terça-feira, fevereiro 28, 2012



E a seleção?


Nada de novo, tudo previsível. Ronaldinho joga como se fosse um globetrotter em exibição. Mas nem todos os jogos são combinados como os dos globetrotters. Em dez, quinze minutos, Ganso fez muito mais do que Ronaldinho. Que não precisa de projeto, mas de reforma, reafirmo.

Não dá para cobrar um time sem treinos, mas em quase dois anos de trabalho já dá para cobrar alguma ideia, um vislumbre que seja.

O time brasileiro segue sendo muito conservador, preocupado demais com algumas coisas como posicionamento, recomposição, deixando de lado a busca por novas ideias e a exploração do real potencial de jovens talentos.

Ganhar ou perder, nesse estágio, pouco importaria. Duvido que chovessem críticas caso o Brasil perdesse mostrando novas ideias, um time diferente, jogando bem, arejado.

Mas a comemoração efusiva de Mano Menezes mostra alívio e preocupação com o resultado porque, talvez, ele saiba mais do que ninguém que o Brasil continua devendo.

Recado

Críticas salutares são publicadas aqui regularmente. Basta navegar pelo site. Críticas a mim, aos meios de comunicação para os quais trabalho, à minha profissão. Desde que educadas, com um mínimo de conexão com o mundo real e com nexo.

Recalcados e revoltados de plantão, que agridem gratuitamente na esperança de que sua pequenez aqui será engrandecida podem dormir na pia. Em respeito a quem sabe colocar o tico para conversar com o teco, celerados são bloqueados.

O endereço do recado você sabe para quem foi.


O fator Abelão



É difícil não gostar do Abel Braga. Como gente e como treinador de futebol. Abelão é um cara franco, direto, emotivo. Durante a cobertura do SporTV no Mundial de Clubes de 2006, quando ele foi campeão com o Inter, tive a oportunidade de conhecer melhor o Abelão.

Não posso dizer que somos amigos, mas temos uma boa afinidade, respeito mútuo, na medida certa para não atrapalhar o profissionalismo de ambos.

Abelão gosta de bons vinhos, de bom garfo e toca um piano de altíssimo nível. Viveu em Paris, mas prefere o Porto, em Portugal, onde a família tem um restaurante. Adora um bom papo, contar histórias do passado de jogador e de falar sobre futebol sem invencionices.

Esse estilo direto, comprometido, faz dele um raro treinador que geralmente é bem recebido quando enfrenta clubes em que já trabalhou. É assim na Ponte Preta, onde Abel fazia compras de supermercado para os jogadores pagando do próprio bolso, em tempos de crise e salário atrasado. No Inter é quase um mito.

Agora tem tudo para montar um Fluminense capaz lutar por todos os títulos que disputar. Em quantidade de bons jogadores, não há elenco como o do Flu no Brasil. Talvez falte um pouco de equilíbrio, já que sobram atacantes e meias e faltam zagueiros, por exemplo. Mas dá para montar dois times competitivos sem sustos. Com isso, poupar o que tem de melhor para as partidas mais importantes, sem abrir mão de pontos em partidas menos decisivas.

Abelão me disse ontem, no Bem, Amigos, que os petrodólares dos Emirados Árabes Unidos continuam sondando sua área, com a proposta dos emires para que ele assuma a seleção do país. Mas também deixou claro que não deve aceitar, nem pensa nisso agora, pois está feliz no Flu e não pretende deixar de morar no Brasil. Além de acompanhar a evolução do futebol de seu filho, Fábio, volante em início de carreira nas Laranjeiras.

Os times do Abelão costumam ser competitivos, fortes, comprometidos. Ele vê o futebol de uma maneira simples, porém sempre muito bem informado sobre os adverários, estudioso. Jamais esquecerei do que vi em Yokohama em 2006, no último treino do Inter antes da final contra o Barcelona. A jogada do gol de Gabiru foi treinada à exaustão, assim como a recomposição do time para marcar bem o Barça e apostar na jogada do chutão para o Fernandão desviar. Assim foi feito, com base em trabalho e na inevitável dose de sorte.

Com o belo elenco, grandes jogadores em grande fase a a energia do Abelão no banco, o Flu vai forte para enfrentar o Boca na Bombonera e quem mais vier pela frente. 

Telemarketing Terrorista


Toca o telefone, a mãe atende.

- Por favor, o responsável pela casa está?

