. A Argentina mostrou a dignidade e a inteligência em campo que nossos jogadores costumavam ter. Exceto o Aguero, que deu um soco canalha do Scweinsteiger.

A Copa veio e foi embora, como outras virão.

A vida segue, como esporte e o Jornalismo do dia-a-dia.

Conteúdo nunca é demais.

Cada vez me sinto mais um dinossauro. Meu objetivo é conteúdo, preparo, pesquisa. Não tenho sorriso fácil, não faço selfie e não uso o sinal do jogo da velha.

Hashtag é o cacete!
 

sexta-feira, julho 11, 2014

Diário da Copa - Aos meus amigos argentinos

Sim, eu tenho amigos argentinos.

Muitos, tenho orgulho em dizer.

Estive por baixo umas 15 vezes na Argentina. Sempre fui muitíssimo bem tratado.

Mas a maioria dos amigos argentinos que tenho a alegria de manter até hoje conheci ainda na adolescência, sabem onde? No Brasil, em Santa Catarina. 

Os irmãos Oliveira, um time de futebol de salão, todos muito bons de bola e pessoas da mais elevada educação. Apaixonados pelo Brasil e pelo futebol brasileiro. Filhos de um português chamado Américo, que se casou com uma argentina chamada Zulema, depois de ter chegado ainda criança a Buenos Aires. Ambos profundos conhecedores de futebol e admiradores da bola e da gente brasileiras.

Minha quase irmã Galatea, espiritualmente mais baiana e carioca que muitos de nascimento.

Temos muito mais em comum com os argentinos do que possa fazer pensar quem leva a rivalidade futebolística a um patamar próximo da idiotice.

Você acha que gosta e entende de futebol? É daqueles que se acha craque e profundo conhecedor? Tome um táxi em Buenos Aires e você povavelmente receberá uma aula, inclusive, de futebol brasileiro. Sim, senhor especialista, o argentino adora futebol e tem profunda admiração pelo nosso. Cita times e jogadores brasileiros históricos de memória. Atreva-se a falar de tática e levará uma sova.

Claro que temos imbecis dos dois lados da fronteira. Gente que leva a sério provocações infantis que são uma das muitas expressões de rivalidade entre adversários que, no fundo, não vivem um sem o outro. 

A mão pesada de setores e pessoas da mídia potencializa essa situação.

Enquanto iso, quem sabe levar a vida sai da Argentina e se diverte em Búzios, em Porto Belo, no Nordeste, convivendo em harmonia com os vizinhos. Em resposta educada, nos embriagamos com o marvilhoso vinho deles ou com as paisagens incríveis dos Andes e o churrasco sem igual (embora os imrãos uruguaios achem que o deles é melhor).

O velho e saudoso Américo me contava que jamais esqueceu do dia em que viu Pelé matar uma bola de queixo contra o Boca Juniors dele, na Bombonera. Quando seus filhos, em especial o Javier, o provocavam sobre Maradona, ele respondia: "Tchê, boludo, el Negro es único, no me hables de Maradona".

Fernando, também quase um irmão, treinador de futebol que revela e educa muitos talentos, sempre me fala maravilhas sobre a técnica apurada dos brasileiros com a bola nos pés e limão e cachaça nas mãos. Tanto que aprendeu a fazer caipirinha.

Rodolphito, nosso motorista na Copa América de 2011, ex-combatente da Guerra das Malvinas, capaz de chorar ao se despedir da nossa equipe, arriscar um português mambembe e lamentar pela decadência do Banfield como lamentou a eliminação brasileira diante do Paraguai.

Graciela e Bernardo, argentinos que escolheram o Brasil como casa e trabalham pela cultura dos dois países incessantemente.

Sempre estive ciente da rivalidade no futebol. Afinal, são os países que mais produziram grandes jogadores. Mas, sinceramente, acho que levamos a sério demais esse papo, nós, brasileiros. 
Estive em Buenos Aires uma semana após o Brasil ganhar o tetra e, acredite, houve festa por lá. Torceram por nós e reverenciaram Romário.

Meu amigos argentinos sabem que em Copas sou um cucaracha assumido. Torço pelos latino-americanos, sempre. 

Mas desta vez estou dividido. Ainda que Messi e todos vocês, mis hermanos, me façam ver com simpatia um tri argentino, sinto-me atraído pelo toque de bola hipnotizante dos alemães e sua incrível capacidade de organização, que me faz sentir uma gostosa inveja. 

