terça-feira, fevereiro 26, 2013



Desorganizar, já!



Reproduzo a coluna publicada hoje no Diário de S.Paulo e nos jornais da Rede Bom Dia.

É preciso desorganizar a torcida

Parece contraditório em tempos de profissionalismo milionário. Mas arquibancada é lugar para amadores

A lamentável tragédia que ceifou estupidamente a vida do garoto boliviano Kevin oferece uma rara oportunidade para, quem sabe, desorganizar o ato de torcer em um estádio de futebol. Vou mais longe: desorganizar a relação de alguns torcedores com seus times do coração e vice-versa.
O Corinthians, maior fenômeno midiático do futebol brasileiro, tem força de sobra para bancar essa cruzada. Para onde for o Timão, ele será seguido pela maioria dos clubes brasileiros, não tenho dúvidas.

Conversei com alguns importantes dirigentes da instituição Sport Club Corinthians Paulista e todos foram unânimes ao desvincular qualquer relação entre o clube e a viagem dos torcedores que foram até a Bolívia (a grande maioria de um grupo organizado). Existe clara preocupação em não associar o clube ao comportamento desses grupos.

Mas a realidade é diferente. Pode não existir uma relação direta neste caso e acredito nas pessoas com quem falei. Mas o relacionamento chegou a um ponto em que a ordem está se invertendo. Os torcedores que iam ao estádio para torcer pelos times, agora estão participando da vida dos clubes, como associados e até conselheiros e dirigentes. No Corinthians e no Palmeiras, essa realidade só faz aumentar. É cada vez maior a presença de integrantes de torcidas uniformizadas no Conselho Deliberativo. No caso corintiano, inclusive, dirigentes de alto escalão são oriundos desse tipo de organização.

Algumas organizações uniformizadas têm mais associados do que os próprios clubes. Ganham dinheiro vendendo produtos que contam com os símbolos e cores deles e não repassam um tostão em direitos. Todas levam os distintivos em seus uniformes. Concorrem diretamente com os produtos oficiais dos times. É a linguiça comendo o cachorro e lucrando com isso.
Esses grupos encontraram no Carnaval uma maneira de conseguir dinheiro do governo e das emissoras de TV. Transformaram-se em escolas de samba e aumentaram recursos, de forma clara e oficial, sem depender exclusivamente dos subsídios dos clubes. São associações que têm presidentes, advogados, representantes, espaço reservado em estádio e escolta da polícia para ir e vir. Ganharam privilégios. Pressionam, intimidam e, agora, podem fazer isso dentro dos clubes, de seus conselhos e, muitas vezes, diretorias.

Nada tenho contra o fato de alguém querer criar uma torcida organizada. Quando elas surgiram, o objetivo era lúdico. Entre eles, o de levar almofadas para que mulheres e crianças não tivessem de enfrentar o cimento duro das arquibancadas. A dura realidade de hoje mostra uma criança (para as leis brasileiras) levando um artefato letal do Brasil para a Bolívia, cujo uso irresponsável (não se sabe se por essa criança, ou seria uma artimanha legal apontar um menor como culpado?) tirou a vida de outra criança.

É preciso desorganizar o ato de torcer. O profissionalismo no futebol é para jogadores, técnicos e dirigentes. Fora disso, o amadorismo é a senha para se coibir certo tipo de atitude. Não existe corintiano que seja mais fiel do que outro. Palmeirense de alma mais palestrina do que outro. Nem tricolores que sejam mais são-paulinos do que alguns em grupo, tampouco santistas que sejam súditos mais leais do Rei Pelé só porque decidiram que são assim. Todos são iguais perante a paixão e perante a lei.
Situações extremas exigem medidas extremas. O problema social em que a relação de alguns grupos de torcedores com seus clubes e entre eles próprios se transformou jamais foi encarado pelas autoridades. Quem sabe agora, com repercussão negativa internacional, às portas da Copa do Mundo, aqueles que têm responsabilidades profissionais devolvam o saudável amadorismo ao ato de torcer.

Ave rara

Não se trata de Ganso, no caso do São Paulo, mas de Jadson. É o mais regular e eficiente jogador do Tricolor na temporada. Quando o caldo ameaça entornar, ele surge com um gol ou passe providencial. Nesse momento, não existe disputa entre Jadson e Ganso, porque o ex-santista não teria chance alguma.