Ao perguntar porque, a mãe ouve a seguinte frase do outro lado da linha:

- É sobre o seu filho (citando o nome inclusive).

Por isso, não atenda telefonemas com os prefixos 11 3427 e 75 na primeira metade seguinte. São esses terroristas do telemarketing que fazem de tudo para cumprir as tais metas. Inclusive invadir sua privacidade ao telefone com essa tática de guerrilha antiética.

quinta-feira, fevereiro 23, 2012



E o Robinho?


Antes de começar, admito que eu também sempre esperei mais do Robinho. Reconheço que ele não se transformou no craque que todos nós esperávamos. Mas será que acabou a seleção brasileira para o atacante do Milan?

Por que ele sumiu das convocações do Mano Menezes? Mesmo sendo um dos melhores, se não for o melhor, atacante do Milan na atualidade?

Entendo que o treinador brasileiro não chame o Kaká. Até porque ele ainda provoca mais dúvidas do que certezas e, se a gente for tomar o Robinho como parâmetro, o Kaká jamais teve uma grande sequência com a camisa da seleção. Robinho teve pelo menos duas: Copa América de 2007 e Eliminatórias de 2010.

O que eu não concordo, porque como diz o Mano, é tudo uma questão de opinião, é por que levar o Ronaldinho Gaúcho e praticamente esquecer o Robinho? O desempenho do Ronaldinho em campo não justifica a permanência como parte de um projeto, como argumenta o treinador.

No ataque da seleção temos o Neymar, titular absoluto, e só. Damião tem potencial para ser titular, mas o resto é aposta.

Robinho terá 30 anos em 2014. Ainda que tenha jogado menos do que se esperava dele na África, é um excelente jogador de futebol. Amadureceu na Itália, evoluiu taticamente, ficou mais forte fisicamente. E, o que é mais importante, voltou a jogar bem. Como já tinha feito em 2010 pelo Santos.

No mínimo, ele pode ser útil, pela quilometragem e pela qualidade.

Talvez o Mano esteja dando aquele gelo no jogador, por alguma decepção, principalmente na última Copa América.

Mas, pelo menos na Itália, Robinho parece ter deixado de lado aquele jeitão de eterno moleque, de mistura de humorista com pagodeiro, para se concentrar em jogar futebol, que é o que ele faz melhor.


Ronaldinho Gaúcho terá 34 anos em 2014. Uma Copa do Mundo de diferença para Robinho. Mas parece a cada dia mais confortável no modelito celebridade 24 horas por dia. Que, convenhamos, Neymar desempenha melhor. Até porque joga mais em campo e tem idade para se garantir depois de pular Carnaval aqui e ali.

Por isso eu confesso: não entendo porque Robinho parece carta fora do baralho do Mano, e o Ronaldinho Gaúcho tem status de Coringa.

quarta-feira, fevereiro 22, 2012


É hora da revolução dos clubes *



*coluna publicada às terças-feiras nos jornais da Rede Bom Dia e no Diário de S.Paulo.

  
O claudicante momento de Ricardo Teixeira na CBF e a fase irregular da seleção brasileira de Mano Menezes apontam para uma conjunção rara de fatores no futebol brasileiro. Depois de muito tempo à sombra das federações e da confederação, controlados por meio de empréstimos e politicagem, os clubes de futebol do país, principalmente os grandes, têm a oportunidade de revolucionar a modalidade.

Nem será preciso uma grande mobilização, estratégias mirabolantes e reuniões secretas nos bastidores. Basta os clubes que reúnem o grosso dos torcedores, ficam com a maior fatia das receitas publicitárias e da exposição na mídia perceberem que podem ser eles próprios os gestores de seu negócio, sem precisar de intermediários.

Não proponho com isso o fim das federações e da confederação. Apenas uma adequação ao seu papel. Que, a meu ver, é o de regulamentar competições, cuidar de arbitragem, fiscalizar estádios e zelar pela sobrevivência das equipes pequenas e médias. Assim como a CBF deve exercer a mesma função em termos nacionais, acrescentando a isso a administração das seleções.

Os campeonatos devem ser geridos pelos clubes, pensando no melhor para eles e seus jogadores. Pode parecer banal quando um treinador reclama de que tem de ceder seu jogador para a seleção na rodada de um clássico importante. Acontece toda hora. Porque há conflito de interesses. A seleção quer os melhores jogadores, ainda que para amistosos pouco produtivos. O clube precisa dos melhores jogadores que tem, mesmo que para jogos sem grande importância, de início de temporada.

