terça-feira, julho 28, 2015

O dia em que entrevistei meu ídolo


Fui um modesto, esforçado jogador de voleibol.

Tive a sorte de jogar em bons clubes, bons times e com grandes jogadores. Muitos se transformaram em amigos para toda a vida.

Pude contar com excelentes treinadores que me ensinaram os fundamentos do esporte e, mais do que isso, tornaram-se bons amigos.

Eram os anos 80 do século passado. O vôlei explodia no Brasil. Eu conhecia alguma coisa do esporte, acompanhando meu saudoso pai, Luiz Noriega, nas transmissões. Via jogar Antonio Carlos Moreno, Badá, Suíço, William, Bernard, os craques que foram os precursores - e muitos viriam integrar - a geração que faria o País se apaixonar por esse esporte, a chamada Geração de Prata, que vale ouro.

Em 1980 meu pai transmitiu os Jogos Olímpicos de Moscou. O Brasil no vôlei masculino quase foi ás semifinais. Em 1981 seria medalha de bronze na Copa do Mundo, o primeiro pódio de grande vulto na história, e tudo começaria a mudar.

Em meus devaneios de jovem atleta fui fisgado em uma madrugada enquanto via um jogo de voleibol das Olimpíadas de Los Angeles-84. O time dos Estados Unidos jogava o fino, mas um cara se destacava: Karch Kiraly. O sujeito parecia um livro ou um vídeo que ensinava como se joga voleibol. Fundamentos perfeitos, completos, técnica absurda, inteligência.

Eu era um grande fã do Renan, cracaço brasileiro, mas ver o Kiraly jogar era uma experiência diferente.

O tempo passou, o time dos EUA foi multicampeão, sempre com Kiraly.

Em 1991 houve um campeonato mudial de clubes, em São Paulo. Fui à cobertura com meu grande amigo Nicolau Radamés Cretti, pelo Diário Popular.Nicolau abria todas as portas do voleibol com seu talento e credibilidade. Fora isso, era generoso. Sabia que eu tinha jogado vôlei, gostava e era fã do Kiraly. Conseguiu um tempo para uma entrevista e me "escalou".

Foi um papo rápido, mas o cara mostrou educação e extremo conhecimento. Jogava pelo Ravenna, da Itália, que seria o campeão,. De forma objetiva, franca e direta, ainda na primeira fase do torneio, disse que seu time era muito superior a todos os outros, inclusive ao Banespa, representante do Brasil, e que deveria vencer com tranquilidade. Não exalava arrogância ou prepotência. Era prático e conhecedor.

Minha missão como jornalista era evitar o deslumbramento de estar diante do cara que deve ser o Pelé do vôlei e era um ídolo dos meus tempos em que sonhava com um futuro de atleta que jamais chegaria. Ali eu era um profissional extraindo informação com o objetivo de transformá-la em conhecimento para o leitor. Não era um tiete entusiasmado. Não pedi autógrafo, não fiz selfie (nem existia). Cumpri meu dever.

Kiraly ainda seria campeão olímpico no vôlei de areia e hoje é o treinador do melhor time feminino do momento, os EUA.

Deve travar um duelo contra outro ícone e ídolo, José Roberto Guimarães, provavelmente o principal treinador da história dos esportes coletivos no Brasil.

Quem gosta de voleibol agradece.

sexta-feira, julho 10, 2015

O Pan e a potência olímpica


Há diversas maneiras de se ver os Jogos Pan-americanos.

Eu os vejo sob várias óticas.

Uma delas é a de quem foi atleta, como eu. Atleta cuja falta de talento não permitiu concretizar o sonho de disputar um Pan, por exemplo.

A outra é do fanático por esportes.

Lembro-me como se fosse hoje da imagem do inesquecível João Carlos de Oliveira batendo o recorde mundial do salto triplo, inacreditáveis 17m89, no Pan da Cidade do México, em 1975. Eu estava com caxumba e via tudo pela TV. Aquele Pan deveria ter sido realizado em São Paulo, mas um surto de meningite impediu.

Há ainda a histórica conquista do basquete masculino em 1987, a do basquete feminino em 1991, o vôlei masculino em 1983. São muitas.

Uma terceira via de análise é a do crítico. O Pan hoje perdeu muito do brilho, por razões comerciais e esportivas. Entre as comerciais está o fato de que o Pan perdeu, em especial na maioria dos esportes coletivos, a prerrogativa de ser classificatório para as Olimpíadas. Por que comerciais? Porque as Federações Internacionais preferiram criar os Torneios Pré-Olímpicos, um evento a mais, que gera receitas com patrocínios, direitos de TV e ingressos.

O Pan tromba com algumas das principais seletivas olímpicas dos EUA, eventos muito bem tratados em termos esportivos e de mídia.

Além disso, o calendário esportivo hoje oferece uma gama de oportunidades para atletas muito mais ampla do que nos tempos de glória do Pan. Existem provas com premiação em dinheiro que atraem os principais atletas.

Há ainda uma outra visão, essa muito brasileira, que é a forma como o Pan é usado como propaganda por atletas, federações e o Comitê Olímpico. Principalmente às vésperas da primeira Olimpíada a ser realizada no Brasil. Os resultados muitas vezes são superavaliados. Porque é preciso renovar patrocínios, buscar novas parcerias e turbinar os Jogos de 2016.

O torcedor brasileiro adora vitórias, muito mais do que esporte, e as vitórias trazidas pela TV em HD e grandes imagens provocam um efeito muitas vezes enganador quanto à real capacidade de atletas e equipes.

Tento ver o Pan como ele é. Uma competição importante, da qual pouquíssimos atletas conseguem participar, raríssimos conseguem subir ao pódio e vencer.

Mas o Pan em nível técnico, salvo o caso específico de alguns esportes, não é mais uma competição de primeiro nível técnico.

Mesmo assim ainda pode ser uma atração divertida.