Enquanto isso, na Granja Comary....

De qualquer modo, embora eu ainda ache que a Holanda merecesse estar na final e mereça um título pelo conjunto da obra, quem for campeão no domingo fará bem ao futebol.

A Alemanha, que soube se reinventar e jogar com talento, num prazo de 14 anos. Ou a Argentina, que mesmo sem ter um timaço como muitos que já teve na história, tem Messi, Di María e soube se reinventar em um mês, sem a arrogância e a prepotência que muita gente teima em colar na testa dos vizinhos mas anda sobrando em nossos "professores".

Pela grande quantidade de amigos argentinos apaixonados pelo Brasil que colecionei na vida, admito que, se eles terminarem o domingo felizes, abrirei um Malbec para celebrar essa gostosa vizinhança.

Sem antes deixar de lembrar que só nós temos cinco títulos e que só o Pelé fez mil gols. 

Saludos, mis queridos amigos argentinos. 

Disfrutemos.

terça-feira, julho 08, 2014

Diário da Copa - Uma derrota que começou há muito tempo


O sacode aplicado pela Alemanha numa apática e desconexa seleção brasileira não pode ser lido como um episódio isolado.

Vá lá que tomar de 7 em casa não é um resultado normal, tudo bem.

Mas é preciso dar a cara a tapa e reconhecer que o futebol brasileiro está perdendo esse jogo há muito tempo.

Diria que o primeiro gol dos 7 feitos ontem começou a ser trabalhado em 1994. Isso mesmo, no Tetra. Outros tentos foram adicionados no vice de 1998, no Penta em 2002. Aí o estrago já estava em adiantado estágio de gestação.

Mas o que virou goleada mesmo foram as vitórias na Copa das Confederações de 2005, 2009 e 2013. Essas fizeram mais mal ao futebol brasileiro que as conquistas de Copa América nesse período e as eliminações em Mundiais e na própria competição sul-americana em 2011.

Um vírus já havia tomado conta do futebol brasileiro, lá na base. A infecção era poderosa, mas as vitórias, em vez de provocarem também a reflexão necessária, cegaram.

A geração de 2002 foi a última grande geração do futebol brasileiro. Uma geração de jogadores que já estava na ativa em 1994, quando um grupo de atletas que havia naufragado em 1990 conseguiu vencer o Mundial nos Estados Unidos. A turma de Ronaldo, Rivaldo, Cafu, Roberto Carlos, Marcos, que seria campeã oito anos depois, já era boa em 1994.

Esse grupo que ganhou o Tetra era herdeiro da geração dos anos 80, marcada pelas derrotas em 1982 e 1986. Principalmente a de 1982, que provocou uma grande mudança de rumo na cabeça de treinadores e dirigentes do futebol nacional. Inclusive do próprio treinador de 82, Telê Santana, que foi um profissional muito diferente quatro anos mais tarde, em seu segundo Mundial. Vamos dar nome aos campeões para sentirmos o peso da diferença: Taffarel, Jorginho, Branco, Romário, Bebeto, Leonardo, Aldair, Ricardo Rocha etc.

O Brasil se transformou na Pátria do melhor futebol do mundo porque sempre foi diferente. Ganhava porque jogava diferente de todo mundo e porque tinha jogadores que fugiam do óbvio graças a uma característica: a excelência técnica. O melhor domínio de bola, o melhor toque, a habilidade, o improviso.

Nunca vencemos por termos inventado um sistema de jogo revolucionário, uma tática coletiva que fizesse a diferença. Nada disso. Nosso futebol sempre se destacou por saber encontrar uma maneira de aproveitar a qualidade técnica e a habilidade de nossos atletas.

Nossos volantes (ou cabeças-de-área) jogavam de cabeça erguida, não erravam passes, nem os mais ousados, muito menos os de cinco metros. Nossos zagueiros tinham um tempo de bola quase que científico de tão perfeito. Nossos meias, que maravilha! O toque, a tabela, os lançamentos, a visão de jogo, a leitura da partida. Atacantes havia às pencas. Rápidos, dribladores, matadores, centroavantes clássicos, raçudos.

O maior mérito de nossos treinadores, e temos e tivemos muitos grandes treinadores, sempre foi saber levar a campo os melhores e tirar deles o melhor individualmente. Por isso os gringos vinham ao Brasil, filmavam nossos treinos e jogos, tentando entender como era possível que nesse País em se jogando bola tudo dava craque.