O crescimento do negócio futebol no Brasil pavimentou o caminho para o grito de liberdade dos clubes. Hoje eles faturam muito mais do que há dez anos. Com TV, marketing, patrocínios e fidelização de torcedores. Se fossem mais bem administrados, não precisariam recorrer a adiantamentos e empréstimos de federações.

No caso das federações, por que elas precisam ficar com o grosso da grana da TV e repartir entre os clubes a seu critério? Se não devessem dinheiro para essas entidades, os clubes poderiam reagir a isso. Afinal de contas, sem eles, não há campeonato.

Como o modelo atual de administração da CBF parece prestes a ruir e a força dos clubes só cresce, seria preciso um tipo de pacto entre as instituições para que todas possam saborear esse novo momento. O Corinthians tentou isso e conseguiu recentemente, numa ação isolada que contou com algumas adesões. Mas o pensamento era apenas nele, Corinthians. Quem quisesse vir junto, que viesse.

Talvez não haja melhor momento do que esse para que os clubes, enfim, possam exercer o poder que lhes foi conferido pela paixão do torcedor e revolucionem, de fato, o futebol no Brasil. Antes que tudo se acabe na quarta-feira.

Conselho aperta
Não foi fácil a situação de Adalberto Baptista, diretor de futebol do São Paulo, na última reunião do Conselho Deliberativo do clube. Embora educadamente, ele foi pressionado por conselheiros de oposição sobre o desempenho do time, principalmente na derrota para o Corinthians. Perdeu um pouco de crédito por isso.

Área limpa
Amigos e conhecidos do novo presidente corintiano Mário Gobbi (foto) têm aconselhado seguidamente o mandatário a limpar a área na diretoria. Consideram que ele não deve repetir o erro de Andrés Sanchez, que tinha nomes com passado e presente suspeitos entre os colaboradores próximos, o que prejudicou sua imagem.

Inflacionou
A novela envolvendo Palmeiras e Wesley se alongou por causa do preço. Quando tudo parecia acertado, intermediários cobraram comissões, uma delas de R$ 300 mil. O jogador resolveu pedir mais e os alemães do Werder Bremen, também. A conta subiu 2 milhões de euros (R$ 4,5 milhões) em algumas horas.

Nó tático
Admito que não sou o mais politicamente correto dos seres. Tento, ainda assim, respeitar tudo e todos, mas sem deixar de me manifestar quando algo me irrita. No futebol atual, há alguns padrões de comportamento entre os jogadores que acho difíceis de suportar.
O primeiro deles é até meio óbvio. Jogador que beija o distintivo do clube quando é apresentado. É de uma promiscuidade revoltante. O cara beija um monte de distintivos ao longo da carreira, sempre com juras de amor eterno. São fazedores de média canastrões.
Mas há três tipos em ação nos gramados brasileiros que provocam minha revolta: goleiro que comemora defesa, zagueiro que festeja desarme e jogador puxa-saco de torcida em rede social.
Quando o goleiro faz uma defesa que nem é das mais difíceis, mas se levanta num pulo, volta-se para a arquibancada, abre os braços, faz cara de bravo e sai gritando, batendo no antebraço, pode esperar: em pouco tempo vem um frango ou um erro grosseiro. Confesso que sou meio antiquado. Goleiro bom é aquele que faz a grande defesa e sai orientando os beques sobre o posicionamento do escanteio, sem se alterar. Comemorar uma defesa de pênalti, vá lá. Mas, sinceramente, você se lembra do Leão, do Taffarel, do Marcos e do Ceni comemorando defesa?
E o zagueirão que dá um bico para fora do estádio e sai como se fosse o Homem -Aranha pra galera? Cronometre que, em pouco tempo, ou ele tomará um cartão amarelo bobo ou fará uma falta desnecessária. Essa necessidade de reforçar que tem garra e está se dedicando soa falsa. Gamarra comemorando desarme? Luís Pereira? Caso alguém se lembre, escreva para a coluna.
Para fechar, dá até ânsia de vômito ler nas redes sociais aquele recadinho básico: “Bom dia, nação x, obrigado pela força e pelo apoio. Estou com vocês, sempre”. Tem uma turma aí que nega autógrafo, finge estar ouvindo música ou falando ao telefone, mas posa de soldado da pátria em twitters e afins.
Saudade do tempo em que goleiro só defendia, zagueiro só marcava e comemoração era quando alguém fazia gol.