Paz verde

Mais de 20 mil pessoas no Pacaembu e uma paciência incomum da arquibancada com o time, aguardando uma vitória que seria tranquila, tivessem os atacantes melhor pontaria. Mas ela veio suada, sofrida, com um gol do estreante Leandro, mandando para longe do Palmeiras os ventos da crise e mantendo a paz.

Diga ao povo que...

...fico. É a resposta que o Corinthians deu para a pergunta sobre a permanência ou não na Libertadores. Mas, antes, nos bastidores, lideranças políticas fizeram uma pesquisa informal, inclusive com dirigentes de outros clubes e jornalistas, para testar qual seria o impacto de uma eventual saída do torneio.

Nó tático

Não existe fórmula mágica ou prancheta milagrosa que resolva um problema recorrente e básico no futebol: jogador jogando mal. A coisa piora quando alguns deles estão mal no mesmo time.
Esse é o problema que vive, hoje, o Santos. Individualmente, acontece essa rara conjuntura de vários atletas estarem rendendo mal, o que resulta em desempenho coletivo ruim. Não tem jeito.

Há uma cobrança forte de conselheiros e até do Rei Pelé pelo uso de garotos da base. Mas nem sempre o raio acertará em cheio a Vila Belmiro, como foi com o próprio Pelé, com Robinho, com Neymar.

Neymar é a locomotiva, obviamente. Mas há vagões importantes do trem santista com problemas. Montillo ainda está tímido, sem a movimentação ideal, muito longe da área. Cícero largou bem, mas não manteve o pique. André apenas começa a recuperar a forma. Arouca e Renê Júnior não encontraram o tom correto. A questão das laterais precisa ser resolvida, porque a equipe fica vulnerável na marcação.

Enfim, problemas pelos quais passam todas as equipes. Mas é óbvio que, com a melhora do desempenho individual desses jogadores, coletivamente o Santos vai crescer durante a temporada.

quinta-feira, fevereiro 21, 2013


 

Histórias de Redação


Não é um foguete!

 
 
Até para desanuviar o ambiente pesado pela notícia de mais uma morte estúpida em estádio de futebol, recorro à memória para contar mais uma história de redação.
 
Que, lamentavelmente, envolve um foguete. Ou melhor, não é um foguete! Como veremos.
 
Era dia de Brasil x Chile pelas Eliminatórias da Copa do Mundo de 1990. Maracanã lotado, plantão concorrido na redação da Folha da Tarde (que hoje se chama Agora São Paulo). O cenário de milhões de pequenos ladrilhos coloridos que ornavam as paredes era ocupado pela correria tradicional de uma redação. O recesso, breve, permitia apenas ver o jogo e torcer.
 
De repente, silêncio! Alguns gritos de protesto! Que absurdo! Animais! O Brasil será eliminado da Copa e suspenso pela Fifa!
 
A cena na tela da TV mostrava o goleiro chileno Roberto Rojas caído em pleno gramado do Maracanã, levando as mãos ao rosto e se contorcendo em dor, em meio a uma cortina de fumaça.
 
Indignados, jogadores e dirigentes chilenos deixam o gramado bradando impropérios e protegendo o rosto banhado em sangue de Rojas.
 
Foi-se o recesso na redação. Correria, tensão, adrenalina.
 
Fulano, vá ao arquivo e puxe o perfil do Rojas!
 
Você, localize nosso repórter no Maracanã!
 
Era o José Roberto Malia, editor de esportes da velha FT, um craque nesse negócio de editar jornal, disparando ordens.
 
Vamos descobrir que tipo de foguete era esse!
 
- Não é um "fuguete", é um sinalizador!
 
A voz grave, pastosa, ecoou precisa naquele segundo de silêncio em meio ao caos. Inconfundível, o sotaque meio anasalado e algo nordestino, sentenciava, ressaltando :
 
- Não é um "fuguete", é um sinalizador!
 
O autor da frese era o João, João Faixa, como era conhecido e não consigo me lembrar por quê?
 
Recordo da figura do João. Era o revisor do jornal no past-up, onde as páginas eram montadas antigamente, momentos antes de irem para a impressão na gráfica. João, olhos de lince, encontrava erros, recortava com estilete os trechos equivocados e subia para a redação solicitando a troca.
 