Acontece que a vitória embriaga.

Já havia um problema sinalizado há muito tempo por jogadores de gerações de excelência e treinadores legitimamente preocupados com o futuro.

Nossa fábrica de jogadores não era eterna.

A ganância de empresários e a sede por vitórias onde elas não são fundamentais, nas categorias de base, foram minando o futebol brasileiro silenciosamente. Na base se forma jogador, não se ganha taça.

Porque acreditar num garoto de talento ainda em formação, mesmo que com enorme potencial, se é possível vencer jogos na categoria 14 anos escalando os mais altos e fortes, mesmo que não sejam os de mais qualidade? Afinal, campeão no sub-14 pode pavimentar seu caminho para o sub-17 e levar sua mediocridade até um time principal, com base na ilusão de uma vitória mentirosa.

Nisso, muitos talentos se perderam.

A ordem era formar volantes pegadores e zagueiros que soubessem "zagueirar". Ensinar um lateral a defender, sua primeira obrigação, para quê? Para isso temos os volantes, em profusão. E lá se vão nossos laterais, para voltarem quase sempre atrasados. Meia armador pensando o jogo, dando ritmo, entendendo o que se passa em campo, lançando, virando jogo? Nada disso. Melhor colocar mais um volante ali, caprichar no escanteio e jogar por uma bola.

A doença avançava silenciosamente. Os sintomas já se faziam notar, mas, praticamente exaurida, a última grande geração ainda nos deu a vitória em 2002. Muita coisa estava errada, mas acreditou-se que em 2006, depois da Copa das Confederações de 2005, ainda era possível ganhar de novo, mesmo com muitas arrobas de peso a mais, festas em vez de treinamentos, jantares num país e jogos em outro.

No meio do caminho perdeu-se uma geração, a gerada em 2002, protagonizada por Robinho e Diego. Deveriam ter chegado ao auge em 2010. Robinho até que ensaiou, mas não deu em nada do que se esperava.

Enquanto isso, a seleção brasileira se distanciava cada vez mais de seu território e perdia a identificação com sua torcida e seu estilo histórico.

Tal qual o ditado que diz que depois de morto todo mundo é santo, ganhando está sempre tudo bem, não importa como se ganhe.

Em 2010 a saída foi militarizar a seleção trazendo para o comando um jogador sem experiência como técnico mas comprovadamente eficaz na liderança: Dunga. Estilo sargento, briguento, enquanto venceu preferiu, em vez de observar e analisar, mandar todo mundo calar a boca. Teve a chance de pensar adiante, pavimentar o caminho e levar jovens jogadores, como Neymar e Ganso, para respirar uma Copa. Preferiu naufragar abraçado ao exército de volantes que salvaram seu emprego na Copa América de 2007 (com ajuda providencial do uruguaio Lugano na semifinal). Quando o roteiro enrolou diante da Holanda, em Porto Elizabeth, deixou claro quão mentirosas haviam sido algumas vitórias. Saiu esmurrando o banco, nem sequer entrou em campo para consolar seus jogadores.

Neymar, o expoente da geração que chegou às semifinais na Copa de 2014, é ponto fora da curva. O único jogador brasileiro extraclasse. Ganso deu pinta de que resgataria a mística da camisa 10, mas ainda não cumpriu. Há muitos bons jogadores, dois zagueiros espetaculares. Para 2018 a perspectiva de se montar uma seleção interessante existe.

Mas onde foram parar nossos laterais que sabiam marcar e jogar? Volantes com boa saída de bola? Aliás, que tragédia foi a saída de bola da seleção brasileira na Copa em sua casa. Meias armadores seria pedir demais? Atacantes de lado de campo que conseguissem correr e acertar o cruzamento ao final da corrida?

Não nos deixemos iludir. O mais interessante meia canhoto da Copa era colombiano. Os melhores volantes são os alemães, que tocam a bola como os brasileiros sabiam fazer. O melhor ponta é um holandês, que tem um legítimo camisa 10 jogando ao seu lado. O maior goleador das Copas é um polonês que se naturalizou alemão. O craque do momento é um argentino. Havia dribladores na Suíça, acreditem! O Chile envolveu o Brasil taticamente e por centímetros não mandou a canção do sonho do hexa uma oitava abaixo.