terça-feira, fevereiro 14, 2012


No reino da

hipocrisia


Três notícias, entre as muitas da semana, me chamam a atenção. A primeira sobre uma multa que seria aplicada ao zagueiro do São Paulo, João Filipe, pela expulsão diante do Corinthians. A segunda a respeito da interminável discussão sobre a lei geral da Copa e a proibição de bebidas alcoólicas em estádios de futebol. E a terceira versa sobre a expectativa em torno de uma suposta renúncia de Ricardo Teixeira ao cargo de presidente da CBF.

Nada de novo no reino da hipocrisia que costuma reger o futebol no mundo.

Multar um jogador por que ele foi expulso em um lance de jogo é o fim dos tempos. Até aceito que o cara seja multado por faltar a treinamentos, por chegar atrasado, por brigar em treino, coisas assim. Esse tipo de advertência existe nas relações patrão/empregado. Agora, multar o cara porque ele foi expulso corretamente é coisa de dirigentes querendo jogar a culpa de tudo que aconteceu errado com o São Paulo no jogo contra o Corinthians nas costas de um rapaz que chegou outro dia ao clube. Mesmos dirigentes, aliás, que se divertiam e arregalavam os olhos quando torcedores apressados chamavam o zagueiro de Blackenbauer, precipitadamente empolgados com uma ou duas atuações.

Nunca botei muita fé nessa história de multa em time de futebol. Já ouvi de mais de um jogador que é tudo conversa para agradar imprensa e torcedor e que ninguém é multado. Outros disseram que a tal da multa faz parte de uma caixinha que no final do ano é dividida entre os próprios jogadores ou dada como gratificação a funcionários como massagistas, roupeiros e seguranças.

Tudo bem que João Filipe prejudicou o time, mas se for assim, tem diversas outras situações em que a tal da multa se aplicaria e não acontece. Displiscência, corpo mole, chinelinho, técnico que escala e mexe errado, que é expulso de campo por ficar batendo boca com juiz em vez de orientar o time. Se for mexer nesse vespeiro, vale multar um monte de gente. Inclusive dirigente que contrata mal, atrasa salário, entope o clube de dívidas, perde data de inscrição etc.

Existe um movimento reacionário em torno do futebol, capitaneado por torcedores cegos pelo fanatismo, que exige que o atleta profissional tenha comportamento de gladiador romano. Treinos exaustivos, dedicação total e oferta da própria vida pela honra da casa do patrão, no caso o torcedor. Reclamam dos salários altíssimos dos jogadores com uma frequência que melhoraria o País caso a revolta fosse canalizada para funcionários públicos, governo e políticos.

Menos, gente, muito menos. Não vale isso tudo. Cada trabalho tem sua remuneração, seu tempo de serviço, sua dedicação e sua importância. Vala comum cheira mal.

Já sobre a bebida nos estádios, haja hipocrisia! É aquela história do cara que reduz a velocidade quando passa ao lado do radar, e cem metros depois pisa fundo até 140 por hora. Não tem bebida dentro de estádio, mas tem na porta, na esquina, do lado. E tem dentro também, que eu já vi, em mais de um estádio no Brasil, neguinho matando uma lata de cerveja no maior relax.

Aí vem uma discussão pra lá de sem sentido sobre a Lei Geral da Copa. Pra defender o Estatudo do Torcedor como se fosse uma Vaca Sagrada, intocável, embora, como tudo, também precise ser atualizado e avaliado frequentemente, mesmo sendo um louvável avanço.

A Fifa não pediu ao Brasil para fazer a Copa. O Brasil se candidatou a fazer a Copa e sabia como as coisas funcionavam. Trabalhei em mais de 20 jogos em estádios na Copa do Mundo da África do Sul. Em todos se vendia cerveja em garrafa de plástico, da marca patrocinadora da Copa, e não houve problema algum digno de registro.

Lembro de uma época em que se vendia uísque no estádio Olímpico, em Porto Alegre, em especial nos dias de frio, e também não recordo confusão provocada por isso.

Em tempo: gosto de tomar vinho - tinto, em casa, principalmente, ou em volta de uma boa mesa, e nunca bebi em serviço ou antes do serviço, perto de estádio, em estádio, em estúdio etc.

