quinta-feira, janeiro 29, 2015

Pequeno, grande e médio


Acompanho com interesse as discussões e debates em torno da regulamentação econômica do futebol no Brasil. O veto do Governo à proposta de mais farra dos clubes é algo interessante e inovador em se tratando de Brasil. Assim como algumas das propostas do Bom Senso Futebol Clube.

É preciso ampliar o debate. Não faço parte de grupo algum de discussão sobre isso, apenas auto como analista, sem me envolver com clube, movimento, federação, governos.

Não acredito em solução única, em caminha exclusivo. Tampouco acho que exista apenas um grupo de pessoas que tenha o monopólio das soluções e indicação de caminhos.

O Brasil é complexo, o futebol é complexo. Uma boa solução para a França ou para a Inglaterra pode ser uma tragédia para o Brasil.

A defesa intransigente de interesses não agrega, só divide.

Todos têm argumentos e pontos de vista. É preciso que todos sejam ouvidos.

A única solução que não me agrada é aquela que prevê participação maior do Governo Federal no esporte de alto rendimento, em especial no mais popular deles, o futebol. Vejo o Governo como um grande órgão fiscalizador. Desde que as Leis sejam cumpridas, os esportes precisam ter suas regras e regulamentos próprios, encontrar seus caminhos em busca da sustentabilidade.

Haverá sempre os esportes mais populares e os menos populares. Em cada canto do mundo.

A escolha do atleta não deve ser em busca de fama e fortuna, mas sim da realização de seu sonho particular. O atleta não pode ser tratado sempre como um coitadinho, um injustiçado e tampouco como um herói que serve sua Nação. Esse conceito de patriotada aplicado ao esporte me causa asco. O cidadão escolhe ser atleta, não é convocado para servir a Nação, não é soldado, nem funcionário público concursado.

No caso específico do futebol, que por ser o mais popular, serve como um tipo de parâmetro, sempre haverá times grandes, médios e pequenos. As realidades, aspirações e conjecturas são diferentes.

O que não deve existir é o canibalismo. Os grandes não podem querer o negócio apenas para eles, porque um deles se transformará em médio, outro em pequeno com o passar do tempo.

O modelo está errado faz tempo, por uma série de aspectos, e os clubes são os grandes culpados isso tudo porque não conseguem pensar e agir em conjunto. A competição tem que ocorrer dentro de campo, na disputa esportiva. Fora, é preciso agir em conjunto, respeitando as diferenças, em busca do melhor para o torneio, o negócio. Penso desta forma.

Claro que os times grandes são os motores propulsores e merecem receber mais porque atraem mais. Um torneio estadual sem os grandes não tem propósito. O que deveria acontecer é que a divisão da fatia poderia conceder algo a mais para os médios e pequenos. Porque tanto dinheiro para Federações e Confederações? Em vez disso, mais dinheiro para médios e pequenos.

Os próprios grandes deveriam criar um fundo para financiar médios e pequenos. Parte de seus lucros deveria ser investida na divulgação dos torneios e na estruturação dos adversários menos favorecidos. Fazer girar a roda. Os pequenos e médios sempre abasteceram os grandes, foram a horta, o celeiro. Hoje produzem para empresários e times do exterior, por encomenda.

A velha história de uma Liga nunca sai do papel. E pouco acrescentaria se fosse formada com a mentalidade atual. Seria apenas mudar de nome. O resultado seria o mesmo: divisão e interesses particulares prevalecendo sobre o coletivo.

Vejo a busca da solução passando por uma adequação às necessidades de um País de dimensões continentais, clima variado e difícil, infra-estrutura precária e péssima divisão de renda. É fácil fazer 6, 7 divisões na Inglaterra, minúscula geograficamente, mas de infra-estrutura poderosa, boa distribuição de renda, transporte farto e diversificado. A realidade européia pode ser um chamariz, mas será que ficaria confortável nos pés brasileiros?

Como fazer com os times do Norte e do Nordeste? Como cuidar de transporte numa região como a Amazônica, onde rios são estradas?

Adequar o calendário europeu ao nosso seria o Santo Graal? Apenas para satisfazer uma dificuldade de mercado? Ou seria melhor que o futebol andasse no mesmo ritmo e calendário do resto do País mas se fortalecesse econômica e administrativamente a ponto de poder abrir mão da venda fácil de talentos para sobreviver?

Lembro que nunca houve tanto investimento no futebol como nos últimos 20 anos, e os clubes seguem mal das pernas economicamente, com algumas federações e a CBF ricos.

Será que jogar no dia 2 de janeiro ou 26 de dezembro mudará nossa história? Porque será que não se joga no alto verão europeu ou no alto inverno? Porque o futebol nas grandes ligas europeias segue o calendário escolar e parlamentar?

Houve algumas evoluções, tímidas ainda. A pré-temporada aumentou. Os estaduais ainda comem muito tempo do ano, sem atrativos esportivos condizentes, no entanto.

Outra discussão que cabe e não se faz: treinamos bem? Será que treinamos demais e exaurimos os atletas física e mentalmente?

Os atletas cumprem seu dever na divulgação da marca dos clubes e no que se refere à responsabilidade social?

A TV, que é a grande financiadora do negócio futebol, como faz em todo mundo, também tem seus interesses, paga por eles. A busca por um caminho passa muito longe do debate de arquibancada que se faz hoje. Basta lembrarmos que há jogos em dias e horários pouco convencionais no futebol europeu, no futebol e no soccer americano, no basquete, no beisebol. Falta a noção de que o futebol concorre hoje com o cinema, o showbiz, e muitas vezes perde para esses rivais em interesse.

É preciso encontrar um termo em que negócio e espetáculo possam andar juntos, o que não é tão difícil, penso eu, se houver profissionalismo.

Comportamento dos atletas em campo é proativo, acrescenta para combater a violência e a falta de educação dos torcedores?

Os ex-atletas se preparam devidamente para exercer funções administrativas nos clubes e transferir toda sua experiência?

A desigualdade econômica no futebol profissional brasileiro faz eco entre os atletas? Existe uma preocupação em criar mecanismos de defesa?

Porque os clubes têm tanto medo de dialogar com os atletas?

Como se comportam os treinadores em relação ao seu trabalho e ao negócio?

Enfim, um tema longo, complexo e com algumas lacunas.

Não tenho solução, apenas levanto alguns pontos de vista na tentativa de colaborar para o debate.