Jornalista é vaidoso por contrato. Odeia que apontem seus erros. Principalmente em público e quando quem aponta o jornalista, do alto de sua arrogância, acha que é inferior a ele.
 
Era o que acontecia com o João Faixa, vítima desse preconceito bobo, com o qual nos divorciamos conforme o tempo vai passando.
 
Mas voltemos à figura do João. Barriga teimando em fugir da calçe e em não alcançar a camisa, deixando o umbigo à mostra. Camiseta básica, calça jeans e muitas vezes um chinelo de caminhar arrastado. Tudo isso ornado por um indefectível palito aos dentes.
 
- Malia, é um sinalizador, desses usados pela Marinha.
 
Naquele dia entendi a frase o silêncio que precede o esporro.
 
Coitado do João.
 
Choveram impropérios.
 
- Cala a boca! Seu ignorante! Vai lá recortar suas páginas etc.
 
Irredutível, João manteve a tese do sinalizador, argumentando que tinha servido na Marinha e sabia muito bem do que se tratava.
 
O tempo se encarregou de acabar com a farsa dos chilenos. Tudo fingido e arrumado. Rojas cortara a si próprio com uma lâmina, e arrumaram uma oportunista de plantão, posteriormente alçada aos 15 minutos de - nua - fama como Rose Fogueteira.
 
O tempo também se encarregou rapidamente de provar que João Faixa estava certo.
 
Não era um "fuguete".
 
Era um sinalizador.
 
 

ATÉ QUANDO?



Nesta quarta-feira, um telefone tocou em Oruro, na Bolívia. Um coração de mãe atendeu batendo disparado, em alerta por aquele sexto sentido que só as mães possuem. Despedaçado, esse coração de mãe foi obrigado a inverter a ordem lógica da vida e enterrar um filho. Uma criança de 14 anos que morreu estupidamente enquanto assistia a um jogo de futebol.

Um coração de pai hoje se corrói, equivocadamente arrependido por ter ensinado o filho a amar esse esporte que o mundo ama, o futebol.

Pouco importa o que apontarão as investigações, se é que apontarão alguma coisa. Se for confirmada a hipótese de crime, doloso ou não, essa morte produzirá fantasmas que assombrarão muita gente. Há uma longa fila de candidatos ao remorso.

Do alto de sua arrogância movida a interesses econômicos, a Confederação Sul-Americana de Futebol faz vista grossa, há décadas, para a barbárie que cerca seu principal produto, a Copa Libertadores. Esse objeto do desejo é palco de violências e atentados à civilidade desde sempre.

Desde as acusações jamais investigadas de doping a rodo nos anos 60 e 70, da intimidação com ajuda de forças policiais e políticas, de jogadores que atuavam com alfinetes para furar a pelo do adversário à presença de cachorros intimidadores e outros elementos em vestiários de atletas e árbitros. Passando por tentativas e sucessos em invasões de campo de jogo, batalhas campais, garrafadas, pedradas e por aí vai. Inclusive nesse Brasil varonil, que adora posar de vítima quando se trata de Libertadores, mas também já protagonizou muita barbaridade em busca de uma vitória.

É motivo de chacota mundo afora uma imagem clássica da Libertadores. Acuado, um jogador tenta cobrar um escanteio sob a proteção de escudos de policiais, em virtude da chuva de pedras, pilhas e toda sorte de objetos. E nada acontece.

Agora existe a promessa de uma Comissão Disciplinar. Depois de muito tempo os cartões amarelos, que tinham como objetivo engordar o cofre da entidade, agora são suspensivos. Mas a cobrança aumentou. Em dólar, registre-se.

As perguntas se sucedem.

Como é possível que alguém entre em um estádio de futebol com um sinalizador, um rojão, um artefato explosivo de qualquer potência?

Quem fiscaliza e determina que tipo de revista é feita em torcedores? É a polícia de cada local, de cada país?

Que graça tem levar ao estádio um sinalizador que só produz cheiro ruim, fumaça e atrapalha a visão de todos, no estádio e em casa, pela TV?

Torcedor comum, o de verdade, leva sinalizador ao estádio ou leva apenas a vontade de torcer?

Para fazer uma festa bonita é preciso sinalizadores?