A questão passa mais pela responsabilidade das pessoas, por saber que beber demais faz mal em casa, fora de casa, em estádio, fora de estádio, e que não se deve vender nem oferecer bebida a menores de idade.

Muita gente já entra de pileque nos estádios de futebol e os arautos da hipocrisia proclamam que a proibição da venda de bebidas alcoólicas nos estádios melhorou alguma coisa. Só transferiu o ponto de venda. Isso sem falar em drogas ilícitas que perambulam pelos estádios.

Número três. Será uma mudança louvável, uma saudável brisa de ar fresco uma provável renúncia de Ricardo Teixeira após décadas na presidência da CBF. Mas você, caro leitor, acha, honestamente, que vai mudar alguma coisa na gestão do futebol brasileiro? O estatuto da CBF prevê que José Maria Marin, o vice-presidente mais velho, assuma o cargo. Marin tem, por baixo, uns 40 anos como dirigente de futebol e muitos na CBF. Andrés Sanchez foi escolhido por Teixeira. O presidente da Federação Paulista, Marco Polo del Nero, já despacha regularmente na CBF há muitos dias - de semana, claro.

Enfim, muda o nome, mas o estilo e as ideias devem permanecer. Parece uma manoba evasiva de cunho pessoal, não uma mudança de rumos administrativos. O tempo dirá.

segunda-feira, fevereiro 13, 2012


Loucos são os omissos

*Por José Roberto Padilha

* reproduzo aqui um texto do José Roberto Padilha, o Zé Roberto, ponta-esquerda da Máquina Tricolor das Laranjeiras, atualmente jornalista e escritor. Devidamente autorizado pelo próprio. 
Quando o presidente Rubens Lopes, da FERJ, saiu de cena por razões de saúde, ele nomeou, através de uma circular, seu substituto às vésperas do campeonato estadual de futebol de 2012: José Luiz Martinelli.  Não, não era seu vice natural, era o ocupante de uma daquelas vice-presidências para constar na ata da posse. Dar validade a chapa eleitoral. Ele, Martinelli, engenheiro e reconhecido empresário de jogadores, era vice-presidente de obras e construções. Mas para não dizer que implico com os cartolas, ironizar que tal preferência poderia ser em razão das obras do Maracanã, deixei passar tal absurdo (seria, como num impedimento da Dilma, ela rasgasse a Constituição e não empossasse o Michel Temer, e sim um outro político, de acordo com suas conveniências) e não me pronunciei.

Mas não deu um mês e a figura acaba de se manifestar, do que jeito que todos esperavam, mantendo a postura que os fizeram cartolas. Isto é, associados influentes, que sem noção alguma de esporte, se elegem pro conselho deliberativo de seus clubes , federações e confederações espalhando desconhecimento e injustiças que certamente algum atleta, ou competição há de pagar a conta. Eles, cartolas, jamais pagaram conta alguma. Às vezes se elegem deputados, na outra dirigem delegações brasileiras, reforçam suja banca no bicho e, agora, negociam passes de jogadores.

Quando o Loco Abreu reclamou esta semana do gramado de Moça Bonita (logo do campo do Bangu, time de Rubens Lopes) Martinelli veio a público dizer que isto não era problema do atleta, era da agremiação e deveria ter sido discutido no arbitral. No arbitral, são discutidos à exaustão o Estatuto do Torcedor, e a FERJ é rigorosa quanto a presença de ambulâncias, dois médicos, enfermeiros, painel de informações, polícia militar. Ninguém perde tempo  legislando a favor de um Estatuto do Jogador. Ele, razão maior do espetáculo, pode atuar em chiqueiros que nada acontece com os mandantes do campo.

Agora, imagine aquela histórica final do Aberto da Austrália, entre Djokovic e Nadal,  no mesmo horário de Botafogo e Bangu, disputada  em chiqueiros. Teriam eles o mesmo fantástico desempenho? Se na quadra central de  Melbourne existissem os buracos de Moça Bonita, como rebateriam saques e voleios a 200km por hora? Mas os laterais do Botafogo e  do Bangu devem ir á linha de fundo e ter obrigação de acertar seus cruzamentos com a bola entrando dentro de um buraco. E seus preciosos joelhos e tornozelos, podem ficar á mercê da sorte? E na liga de voleibol, basquetebol, futsal, as quadras não são preservadas? Ou vocês já viram o Bernardinho, o Zé Roberto reclamar do estado de alguma?