Cada vez  mais os estrangeiros que afirmam que nosso futebol está ultrapassado parecem ter razão.

Falta humildade, como bem disse o Ricardo Rocha, no SporTV.

Os jogadores talvez sejam os menos culpados. Em muitos casos são levados a pensar e agir como superestrelas, quando seu brilho é raro.

A direção do futebol brasileiro é um caos. Aposta sempre em repetir experiências do passado, vendo apenas resultados, sem estudar o que se passa mundo afora e no próprio quintal.

Felipão não deve ser crucificado. Até porque tem um aproveitamento invejável em Copas do Mundo. Foi a três semifinais, ganhando uma. Acontece que vinha de um rebaixamento (sim, 2/3 da campanha do rebaixamento do Palmeiras em 2012 estão na conta dele) e de uma longa estiagem de conquistas importantes. Seu maior mérito foi devolver a credibilidade à seleção brasileira, que vinha de uma Copa América pífia. Seu maior erro foi, como seus antecessores, cair no conto da Copa das Confederações.

O próprio Parreira já andava afastado do trabalho de campo, do dia-a-dia.

Não se pode apagar o passado de dois campeões mundiais, mas é preciso estudar o presente para pensar no futuro.

Por isso digo que algumas vitórias embriagam.

Em plano nacional, os treinadores se transformaram, salvo honrosas exceções, em superestrelas milionárias que não aceitam opinião em contrário e entendem que devem mandar nos clubes e não apenas nos times.

Amadores, os dirigentes aceitam condições que muitas vezes levam seus clubes ao caos financeiro e à bancarrota esportiva.

Não existem vilões, nem heróis.

Existe trabalho, tendência.

Deixemos de lado a CBF, uma entidade cada vez mais político-comercial e menos esportiva.

Pensemos no dia-a-dia, no nascedouro, na formação de jogadores.

Os 7 a 1 do Mineirão começaram no momento em que o Brasil parou de aproveitar a matéria-prima abundante para criar produto de excelência.

A bola não está mais com a gente faz tempo.

A ficha só caiu agora.

Sete não é conta de mentiroso.

 

segunda-feira, julho 07, 2014

Diário da Copa - O clube dos 4


Sessenta jogos entraram para a história das Copas.

Restam os quatro mais importantes, que definirão o rumo da taça.

Nesse estágio falar em favoritismo é encher linguiça.

Em campo estarão seleções com história, camisa e peso suficientes para ganhar umas das outras em qualquer local e circunstância.

Bola por bola, time por time, a Alemanha mostrou mais consistência e elenco que os demais.

A Argentina é a única seleção das semifinais que venceu todas as partidas disputadas na Copa. O que não é pouco.

O Brasil é o Brasil. O que também não é pouco. Esteve na recepção da eliminação, sobreviveu e mete medo em qualquer adversário, com ou sem o melhor jogador em campo, em qualquer época.

A Holanda é o intruso sem título nas semifinais. Longe de ser qualquer intruso. Tem três vice-campeonatos no currículo e uma fábrica de talentos que parece improvável dada a sua pequena população.

A Alemanha tem mais grandes jogadores reunidos que os outros adversários. Controla melhor o jogo. Mas é pouco incisiva em muitos momentos da partida. Domina mas demora a finalizar. Thomas Mueller e Schweinsteiger são craques de bola e podem decidir o jogo. Assim como o espetacular e frio Neuer no gol. Há ainda Khedira, Ozil, Hummels, Kroos, Lahm. Todos muito acima da média.

O Brasil perdeu Neymar, mas apresentou o melhor futebol no primeiro tempo contra a Colômbia. Embora futebolisticamente esteja abaixo da Alemanha nesta Copa, é uma equipe perfeitamente capaz de vencer este e qualquer adversário num jogo eliminatório. David Luiz joga uma Copa espetacular e se o meio-campo repetir a atuação da primeira etapa contra a Colômbia equilibrará a posse de bola com os alemães, mudando a cara do jogo.

A Argentina, sem brilho, chegou à semifinais com 100% de aproveitamento. Tem Messi e isso basta para poder vence qualquer partida. Se tiver Di Maria, o que parece pouco provável, será ainda mais forte. Individualmente é o time com mais deficiências técnicas entre os quatro finalistas. Principalmente na defesa. Mas passou por tudo isso em termos de resultado. E só ela tem Messi.