Que legislação existe para a compra e venda desse tipo de artefato, no Brasil e no mundo?

Não custa nada lembrar do que aconteceu em Santa Maria recentemente, outra estúpida tragédia.

Não se trata de saudosismo. Comecei a frequentar praças esportivas em uma época na qual havia bandeiras nos estádios, baterias de rojões festejavam as entradas dos times. A festa era, sim, muito bonita. Mas os rojões eram atirados para o alto, não em direção a outros torcedores. Os paus das bandeiras serviam para bolar coreografias de pano e vento, não para rachar a cabeça de outros torcedores.

O verdadeiro problema não está nos artefatos, nos objetos. Está na peça que os conduz, no chip. O problema é o ser humano que transforma esses objetos em arma, por intenção ou irresponsabilidade.

Omissa por vocação, a Conmebol está agora diante de um dilema. Não importa a nacionalidade de um eventual culpado pela trágica morte desse jovem de 14 anos em Oruro. Ou dos culpados, porque existem erros em cascata. O que importa é o fato: morreu um torcedor em um jogo da Copa Libertadores da América.

Não me venham com o papinho de fatalidade, que pode acontecer com qualquer um, acidente, não houve intenção. É negligência. Fatalidade é o sujeito escolher o dia 11 de setembro de 2001 para visitar o World Trade Center.

Se mais uma vez a entidade resolver se calar e empurrar a barbaridade para debaixo do tapete, preocupada apenas com suas taxas e multas por cartão amarelo, esqueçam o sonho de ver a Libertadores valorizada, modernizada e profissionalizada.

O Direito Desportivo caminha, pelo menos no Brasil, para uma associação do mau torcedor ao clube que ele supostamente apóia (ou seria atrapalha?). Perdas de mando de campo e multas pesadas já foram aplicadas.

Os clubes teimam em permitir que sua imagem, seu escudo e suas cores sejam associadas a uma parcela de torcedores que muitas vezes nem sequer gritam os nomes dos clubes, mas apenas os de suas facções nos estádios. E quase sempre as tragédias se originam nos locais em que eles violentamente se instalam nos estádios ou em suas sedes ditas sociais.

Repito: o problema não está no rojão, no sinalizador, na pilha e no radinho. O problema está na mente doentia de quem olha para um objeto desses e vê uma granada, uma bomba, uma arma.

Mesmo que as investigações venham a provar que foi um acidente, que o torcedor não era "profissional da violência" etc. a memória dessa criança de 14 anos que morreu apenas porque decidiu ver um jogo de futebol precisa ser respeitada. Como a de todos que morreram em virtude de tragédias em campos de futebol. As vítimas de Heysel, Sheffield, Guatemala, Bradford, Glasgow, Moscou, Cairo clamam por justiça.

Junta-se a elas uma jovem alma boliviana.


 

quarta-feira, fevereiro 20, 2013


Lei também é

para os ídolos


Tenho procurado acompanhar com atenção o noticiário envolvendo o corredor paraolímpico sul-africano Oscar Pistorius, que está sendo apontado como autor do crime de assassinato de sua própria  -e belíssima - namorada, uma famosa modelo.

Sempre que um caso como esse ocorre existe uma certa comoção. Não apenas entre os fãs e torcedores, mas também entre os jornalistas. As reportagens ganham um tom de incredulidade, de inconformismo. Especialistas são ouvidos e se apressam a escrever um epitáfio apressado sobre o atleta em questão, ressaltando suas qualidades, importância para o esporte, contribuição, exemplo de esforço e superação. Como se fosse possível separar tudo isso do ser humano que comete (se comprovado for pela Justiça) de um crime brutal.

Creio que o motivo dessa postura incrédula está no fato de a cobertura esportiva de mídia ter uma necessidade que, sinceramente, não comprendo, de criar heróis. Ou até mesmo de chamar de herói um atleta que nada mais é do que competente, talentoso, trabalhador, dedicado e vencedor. O termo herói entra aí em que contexto, quando se trata nada mais de quem faz bem seu trabalho?

Talvez no caso de Pistorius o termo ganhe alguma justificativa. Ele, de fato, tem uma história que é um exemplo de superação, de como encarar a vida de frente, de cabeça erguida, mesmo face à crueldade com que a vida o encarou.