Enfim, porque seria logo o futebol  em que o piso seria um fator  menor, desconsiderado na concepção de uma competição?

"Paulo Rossi, sozinho e sem falar português, fez mais por nossa democracia do que qualquer jogador brasileiro, em todos os tempos. Com seus 3 gols contra o Brasil, impediu uma nova manifestação ufanista, com direito à subida de rampa, que poderia retardar nosso projeto de anistia em 1982”.

Bem, escrevi isto em 1986, quando lancei meu primeiro livro “Futebol: a dor de uma paixão!”. Agora, vem um uruguaio lutar por melhores condições do nosso futebol, ocupando o silêncio e a eterna omissão dos nossos Ronaldinhos. Também, num país onde a independência foi promulgada por um português...


sexta-feira, fevereiro 10, 2012



Alguém ainda duvida?


Como lembrou hoje cedo na redação o amigo Tiago Leifert, foram necessários apenas 54 segundos para que Neymar transformasse um jogo fadado a a ser depositado num canto da memória em um fato digno de registro. Foi nesse espaço de tempo que o garoto, que vinha jogando mal, é verdade, fez um gol de cabeça, roubou uma bola, entortou dois marcadores dentro da área, sofreu o pênalti e o converteu, virando o jogo para o Santos contra o Botafogo de Ribeirão Preto.

Num total de não mais de 15 minutos ele ainda fez mais um gol, num toque à la Messi, e construiu uma linda jogada para Felipe Anderson marcar.

Não consigo entender a implicância de uma parcela de torcedores e analistas com Neymar. Só o vejo evoluir, mês a mês. Deu agora para fazer gols de cabeça como se fosse centroavante, bem colocado na área. Cai cada vez menos e tem uma característica fundamental: não se esconde, não encosta o corpo, não desiste nunca.

Neymar deve chegar na Copa de 2014 mais forte, mais experiente e melhor técnica e taticamente. Terá 23 anos e poderá, aí, sim, embarcar na aventura europeia, na hora certa.

O que importa é que, felizmente, existe um jogador atuando no Brasil capaz de transformar um modorrento jogo de estadual em assunto.

Neymar saiu justamente aplaudido de campo, até por torcedores do Botafogo.

Se alguém ainda duvida, é bom deixar de ser ranheta e perseguidor. O garoto é craque.

sexta-feira, fevereiro 03, 2012



Atleta não nasce dirigente


Admito minha decepção com Patrícia Amorim na presidência do Flamengo. Conheci a Patrícia no Pan do Rio. Já tinha entrevistado a atleta e, naqueles dias, convivi com a então comentarista. Quando assumiu a presidência do time de maior torcida do País, imaginei que fosse aquela tão esperada lufada de ar fresco, a renovação com o toque da competência da mulher.

Mas o que vejo agora é um rumo oposto. Tudo bem que as pessoas que administram o Flamengo há muitos anos estão desonrando essa instituição maravilhosamente popular, nascida nas ruas e espalhada pelo Brasil. Mas Patrícia, por ter sido uma atleta de alto nível, só não poderia cair nos pecados dos cartolas de baixo nível.

O que se vê é uma presidente deslumbrada pela convivência com celebridades de chuteiras, inebriada pela sedução que o poder emana, confusa politicamente e com atitudes descabidas para alguém que tem o passado de atleta.

Direito de mandar embora o treinador qualquer dirigente tem. O que não cabe é espalhar o rastilho de pólvora da notícia, usando inclusive os próprios atletas, e depois negar, chamar quem noticiou de mentiroso, para um dia depois passar o carão de ter que confirmar tudo aquilo que negara na maior cara de pau.

Há tempos Luxemburgo não apresenta o desempenho que o projetou justamente como um dos maiores treinadores brasileiros. Não penso como aqueles que o consideram decadente. Afinal, foi campeão brasileiro em 2003 e 2004, conquistou títulos estaduais nas temporadas seguintes. Pode não estar no topo do rendimento, mas merece respeito como treinador, e críticas quando extrapola essa função.

Mas não se justifica tal comportamento por parte de uma presidente que opta claramente por um jogador que recentemente desrespeitou as regras internas do próprio clube que ela comanda. E, convenhamos, se Luxemburgo para alguns está decadente, Ronaldinho há muito tempo não é o craque que o Flamengo acreditava ter contratado.