A Holanda luta por uma alegria que esteve perto de viver por muitas vezes, com times mais fortes. Para isso conta com três expoentes: Sjneider, Robben e Van Persie. Sjneider vem crescendo a cada jogo, Robben é candidato a craque da Copa e Van Persie, embora irregular, pode resolver uma partida com um toque. O problema holandês é a lentidão de suas linhas defensivas.

Tem emoção de sobra ainda.

 

sábado, julho 05, 2014

Diário da Copa - O preço da omissão


A omisão de um árbitro covarde tirou Neymar da Copa do Mundo.

O espanhol Carlos Velasco foi tão ridículo quanto a seleção de seu país.

Pode-se discutir se houve maldade ou intenção de Zuñiga na joelhada de MMA em Neymar. 

O que está fora de discussão é a arbitragem patética do espanhol e seus auxiliares.

Assim como outro árbitro superestimado e superprotegido pela Fifa, o inglês Howard Webb, Velasco goza de enorme prestígio nos bastidores. Mas em campo deixa a carnificina acontecer.

Não se trata de pachequismo. Afinal, Fernandinho também bateu à vontade e poderia ter sido expulso por um árbitro que fosse um pouquinho melhor.

Sempre mal posicionado, tentando vender uma tranquiidade que não tinha, Velasco permitiu a pancadaria e a intimidação.

Zuñiga já havia dado no joelho de Hulk e sua senhoria fez que não era com ele.

Hulk, que nem sequer foi tocado por James Rodriguez na falta da qual sai o segundo gol brasileiro. Mas aí não condeno o soprador de apito, porque da posição em que ele estava a falta parecia clara. Juiz não tem repetição em câmera lenta.

A joelhada em Neymar, acredito, tenha sido mais um lance de força desproporcional para a jogada do que maldade. Era para cartão amarelo. Como era a que ele deu em Hulk. Somados, os cartões teriam excluído do jogo o lateral colombiano.

Sempre é mais fácil posar de moralista em situações como a mordida de Súarez ou um quebra-quebra na porta do vestiário.

Mas a Fifa dá um tiro no próprio pé quando orienta seus árbitros antes da Copa. Todo juiz sabe que para a dona da festa a expulsão de um jogador, especialmente de uma estrela, precisa ser precedida de algo expliciamente violento. Em especial nos mata-matas. É preciso manter os chamarizes em campo.

Mas essa postura permite que o pau coma solto, com a conivência de péssimos juízes como o tal Velasco ou o figurinha carimbada Webb. Ambos sustentados pelo poder que espanhóis e ingleses mantêm nos bastidores da arbitragem mundial.

Neymar foi vítima dessa postura covarde e mercantilista.

Mas ele tem bola e vontade para voltar em breve e seguir sua carreira, com potencial para brilhar em 2018 e ser campeão ainda em 2014. 

Velasco e Webb merecem o ostracismo dos omissos e covardes.

quarta-feira, julho 02, 2014

Diário da Copa - O futebol voltou para casa

Uma das melhores sacadas dentre os slogans publicitários em torno da Copa foi aquela frase de que o futebol estava voltando para casa.

Não sei de quem é, mas é ótima.

E voltou com tudo!

A bola que está sendo jogada na Copa do Brasil é digna do País que tratou melhor a criança na história dos mundiais.

Até porque, vamos combinar, a gorduchinha anda sendo judiada com gosto nos gramados nacionais.

Dizem os pesquisadores que desde 1982 não se via tantos gols. 

Vou mais longe, é a Copa mais bem jogada desde a Espanha.

Uma Copa que promete algo ainda melhor em 2018, porque há uma geração de jovens jogadores que  pode estar ainda melhor na Rússia. Mueller, Rodriguez, Neyma, Shaquiri, os próprios Messi e Cristiano Ronaldo, Di Maria, para citar alguns.

Grandes jogos vemos aos borbotões.

Para escolher um, fico com Bélgica x EUA, um jogaço verdadeiramente épico e disputado num ritmo alucinante e entusiasmante.

Que a bola tenha chegado ao portão e dito: eu voltei, agora pra ficar. Porque aqui, aqui é meu lugar!











domingo, junho 29, 2014

Diário da Copa - Virado para a Lua

Felipão é um grande treinador, não se discute.

Ninguém ganha o que ele ganhou se não for realmente bom no que faz.

Agora, convenhamos, além da competência, o treinador tem outro aspecto destacado.

Pode-se usar a expressão popular que seja mais adequada ao momento ou à região.