Há um caso que me soa muito parecido. O do pugilista argentino Carlos Monzón. Herói nacional, apontado como um dos 20 maiores boxeadores de todos os tempos, Monzón foi condenado e cumpriu pena pelo assassinato de sua esposa, Alicia Muniz. Monzón morreu em um acidente de automóvel, em 1995, durante um período em que gozava do benefício de passar alguns dias fora da prisão.

Em 2011, durante a Copa América, a equipe do SporTV foi até uma estátua que ergueram para Monzón na cidade de Santa Fé (ele é da província de Santa Fé). Enquanto tirávamos algumas fotografias, uma senhora se aproximou e disse, em tom desaprovador:

- Este não é ídolo. Não é ídolo.

Não foi preciso explicar a implícita referência ao crime por ele cometido.

Não comparo casos e histórias.

Monzón foi enterrado como um semideus na Argentina, tão cara a ídolos e figuras algo caricatas, como Perón, Maradona, Gardel, Evita e o próprio Monzón.

Outro caso que capturou a atenção da mídia e do público torcedor foi o do ídolo do futebol americano O.J Simpson. Acusado de matar a esposa Nicole e um amigo, Simpson foi absolvido no julgamento que atraiu a maior atenção da mídia na história dos EUA.

Em todos esses casos, em um momento ou outro, em tom acima do normal ou não, a biografia do ídolo se misturou com a vida do cidadão comum e suas responsabilidades.

Por isso entendo o choque.

Mas não consigo entender o tom de atenuação em algumas declarações.

Nem sequer a tentativa de justificar supostas atitudes e desqualificar eventuais equívocos apenas pelo fato de a pessoa ser ídolo.

A Lei é para todos. Ídolos ou fãs. Não deve haver benefício ou tratamento especial.

Sabemos que no Brasil não funciona desse jeito. Não apenas no Brasil.

Poder, influência política e imagem costumam se imiscuir na Justiça, eventualmente.

A tragédia de Pistorious (personagem que aos poucos tem sua biografia pessoal revelada, com tons até então obscuros) é mais um capítulo dessa novela chamada vida.

sexta-feira, fevereiro 15, 2013



Entrou Arena

no Olímpico?


A pressa e a politicagem atrapalham o projeto do Grêmio na Libertadores.

Obviamente que a bela Arena foi inaugurada antes do que deveria, para que ficasse marcada a inauguração pela administração x.

Deixou-se de pensar no que é o principal foco de um clube de futebol, o futebol. Deixou-se de pensar em algo básico, o gramado, esse "detalhe" para um bom jogo.

Não acho que o Grêmio tenha perdido para o Huachipato por causa do gramado, mas certamente, um time técnico rende mais em um gramado melhor.
 

Caso de se pensar e não mais colocar o estádio na frente do futebol. Voltar ao sagrado território dos gremistas, o Olímpico, nessas circunstâncias, seria um anti marketing brutal.
 

Ainda acho que é caso de ter calma. O elenco é bom, mas ainda não existe um time, e há tempo para buscar a classificação.
 

Mas urge pensar primeiro no que é prioridade e depois nas ações extra-campo.

Lição para todos os clubes brasileiros.

quinta-feira, fevereiro 14, 2013



Independência (ou) Galo



Impressionante a sequência do Atlético Mineiro em sua nova casa, o renovado estádio Independência. Desde abril de 2012, quando voltou a jogar em Belo Horizonte, o Galo disputou 23 partidas no estádio que divide com o América, venceu 16 e empatou sete.

Foi com base nessa confiança de quem realmente se sente em casa e mostra quem manda que o time de Cuca entrou em campo contra o São Paulo. Jogo pegado, brigado, gostoso de assistir. No primeiro tempo, o Galo impôs seu estilo. Muita pegada, diminuição de espaços e ritmo infernal de velocidade com Bernard, Jô, Tardelli e Ronaldinho Gaúcho.

O São Paulo não encontrava uma maneira de acertar sua saída de bola, e num vacilo incrível da retaguarda tricolor, o Atlético fez 1 a 0 num daqueles lances que não se aceita nem em pelada: gol que nasce de cobrança de lateral.

O primeiro tempo mostrou uma superioridade tática tal do time mineiro que um a zero terminou sendo pouco. Com Jádson anulado por Pierre e Douglas sem cacoete de meia, o São Paulo ficou encaixotado na marcação atleticana e se viu refém da velocidade do rival.