Isso posto, registro aqui com tristeza minha constatação de que uma das máximas que muitas vezes nós, jornalistas, gostamos de espalhar é a de que é preciso dar espaço paras os atletas no comando de federações, confederações e clubes. Mas estamos aprendendo que há atletas e atletas, e que um craque na competição não é garantia de outro craque na administração.

quarta-feira, fevereiro 01, 2012


Dia em Memória ao Futebol

Incansável batalhador em preservação da memória e do conhecimento no futebol, o amigo José Renato Santiago conseguiu, com muitos outros lutadores dessa batalha, uma importante vitória, a instituição do Dia em Memória ao Futebol.

Transcrevo abaixo o texto do prório José Renato.

Você pode acompanhar o trabalho dele através do site www.jrsantiago.com.br


Por José Renato Santiago

 Ainda era 2010, quando juntamente com John Mills, biógrafo de Charles Miller, e Marcelo Unti, meu parceiro de projetos esportivos, nos reunimos com alguns colegas para tentarmos viabilizar a adoção de um dia em homenagem a Memória do Futebol.

Conseguimos levar uma proposta em prol da Memória do Futebol ao vereador Floriano Pesaro, que investiu todos os seus esforços por esta causa.

Pois bem, acabamos de ser informados sobre a promulgação da LEI 15.522, que institui o Dia em Memória ao Futebol a ser comemorado no dia 24 de novembro (data de aniversário de Charles Miller)

A comemoração deste dia visa perpetuar os marcos históricos do futebol brasileiro:

- Antiga Várzea do Carmo, área entre as ruas do Gasômetro e Santa Rosa, local do primeiro jogo sob regras;

- Rua Três Rios, área do Colégio Santa Inês, local do primeiro campo exclusivo para a prática do futebol;

- Rua Visconde de Ouro Preto, onde se localiza o Clube Atlético São Paulo - SPAC, o primeiro clube de São Paulo, cuja equipe foi a primeira campeã de uma competição oficial no Brasil;

- Área em torno da Praça Roosevelt, local do primeiro estádio de futebol, o antigo Velódromo, entre as ruas Nestor Pestana e Consolação;

- Museu do Futebol, localizado na Praça Charles Miller, que é o primeiro museu público exclusivo em prol da memória do futebol brasileiro

Segue abaixo o texto original

(PROJETO DE LEI Nº 474/11)

(VEREADOR FLORIANO PESARO - PSDB)

Altera a Lei nº 14.485, de 19 de julho de 2007, com a finalidade de incluir no Calendário Oficial de Eventos da Cidade de São Paulo o Dia em Memória ao Futebol

Brasileiro, a ser comemorado no dia 24 de novembro, e dá outras providências.

José Police Neto, Presidente da Câmara Municipal de São Paulo, faz saber que a Câmara Municipal de São Paulo, de acordo com o § 7º do artigo 42 da Lei Orgânica do Município de São Paulo, promulga a seguinte lei:

Art. 1º Fica acrescido inciso ao art. 7º da Lei nº 14.485, de 19 de julho de 2007, com a seguinte redação:

“- 24 de novembro: o Dia em Memória ao Futebol Brasileiro, a ser comemorado no dia do nascimento de Charles Miller, que introduziu o esporte sob regras no Brasil, e cuja celebração visa perpetuar os marcos históricos do futebol brasileiro formados pela antiga Várzea do Carmo, área entre as ruas do Gasômetro e Santa Rosa, local do primeiro jogo sob regras, Rua Três Rios, área do Colégio Santa Inês, local do primeiro campo exclusivo para a prática do futebol, Rua Visconde de Ouro Preto, onde se localiza o Clube Atlético São Paulo - SPAC, o primeiro clube de São Paulo, cuja equipe foi a primeira campeã de uma competição oficial no Brasil, área em torno da Praça Roosevelt, local do primeiro estádio de futebol, o antigo Velódromo, entre as ruas Nestor Pestana e Consolação, e o Museu do Futebol, localizado na Praça Charles Miller, que é o primeiro museu público exclusivo em prol da memória do futebol brasileiro, mediante comunicação ao Poder Executivo, quando couber.”

Art. 2º Esta lei entra em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário.

Câmara Municipal de São Paulo, 12 de janeiro de 2012.

JOSÉ POLICE NETO, Presidente

Publicada na Secretaria Geral Parlamentar da Câmara Municipal de São Paulo, em 12 de janeiro de 2012