Felipão nasceu virado para a Lua.

Felipão foi bafejado pela sorte.

Felipão é largo, rabudo, sortudo etc.

Se, dizem, a sorte acompanha a competência, vai ser competente assim na Lua!

Fato futebolístico é que o Brasil escapou de boa contra o Chile. 

A seleção fez seu pior jogo na Copa.

Viu o adversário dominar na segunda etapa, teve uma bola no travessão no lance deradeiro da prorrogação que foi assoprada por 200 milhões.

Mas de um cara que ganha a Copa do Brasil com gol de Betinho não se pode duvidar.

No entanto, além da sorte e de Neymar, seria bom que o Brasil tivesse um meio-campo, setor que não veio a campo nesta Copa.

Contra adversários que possam ter menos respeito pelo Brasil, tipo Holanda, Argentina e Alemanha, seria bom que o time controlasse os nervos.

Parece que a motivação tem sido algo exagerada. Fernandinho entrou para racha na primeira bola e passou o resto do jogo com medo de tomar cartão. No afã de mostrar raça o time transborda ansiedade.

Foi dramático, emocionante. 

Precisa ser mais futebolístico.

quinta-feira, junho 26, 2014

Diário da Copa - Estrelas mimadinhas


Simpatizo com o Lugano. Inteligente, esperto. Venceu no futebol sem ter quase nenhum talento para a prática do esporte bretão. Conhece suas limitações e sempre teve uma postura interessante em relação ao jogo disputado em campo e o que ele representa. Separa a realidade das quatro linhas da vida fora delas com precisão.

Mas deu uma entrevista constrangedora ao falar da mordida de Suárez em Chielini. Prestou-se ao serviço de boi de piranha. Comprometeu seu perfil de jogador diferente fora de campo. 

Lugano conta com o beneplácito de uma parcela importante da mídia uruguaia e também da brasileira, por motivos que ficam evidentes quando se presta alguma atenção.

Não sou corporativista. Vivemos um momento difícil na mídia de forma geral. Há uma grande confusão entre notícia, show, entretenimento e gracejos. 

A facilidade em fazer piadinhas é inversamente proporcional à dificuldade de enfileirar voas perguntas.

Muita gente busca ser notícia em vez de dar notícia.

Jogadores e treinadores de futebol sempre foram paparicados demais. Sempre foram estrelas. Justamente.

Mas atualmente a coisa extrapolou. Mimados acima do limite, milionários ególatras, atletas e grandes treinadores consideram-se intocáveis. Há cada vez  emls exceções. Postura que respinga até no comportamento de alguns coleguinhas.

Cobram respeito à privacidade mas expõem até as entranhas nas redes sociais. E não reclamam de privacidade quando ficam no ar o dia inteiro em troca de polpudos cachês publicitários.

O resultado: tal qual crianças que não conhecem limites, muitas estrelas do futebol fazem beicinho quando entendem ser contrariados ou atingidos por perguntas que consideram agressivas.

Mas quando interessa  a eles, correm para a primeira câmera ligada ou pedem socorro ao repórter setorista com quem têm afinidades.

Sobre o caso Súarez, em que pese a tragicômica entrevista de Lugano, acho exagero falar em suspensão de muitos jogos ou até de anos. Um ou dois jogos estariam de bom tamanho. As câmeras da Fifa mostram a cada jogo trocas de socos, cotoveladas etc. Agressões também, sem julgamento de mérito ou demérito.

O Brasil não tem passado imune a essa nova realidade, na era das chamadas 'mídias" sociais. Houve um constrangedor depoimento de Fred à TV (?) da CBF explicando porque ele achava que sofreu pênalti contra a Croácia. Depois de o jogo ser passado, reforçando a impessão de que uma mentira contada mil vezes pode passar por verdade. Não era para tanto. Erros e acertos acomtecem em todos os jogos. Assim como Felipão clamou por postura de torcedor de jornalistas ao argumentar que o Brasil não teve penalidade marcada a seu favor contra o México.

No meio dessa complicada teia Mcluhaniana há uma figura recente e vaga: o assessor de imprensa pessoal. Personagem que muitas vezes se presta a outro tipo de serviço. Age como mordomo, motorista, carregador de mala e leva-e-traz para o pagador. Desonra a função honrosa de assessor de imprensa. 