Na segunda etapa, até porque é praticamente impossível manter um ritmo tão veloz, o Atlético recuou em busca do contragolpe fatal, mas deu muito campo para o São Paulo jogar. Só que justamente quando o time paulista se estabelecia em campo, pintou o segundo gol, em nova jogada de Ronaldinho, em novo vacilo de Rodolpho pelo alto, gol de Réver.

Quando encontrou uma certa cadencia, diminuindo a voracidade do rival, o São Paulo foi bem. Mas há uma questão tática que Ney Franco ainda precisa resolver. A ideia é fazer uma equipe que tenha quatro jogadores mais á frente. Um avançado, Luís Fabiano, dois extremos (ou wings, como dizem os europeus), Osvaldo pela esquerda e uma vaga ainda aberta na direita, e um meia no centro, Jádson. Para que isso funcione, o treinador opta por dois volantes mais pegadores e sem grande saída de bola, Denílson e Wellington. Quando o adversário tira a velocidade pelos lados e marca Jádson, Lúis Fabiano tem dificuldades para receber a bola.

O Atlético tem um estilo de jogo parecido, só que mais bem resolvido. A diferença está em detalhes. Bernard é um jogador de mais movimentação e técnica que Osvaldo. Ele dita o ritmo frenético da equipe. Ronaldinho fica solto no meio, e tem cobertura de Leandro Donizetti e Pierre. Jô não tem a técnica de Luís Fabiano, mas compensa com maior mobilidade, e Tardelli (ainda que desentrosado) pode ser tanto segundo como primeiro atacante. Com um adendo: Leandro Donizetti sai mais para o jogo, se apresenta mais que Wellington e Denílson. Se Fabrício voltar bem, pode ajudar o São Paulo na saída de bola.

Nada se resolve em um jogo nesse grupo, no qual Galo e Tricolor devem disputar a liderança. A partida de ontem foi previsível no sentido de que um time formado há mais tempo e mais entrosado e bem resolvido taticamente saiu vencedor.

Com a força que tem no Independência, o Atlético, se tiver uma boa regularidade e souber ser competitivo fora de casa, estará muito forte na briga pelo título.

O São Paulo é sempre muito forte como mandante na Libertadores, mas ainda precisa encontrar uma forma de jogar sem Lucas, além de resolver o problema da defesa nas bolas cruzadas para a área.

Em 17 de abril, no Morumbi, Tricolor e Galo devem fazer outro jogaço, valendo o primeiro lugar do grupo.

sexta-feira, fevereiro 08, 2013



A vida como ela é

no futebol de hoje



No futebol de hoje ter a casa arrumada é o primeiro passo para poder investir em bons jogadores e elencos. O caso que envolve Grêmio, Palmeiras e Barcos é um exemplo cristalino disso.
 
Escrevo após ler que o negócio está sacramentado, nas palavras do presidente do Grêmio, Fábio Koff.

Quebrado por duas administrações desastrosas e amadoras, o Palmeiras se viu obrigado a vender seu único ídolo do momento para não correr o risco de ver seu nome sujo na Fifa. Sanou uma dívida, fez um pequeno caixa e ...obteve cinco jogadores. 

Tecnicamente, perde seu principal atleta. Mas perde por culpa dos incompetentes que administraram o clube.
O Grêmio vive um momento administrativo muito melhor, tem dinheiro para investir e comprar um jogador de bom nível e ainda abrir mão de cinco peças de seu elenco.
Depois ainda tem gente que acha que administrar direito um clube de futebol é conversinha.

quinta-feira, fevereiro 07, 2013



Nível Internacional



Há atletas e atletas. Entre o amador praticante de atividades recreativas e o profissional topo de linha existe um universo de diferenças. Ainda que tenham bom nível de habilidades individuais, fundamentos e algum treinamento.

Essa diferença também é gritante dentro do universo dos atletas profissionais. Não há como comparar um profissional de nível regional, ou até mesmo nacional, com um grande atleta de nível internacional. Tudo é diferente. O tempo de reação, a capacidade e o desenvolvimento técnico, o nível de treinamento, a preparação física e a experiência.

Existem ótimos atletas profissionais de nível nacional que jamais alcançaram ou alcançarão o nível internacional.

O nariz de cera serve para trazer para o texto o debate sobre Neymar na seleção brasileira. Que o menino é um fenômeno, craque de bola, só alguém muito rancoroso ou fanático ao extremo por um clube que seja rival do Santos para não reconhecer.

Neymar já é um craque indiscutível em nível nacional e continental, mas ainda não se transformou num jogador de nível internacional.

Essa é minha tese para o fato de ele não render com a camisa da seleção brasileira, em grandes jogos, o que rende quando joga pelo Santos.

Nada é definitivo quando se trata de um jovem talento de apenas 21 anos. Como bem lembrou o Juca Kfouri em seu blog, Messi também não convencia com a camisa da seleção argentina aos 21 anos. Engrenou agora, e ele irá para sua terceira Copa do Mundo em 2014. Neymar nunca foi a uma Copa.

Mas que Neymar está devendo em nível internacional, eu acho que está. Porque quando se enfrenta uma seleção grande, no mínimo de 80 a 90% dos jogadores desta equipe são de nível internacional.

Mas que diabos é esse tal de nível internacional, Noriega?

Explico: é jogar reepetidas vezes contra os melhores de várias nacionalidades, vários estilos, nos melhores campeonatos e melhores estádios. Seja em ambiente de clube ou de seleção.

Façamos uma comparação banal. Todo peladeiro que se preze já teve a experiência de, um dia, bater bola com um profissional da ativa ou ex-profissional. Essa diferença que existe entre o peladeiro amador, ainda que bom de bola, e o profisisonal, mesmo que de nível médio, é mais ou menos o que acontece quando o se confronta o aspirante ao nível internacional e o integrante deste patamar. Sem entrar no mérito do talento.

Neymar tem dificuldades nesse tipo de jogo, porque não tem almoço grátis. Ninguém dá espaço, o tranco é mais pesado, a capacidade física e muscular é diferente. O peso do chute, a matada de bola, é outro jogo. O garoto santista tem todos os elementos técnicos e inventivos para entrar nesse clube pela porta da frente, ser eleito conselheiro e fazer parte da diretoria executiva. Mas antes disso precisa se adaptar a frequentá-lo, perder a timidez e entender as regras de convivência.

Não se trata de afirmação em virtude de um jogo. Neymar está na seleção principal desde 2010 e ainda não emplacou um grande jogo contra time grande. E é nosso melhor jogador, disparado.

O que também não surpreende, porque o Brasil hoje tem pouca representatividade em nível internacional. Não temos protagonistas nos grandes times do mundo, embora tenhamos, sim, alguns bons times.

É bom que o Brasil deixe de lado os jogos inúteis contra seleções de quinta categoria, nos quais todo mundo faz gol, ensaia dancinhas e sorri para as lentes. Isso não acrescenta nada.

Com pouco tempo para achar um time e dar cancha internacional a Neymar e outros talentos, o bom mesmo é enfrentar times cascudos, grandes, recheados de atletas desse nível.

Para entender a diferença, basta reparar na naturalidade com que Oscar já enfrenta esse tipo de jogo, mesmo estando há pouco tempo jogando na Inglaterra. Nem digo isso tendo como referência o Campeonato Inglês, mas os jogos de Liga dos Campeões e, aí, sim, os grandes clássicos da Inglaterra.

Acredito que Neymar alcançará esse patamar. Com algum sofrimento, muito questionamento, mas ele tem o principal: talento. Precisa colocá-lo à prova contra os que estão no topo, com frequência cada vez maior.

Outro dia o menino foi anulado na bola pela zaga do modesto Bragantino. Ficou irritado. A vida no topo é muito mais competitiva. Todos conhecem Neymar, assistem as imagens dos seus gols. Ninguém vai esperar pelo drible. Num estadual e em boa parte do Brasileirão e da Libertadores, ele nada de braçada. Mas tem uma prova de fundo pela frente até realizar seu potencial de brilho mundial. Torço para que consiga já em 2014.

terça-feira, fevereiro 05, 2013



Xô, mau torcedor!



Coluna de 5 de fevereiro de 2012, no Diário de S.Paulo.

Você lê aqui: http://www.diariosp.com.br/blog/detalhe/17064/Mau+torcedor+ameaca+o+futebol