Não falo de nenhuma pessoa específicamente, mas de um comportamento. A velha história de ouvir algo, interpretar e levar uma versão editada e modificada ao chefe, amigo, estrela milionária mimada.

Por isso muitas vezes o clima é belicoso, raivoso entre mídia e jogadores.

Difícil apontar culpados. Mas como jornalista, tenho a certeza de que a mídia contribui fortemente para esse estado de coisas, pois transforma em semideuses jogadores medianos e em deuses intocáveis os grandes atletas. A era da adjetivação e da bajulacão foi potencializada pelo interesse comercial, a realidade virtual criada pela propaganda e as inefáveis redes sociais.

Qual o resultado dessa complicada equação? Para mim, a perda da naturalidade e da sinceridade. O sorriso é tão fácil quanto falso. Qualquer postagem nas tais redes pode ser uma armadilha para vender algum produto. A versão oficial se presta a qualquer interesse.

Quer saber?

Vamos voltar para a bola rolando que, por enquanto, está muito mais interessante.

terça-feira, junho 24, 2014

Diário da Copa - O Vampiro Charrúa e o sorriso de Mondragón


Viciante essa Copa.

Situações e imagens inesquecíveis.

Primeiro, o Vampiro Charrúa, Luisito Suárez, mordendo o lento e pesado Chielini na escaldante Natal. 

Nem Zé do Caixão pensaria numa cena tão trash e cult ao mesmo tempo.

Fato é que sem De Rossi a Itália,que já era lenta, ficou paquidérmica. Não que seja um time ruim, mas a velocidade que o jogo pede hoje é outra. Marchisio fez besteira e a Azzurra foi embora.

O Uruguai luta muito. Muitas vezes briga com a bola. Mas vai em frente.

Uma cena tocante deste Mundial aconteceu em Cuiabá. O goleiro Farid Mondragón, aos 43 anos, entrou em campo com a camisa colombiana, sorriso de criança na boca,para tornar-se o jogador mais velho a disputar uma partida de Copa. Prova de que ainda há uma dose saudável de amadorismo nesse futebol movido a cifrões.

James Rodriguez fez o gol mais bonito da Copa até agora. Bela Colômbia.

E o Brasil?

Tem Neymar, com fome de bola e de história. Talvez isso baste. Talvez não. Veremos adiante.

domingo, junho 22, 2014

Diário da Copa - Saudades de Waka Waka

Avião daqui, hotel ali, jogo acolá, para passar o tempo, que teima em não voar quando estamos voando, matutei uma questão.

Lembrei da Copa da África e caiu a ficha: tá faltando música na nossa Copa. Cadê nossa Waka Waka?

Na Copa de 2010 o tema cantado pela Shakira foi a trilha sonora de todos os jogos. Além disso, sempre tocavam muitas músicas, com sistemas de som potentes. Boas músicas, regitre-se.

Pude conhecer o Freshlyground, uma fantástica banda sul-africana, que inclusive acompanha a Shakira em Waka Waka. Eu ouvia as músicas, gravava as melodias na cabeça e pedia aos voluntários para identificar quem cantava. Doo Be Doo, do Freshlyground, Destiny, de Malaika, e muitos outros sons. A música sul-africana é ótima.

Assim como a brasileira.

Mas a começar pela escolha da insossa canção-tema da Copa de 2014, nosso segundo Mundial não honra a qualidade da música brasileira. Recuso-me a chamar de música aquela caricatura constrangedora do com muito orgulho etc.

Pior. Quase não tenho escutado música nos estádios. Não sei se os sistemas de som são menos potentes que os dos campos sul-africanos, mas falta música.

No Mineirão, em Argentina x Irã, rolou uma pitada de Skank, com É Uma Partida de Futebol, prontamente identificada pela galera.

Infelizmente, a Copa no Brasil parece ter se esquecido da riqueza da nossa música. Sei que há questões contratuais, interesse de gravadoras e um desejo cafona de internacionalização da Fifa. Mas Pitbull, Cláudia Leite e  Jennifer Lopez para uma Copa no Brasil é dose.

Tem tanta gente boa, tantos ritmos, tantas lendas.

Mas de uns tempos para cá parece que o monopólio da suposta música alegre do Brasil pertence ao pop baiano de cantoras com voz absolutamente igual, ou do pagode pasteurizado patrocinado por boleiros.

Quem sabe até o funal da Copa, para brindar e celebrar o futebol bem jogado, apareça nossa música.